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Styx em 1972: Chuck Panozzo, John Panozzo, John Curulewski, Dennis De Young e James Young |
Por Mairon Machado
O grupo norte-americano Styx é um dos principais no cenário hard dos anos 70 e também do AOR no início dos anos 80. Formado na cidade de Chicago no ano de 1966, tendo adotado o nome Styx apenas em 1972, teve seu início caracterizado por sonoridades progressivas mescladas com doses hardeiras que os levaram a comparações com grupos como Uriah Heep e Deep Purple. Essa formação inicial, que contava com Dennis De Young (teclados, voz, hammond, moog, mellotron, eletrônicos, sintetizadores…), John Curulewski (guitarra, voz, sintetizadores), James Young (guitarras, voz), além dos irmãos gêmeos John (bateria, percussão, voz) e Chuck Panozzo (baixo, voz), possuía sim os elementos citados, mas fazia um hard cuja sonoridade era única, lançando quatro discos através da gravadora independente Wooden Nickel.
A saída de Curulewski em 1975, ao mesmo tempo em que o grupo lançava seu primeiro LP pela gravadora A&M, permitiu a entrada de Tommy Shaw nas guitarras e vocais, e assim, o grupo entrou na onda AOR que surgia nos Estados Unidos, conquistando fãs e tornando-se mundialmente conhecido com diversas baladas e rocks simples, fugindo das características iniciais da fase com Curulewski, abandonando o progressivo aos poucos, e investindo pesado em letras melosas e canções amenas.
Com uma vasta discografia, contando com 15 álbuns de estúdio, 6 ao vivo e 14 coletâneas, nessa primeira parte, apresentaremos os discos do Styx durante a década de 70, concentrando-se apenas nas versões originais dos álbuns de estúdio, já que os quatro primeiro álbuns lançados no início da década de 70 (que saíram pela gravadora Wooden Nickel) foram relançados posteriormente em 1980 com outros nomes e até com outras canções. Então, prepare-se para atravessar por esse longo e denso rio chamado Styx.
Styx [1972]
A estreia vinílica do Styx não poderia ser melhor. Doses progressivas brotando dos sulcos do LP em canções pesadas, com uma sonoridade forte e atraente que mesclava covers com canções compostas pelo grupo desde o início, como a épica suíte “Movement for the Common Man”. Dividida em quatro partes (“Children of the Land”, “Street Collage”, “Fanfare for the Common Man” e “Mother Nature’s Matinee”), ela ocupa quase todo o lado A, apresentado o rock que caracterizaria o som do Styx durante a fase Wooden Nickel, com destaque para os solos de hammond e os duelos entre James e Curulewski, e para o excelente jazz onde Dennis sola com o hammond, enquanto Curulewski e James fazem alguns riffs que parecem ter saído dos álbuns de Wes Montgomery. Outra fato marcante nessa fase do grupo é a inclusão de temas clássicos no track list dos LPs, neste caso “Fanfare for the Common Man”, de Aaron Copland. Mais destaques vão para “What Has Come Between Us” (originalmente composta por Mark Gaddis) e “Best Thing”, onde uma das principais características do Styx aparecem com destaque, que são as vocalizações feitas por Curulewski, James e Dennis. Nos álbuns seguintes, essas vocalizações tornariam-se ainda mais fortes com a inclusão dos irmãos Panozzo. “After You Leave Me”, de George Clinton, e “Quick is the Beat of My Heart”, de Lewis Mark, mantém a linha de excelentes rocks regados de hammond e guitarras, e o swing de “Right Away” parece ter inspirado Richie Blackmore e cia. na clássica “Holy Man”, do álbum Stormbringer (Deep Purple). As influências progressivas eram tantas que Dennis, depois de ouvir Emerson, Lake & Palmer (lançado em 1970), utilizou um moog modular em quase todo o álbum, se tornando um dos primeiros (ao lado de Keith Emerson) a usar esse instrumento nos palcos. Esse álbum foi relançado em 1980 com outra capa e com o título de Styx I, apresentando a mesma sequência de canções.
