I Wanna Go Back: Bad English – Backlash [1991]
Apesar da posição de destaque ocupada no comando do grupo, o vocalista perdeu a vontade de continuar com o Journey. Assim, após o abrupto término da turnê para Raised on Radio, o trio remanescente, Perry, Schon e Jonathan Cain (teclados), tomou cada um seu caminho, colocando a banda de molho por tempo indefinido. Contudo, não demorou muito para que os caminhos de Schon e Cain se encontrassem novamente. Primeiramente, trabalharam com o cantor australiano Jimmy Barnes, produzindo, tocando e co-escrevendo músicas no álbum Freight Train Heart. O mesmo ocorreu em The Hunger, disco que revelou para o mundo o cantor pop Michael Bolton. O segundo passo foi montar uma nova banda a fim de levar adiante suas ideias musicais.
Ex-membro do grupo britânico de pop rock The Babys, Jonathan Cain uniu-se, junto a Neal Schon, aos ex-companheiros de banda John Waite (vocal) e Ricky Phillips (baixo), formando o Bad English, que teve seu nome inspirado em uma jogada de sinuca (o “english”). A formação foi completada com a entrada do habilidoso baterista Deen Castronovo, que vinha firmando seu nome participando de discos de guitarristas virtuosos como Tony MacAlpine e Marty Friedman, além das bandas Wild Dogs e do Cacophony.
Bad English |
O primeiro álbum, auto-intitulado, surpreendeu aqueles que não apostaram suas fichas no sucesso do quinteto. O som apresentado é similar ao AOR desenvolvido por Schon e Cain na primeira metade dos anos 80 com o Journey, mas dotado de melodias mais “alegres”, além da personalidade especial de John Waite, dono de uma performance mais rocker e irreverente que a de Steve Perry. Apesar dos teclados de Cain serem parte essencial da sonoridade do Bad English, a guitarra de Schon aparece com muito mais evidência que em Raised on Radio, sendo importantíssima na construção desse disco que teve bastante importância na manutenção do hard rock melódico em alta, culminando na primeira posição na parada de singles da Billboard alcançada por “When I See You Smile”. Fato digno de nota, ainda mais tendo em vista que o próprio Journey, apesar de todo o sucesso experimentado entre 1978 e 1986, nunca havia colocado um single no topo das listas.
Ok, Bad English é um bom álbum, bem sucedido, gerou dividendos… mas devo admitir que, apesar de boas canções como a citada “When I See You Smile”, além de “Best of What I Got”, “Possession”, “Forget Me Not” e da balada “Price of Love”, outra a obter grande sucesso comercial, aprecio mais a sonoridade do segundo disco, Backlash. Só que, como o próprio nome indica, o álbum foi uma sacudida (backlash) na curta carreira do Bad English. É difícil precisar o motivo pelo qual Backlash passou longe de obter o mesmo reconhecimento de seu predecessor, pois, apesar de valorizar mais a guitarra na mixagem, o estilo desenvolvido pelo grupo está intacto, contando com composições tão boas quanto ou até melhores que as de Bad English.
Em uma entrevista realizada mais de dez anos após o término do grupo, o baixista Ricky Phillips foi honesto e disparou: “O Bad English foi um sucesso momentâneo. Encaixava-se em tudo o que estava acontecendo na época”. A verdade é que, antes mesmo do segundo disco ter sido oficialmente lançado, o quinteto já havia se separado, fato que pode ter determinado a pouca atenção dada ao lançamento tanto por parte da gravadora quanto dos músicos, que não realizaram turnê alguma para promover o disco. Ricky Phillips e Neal Schon expressaram especial frustração com o lado mais pop de sua música, manifestando o desejo de fazer um som mais pesado.
Ao menos Backlash ficou como o testamento de um grupo talentoso, mesmo que com prazo de validade curto. A abertura com “So This Is Eden” parece ter sido criada com a intenção de provocar a reação das plateias, vide o coro que a inicia, um convite à participação do público. Co-escrita com Russ Ballard, bem sucedido compositor de canções que se tornaram conhecidas com grupos como Rainbow, Kiss e Uriah Heep, a faixa estabelece o tom animado que se segue até o final das dez faixas aqui presentes.
