Por Mairon Machado
O surgimento de um dinossauro do rock progressivo pode afetar diretamente no desenvolvimento de outros dinossauros? A resposta a essa pergunta é afirmativa sem sombra de dúvidas quando estamos tratando de Emerson, Lake & Palmer. Quando da sua criação, em 1970, o trio britânico agregava três grandes músicos que vinham de três projetos de dinossauros que, por caminhos diferentes, tiveram que sofrer alterações em suas formações.
Keith Emerson vinha do grupo The Nice, uma excelente mistura de virtuosismo, psicodelia e improvisos, que registrou álbuns fantásticos como Ars Longa Vita Brevis (1968), e que depois de algumas brigas internas, acabou em 1970, com os dois últimos álbuns (lançados em 70 e 71) apresentando canções que ficaram engavetadas nos álbuns anteriores.
Já Greg Lake fora arrancado das entranhas do King Crimson de Robert Fripp, onde gravou os álbuns In the Court of the Crimson King (1969) e In the Wake of Poseidon (1970). A saída de Lake quase levou o King Crimson à extinção, mas Fripp deu a volta por cima e transformou o grupo em um Tiranossauro Rex que destruiu o que veio pela frente a partir do excepcional Lizard (1970), e que conquistou o planeta com uma formação inesquecível, ao lado de Bill Bruford (bateria), John Wetton (baixo, vocais), Jamie Muir (percussão) e David Cross (violinos), no magnífico Larks’ Tongues in Aspic (1973).
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Vincent Crane, John Du Cann e Carl Palmer (1970) |
Carl Palmer era o baterista do power trio Atomic Rooster. Ao lado de Vincent Crane (teclados) e Nick Graham (baixo, flauta, vocais), Palmer registrou o primeiro álbum da banda, Atomic Rooster (1970), e depois foi participar do grupo de Emerson, onde se consagrou como um dos principais nomes da bateria.
Porém, Palmer deixou um imenso vazio para Crane, que pouco antes havia perdido Graham para o grupo Skin Alley. Para manter o Atomic Rooster na ativa, Crane efetivou o guitarrista contratado do álbum de estreia, John Du Cann, e para a bateria, o jovem Paul Hammond, que havia participado do grupo Farm, foi recrutado.
Surgia assim a mais poderosa formação do Atomic Rooster, com Crane fazendo as linhas de baixo no seu órgão hammond, e com Du Cann assumindo os vocais. Não demorou para que o grupo lançasse o primeiro álbum com essa formação, e ainda em 1970, Death Walks Behind You apresentou uma sonoridade pesada, sombria, e principalmente, o órgão de Crane engolindo os ouvintes como um gigantesco tubarão.
Faixas como “Death Walks Behind You”, “VUG”, “Tomorrow Night” e “I Can’t Take No More” caracterizariam a banda como uma das mais proemintentes no estilo do hard setentista, mas ainda fortemente ligados ao som do primeiro álbum, que muitos comparam ao Emerson, Lake & Palmer por causa do órgão de Crane, e é na faixa de encerramento do LP, “Gershatzer”, que a fusão hard/prog do Atomic Rooster cravou para a história a nossa maravilha do mundo prog dessa semana.
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Du Cann, Crane e Hammond, em foto clássica de divulgação de Death Walks Behind You |
Totalmente instrumental, “Gershatzer” apresenta em seus quase oito minutos toda a técnica e fúria de Crane empregadas com a jovialidade de Hammond. Du Cann é um coadjuvante da batalha de órgão e bateria, apenas marcando os riffs para Crane e Hammond fazerem o que quiserem
Tudo começa com os acordes do órgão fazendo o riff principal, onde Hammond soca a bateria como se estivesse com luvas de boxe. Um pequeno tema feito pela guitarra e órgão, com várias rufadas da bateria, levam a repetição do riff principal. Crane está absoluto comandando o órgão e as notas graves do “baixo”, e Hammond continua mandando ver na bateria.
Crane então começa a solar no piano, sozinho, fazendo diversas escalas, entrando em um rápido solo de órgão com várias intervenções do piano, voltando então para a sequência do solo de piano, que vai ganhando velocidade com a adição do moog e das notas graves, até entrarmos na fantástica sequência de acordes feitas com o órgão, que abrem o assustador e sombrio solo nesse instrumento, com muita velocidade e efeitos estranhos jogados aleatoriamente para o ouvinte.
