War Room: Arco Iris – Inti Raymi [1973]
Por Adriano “Groucho” KCarão
Convidados: Bernardo Brum e Mairon Machado
O Arco Iris talvez não seja tão conhecido pelo ouvinte brasileiro de rock como o são os grupos de Luis Alberto Spinetta e de Charly García. Mas foi um grupo muito importante, e seu membro mais ilustre, Gustavo Santaolalla é reconhecido não apenas por ter feito parte do grupo, mas também por difundir o Rock en Español com sua carreira-solo a partir dos anos 80 e fazer trilhas sonoras, como a de Brokeback Mountain e On the Road, além de participar do projeto de Tango Fusion Bajofondo.
Nos reunimos hoje, Mairon, Bernardo e eu pra ouvirmos seu disco de 1973, Inti Raymi.
01. Elevando una plegaria al sol (Inti raymi)
Adriano: O Arco Iris não é uma banda muito conhecida por aqui, e esse disco não é o mais indicado do Arco Iris por aí, mas é meu favorito dos três que conheço (Sudamérica, Inti Raymi e Agitor Lucens V). A primeira faixa já deixa clara a sonoridade da banda.
Mairon: Oh, já gostei do início com instrumentos andinos
Adriano: Muito forte a presença de sonoridades incaicas. Aqui os integrantes: Ara Tokatlian (saxofone tenor, alto e soprano; flautas, quenas, claron órgano e voz), Gustavo Santaolalla (guitarras acústicas, elétrica, charango e voz), Guillermo Bordarampe (baixo, contrabaixo e voz), Horacio Gianello (batería, percussão e vocal), Guía Espiritual: Dana.
Mairon: Guia Espiritual?
Adriano: Início puramente instrumental e sem uma melodia propriamente dita. Pra quem tá acostumado a ouvir música andina, nada incomum, mas pra quem ouve rock…
Mairon: Canção para relaxar.
Bernardo: Me chamou a atenção esse início. Tenho um fraco por sonoridades mais étnicas. Sempre dá um diferencial essa fuga das influências de sempre. Bom início.
02. En Nuestra Frente
Adriano: Entra o vocal de Santaolalla
Mairon: Mudou tudo. Esses vocais em espanhol ou se gosta ou se detesta. No caso, eu estou apreciando, mas confesso que prefiro os ja tradicionais. Nito Miestre, Charlie garcia e principalmente Spinetta.
Adriano: Não sei vocês, mas eu demorei a me acostumar com a voz desse cara. Hoje em dia, não consigo viver sem ela!
Bernardo: Não sei, apesar do idioma diferente, a harmonia vocal é próxima o suficiente para conquistar quem gosta. Gosto dessas canções que crescem, a parte rítmica dá uma assinatura personalíssima.
Mairon: Esse saxofone com os violões e a percussão é muito bom.
Adriano: A música se desenvolve como um espiral melódico, muito lindo, parece, sei lá, coisa do Brian Wilson. Percussão super bem encaixada e esse sax!!! Daí a bateria acompanha o riff do sax e entra essa coisa meio tribal!
Mairon: Que baixão, carregado de distorção. Adriano nos mostrando o melhor do METAU!
Adriano: Sim, Mairon! Isso! Que baixo! Definição de METÁU: bandas que NÃO sabem usar o peso. Arco Iris sabe usar.
Mairon: Muito boa a harmonia musical, me lembra outro grande desconhecido argentino, Anacrusa, mas Anacrusa é posterior.
Adriano: Porra, esse trecho pós sax é MUITO lindo! Esse teclado fazendo um brass. O trabalho de percussão e bateria é muito bom. E os violões só dando o charme andino à parada.
Mairon: É verdade Adriano.
Bernardo: Parece até outra música do meio pro final.
Adriano: Vaaaaaamooooooonooooos VAMONOOOOOOOOOOOOOOS!!!
Mairon: Eita, olha o fuzz dessa guitarra no final!!
Adriano: Santaolalla é o Mick Box do Plata! Encerramento percussivo lindo.
