Led Zeppelin: Cinco Músicas Injustiçadas

Led Zeppelin: Cinco Músicas Injustiçadas

Por Micael Machado

Depois de ter indicado cinco músicas “injustiçadas” do Deep Purple e do Black Sabbath para esta seção, chegou a hora de fechar a “Santíssima Trindade” do hard rock setentista com as músicas que eu considero “injustiçadas” na discografia do Led Zeppelin. Confesso a vocês que, das bandas já escolhidas até aqui para esta seção, o Led foi a que me deu mais trabalho para selecionar faixas que atendessem aos meus critérios para inclusão na lista – que, para recordar, são: as músicas não podem ter sido lançadas como single; não podem constar do track list de álbuns ao vivo oficiais (nem de bootlegs que eu conheça); não podem constar de coletâneas oficiais do grupo tratado (pelo menos, não das mais famosas); não podem ter recebido versões de outros artistas (pelo menos, não ter recebido versões de grande repercussão no meio musical); serem músicas que me agradem mais do que outras bem mais “famosas” do que elas, e que, desta forma, eu julgue que mereciam mais atenção do que receberam por parte tanto da imprensa quanto dos fãs (e, por vezes, da própria banda) – porque são tantas coletâneas, bootlegs, tributos, covers, etc, que é quase impossível “mapear” o grupo no discogs para verificar se tal canção aparece em algum lugar que venha a inviabilizar sua participação. Outro fator que atrapalhou muito minha seleção foi que boa parte das minhas primeiras escolhas estão presentes em No Quarter: Jimmy Page & Robert Plant Unledded, o disco da “volta” do Led lançado em 1994 em parceria com a série “unplugged” da MTV (tratarei mais sobre isso logo adiante). Sendo assim, depois de alguma pesquisa, vamos à minha relação de escolhidas (em ordem cronológica), sendo que estou ciente de que posso, mais adiante, descobrir que alguma delas poderia ter sido inviabilizada por algum dos critérios que adotei, mas ao qual não tive atenção!


1. The Rover (Physical Graffiti – 1975)

Physical Graffiti é um álbum duplo resultante da reunião de algumas faixas inéditas que o Led gravou em 1974 com “sobras” não aproveitadas dos discos anteriores da banda. Tem gente, como meu irmão (e colaborador do site) Mairon Machado que idolatra este disco, mas, para mim, ele sempre soou como uma colcha de retalhos, e um clássico exemplo de “disco duplo que teria sido melhor se fosse simples” (jogue-me as pedras quem quiser). Muitas de suas quinze músicas nunca me “pegaram”, mas não é o caso de “The Rover”, um hard rock agitado, com um bom riff de Page, ainda que os vocais de Plant por vezes me soem “agudos” demais, assim como em muitos momentos do início da carreira do grupo (e, segundo a wikipedia, esta faixa foi composta em 1970 e gravada em 1972, ou seja, ainda nos anos iniciais do Zepelin de Chumbo). Não é um dos “pontos altos” da carreira do Led para mim, mas, neste disco, considero uma das que mais se destacam, e nunca teve a atenção que julgo que merecia (ela foi regravada pelo grupo Great White em um disco tributo ao quarteto inglês, mas não levei isto em consideração na hora da escolha desta faixa).


2. Black Country Woman (Physical Graffiti – 1975)

Sim, pode ser estranho eu escolher duas músicas de um disco que já confessei não gostar tanto, mas é que, no meio da “colcha de retalhos” que citei no parágrafo anterior, esta pequena pérola acústica que parece saída das sessões do terceiro álbum (embora, segundo a wikipedia, tenha sido gravada em 1972 para o álbum Houses of the Holy) não pode ser ignorada, mesmo sendo a penúltima música do track list. Sempre foi uma das minhas favoritas neste álbum, e nunca entendi porque mesmo as pessoas que idolatram o LP não parecem se importar muito com ela, quando penso justamente ao contrário. Enfim, coisas do maravilhoso mundo da música, não é mesmo?


3. Carouselambra (In Through the Out Door – 1979)

O título de trabalho desta faixa era “The Epic”, ou “O Épico”. Dez grandiosos minutos (e mais meio de bônus) de pura genialidade, onde Jones domina com seus teclados em melodias empolgantes, criando linhas grandiosas e passagens que mostram que seu talento com as teclas pode facilmente ser comparável ao com as quatro cordas do baixo (para quem ainda não sabia), fora seu trabalho como arranjador. Page tem uma participação mais discreta em relação a outros momentos da discografia da banda, mas também deixa sua marca, seja em um curto solo ali por três minutos e meio, ou na marcante passagem mais “densa” no meio da faixa, e aquela parte mais “dance music” que surge ali pelos sete minutos e se prolonga até perto do final pode arrepiar os cabelos dos mais puristas até hoje, mas sempre me soou muito agradável! Confesso que foi com certa surpresa que li na wiipedia que esta canção nunca foi tocada ao vivo, pois, para mim, sempre foi o maior destaque de In Through the Out Door, um disco bastante contestado por parte dos fãs, justamente pela “atenção” que os teclados de Jones receberam em relação à “discreta” participação da guitarra de Page ao longo de suas faixas. Para mim, isto não causa problema algum (embora o disco em si esteja longe de ser um dos meus favoritos), especialmente neste clássico, que, a meu ver, é a faixa mais indicada para fazer parte deste seção dentre todas da carreira da banda. Novamente, podem jogar as pedras aqueles que discordarem.