Styx II [1973]
Único álbum do grupo a não contar com pelo menos uma composição de James Young, Styx II manteve a linha do álbum de estreia, com destaque para o uso inédito das guitarras gêmeas nas canções do grupo. Esse LP mostra a evolução vocal do grupo em canções como “You Better Ask” e “I’m Gonna Make You Feel It”. A segunda recriação clássica é “Little Fugue in G”, de Bach, que é tocada apenas por Dennis com o órgão da Catedral de St. James, em Chicago. Nesse álbum está o primeiro grande sucesso do Styx, a faixa “Lady”, que alcançou a sexta posição nas paradas americanas contando com um bom trabalho de vocalizações. Mas, pessoalmente, meus maiores destaques vão para “You Need Love” e “Father O.S.A.”, duas canções pesadas que lembram muito o Uriah Heep da fase David Byron, onde ouvimos pela primeira vez o excelente trabalho de guitarras gêmeas feito por James e Curulewski; “Earl of Roseland”, com uma ótima participação de John Panozzo, demonstrando claras influências de Keith Moon, além de gritos e riffs que lembram bastante o grupo The Who; e o projeto de maravilha prog “A Day”, onde harpa e sintetizadores participam da introdução em um andamento viajante que acompanha os vocais de Curulewski, levando para um delicioso jazz onde temos um divino solo feito pelas guitarras gêmeas, ganhando velocidade e chegando ao êxtase em bends excepcionais, além de um excelente trabalho de escalas marcadas que é complementado por um fantástico solo de hammond dentro do andamento jazzístico. Sem dúvida, um dos melhores momentos instrumentais da carreira do Styx. Styx II foi relançado em 1980 com o nome Lady (não confundir com a coletânea de mesmo nome), modificando a capa mas com a sequência original das canções mantida.
The Serpent is Rising [1974]
Definido pelos membros do grupo como o pior álbum do Styx e um dos piores lançamentos da história do rock, The Serpent Is Rising está longe de ser um álbum ruim. Na verdade, ele tinha tudo para ser o melhor do Styx, não fosse a verdadeira c*$#da cometida em uma faixa chamada “Plexiglas Toilet”, uma canção escondida dentro da bela “As Bad As This”. “Plexiglas Toilet” é um aborto com ritmo caribenho que encerra o lado A, mas deconsiderando essa derrapada feia, o resto do álbum é muito bom, com destaque para as pesadíssimas “Witch Wolf”, “Winner Take All” e “22 Years”. As guitarras gêmeas estão presentes na introdução de “Jonas Psalter”, outro hard tipicamente Styx, em uma das raras canções do grupo a não conter um refrão. Experimentações como o cravo e a harpa aparecem em “The Grove of Eglantine”, onde o excelente trabalho vocal e também o andamento dos irmãos Panozzo são os principais pontos de destaque. “Young Man” possui um início praticamente acústico, mostrando que James e Curulewski também domavam com sabedoria os violões, se transformando em um pesado hard onde Dennis solta agudos que lembram Rob Halford (Judas Priest) e contando com uma intrincada sessão instrumental. O maior destaque vai para o excelente hard/blues da faixa-título, uma das melhores canções do grupo, com um andamento sensacional dos irmãos Panozzo. Curulewski canta essa excelente canção, com melodias e refrões muito bem trabalhados. A polêmica “Krakatoa” apresenta apenas a macabra voz de Curulewski, recheada de efeitos, entoando um poema sobre a ilha que foi destruída por um vulcão, rendendo muitas acusações de que o grupo seria satanista pelas citações ao diabo e ao inferno. A citação clássica desse álbum fica por conta de “Hallelujah”, de Handel, interpretada com o órgão da Catedral de St. John Fischer e com um coral formado por todos os membros do Styx. Nesse álbum, Dennis estreou o sintetizador Oberheim que havia surgido um ano antes, e abandonou o moog modulado, se tornando um pioneiro no uso desse sintetizador que faria tanto sucesso na década de 80. A linda capa original de The Serpent Is Rising foi feita por Dennis Pohl e o relançamento de 1980 continha uma capa diferente, assim como o nome, que passou a ser apenas Serpent. Esse foi o álbum do Styx com a segunda pior posição nas paradas. Até o ano de 2007, pouco mais de 100 mil cópias haviam sido comercializadas. Pena para os que não o conhecem, já que a sonoridade geral (excluindo “Plexiglas Toilet”) é sensacional e puramente Styx.