Se há em Backlash uma música nitidamente superior às registradas no disco anterior essa é “Straight To Your Heart”. Contando com uma presença muito mais forte dos riffs de Neal Schon, ela passa longe de ser uma power ballad clichê. Dona de linhas vocais variadas e de um refrão empolgante, ainda por cima é coroada com um dos ótimos solos do exímio guitarrista. A posição de número 42 na Billboard não fez justiça a essa fantástica canção. E o que dizer de “Time Stood Still”, que sequer foi lançada em single? Arrisco dizer que essa balada, mesmo que não atingisse patamares tão estratosféricos quanto “When I See You Smile”, tinha todos os méritos para figurar nas cabeças das listas, tivesse recebido a devida promoção por parte do grupo e da gravadora. Seu início dedilhado logo revela um refrão melódico que tinha tudo para conquistar milhões de ouvintes na época.
Ricky Phillips, John Waite, Neal Schon, Jonathan Cain e Deen Castronovo |
Bem, isso aqui é um disco tipicamente AOR, então não é de se estranhar que, após uma balada, venha outra música do mesmo gênero, caso de “The Time Alone With You”, dessa vez com um andamento mais típico que a anterior. É quase inútil dizer, mas essa é outra que conta com mais um dos perfeitamente colocados e bem timbrados solos de Neal Schon. É de se perguntar: conseguiria esse cara executar algum solo ruim, de mau gosto? Duvido. A alegre “Dancing Off the Edge of the World” ajuda a tocar o baile, deixando claro que o guitarrista teve bem mais espaço para se expressar nesse disco que em Bad English. Outra que segue na mesma linha é “Rebel Say a Prayer”, também co-escrita com Russ Ballard, que possui um refrão bem trabalhado nos backing vocals, mas sem exageros.
“Savage Blue” conta com uma introdução que lembra um pouco o Journey de Raised on Radio, mas com uma produção bem menos datada, o que é um mérito. Aliás, há de se destacar o trabalho de Ron Nevison, produtor que trabalhou com mais artistas consagrados do que você ousa pensar, formando uma lista que conta com nomes que vão de Bad Company a Led Zeppelin, passando por UFO e Ozzy Osbourne, entre muitos outros. Mesmo as nem tão interessantes “Pray For Rain” e “Make Love Last” soam bastante agradáveis, em grande parte por mérito da sonoridade extraída por Ron junto aos cinco competentíssimos músicos.
“Life at the Top”, como o nome indica, encerra com entusiasmo um disco que, fosse levado a sério e promovido com o mesmo entusiasmo, poderia ter rendido muito mais frutos. A separação do Bad English não se deu entre brigas ou algo do tipo; cada integrante seguiu seu caminho, alguns com mais, outros com menos sucesso. Neal Schon, que aspirava produzir um som mais agressivo, atingiria seu objetivo, junto a Deen Castronovo, unindo-se ao grupo de hard rock Hardline, participando ativamente do processo de composição, gravação e da turnê para o excelente álbum Double Eclipse (1992), um dos melhores registros do gênero nos anos 90. John Waite voltou a investir em sua carreira solo, assim como Jonathan Cain, que além de lançar seus próprios discos, continuou compondo material para outros artistas. Quanto a Ricky Phillips , o baixista participaria em 1993 do álbum Coverdale/Page da dupla em questão. Mesmo que você não tenha grande apreço pelo AOR, confira o trabalho desses exímos músicos. Espero que lhes atinjam “straight to your heart”.
Track list:
1. So This Is Eden
2. Straight to Your Heart
3. Time Stood Still
4. The Time Alone With You
5. Dancing Off the Edge of the World
6. Rebel Say a Prayer
7. Savage Blue
8. Pray For Rain
9. Make Love Last
10. Life at the Top
Diogo, esses videos que postasse sao verdadeiras expressões do AOR anos 90. Baladinhas sem sal e refrões levanta-arena. Mais ma que tentei, mas não deu.
Ainda, Straight to your heart saiu de algum disco do Sammy Hagar com o Van Halen, talvez o OU812 ou o Balance???? É muito igual!!!
Hehe, valeu pela sinceridade… a moral é que, apesar de eu estar consciente de toda essa dose de açúcar, eu gosto de muita coisa do gênero, não adianta, não há como ser tão racional. Acho "Straight to Your Heart" um puta som empolgante, digna, sim, dos melhores momentos do Van Halen com Sammy Hagar.
Balance é um puta discão! Mas não é o tipo de coisa que me interesse conhecer mais, só ele já basta.