4. Wearing and Tearing (Coda – 1982)

A última faixa do último disco normalmente é a que encerra a discografia de uma banda. No caso do Led, várias músicas “inéditas” surgiriam nos relançamentos posteriores, mas, se considerarmos Coda como o encerramento da carreira do grupo, ele termina com este agressivo hard rock, gravado ainda nos tempos do álbum In Through the Out Door, e que sempre me soou como um dos maiores destaques desta coletânea de sobras, com suas melodias (especialmente nas partes mais rápidas) demonstrando claramente o poder de fogo que o Led Zeppelin possuía para criar músicas “pesadas” e empolgantes a partir de suas reinterpretações do blues norte-americano. É outra faixa que nunca foi interpretada ao vivo pelo grupo, embora Robert Plant a tenha tocado ao vivo algumas vezes em carreira solo, com destaque para a apresentação no festival de Knebworth de 1990, inclusive tendo Jimmy Page como convidado especial. Mais uma faixa que merecia mais atenção do que possui, e que acabou meio que “esquecida” pelos cantos da discografia do grupo, infelizmente.


5. St. Tristan’s Sword (Coda Deluxe Edition – 2015)

Citei no parágrafo anterior algumas “faixas inéditas” surgidas nos relançamentos dos discos do grupo após o seu término (e mesmo em alguns álbuns “ao vivo” oficiais que surgiram depois, como o excelente How The West Was Won ou o altamente recomendável BBC Sessions), e foi a estas que tive de recorrer para completar minha lista. Inicialmente, minha escolha havia sido pela cover de “Travelling Riverside Blues”, mas como ela tem uma versão ao vivo “oficial” no citado registro com gravações da BBC, acabei optando por este belo exemplo de rock instrumental ao estilo Led, com Page debulhando a guitarra ao longo de quase todos os quase seis minutos de duração da faixa, Jones segurando o ritmo com precisão, e Bonham “descendo o braço” com vontade na bateria, não se limitando a apenas “marcar” o ritmo, mas criando passagens bastante interessantes de ouvir em sua bateria, como habitualmente fez ao longo se sua carreira. Segundo o site Songfacts, esta faixa foi gravada durante as sessões do terceiro disco, lá em 1970. mas precisou esperar até 2015 para ser revelada oficialmente ao mundo (embora os bootleggers de plantão certamente já a conhecessem bem antes disto) na edição deluxe tripla de Coda, a qual traz várias pérolas “inéditas” aos colecionadores do grupo, como as versões ao vivo de “Four Sticks” (aqui chamada “Four Hands”) e “Friends” gravadas por Page e Plant ao lado dos músicos indianos da Bombay Orchestra em 1972. Recomendadíssimo!


Como disse anteriormente, o álbum No Quarter: Jimmy Page & Robert Plant Unledded inviabilizou muitas das minhas primeiras escolhas para esta lista, pois ali estão (seja no CD, no vinil ou no DVD) faixas como “Thank You”, “What Is And What Should Never Be”, “The Battle of Evermore” (em uma magistral interpretação por parte de Plant e da cantora Najma Akhtar), “Nobody’s Fault but Mine” (em uma reinterpretação que nunca me agradou tanto quanto a original) ou “When the Levee Breaks”, todas faixas que penso que mereciam um destaque maior do que aquele que tiveram quando a banda estava na ativa. A épica “Achilles Last Stand” está presente em algumas coletâneas e álbuns ao vivo, mas, sendo uma das minhas faixas preferidas na discografia do Led, não poderia deixar de citá-la, pois penso que ela não é tão mencionada quanto devia. Do restante da discografia, ou as músicas já foram muito bem documentadas ao vivo ou em coletâneas, ou não me chamam tanto a atenção a ponto de merecerem serem citadas aqui.

Mas tenho certeza que você também tem suas “injustiçadas” na carreira do Zepellin de Chumbo, certo? Então, deixe elas aí nos comentários, atendendo ou não aos meus critérios, e dê representação àquelas faixas que você gosta tanto, mas para as quais parece que ninguém mais no mundo parece ligar, seguindo (ou não) aos critérios que adotei para esta lista!

3 comentários sobre “Led Zeppelin: Cinco Músicas Injustiçadas

  1. “Out on the Tiles”, do Led Zeppelin III, é uma música que, para mim, nunca foi suficientemente valorizada. Mesmo em versões ao vivo ela raramente era apresentada completa (uma das poucas versões ao vivo completas, gravada em 1971, é arroz de festa nos piratas), sendo muito comum sua introdução ser agregada a “Black Dog”. A própria “Friends”, se for considerar, só tem uma versão ao vivo registrada na única turnê feita pela banda no Japão, sendo um biscoito encontrado apenas nos bootlegs. As duas box sets lançadas no começo dos anos 90, remasterizadas pelo Jimmy Page, no final das contas, traziam todas as 80 músicas que o Zeppelin lançou nos nove discos de estúdio originais (contando o “Coda” no cálculo), tornando bem complicado cumprir os critérios da seção no caso do grupo…

    1. Marcello, é que eu optei, assim como em anteriores, em não considerar boxes que trazem a “obra completa” dos artistas, porque acho que não se encaixa em “coletânea”, é uma categoria a parte…

      1. Faz sentido… Hoje estão disponíveis várias boxes com discografias completas, ou quase, de muitas bandas clássicas, então fica praticamente impossível encontrar uma verdadeira raridade. Uma outra música que acho que merecia um pouco mais de atenção é “Royal Orleans”… Essa nunca foi tocada ao vivo, e acho que não saiu em coletânea também. Não é uma maravilha, mas é interessante.

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