Man of Miracles [1974]
Se The Serpent is Rising tinha tudo para ser o melhor álbum do Styx, no mesmo ano o grupo lançou o forte candidato ao título. Man of Miracles não apresenta deslizes, e conta com uma linda capa elaborada por Lee Rosenblatt (motivo para os carolas americanos novamente taxarem o grupo de satanistas, vendo o demônio na imagem do mago). O Styx dividia-se em temas progressivos e rock puro, abolindo as recriações clássicas e investindo pesado em canções curtas, pesadas e extremamente dançantes, mescladas com doses leves de momentos amenos. A casa vira de ponta cabeça nos hards de “Rock and Roll Feeling”, com uma ótima pegada de John Panozzo, um dos mais injustiçados bateristas da história do rock, “Havin’ A Ball”, com um ótimo trabalho das guitarras gêmeas e das vocalizações, assim como “A Man Like Me” e “Cristopher, Mr. Cristopher”. O boogie de “Southern Woman” parece ter saído dos primeiros álbuns do ZZ Top. Na versão original, o grupo reinclui “Best Thing”, (Styx) por motivos que infelizmente não sei dizer quais são. Os momentos mais amenos estão em “Evil Eyes” e na linda “Golden Lark”, interpretada apenas por piano, vocalizações e o inconfundível vocal de Dennis, tendo um belo tema executado por Chuck, e que antecede outro projeto de maravilha prog, “A Song for Suzanne”. Um estrondoso trovão abre uma tempestade com chuvas e raios, entre um triste tema feito pelo violoncelo, levando para o tema crimsoniano da guitarra que apresenta o riff do baixo e do sintetizador. O arranjo instrumental é fantástico, com diversos temas marcados entre guitarra, baixo e bateria, e com um pesado e encantador refrão, repleto de vocalizações. A canção ganha ainda mais peso à medida que desenvolve a letra, com John novamente tocando muito e demonstrando toda a sua inspiração em Keith Moon. Outra maravilha prog encerra o álbum, com a sensacional faixa título. “Man of Miracles” é pesada, progressiva e hardeira para nenhum fã do estilo ficar parado, desde a introdução, com o ritmo marcial da caixa e do tímpano de John acompanhando o tema do moog entre acordes de violão e sintetizadores, passando pelo sombrio tema onde o tímpano fica sozinho, trazendo as densas vocalizações que repetem o tema do moog entre acordes de sintetizadores, batidas nos pratos e tímpanos, chegando nas vocalizações que entoam o nome da canção, e assim, o hammond surge com acordes muito pesados e rasgados que fazem o riff principal, lembrando de cara o Uriah Heep. Com a entrada das guitarras, o riff parece sair dos álbuns do Black Sabbath, e o andamento sensacional dos irmãos Panozzo apresenta os vocais de James, chegando aos acordes de moog entre o rufo da bateria, repetindo o andamento marcial com um show de John Panozzo entre os bends de James. Belíssima canção que encerra um belíssimo LP. No relançamento de Man of Miracles, em 1975, “Best Thing” foi substituída pela cover “Lies”, originalmente composta por R. Randall e B. Charles. Depois, em 1980, o álbum foi relançado com o nome de Miracles, trazendo “Unfinished Song” no lugar de “Best Thing”. Man of Miracles também vendeu pouco, ficando apenas na posição 154 das paradas americanas, sendo o último álbum pela independente Wooden Nickel.
Equinox [1975]
Pela poderosa A&M, o grupo lançou, em 1975, o álbum Equinox, que mostrava novos olhares dos músicos do Styx, tentando conquistar fãs da nova geração, que desinteressava-se pelo progressivo e buscava sonoridades mais modernas. A nova construção das canções do Styx pode ser percebida na faixa de abertura, “Light Up”, onde as guitarras sintetizadas dão as caras, trazendo modernidade ao som do grupo. “Lonely Child” e “Lorelei” seguem a mesma linha, sendo essa última o maior sucesso do LP, alcançando a posição de número 30 nas paradas americanas com o seu rock que é simplesmente o que o Styx ofereceria de melhor a partir de então. Os últimos suspiros progressivos aparecem em “Mother Dear”, onde as guitarras gêmeas têm destaque, assim como um andamento no chimbal que lembra “Yours Is No Disgrace” (Yes), e na épica suíte “Suite Madame Blue”, composta para homenagear os 200 anos da independência dos Estados Unidos, com um dos mais belos arranjos da carreira do Styx e que se tornou essencial nas apresentações do grupo a partir de então. O refrão dessa canção, cantado por todos, é o momento máximo do álbum, onde temos um belíssimo solo de sintetizador que abre espaço para as guitarras ocuparem seus espaços de uma forma sensacional, tendo ao fundo um belíssimo e pesado acompanhamento de Dennis e dos irmãos Panozzo. A parte pesada do LP fica por conta de “Midnight Ride” e “Born for Adventure”, com um refrão para sair cantando pela sala entoando o nome da canção. A aparição clássica é “Prelude 12”, composta por Curulewski e com harmônicos apresentando um lindo dedilhado. Equinox alcançou a posição 58 no ano de lançamento, e chegou ao ouro em 1977, sendo o último álbum com Curulewski nos sintetizadores e nas guitarras, que saiu da banda para dedicar-se mais a família e projetos pessoais, tornando-se professor de música em La Grange, Illinois, vindo a falecer em 13 de fevereiro de 1988 devido a um aneurisma cerebral. A partir de então, o grupo partiria em busca de um novo guitarrista, conquistando novos mundos e confirmando-se entre as maiores bandas americanas da história.
