Europe – Almost Unplugged [2008]

Europe – Almost Unplugged [2008]
Por Mairon Machado
Eu tinha uns três, quatro anos no máximo (Micael, me ajude), e não entendia nada de música. Porém, eu lembro que duas canções me deixavam vidradão, com vontade de ficar tocando teclado e ser um astro do rock. A primeira delas era “Rendezvous IV”, de Jean Michel Jarre. Adorava aquele “ta-na-nã” desta canção (joguem as pedras e debochem à vontade). A outra tinha na introdução o riff que eu adorava, sem eu nem saber o que era um riff. O nome dela, “The Final Countdown”, do Europe.

Lembro que demorei anos para comprar o álbum de mesmo título, que fora lançado em 1986, e que quando o ouvi, só aproveitava-se a música que eu adorava (para o meu gosto musical) quando na infância, e que agora já nem era mais tão boa assim. Eu tive azar (ou sorte) de ter adquirido o LP bem na época que conhecia John Coltrane, portanto, não era uma boa mescla. 

 

Europe em 1986
Vendi o LP e acabei baixando versões de “The Final Countdown” com orquestra e com o próprio Europe, as quais tenho bem armazenadas em um CD que gravei com músicas que gosto, mas que não me animo a comprar o disco (existem coisas nesse CD que vocês não acreditariam se eu contasse, hehehe).

 

Os anos se passaram, eu comecei a escrever para a Collector’s Room, e depois, graças aos amigos que fiz por lá, em uma negociação que envolveu Grêmio, Palmeiras e Flamengo, fui contratado a peso de ouro e mais três bootlegs picture disc da SBB aqui pelo Consultoria do Rock, e de cara tive aprovado o pedido para continuar com os podcasts que rolavam na Collector’s, mas de uma forma diferente, com todos colaborando. E exatamente no segundo podcast, me foi sugerida uma versão do Europe tocando “Suicide”, do Thin Lizzy.

John Norum
Pesquisando na internet, descobri que essa canção estava no CD Almost Unplugged, e fui atrás do mesmo. Quando ouvi o CD na íntegra, meu queixo caiu! Aquela banda, que não tinha nada de bom (a não ser “The Final Countdown”), tinha registrado um álbum sensacional e que eu, por pura birra, nem sequer sabia que existia.

A formação apresenta o famoso loiro Joey Tempest (vocais, violões), o excelente guitarrista John Norum (guitarra, violão), John Leven (baixo), Mic Michaeli (teclados) e Ian Haugland (bateria, vocais), ou seja, os mesmos caras que gravaram The Final Countdown em 86.

Registrado ao vivo com um quarteto de cordas, no dia 26 de janeiro de 2008, na avenida Nalen, em Estocolmo, Suécia, terra natal do Europe, e lançado em 17 de setembro de 2008, esse CD abre com três canções da década passada. A primeira delas é “Got to Have Faith”, uma ótima e sensual canção levada pelo wah-wah de John Norum. Logo em seguida, cordas aparecem, e eu “que não gosto” de discos com cordas, já atiço o ouvido. Chega o refrão, e as cordas fazem interessantes intervenções, que já conquistam os primeiros pontos. Essa canção foi gravada originalmente no álbum Start from the Dark (2004), mas não tive a oportunidade de ouvir a versão original, só sei que aqui ficou bem legal.
 
“Forever Travelling” vem a seguir, agora com Norum assumindo o violão, em outra interessante e embalada faixa, com um bom solo de Norum. Essa faixa consta no CD Secret Society, de 2006, de onde o grupo também registrou uma boa versão para “Devil Sings the Blues”, com Norum mandando ver no riff, enquanto as cordas fazem um belo acompanhamento entre gritos histéricos de fãs exaltadas. Aqui podemos perceber as velhas linhas vocais de Tempest tomando conta do recinto, e o porquê de Norum ser “o” guitarrista do Europe, já que quando ele pega a guitarra, sai de baixo, é sonzeira na certa. O final, duelando com as cordas, é outro belo momento, levando a um crescendo que infelizmente Haughland não conseguiu dar o acompanhamento que eu esperava, mas enfim, o que Norum toca nesse solo é de tirar o chapéu!

Então, começam as surpresas. Primeiramente, o cover para “Wish You Were Here” (Pink Floyd), que logo no anúncio já traz mais gritos histéricos, e o Europe manda ver numa versão fiel à original, apenas com Norum alterando os fraseados do violão para seu estilo de tocar.