03. Maritimaria
Adriano: “Maritimaria” e “La Pastora de los Peces” são composições da “guia espiritual” dos caras, Danais Wynnycka, ou Dana. O resto é do Santaolalla.
Mairon: Voltou o clima andino, com essa flauta maravilhosa e o andamento dos violões. O encaixe com o baixo e a percussão é muito bom. Tinha um grupo chileno chamado Los Atipak que fazia algo bem parecido, mas nos anos 90. O diferencial é o saxofone.
Adriano: Essa é mais uma das minhas favoritas. O disco tem uma sonoridade bem tosca. Pra mim, isso é um diferencial positivo, não sei pras otras pessoas. hehe
Mairon: É cru, mas não é ruim. Melhor que A Tabua da Esmeralda, por exemplo.
Adriano: Esse primeiro verso do refrão é mítico. Adoro quando eles alternam vocal solo e coro de vozes.
Bernardo: Suingue gostoso dessa “Maritmaria”. Os caras sabiam trabalhar bem com groove! Percussão e sax muito bem casados.
Adriano: Esse baixista também não fica atrás, viu? Sempre marcando presença, com simplicidade genial. Parece o baixista dos Wailers.
Mairon: Confesso que os momentos instrumentais estão me chamando muito mais a atenção do que os momentos com vocal.
Adriano: Eu curto os dois. Cada um tem uma beleza peculiar.
Bernardo: Concordo. Apesar de competente acho meio homogêneo demais…
Mairon: Solo simples, mas bonito e sem enrolações.
Adriano: O Spinetta teve o mérito de criar um estilo próprio nas bandas por que passou. Mas eu acho que o Arco Iris é bem mais original. Soube casar o prog, a psicodelia e o folk rock com a música andina sem soar forçado.
04. La Pastora de los Peces
Mairon: Quié isso? Olha que lindeza!
Bernardo: Vocal demais nessa aí, hein?
Mairon: Vocal feminino muito agudo, já não gostei.
Adriano: Órgão truando! Essa música me parece Rainbow, sei lá. haha. Essas coisas celtas.
Mairon: É, lembrou o projeto do Blackmore’s Night, só que não é celta, é inca
Adriano: Lentinha. Na verdade, me lembra o Mägo de Öz, grupo espanhol de folk metal. Mas é que o Mägo de Öz tem influência de Rainbow e afins.
Mairon: Eu gostei do inicio, mas agora não está passando não.
Bernardo: Achei a menos “étnica” até agora, sinceramente. A estrutura parece mais marcadona.
Adriano: Esse Ara Tokatlián é um herói argentino! E A estrutura é Rainbow, cara. haha.
Bernardo: Não sei se vale como off-topic, mas lembrei de umas músicas que tocavam no Cavaleiros do Zodíaco… huahuahuahuahua.
Adriano: Sim, Bers! hahaha
Mairon: Isso não é off-topic, será publicado
Adriano: Vixe!!
Bernardo: huauhahuauhauhauha.
Mairon: Mais METÁU!!
Adriano: METÁU!! haha! Nada disso. Apenas uma faixa mais rockeira, bem rockeira.
Mairon: Rock argentino tradicional, mas as linhas de guitarra e baixo são muito boas. Olha o Tony Iommi e o Geezer Butler aparecendo.
Adriano: “Abran los Ojos” é linda, o riff, o refrão, tudo! Mas admito que de início o vocal do Santaolalla fica TOSQUÍSSIMO! haha
Mairon: Cara, isso é Sabbath puro! Baita baixista!
Adriano: METÁU!!!
Mairon: Solão!
Adriano: Baixista presença!
Mairon: E o órgão ao fundo, é insano!
Adriano: A mixagem péssima, um instrumental fodido, e o baixista ainda consegue aparecer! Esse, sim, que é o herói! hahaha.
Bernardo: Pau comendo! O baixo realmente se destaca nessas. O solo lá no meio é quase um “Sábado, sangriento sábado”, hahaha..
Adriano: O riff lembra “È Festa” do PFM.
Mairon: Curtir para o comentário do Bernardo, e concordo Adriano, PFM, mas mais lento.
