Discos que Parece que Só Eu Gosto: Kreator – Endorama [1999]
Por Micael Machado
As mudanças (ou “a evolução do som da banda”) foram acontecendo, sendo mais notáveis em Outcast (1997), com uma tendência mais gótica e industrial.
Tudo isso foi sublimado quando do lançamento de Endorama, em 1999. O que era tendência no disco anterior se confirmou neste, com a banda se entregando de vez ao gótico como nunca antes nem nunca depois em sua história.
Confesso que só conhecia “People of the Lie” e “Renewal” (a música) quando conheci este álbum. Já tinha “dado uma passada” por outras músicas do grupo, mas, não sei por que, elas nunca haviam me atraído. Sendo assim, eu tinha uma certa noção do som que o Kreator fazia, mas não estava tão familiarizado assim com as características do grupo.
Por outro lado, sempre gostei de Gothic Rock, e, talvez por isso, Endorama me atraiu bem mais do que o catálogo anterior dos alemães, embora tenha sido recebido com repúdio e desprezo por boa parte de seus fãs. Mas será que o disco é tão ruim assim?
“Golden Age” abre o play em um ritmo muito mais lento do que as músicas antigas do grupo. A voz de Mille Petrozza assusta os antigos fãs, saindo do rasgado costumeiro para um tom mais grave e soturno, embora não tão grave quanto o de outras bandas góticas. A música tem um refrão fantástico, daqueles que ficam na sua cabeça por um bom tempo, e, embora tenha poucas características do Kreator clássico, dá o tom e estabelece o padrão de qualidade para o resto do disco.
“Endorama”, a faixa seguinte, é ainda mais gótica, com a presença do vocalista do Lacrimosa, Tilo Wolff, cantando em dueto com Mille, mostrando que o tom gótico da faixa anterior não era por acaso. O refrão desta música também é marcante, sendo quase impossível não cantar junto depois de poucas audições. Maravilha!
“Chosen Few” é outra canção em ritmo lento, e com algumas poucas mudanças poderia se passar por uma música do Sisters Of Mercy. Mais uma vez o destaque é o refrão, como nas anteriores do disco, embora a música inteira mereça ser ouvida.
“Everlasting Flame” também segue na linha do que o Sisters já havia feito, sendo que um teclado muito bem colocado aparece para levar o “ambiente” gótico um passo adiante. O ritmo mid tempo deve causar arrepios nos fãs dos discos anteriores, mas é um deleite para os ouvidos de fãs de Gothic Rock como eu.
“Passage to Babylon” também tem um ritmo mais lento, e depois do refrão tem uma passagem mais acústica, que mais uma vez traz o Sisters Of Mercy à mente, embora no resto da melodia a banda consiga fugir um pouco a esta comparação. Uma boa música, misturando a melodia do gótico com o peso do metal ao longo de sua duração.
“Future King” foge um pouco da linha das outras músicas, sendo mais pesada e mais rápida. Até o vocal de Mille não está tão soturno, embora ainda longe do que ele fez em álbuns passados. A música é mais direta, e com um pouquinho mais de peso e velocidade não faria feio perto do catálogo antigo dos alemães. O refrão acaba soando repetitivo mais para o final da música, o que faz com que esta faixa não se destaque tanto no contexto do disco.
A instrumental “Entry” é pouco mais que uma vinheta para a faixa seguinte. Uma melodia triste ao piano, com uma cama de sintetizadores ao fundo, nos levando a um clima de solidão e melancolia cortado pela introdução de “Soul Eraser”, com um ritmo mais marcado e um vocal baseado no industrial. O refrão dessa música confirma a impressão dada pelo vocal, com uma bateria bem marcada, embora não tão veloz quanto o de outras bandas do estilo. Lá pelos dois minutos e pouco temos um solo que nos remete ao antigo Kreator (apenas o segundo do disco!), embora muito mais lento e melódico do que o estilo tradicional da banda. Esta é uma das faixas mais pesadas do disco, e uma das poucas que guardam alguma relação com o resto da discografia de Mille e companhia.
“Willing Spirit” retorna para a atmosfera gótica, embora um pouco mais veloz e pesada que as faixas anteriores. Não tem um grande destaque no álbum, mas é uma boa música, se deixando ouvir sem maiores traumas.
“Pandemonium” começa com um riff empolgante e uma melodia de guitarra bastante interessante. Após um primeiro verso mais lento do que a intro, o refrão surge com uma velocidade maior que as outras músicas do álbum. A canção continua nesta fórmula, e até um pequeno solo cheio de efeitos comparece a certa altura. Esta é uma faixa que acaba por tornar-se um dos destaques do disco, mesmo não seguindo a linha melódica de suas antecessoras.
E, por fim, “Tyranny” encerra o álbum, mais uma vez num ritmo mid tempo, mas com uma melodia e um refrão bastante agradáveis, o que faz dela mais um dos destaques de um disco bastante incompreendido, mas que, se analisado apenas pelo que contém e não por toda a história de seus criadores, se revela um grande álbum, ao qual mais chances deveriam ter sido dadas.
Formação:
Mille Petrozza: Guitarra, Vocais
Jürgen Reil: bateria
Christian Giesler: Baixo
Thomas Vetterli: Guitarras, Programações
Track List:
1. Golden Age – 4:51
2. Endorama – 3:20
3. Shadowland – 4:27
4. Chosen Few – 4:30
5. Everlasting Flame – 5:23
6. Passage to Babylon – 4:24
7. Future King – 4:44
8. Entry – 1:05
9. Soul Eraser – 4:30
10. Willing Spirit – 4:36
11. Pandemonium – 4:10
12. Tyranny – 4:01
Classico caso de disco que deveria ter saido com outro nome na capa. Não é ruim, mas nao tem nada a ver com o Kreator…
Desde "Renewal" o Kreator já vinha mostrando que não tinha medo de arriscar, e que possuía maturidade suficiente para mexer em sua sonoridade mais clássica. Isso é "Endorama": um disco de quem sabe o que está fazendo e tem qualidade pra tanto. Estaria mentindo se não dissesse que prefiro o Kreator de hoje em dia, fiel à sonoridade thrash metal do passado, mas atualizada e recheada de mais melodia; porém, "Endorama" é um disco parelho, com várias canções dignas de nota e que merecem uma chance ao vivo.
Eu gosto mais da fase "industrial" do Renewal e Cause for Conflict do que da fase gotica do Kreator.
PPois é , neste eu contribuo com o titulo , pois nunca ouvi falar na minha vida
Bom disco; não tem uma música ruim. É o melhor do Kreator? Não. Mas basta entender sua proposta diferente. Ruim da banda e bem pior que este é “Renewal” (1992), lançado antes. Só lembro gostar dele a faixa-título, forte sim. Mas a capa também era triste, no pior sentido…