Crystal Ball [1976]
Para o lugar de Curulewski, o jovem Tommy Shaw foi o escolhido, e assim, o Styx assumiu uma nova cara, mais moderna e voltada para os adolescentes americanos, que os afastavam dos fãs que acompanharam a fase com Curulewski, mas que lançou-os a conquistar o mercado americano e posteriormente o mundo, começando com Crystal Ball. O novo rock do Styx está presente em faixas como “Shooz”, onde Tommy mostra seus dotes com a slide guitar, “Mademoiselle” e “This Old Man”, essas duas as únicas a conterem guitarras gêmeas. No geral, essas canções apresentam muitas vocalizações e arranjos bem mais simples. Canções mais pesadas como “Put Me On” e “Jennifer” parecem fugir da proposta total do álbum, e são os melhores momentos ao lado da leve “Crystal Ball”, com um excelente trabalho vocal que é um precursor do rock farofa oitentista e que também se tornou essencial nas apresentações do Styx, e da fantástica sequência que encerra o LP, com o tema clássico de “Clair de Lune”, composta por Debussy, que nos leva para o riff de “Ballerina”, onde Dennis canta emotivamente. Muitas vocalizações levam aos solos de James, pisoteando o wah-wah, e Tommy, arrancando lágrimas da guitarra, nesta que é de longe a melhor canção do álbum. O disco é muito bom para a nova proposta sonora do Styx, mas para o que já havia sido feito até Equinox, acaba se tornando uma pequena decepção. Crystal Ball alcançou a posição 66 nas paradas americanas quando de seu lançamento, recebendo platina no ano de 1978. Assim como os quatro LPs seguintes, recebeu uma versão em formato de vinil picture-ouro, homenageando a marca de vendas.
The Grand Illusion [1977]
Este foi o álbum que consagrou o Styx comercialmente, alcançando a incrível marca de vinil triplo de platina, graças ao sucesso dos hits “Come Sail Away” (que ficou na oitava posição) e “Fooling Yourself (posição 29). Nele, o Styx encontrou a fórmula para o sucesso, agradando tanto aos antigos fãs, em faixas como “Castle Walls” e Miss America”, como conquistando novos fãs através das canções citadas acima. A mistura de progressivo com hard foi muito bem recebida. Vários são os destaques: o uso de guitarras gêmeas em diversas canções (“Superstars”, “Man in the Wilderness”, “Castle Walls” e The Grand Finale”), o peso de “Man in the Wilderness” e “Miss America”, essa última inspirada em “Minstrel in the Gallery” (Jethro Tull), a sessão jazzística de “Castle Walls”, e claro, os refrões eternos de “Fooling Yourself” e “Come Sail Away”. Dois grandes clássicos admirados pela grande maioria dos fãs, que definem bem o que se tornou o Styx a partir da entrada de Tommy Shaw, e das quais eu gosto mais de “Come Sail Away”, onde o dedilhado do piano nos apresenta os emotivos vocais de Dennis, interpretando uma leve balada que se transforma, relembrando momentos do álbum Tommy (The Who) e da fase inicial do Styx, com uma ótima participação de John Panozzo, e com um grudento refrão onde as vocalizações entoam o nome da canção, além do fantástico solo de teclado ARP Odyssey feito por James. Boa faixa, que particularmente só não é a melhor do LP devido à sensacional “Castle Walls”. The Grand Illusion alcançou a sexta posição nos charts americanos, tornando-se o maior sucesso comercial do Styx até então.