Adriano: A letra dessa música parece que tá falando dos protestos no Brasil. “O Gigante Acordou” e tal rs,
06-Adonde Irás, Camalotal
Adriano: “Adónde Irás, Camalotal” é mais uma que dá uma acalmada. E aqui acalma REALMENTE! Apenas boa, na minha opinião. hehe.
Mairon: E volta o saxofone. Meu cérebro está derretendo. Essa é a mais viajante até agora
Adriano: O sax criativo, como sempre.
Bernardo: Esquema “depois da tempestade vem a bonança”.
Adriano: Hahaha.
Mairon: Eu estava ouvindo algo esses dias que tinha um saxofone nessa linha, não lembro o que era. É uma mistura de sons. Que flauta linda!
Adriano: Queria saber como esse cara fazia ao vivo. Sax tenor, alto e soprano e ainda as flautas…
Bernardo: O sax é legal, mas achei uma baladinha mediana.
Adriano: Também acho mediana. Mas não compromete. Principalmente com esses instrumentistas fodásticos.
Mairon: Muito belo o solo.
Adriano: Sim.
Bernardo: Não compromete, mas a outra tinha me empolgado.
Mairon: Cara, esse saxofone é chapante, vou te dizer
Adriano: As faixas que eu mais curtia antigamente são as que menos gosto hoje. Mas gosto de todas. A única que NUNCA deixou de ser minha predileta é uma que ainda vem..
07. Solo Como El Cardon
Adriano: Essa mantém a “calmaria”, mas só na velocidade, pois o clima é levemente pesado. (“levemente pesado” é ótimo! hahaha).
Mairon: Esse arranjo vocal com violão é tipicamente da região dos pampas. Estou arrepiado.
Adriano: Há uma tensão nessa música. É outra que eu tinha como preferida e hoje só acho boa.
Bernardo: Achei a com o clima mais sombrio do lado de “La Pastora de Los Peces”. Também achei a harmonia vocal mais bonita até agora.
08. No Quiero Mirar Atras
Adriano: PREPAREM-SE! CLÁSSICO À VISTA!!! MELHOR MÚSICA DE 1973!!!! TUDO É PERFEITO!!!
Adriano: Essa é a melhor música lançada em terras sulamericanas!!! O Santaolalla divide os vocais com o Ara Tokatlián, e o resultado é FODOMENAL!!
Mairon: O Adriano está fazendo uma boa propaganda, mas não é para tanto.
Adriano: É SIM!!! É que você ainda não teve tempo de perceber.
Mairon: Olha o saxofone rolando, que espetáculo.
Adriano: Desculpem, mas eu não consigo me conter ouvindo essa música. Antes de iniciar o War Room eu tava lendo a letra e já tava aqui pulando! hahaha.
Bernardo: Tem uma puta cara de clássico de uma banda mesmo. Tudo “casado”, com muita química, soltando faísca.
Mairon: Estou imaginado o Adriano pulando pela sala.
Adriano: E muitas variações, muitos elementos, todos bons!
Mairon: Muito bom mesmo.
Adriano: Eu fico até com preguiça de comentar, porque ia ter que comentar TUDO! Eu acho TUDO perfeito nessa faixa. Esse riff, baixo, bateria, vocais, sax, flautas, a urgência no vocal do Ara. O cara é um mestre do sax e da flauta e podia fazer miséria se cantasse mais vezes.
Mairon: É, acho que é a melhor canção do álbum mesmo
Bernardo: Cozinha crescendo junto com o sax, muito foda. Paulada no quengo essa aí.
Mairon: Muito boa, em um ritmo avassalador.
Adriano: Tô bebendo cerveja!! (Justificando minha tietagem exaltada!)
Mairon: Paulada no quengo essa aí[2]
Adriano: Paulada no quengo essa ai [3] E esses gritos?
Mairon: Final Sabbáthico, com o baixão e o sax esquizofrênico. MUITO BOM!
Adriano: Esse batera sabe o que é MARCAR!
Bernardo: Final ótimo.