Um crescendo nos acordes retoma o riff principal, levando ao empolgante solo de bateria, com Hammond destruindo nas batidas dos bumbos e das caixas, criando ritmos interessantes durante a execução do mesmo, que é feito em uma velocidade impressionante. Após o solo, voltamos para o riff principal, encerrando a canção com uma furiosa sessão de acordes da guitarra entre viradas de Hammond e acordes pegajosos de Crane.
As apresentações ao vivo de “Gershatzer” poderiam chegar a quase 20 minutos dependendo da inspiração de Crane e Hammond, sendo que em algumas delas, Du Cann simplesmente se sentava ao lado do palco, no chão mesmo, e ficava apenas observando o duelo entre os seus colegas.
Depois desse álbum, a mesma formação lançou o já não tão bom In Hearing of Atomic Rooster (1971), tendo nos vocais Pete French, e em 72 saía o fraco Made in England, com uma formação e sonoridade bem diferentes, as quais levaram ao fim precoce do Atomic Rooster no ano de 73, com o lançamento de Nice ‘n’ Greasy. O grupo ainda retornaria na década de 80, onde lançaram mais dois álbuns: Atomic Rooster (1980, com Du Cann nas guitarras) e Headline News (1983, com Hammond na bateria e participação de David Gilmour nas guitarras), mas que fogem bastante do que foi apresentado nos dois primeiros álbuns do grupo, e principalmente nessa maravilha prog que encerra um dos principais discos da história do hard setentista, chamada “Gershatzer”.
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Du Cann, Hammond e Crane pós apresentação do grupo (1971) |
Como nota adicional, lamentavelmente os dois protagonistas de “Gershatzer” não estão mais entre nós. Crane sofria de acessos de insanidade e vários problemas mentais, vindo a falecer em 14 de fevereiro de 1989 por consequência de uma overdose de remédios contra a dor. Já Hammond faleceu em 1993 por decorrência do abuso de álcool durante sua vida. Duas grandes perdas para o mundo do rock, e que hoje são “vítimas” do resgate de obscuridades que a tecnologia nos propicia, e que graças a isso me apresentou essa banda que é fundamental na prateleira dos que apreciam o estilo.
Um grande disco do hardprog.
Grande lembrança, Mairon.
Atomic Rooster é ótimo. Meu gosto porém é um pouco diferente do seu. Acho que os três primeiros álbuns da banda vieram em um crescendo, sendo In Hearing Of o melhor deles. Nesse disco está, para mim, a melhor música instrumental da banda: A Spoonful of Bromide Helps the Pulse Rate Go Down. Tem um vídeo dessa música no youtube, com a banda tocando em estúdio (me parece) que é sensacional.
Mas valeu a lembrança. Passei a manhã ouvindo a banda.
Pois é Mister, bela lembrança. Spoonful é muito boa, e não é que eu não curta o In Hearing, só acho que o que eles fazem no DWBY é mais pesado. Black Snake é outra que eu curto bastante, e o DVD com o Farlowe vale a pena. Enfim, de uma forma geral esses três primeiros álbuns são essenciais
Não conheço PAUL NEWMAN da banda, como dizem..
Vou querer conferir esse disco, principalmente essa música, pra ver se encontro uma bateria mais bem "composta" que a do Palmer!
Gostei do destaque pro Larks' do King Crimson, meu favorito deles, mas acho que o Gaspari não gostou de não ter mencionado o Islands, hehe.
Mas que belezinha, hein??? As bandas tidas como prog metal poderiam se inspirar um pouco mais na porradaria de "Gershatzer" ao invés de se preocuparem tanto em soarem extremamente perfeitinhas!
Falou e disse Diogo. Tem varias que se encaixam nisto que falasse. Mas tem gente para comprar os discos e ir nos shows, então, acho dificil mudarem
Concordo com o MISTER… O in a hearing eh demais, e o DWBY TBM, Principalmente a "Gershatzer" q eh muito foda… Atomic eh muito bom e msm o Made England eh legal..