O Europe retorna ao início da carreira, lá no segundo LP da banda, Wings of Tomorrow (1984), e de lá resgata uma pérola, “Dreamer”. Tocando piano, Michaeli solta o riff da canção, e a mulherada delira, cantando junto com Tempest uma das primeiras canções que conheci do Europe (depois de “The Final Countdown” e “Carrie”), e que aqui continuou sendo uma melosa mas boa balada.

 

John Norum
Daí então, a prova de fogo surge. “O que é isso? Não acredito, os caras vão estragar um clássico”. Bom, isso foi eu pensando quando ouvi os primeiros acordes ao piano de “Love to Love”, uma das canções mais importantes do UFO. É não é que eles mandam bem! Apesar de um erro aqui ou outra falha acolá (que somente um chato fã do UFO pode achar), a canção ficou muito boa. O início não ficou pesado como o original, obviamente por Norum estar tocando guitarra e Tempest violão, mas as linhas de Michael Schenker estão ali, assim como Michaeli, apesar de não reproduzir nota por nota da versão original, também está tocando bem. As cordas então fazem a vez do violão (no caso do UFO) e Tempest começa a cantar. 
Tá, eu não vou comparar com Phil Mogg (até por que não tem comparação), mas fica o comentário de que na frase “Misty green and blue” parece que falta voz para Tempest. Agora não tem, o destaque mesmo vai para Norum, mais uma vez solando forte. As linhas da guitarra, junto com o quarteto de cordas, encaixaram muito bem ao pique que a canção pede e tem com o UFO, e novamente o único ponto negativo vai para o fraco e previsível acompanhamento de Haughland.
Joey Tempest contando histórias
Então, Tempest começa com “once upon a time, in the basement, in the edge of Stockholm, there was a little punk that bought a keyboard from another punk. He came up with the riff and so they changed a lot of things. And the rest that they sing, is a mystery” e entre violões e wah-wah, Tempest começa uma versão totalmente diferente para “The Final Countdown”, naaaaaada a ver com a versão original, tirando os acordes, é claro. O riff que eu idolatrava quando guri não estava presente na entrada. Mas basta o refrão para o lugar vir abaixo, e as cordas entoarem então esse que é um dos riffs mais importantes dos anos 80.
 

Essa canção significa muito, não só por ser uma ótima canção, mas por ser um dos hinos da chamada “geração farofa”, que rola até hoje em qualquer vitrola, em qualquer casa de um ser vivo que ouve qualquer tipo de música. Desde o pagodeiro mais chato até o metaleiro mais escandinavo, “The Final Countdown” é um marco musical, e a versão que está em Almost Unplugged, com Norum repetindo o solo no violão, é de chorar. Para levar uns tapas, fica a crítica que o arranjo das cordas é bem simples. O Europe poderia ter trabalhado mais isso, mas será que tem competência?! Bom, é uma brincadeira, pois quem faz uma canção como “The Final Countdown” certamente tem competência para manejar um quarteto de cordas como poucos.

Joey Tempest
As guitarras surgem em “Yesterday’s News”, onde Norum manda ver no wah-wah, e podemos finalmente ouvir melhor o trabalho de Leven, nessa faixa que originalmente é lado B do single de “Halfway to Heaven”. Essa faixa conta com um bom solo de Michaeli, imitando “Immigrant Song” (Led Zeppelin) em alguns pontos.

Daí, se você acha que o Led vai ficar só naquela citaçãozinha a “Immigrant Song”, Norum manda ver o riff de “Since I’ve Been Loving You”. Caraca!!!! Que baita blues!!! A mulherada novamente enlouquece, e o trabalho de Michaeli, Norum e da cozinha junto com as cordas, fazem um arranjo fantástico. Tempest disponibiliza tudo o que sabe para interpretar essa linda faixa que Page e cia. criaram em 1970, e de novo o Europe faz bonito, nessa que para mim foi a melhor cover que o grupo registrou dentro do CD, principalmente por Norum e Tempest darem a cara deles para a canção (não sei se vocês conseguem entender, mas eles não tentam copiar o Led, eles imitam o estilo, mas do jeito deles), claro com todos os descontos que se possa dar a Tempest, mas nem o próprio Plant consegue cantar essa canção hoje em dia como nos anos 70.

 

Europe em 2010: John Leven, Ian Haughland, Joey Tempest, Mic Michaeli e John Norum

“Hero” (do álbum Start from the Dark) surge com o piano fazendo a melodia inicial, e mais um refrão grudento, seguida pela cover de “Suicide” (Thin Lizzy), essa com outro belo solo de Norum e também com partes muito legais das guitarras de Norum e Tempest.

