Trapeze em 1969: Dave Holland, Glenn Hughes, Mel Galley (em cima), Terry Rowley e John Jones (embaixo)
Por Mairon Machado
Uma das bandas mais faladas e menos conhecidas dentro do mundo do rock é o Trapeze. 99% das revistas e sites especializados definem a banda como sendo “o power-trio de onde saíram Glenn Hughes, Mel Galley e Dave Holland” (que tornariam-se famosos posteriormente com Deep Purple, Whitesnake e Judas Priest, respectivamente).
Porém, na sua carreira de 13 anos, o Trapeze lançou seis álbuns de estúdio e um ao vivo, sendo que destes, apenas dois foram com a formação citada acima.Portanto, o Discografias Comentadas dessa semana irá contar para você, leitor do Consultoria do Rock, um pouco a respeito dos seis álbuns de estúdio lançados por uma das melhores bandas do hard setentista.
Trapeze [1970]
O primeiro LP do Trapeze é uma pérola a ser descoberta pelos apreciadores de música. Na época de seu lançamento, o grupo tinha na sua formação John Jones (voz, instrumentos de sopro), Terry Rowley (guitarras, teclados, flauta, voz), Mel Galley (guitarras, voz), Glenn Hughes (baixo, voz) e Dave Holland (bateria, percussão). Jones era quem capitaneava as letras, enquanto Rowley comandava a composição das músicas.
Ligados à gravadora London Records, o grupo contou com a produção de John Lodge (The Moody Blues) nesse primeiro álbum, que apresenta algo totalmente diferente do que o Trapeze faria depois. Canções suaves (“It’s Only A Dream”, “Nancy Gray”, “It’s My Life”) mostravam ao mundo um grupo que estava começando a dar seus primeiros passos em direção ao mundo beat, mas que lutava contra o hard impregnado nas veias de Hughes, Holland e Galley (“The Giant’s Dead Hoorah“, “Wings”, “Another Day”). Com Jones sendo o chefe-mor, a maioria das canções é cantada por ele, e Hughes ficou com apenas algumas faixas a serem interpretadas. O trabalho vocal desse álbum é digno de destaque. Faixas como “Over”, “Nancy Gray”, Fairytale/Verily Verily/Fairytale” e “It’s My Life” demonstram que o grupo batalhava por um lugar ao sol como mais uma grande banda vocal. Destaque para as sombria “Suicide” (onde Rowley viaja no órgão) e “Am I”, bem como a canção mais famosa do LP, a balada “Send Me No More Letters”.
Medusa [1970]
Rowley e Jones abandonaram o Trapeze por problemas internos com a London Records, e assim, nascia o power-trio que é falado até hoje, tendo Hughes na liderança dos vocais. O LP de estreia da nova formação é uma paulada. Um disco tentando buscar raízes no funk (“Black Cloud”, “Your Love Is Alright” e “Touch My Life”) mas puxando muito para o rock progressivo, em canções longas como “Jury” e
“Medusa”.
Esse álbum registra uma das melhores performances de Hughes no vocal: “Seafull”. Essa canção possui o riff mais bonito da história do Trapeze, arrepiando até a unha. Para os que procuram algo do Deep Purple, ouçam “Makes You Wanna Cry” e sintam-se dentro de Come Taste the Band (1975).
You Are the Music… We’re Just the Band [1972]
O álbum mais famoso do Trapeze. Recheado de clássicos, é o disco derradeiro para Hughes ir parar no Deep Purple. Se a performance no álbum anterior era soberba, aqui ele compôs cinco das oito faixas sozinho, estraçalhando a garganta em faixas como
“Coast to Coast”, “What Is A Woman’s Role” e “Will Our Love End”. Outro destaque vai para o uso de metais e de convidados como B. J. Cole tocando slide guitar (“Keepin’ Time”, “Coast to Coast”) e Rod Argent no piano elétrico (“Feelin’ So Much Better Now” e “Loser”).
Aqui, o Trapeze achava seu estilo definitivo, que seguiria nos álbuns seguintes, e ele está nas faixas “Way Back To The Bone” e
“You Are The Music”. Riffs abafados, batidas dançantes e refrões grudentos davam a receita para o futuro do grupo, mas agora não mais como um power-trio.