Bernardo Brum: Essa banda funciona ou no meticuloso ou na loucura. Quando fica lá pelo meio do caminho não atrai tanto, haha.
Adriano: Gostei do comentário
09. Elevando Una Plegaria Al Sol (Inti Raymi)
Mairon: Revisão da primeira faixa, fazendo uma conclusão muito boa para um ótimo disco.
Adriano: Para encerrar, mais uma paisagem sonora que remete aos Andes. Eu devia ter falado lá no início: Inti Raymi é uma festa dos incas que ainda se realiza na Bolivia
Mairon: Adriano também é cultura.
Adriano: Hahaha. É uma gentileza hehe.
Bernardo: Imagina ouvir essa última faixa, na época, olhando a capa. Puta viagem no espaço e no tempo. A banda sabe casar muito bem essa relação presente/passado e regional/mundial.
Adriano: É isso aí. Essa faixa de encerramento eu considero como segundos que a banda deixa pra você absorver o impacto de “No Quiero Mirar Atrás”
Considerações Finais
Adriano: Espero que tenham gostado, rapazes
Mairon: Um disco surpreendente, ainda mais pela quantidade de variações que ele nos apresenta. Do lado mais pesado até o momento mais ameno. A fusão dos dois é muito bem feita, e é inegável que em diversos momentos fui transportado para as montanhas incas. Muito bom mesmo, preciso ouvir os demais.
Adriano: Infelizmente, eu acho que o som não saiu TÃO interessante quanto a proposta conceitual, mas ainda assim é um disco bom.
Bernardo: Bom disco mesmo. Gostei mais do que a maioria dos discos de prog que eu ouço. Apesar de nem tudo me empolgar, tem vários momentos que fazem você se perguntar porque não tinha ouvido antes!
Mairon: Concordo com o Bernardo. Não tinha ouvido antes apenas por que nunca tinha encontrado nada deles.
Adriano: O disco anterior, Sudamérica o El Regreso de la Aurora, é duplo e tido como a primeira ópera rock Argentina. Mas o meu favorito é de fato o Inti Raymi e nem sequer entendo por que as pessoas preferem esses outros.
Mairon: Mas ele não é da mesma época que o La Biblia do Vox Dei?
Adriano: Eu não conheço o La Biblia, embora já tenha ouvido falar muito (eu tinha e já ouvi, mas formatei o PC e não baixei again)
Bernardo: Rock latino é uma pendência gigantesca minha. Tenho que correr pra conhecer.
Mairon: O La Biblia é EXCELENTE.
Adriano: Fica a indicação. Quem sabe um próximo War Room hehe, com o Maresia, nosso fã-mor de forró psicodélico argentino!
Mairon: Recomendo em ordem: da Argentina: Anacrusa, Nito Miestre, Vox Dei, Sui Generis e La Maquina de Hacer Pajaros. Do Uruguai: Psiglo.
Adriano: O Vida, do Sui Generis, é meu favorito deles e do Charly García em geral. Mas o Charly dificilmente erra a mão.
Bernardo: Anotado aqui!
Mairon: Esqueci duas bandaças argentinas: Pescado Rabioso e Almendra. Tarkus, do Peru, é otimo. E OUÇAM TRAFFIC SOUND!!
Adriano: Bom “mermo” é nuevo tango: Astor Piazzolla e Eduardo Rovira! E foda-se o Traffic Sound. Ouçam Tanguito!!! Reouçam Arco Iris!!!
Mairon: Tanguito é bom. Piazolla é bom.
Adriano: Sugiro o “filme” Rock Hasta que Se Ponga el Sol, o Woodstock Argentino.
Bernardo: Vou procurar.
Adriano: Bem, então, ficamos por aqui. Espero que essa matéria tenha gerado interesse e o leitor dê uma conferida nesse disco e no trabalho do Arco Iris – e do rock argentino em geral, que costuma ser muito bom.
Mairon: Valeu Adriano, obrigado pelo convite. Abraço
Adriano: Agradeço aos compadres Mairão e Bers. Abração.
Bernardo: Obrigado você pelo convite, Adriano, e espero pelos próximos!
Adriano: Valeu!