Pieces of Eight [1978]
Este álbum deu sequência ao sucesso de The Grand Illusion, apresentando mais duas canções que se tornaram clássicas na carreira do Styx: “Renegade” e “Blue Collar Man (Long Nights)”. Não gosto muito da primeira, já que o andamento oitentista (presente em grande parte do álbum) é demais para o meu gosto, mas não posso negar o belo trabalho vocal, que em alguns momentos lembra Bee Gees. Já a segunda é um petardo que abre o lado B com um excelente riff de hammond e com o andamento tipicamente AOR acompanhando os vocais de Tommy, dessa vez agradando principalmente pelo peso das guitarras. A canção que abre o lado A, “Great White Hope”, também é muito boa, com um refrão similar ao de “Miss America” e com um dos raros momentos progressivos do álbum durante o solo de moog. O Styx gravou duas instrumentais para esse LP: “The Message” e “Aku-Aku”, ambas sem oferecer muito a se comentar. Porém, o que marca são canções bem ao estilo arena, como “I’m OK” (que poderia estar presente também em qualquer álbum farofa), a balada “Sing for the Day” e a faixa-título. Destaque ainda para “Lords of the Ring”, onde temos uma bela sessão instrumental com muito peso durante o solo de moog, e “Queen of Spades”, a melhor canção do álbum, contando com um riff grudento e ótimas vocalizações, além dos belos solos de Tommy e James. Pieces of Eight alcançou a segunda posição nas paradas americanas, destacando como sucessos os singles de “Renegade” (décimo sexto), “Blue Collar Man (Long Nights)” (vigésimo primeiro) e “Sing for the Day (quadragésimo primeiro), e peca apenas por privar demais o trabalho dos irmãos Panozzo, que tornavam-se cada vez mais músicos de estúdio.
E o sucesso não parou para o Styx. Cornerstone foi o segundo álbum do grupo a alcançar platina tripla, vendendo horrores nos Estados Unidos graças à canção “Babe”, além de “Boat on the River”, que fez muito sucesso na Europa, principalmente na Alemanha e na Suíça, onde alcançaram o primeiro lugar nas paradas. Tratando primeiramente de “Babe”, sinceramente essa canção não me agrada. É nela que está um dos riffs mais conhecidos (se não o mais conhecido) da história do Styx e o refrão onde as vocalizações arrancavam gritos histéricos e lágrimas das fãs do grupo, que não paravam de crescer. Uma balada melosa, assim como outras que aparecem no LP, e dentre as quais eu prefiro “First Time”, principalmente pelo arranjo de cordas e pelas vocalizações cantando “don’t be afraid of love”, que certamente saiu de algum disco dos Bee Gees, além de um trecho mais inspirado em Queen da fase inicial. Aliás, o Styx caprichou nas inspirações vocais desses dois gigantes do rock, e se você quer ouvir mais semelhança com Bee Gees, vá para a faixa de abertura, “Lights”, um rock suave com destaque para a interessante sessão instrumental. Já a faixa seguinte, “Why Me”, é outra que podemos comparar ao Queen. Ainda, o Styx se inspirava em ABBA (com o perdão da comparação, mas como fã do grupo, não dá para não reconhecer as melodias vocais) em “Never Say Never”, outro rock suave que não tem muitas atrações além do excelente trabalho vocal. O AOR estilo Styx aparece com “Borrowed Time”, mais uma sem grandes atrativos que abre o lado B, surgindo assim depois da canção que encerra o lado A, que é exatamente “Boat on the River”, uma espécie de “Lady in Black” (Uriah Heep) do Styx, com violões, mandolim e baixo acompanhando o sintetizador na bonita introdução, e que é cantada por Tommy. O bonito arranjo da canção, contando com um acordeão tocado por Dennis, acompanhando o ritmo do mandolim, leva ao destaque maior que é o magnífico solo de mandolim feito por Tommy. Já no encerramento do vinil estão guardadas as melhores canções do LP, “Eddie”, composta por James, que é a mais pesada faixa gravada nos sulcos de Cornerstone, onde o músico faz misérias no solo de guitarra sintetizada, e a bela “Love in the Midnight”, apresentando ótimos momentos instrumentais, destacando outro grande solo feito por Tommy. Esse é um disco mediano, mas, pela quantidade de baladas melosas, acabou agregando cada vez mais fãs, vendendo muito nos Estados Unidos e com “Babe” se tornando praticamente um hino dentro da discografia do grupo, que terá seguimento na próxima semana pelos anos 80, 90 e a entrada nos anos 2000.
