I Wanna Go Back: House of Lords [1988]

I Wanna Go Back: House of Lords [1988]


Por Diogo Bizotto

Para discorrer um pouco a respeito da origem do House of Lords é impossível dissociar-se de outro grupo, de curta existência, surgido nos anos 80, o Giuffria. Carregando o nome de seu fundador e tecladista Gregg Giuffria, que havia sido integrante da banda Angel no final dos anos 70 e início dos anos 80, o grupo, inicialmente composto por David Glen Eisley (vocal), Craig Goldy (guitarra), Chuck Wright (baixo) e Alan Krigger (bateria), além de Gregg, lançou seu debut auto-intitulado em 1984 , apresentando um AOR bastante melódico, dominado por teclados, que não diferia muito do que diversos outros grupos praticavam na época. Mesmo assim, obteve bons resultados nas paradas norte-americanas, destacando o single “Call to the Heart”, que alcançou a 15ª posição no Top 100 da Billboard.
O segundo álbum, Silk and Steel (1986), teve um desempenho abaixo das expectativas, e o single para “I Must Be Dreaming” passou longe de repetir a repercussão de “Call to the Heart”. Já contando na época com o guitarrista Lanny Cordola substituindo Craig Goldy, que migrara para a banda Dio, e com o baixista David Sikes, que ocupou a vaga deixada por Chuck Wright, que passava uma temporada no Quiet Riot, o grupo foi despedido pelo selo MCA enquanto registrava demos para o que viria a ser o terceiro álbum do Giuffria.
Gregg conseguiu um novo contrato através de seu amigo Gene Simmons (Kiss), que na segunda metade dos anos 80 investiu tempo e dinheiro na gravadora de sua propriedade, a Simmons Records, lançando diversos grupos de rock. Apesar de serem conhecidos de longa data e antigos companheiros na gravadora Casablanca, que era a responsável por colocar no mercado os discos do Kiss e do Angel, Simmons impôs uma severa condição à assinatura do contrato: David Glen Eisley deveria sair do grupo. Sua voz não agradava ao baixista e vocalista do Kiss. Chuck Wright, tendo retomado o trabalho com Gregg, sugeriu James Christian, egresso da pouco conhecida banda L.A. Rocks.
Gregg Giuffria

Com a formação estabilizada com Giuffria, James Christian e Chuck Wright, além do guitarrista Lanny Cordola e do novo baterista, o experiente Ken Mary, que já havia tocado inclusive com Alice Cooper, a nova banda foi batizada como House of Lords, também a “pedido” de Gene Simmons. O primeiro álbum, auto-intitulado, foi lançado em 1988 e obteve boa repercussão no concorrido cenário da época, onde diversos grupos de existência efêmera pipocavam a todo momento.

Apesar de, mesmo assim, a estreia do House of Lords ter ficado abaixo do primeiro álbum do Giuffria em se tratando de desempenho nas paradas norte-americanas, a grande vantagem da nova banda encontrava-se no track list. Mesmo que a presença dos teclados de Gregg ainda representassem muito na sonoridade do grupo, em House of Lords temos muito mais ênfase na guitarra de Lanny Cordola, dando diversas vezes contornos mais heavy metal ao disco, apesar das características melódicas do AOR ainda estarem intactas. Tão importante quanto isso é o benefício que a troca de vocalistas acarretou no grupo. Embora James Christian e David Glen Eisley não possuam diferenças estilisticamente tão fortes, é notável que James possui uma voz mais marcante e canta em registros mais agressivos, trazendo novas possibilidades ao grupo, que soava mais limitado e “domesticado” com David.
O álbum, que alcançou a 78ª colocação nos Estados Unidos, abre mostrando que, apesar da ênfase menor nos teclados no decorrer de seus 45 minutos, o patrão ainda era Gregg Giuffria. Diversos sintetizadores introduzem “Pleasure Palace”, que, em um crescendo acompanhado por rolos de bateria, muda de contornos após um minuto e quarenta segundos, dando lugar a um hard rock melódico de linhas vocais inteligentes, fazendo com que qualquer ferrenho fã de David Glen Eisley se renda ao talento de James Christian. Um ótimo solo do guitarrista Lanny Cordola também serve para mostrar que os tempos eram diferentes, e que na nova banda seu instrumento teria muito mais espaço para brilhar.