O belo início de “Memories”, do primeiro álbum da banda, apresenta outra canção que ganhou uma cara bem diferente com os violões, mas que fica reconhecível com a linha vocal de Tempest, e com Norum fazendo as linhas do solo no violão, que ficaram muito boas.

Por fim, o álbum encerra-se com “Superstitious” (do álbum Out of this World), com direito a um duelo Tempest e público,  e “Rock the Night” (do The Final Countdown), essa mais pesada que a versão original, mas com toda a farofice que lhe foi reservada quando concebida, com outro duelo entre Tempest e público e com aquele refrãozão mais que grudento sendo repetido na sua cabeça por dias e dias após o término do CD.
Capa da versão vinílica
Almost Unplugged também saiu em uma tiragem limitada em vinil, a qual estou tentando buscar no exterior através dos canais já conhecidos por todos nós.

 

Um ótimo disco, que se não me tornou um fãzaço do Europe, pelo menos serve para se ouvir e cantarolar de vez em quando. Agradeço então ao Leonardo por ter me sugerido, além de uma música, um dos melhores discos ao vivo gravado na década passada. Se você é fã da banda, com certeza já tem esse CD. Se não é, adquira já. E fica a curiosidade (pelo menos para mim que ainda não vi) de ver a versão em DVD desse fantástico show do Europe.
“Rock now, rock the niiiiiight, ooooh, ooooh!!!!!”

11 comentários sobre “Europe – Almost Unplugged [2008]

  1. No meu casamento eu queria que os músicos tocassem Arthur do Rick Wakeman na minha entrada. Mas o cara falou que tinha pouco tempo para tirar a música e fazer o arranjo com o quarteto de cordas. Daí eu pensei na The Final Countdown, até para brincar com a Cristiane por causa do nome da música. Os caras toparam e eu entrei ao som dessa música feita por violinos e violoncelo….ficou bem legal. Pena que na filmagem o som dessa parte não tenha sido captado corretamente…

  2. Ahhh….mais uma coisa. quando eu pedi para eles tocarem a música do Rick Wakeman o cara me disse que não conhecia. E o cara é musico profissional, tecladista e tudo o mais. Eu falei para ele que tocar teclado e não conhecer o Rick Wakeman é o mesmo que jogar de futebol e não saber quem é o Pelé…O cara não gostou nada de eu ter falado isso…hehehe

  3. Eu que sou fã do Europe vejo esse disco com algumas restrições. Agora me impressiona o Mairon escrevendo sobre o Europe…. até assustei…

    Os comentários do Fernando já to acostumado…

    o disco é bom… mas acho que se fosse uma versão acustica voz e violão o disco seria muito melhor…. sei lá….

  4. Tá doido… melhor do que tá não fica… esse ao vivo funcionou muito bem dessa maneira… algo como o "One Live Night" do Dokken, mas mais incrementado…

  5. Opa, Mairon, que bom que a indicacao te fez conhecer essa perola.

    Peguei o disco quando saiu e fiquei maravilhado. TODAS as versoes sao maravilhosas, inclusive os covers. Mas os destaques para mim sao Memories e Forever Traveling, que já era ótima na versao original e ficou estupenda nesse disco.

    Tambem é impossivel nao falar do John Norum… como toca, extremo bom gosto… Descendente direto do Michael Schenker, Gary Moore, Scott Gorham e Brian Robertson.

    Tambem recomendo para quem curtiu esse disco o semi-acustico do Dokken, One Night Live. Apesar de nao ter as cordas, as musicas tem versoes interessantes, e o George Lynch tambem faz um trabalho senscional nas guitarras. Quem sabe o Mairon nao se empolga com a farofice….

  6. O Mairon tem o seu passado farofeiro, só não quer confessar… Eu tenho o primeiro do Firehouse em vinil, porque ele passou para mim, dizendo que tinha "enjoado" do disco… mentira, tava quase furado…

    E essa fase do Mairon é isso memso, ele tinha três, no máximo quatro anos…

  7. Po Daniel, te assustei é. Eu fui farofa por alguns dias (uns dois ou três, hehehehe)

    Quero ver esses videos do Fernando, e o cara nao conhecer Wako éque deve ser muito fraco

    E Fernando, qual foi a reação da tua esposa?

  8. Eu sou suspeito em falar desse album , pois demorei muito pra digeri lo . Mais depois de algumas audições , ele vai melhorando , é como um vinho , quanto mais velho , melhor .

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