Desde que o Mairon se dispôs a escrever uma discografia comentada do Styx eu já sabia que teríamos várias discordâncias, que já haviam brotado em discussões anteriores. Portanto, lá vamos nós (risos):
Não sou da opinião que os quatro primeiros álbuns representam o que de melhor o Styx ofereceu. Concordo que a banda estreou com o pé direito. “Styx” é um bom álbum, ousado porém equilibrado, bastante voltado ao lado mais progressivo do grupo. “Styx II” é melhor ainda, trazendo composições de mais qualidade, super bem estruturadas e sem jamais perder o foco, além de apresentar uma ótima produção para a época. Porém, acho que a banda perdeu um pouco desse foco nos dois álbuns seguintes, “The Serpent Is Rising” e “Man of Miracles”, especialmente nesse primeiro. Existem sim boas canções, algumas excelentes, mas os discos não funcionam de maneira tão equilibrada, alternando hard rocks, boogies, baladas e canções progressivas sem tanta coesão.
Considero “Equinox” e “Crystal Ball” como discos de transição, ainda mantendo a maioria dos elementos dos álbuns anteriores, mas trazendo uma sensibilidade pop muito bem vinda, que contribuiu na criação de canções que, sem perder a qualidade, eram mais cativantes do que nunca, vide “Lorelei” (que refrão!) e “Crystal Ball” (maravilha de power ballad!), apenas para ficar em uma por disco. Ao mesmo tempo, mantiveram canções mais pesadas (“Born For Adventure” e “Midnight Ride”) e épicas (“Suite Madame Blue” e “Ballerina”). Aliás, “Suite Madame Blue” é forte candidata a minha favorita do grupo, e “Equinox” talvez não seja meu álbum favorito, mas é indubitavelmente o que mais ouço. A banda pode ter perdido um ótimo compositor e guitarrista com a saída de Curulewski, mas a entrada de Tommy Shaw adicionou muito, destacando-se logo no início e tornando-se um protagonista anos mais tarde.
Acredito que com “The Grand Illusion” a sonoridade pela qual o Styx ficou famoso surgiu de vez. Por mais que houvesse um acento pop mais pronunciado, mesmo os singles não soavam exageradamente comerciais, sendo bem trabalhados, com instrumentações caprichadas. Ao mesmo tempo, uma canção como “Castle Walls” definitivamente não fazia feio frente aos épicos mais antigos. “Pieces of Eight” enveredou um pouco para um caminho mais AOR e confirmou de vez a importância de Tommy Shaw no grupo, tendo cunhado as excelentes e hardeiras “Blue Collar Man” e “Renegade”, se destacando mais que todos os outros no disco, apesar de “Queen of Spades” (de Dennis e James) ser fodona. Discaço! Em “Cornerstone” as tendências AOR ficaram mais fortes ainda, especialmente pelas mãos de Dennis De Young. Gosto muito do gênero, mas penso que para o Styx isso foi um pouco negativo em se tratando de sonoridade. Mesmo assim é um belo disco!
Aos que quiserem acompanhar um pouco da historia do Styx além de um desenvolvimento dos álbuns fase Curulewski, acessem
http://baudomairon.blogspot.com/2011/03/styx-parte-i.html
Diogo, apesar de eu curtir mais a fase inicial, o AOR do Styx me soa muito bem, principalmente no Paradise Theatre, que irei falar na proxima semana. O Cornerstone é bem fraquinho em relação aos demais, e eu penso que o Tommy, apesar de ser um bom compositor e ter um carisma forte, não é páreo para o saudoso Curulewski.
Quem manteve a linha mais rock no grupo foi o James, o resto acabou vendendo-se para o comercialismo fácil. Apesar dos pesares, ainda assim saiam perolas como Castle Walls, Suite Madame Blue e Blue Collar Man, só para citar algumas
Abraço e valeu o comentário
Bacana o texto, um ótimo panorama. O Styx é uma banda com a qual sempre tive o pé atrás, mas conheci o primeiro disco e me surpreendi positivamente. Acredito que até 75 tenha muitos elementos que eu gosto na música deles!
Abraço!
Ronaldo
Grande Ronaldo. Meu velho, vejo que em termos de Styx também concordamos. Se tu gostas do Yes anos 90, eu te recomendo a ouvir o álbum Cyclorama (de 2003). Talvez tu te surpreendas tb. Nada comparado ao feito nos quatro primeiros, mas é um excelente álbum para a época que foi concebido, como tentarei mostrar na parte II.
Abração