O hit (apesar de tímido) do álbum é “I Wanna Be Loved”, co-escrita pelo então guitarrista do Asia, o suíço Mandy Meyer, junto com Steve Johnstad, um veterano vocalista que já havia tocado com diversas bandas, e que até hoje alega não ter recebido a devida compensação por seu trabalho. Musicalmente, a canção é um grande destaque, dando total ênfase ao belo trabalho de guitarra executado por Cordola, especialmente em seu marcante solo introdutório. Como em praticamente todos os refrões encontrados no álbum, a presença de backing vocals é forte. “Edge of Your Life” traz os teclados de Giuffria em primeiro plano durante toda sua extensão, mas especialmente na bela introdução. O bom desempenho de Christian, demonstrando sua extensão vocal, dá a tônica dessa canção que, apesar de não ter sido lançada como single, possuía potencial para tal. O lado mais heavy metal do álbum dá as caras pela primeira vez na maliciosa “Lookin’ For Strange”, aberta com um veloz solo de guitarra e conduzida por um andamento acelerado de Ken Mary, mas demonstrando um swing atípico para músicas desse gênero.

A escolha para o segundo single do álbum recaiu sobre a power ballad “Love Don’t Lie”, cover do guitarrista e vocalista Stan Bush, que na época havia conquistado certa notoriedade por colocar algumas canções suas em diversas trilhas sonoras cinematográficas. A versão original, apesar de muito boa, conseguiu ser superada pelo House of Lords, que, mantendo as melodias originais, adicionou peso e uma nova dinâmica à música, com mais ênfase na guitarra e linhas de bateria mais presentes, além da maior dramaticidade emprestada por James Christian. Infelizmente a faixa não chegou a constar de nenhuma lista da Billboard, fato quase incompreensível ao observar a quantidade de músicas do mesmo gênero muito piores que galgaram as posições mais elevadas das paradas.

James Christian, Lanny Cordola, Gregg Giuffria, Ken Mary e Chuck Wright

Outra que mostra a faceta heavy do disco é “Slip of the Tongue”, composta em parceria com Rick Nielsen, guitarrista do Cheap Trick. Repleta de pirotecnias guitarrísicas, traz mais uma vez o trabalho de Lanny Cordola em evidência. “Hearts of the World”, mais do que em qualquer outra faixa do álbum, traz a presença de backing vocals em seu refrão. Falando no assunto, uma curiosidade encontrada no álbum é o fato de Jeff Scott Soto, o vocalista multi-bandas e presente nos mais diversos projetos (Talisman, Yngwie Malmsteen, Axel Rudi Pell, Journey, Takara…), estar executando aqui uma de suas primeiras de diversas participações como vocalista de apoio. Aberta com teclados imitando instrumentos de sopro, “Under Blue Skies” é conduzida por uma boa levada de baixo e bateria e pontuada pelas intervenções de Giuffria, incluindo um pequeno solo de teclado. Trata-se de uma faixa que, se trabalhada melhor, poderia tomar os contornos de um pequeno épico.

“Call My Name” abre com a bateria de Ken Mary e mostra-se uma música com grande possibilidade de interação com o público em concertos. Uma produção menos polida (assinada por Gregg Giuffria e Andy Johns) poderia adicionar uma crueza bem vinda à essa faixa. O encerramento do disco se dá com “Jealous Heart”, com Lanny Cordola demonstrando seu talento ao violão, abruptamente interrompido pelos teclados e pela voz de James Christian, que não tarda e traz um refrão melódico e apropriado à finalização do álbum.

House of Lords pode não ter sido tão bem sucedido quanto se esperava, muito menos seus sucessores, mas deixou marcas indeléveis nos apreciadores da faceta mais melódica do hard rock, trazendo um line-up extremamente competente, incluindo um dos tecladistas mais importantes do gênero e revelando um ótimo vocalista, que futuramente tomaria as rédeas do grupo, especialmente nos tempos mais recentes, onde James Christian é o único remanescente da formação original do grupo. Se você se identificou com as descrições presentes neste artigo e ainda não conhece o álbum, fica a recomendação: House of Lords tem tudo para lhe conquistar.

Track list:

1. Pleasure Palace
2. I Wanna Be Loved
3. Edge of Your Life
4. Lookin’ For Strange
5. Love Don’t Lie
6. Slip of the Tongue
7. Hearts of the World
8. Under Blue Skies
9. Call My Name
10. Jealous Heart

4 comentários sobre “I Wanna Go Back: House of Lords [1988]

  1. Essa é uma das bandas para a qual o termo "injustiçada" foi cunhado. Uma das melhores bandas do Hard rock , assim como o Giuffria , sem obter sucesso algum , seu debut é obrigatório na discografia de quem se diz fã de hard rock

  2. Esse disco do House Of Lords é sensacional. Tambem gosto muito dos dois seguintes, e dos mais recentes, do World Upside Down e do Come To MY Kingdom, mas esse primeiro é insuperavel.

    Tudo se encaixa a perfeicao, as guitarras, os teclados e a voz maravilhosa do James Christian.

    Recomendado até para quem não é muito chegado a AOR, porque há tambem bastante peso.

  3. É, vá ouvir os lixos que você gosta , como Legião Urbana a maior piada pseudo intelectual da história da música brasileira.

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