Hot Wire [1974]
Glenn Hughes foi para o Deep Purple, e para seu lugar, Holland e Galley chamaram Pete Wright (baixo) e Rod Kendrick (guitarras). Com a saída de Hughes, Galley assumiu os vocais e também o slide guitar, mantendo as melodias vocais de You Are the Music… Canções embaladas (
“Back Street Love”, “Take It On Down The Road” e “Make Up Shake Up”) faziam do Trapeze um grupo diferente dentro do hard setentista, mesclando peso com o funk em doses exatas, propiciando ao ouvinte saúde suficiente para dançar pela sala ao mesmo tempo que batia a cabeça como um bom roqueiro. Ouça “Turn It On”, “Goin’ Home” e “Midnight Flyer” para verificar como a mão direita de Galley criava riffs funkeados fantásticos. Destaque maior para os quase 9 minutos de
“Feel It Inside”, onde vocalizações femininas tranformam o Trapeze em uma cópia de Ike & Tina Turner, em um embalo sensacional.
Trapeze [1975]
Um ano após o lançamento de Hot Wire e com o mesmo time, o Trapeze começava a entrar em decadência. As baixas vendas do álbum anterior fizeram com que Galley tivesse que recorrer a vários convidados para poder terminar esse LP. Canções excelentes acabaram ficando escondidas dentro de um dos álbuns mais injustiçados da história.
“Monkey” é um boogie ZZ Topiano para Billy Gibons não botar defeito, assim como “Soul Stealer”, “Star Breaker” e “The Raid” mantém o padrão de swingueira dos álbuns anteriores. Metais estão presentes em quase todo o LP, que tem seus momentos máximos com a participação de nada mais nada menos que Glenn Hughes, na ótimas balada “Chances” e na mais que Trapeze “Nothin’ for Nothing”. Um ótimo disco, apesar de muitos criticarem a forma como foi construído.
Hold On [1979]
Com Peter Goalby (que futuramente cantaria no Uriah Heep) nos vocais, o Trapeze voltou em 1978 e lançou Hold On. Novamente, Galley se cercava de vários convidados, como Marvin Spence (Wishbone Ash) e Geoff Downes (The Buggles, Yes, Asia). Apesar de ser pouco conhecido, é um bom disco, que em alguns momentos lembra a fase do Grand Funk Railroad pós-Shinin’ On. São vários os pontos de destaque, como o solo de slide em “Don’t Ask Me How I Know”, as ótimas e dançantes
“Take Good Care”, “When You Go To” e
“Running”, essa última tendo os vocais divididos entre Goalby e Mel, e é um AOR bem interessante, que não sei como não virou trilha de alguma propaganda de cigarro.
Uma das melhores faixas do LP, com certeza! Duvido que você não saia cantando o refrão que entoa o nome da faixa. Para os que procuram algo mais na linha do que o Trapeze gravara até ali, comecem o disco por “Livin’ on Love”, a mais funkeada do álbum, com uma bela participação de Holland. Farofeiros, ouçam “Don’t Break My Heart”. A bela introdução com arranjo de cordas e piano é seguida por uma embalante e grudenta canção, com frases que ficarão na cabeça por alguns dias. As cordas também aparecem em “You Are” e “Time Will Heal”. O instrumental dessa última é muito bom, com as cordas fazendo um dueto com Mel, e a canção deixando aquela sensação de “como seria isso com o Hughes?”. Fuja da faixa-título! Goalby tentanto imitar o estilo de Hughes ao cantar não dá para aguentar. Como curiosidade, Hold On foi lançado com uma capa totalmente diferente na Alemanha, com o nome de Running, e tendo
quatro belíssimas loiras totalmente nuas se expondo ao ouvinte. Só essa capa já vale o investimento.
Conheço apenas os três primeiros, sendo os dois discos como trio excelentes, difícil decidir qual o melhor. Agora, é hora de ir atrás dos outros, pois, apesar da impressão passada ser de que os discos não podem ser rotulados como clássicos, tais quais "Medusa" e "You Are the Music…", parecem ser no mínimo dignos de muitas audições agradáveis.
Tambem so conheco os 2 discos com formacao "classica", que sao intens obrigatorios para quem acompanha a carreira dos membros do Purple e do Whitesnake. Agora, que fim levou o Dave Holland depois das acusacoes de pedofilia?
Ele foi condenado a oito anos de prisão, Leonardo. Atualmente está na cadeia, onde escreve uma autobiografia que diz que é inocente.
Aí está uma banda da qual conheço muito pouco. E concordo plenamente que ela é muito mais falada do que ouvida. O jeito agora é correr atrás…
ótimo texto, recomendo muito o Hot Wire, que é um excelente disco!
Abraço!
Ronaldo
Não conheço nada além do Medusa e o You are the music…
Porém, apesar de usar um nome dá para notar que na verdade foram diferentes bandas ao longo do tempo…
Para os que querem conhecer um pouco mais da história do Trapeze, tem texto saindo do forno aqui
http://baudomairon.blogspot.com/2011/01/trapeze.html
Um abraço!