Podcast Grandes Nomes do Rock #17: Mutantes
Six Sided Rockers: Raphael, Mogguy, Serginho, Rita e Arnaldo |
O único registro do O’Seis |
O trio que virou a música brasileira de ponta cabeça: Rita Lee (acima), Arnaldo Baptista (esqerda) e Sérgio Dias (direita) |
O grupo acabou se desintegrando principalmente por que o empresário do O’Seis era um cidadão chamado Toninho Peticov. Arnaldo ficou muito insatisfeito com a produção e com o trabalho de Peticov, e já havia feito um contato com outro empresário, Asdrúbal Galvão. Arnaldo, Rita e Serginho assinaram um contrato com Galvão, excluindo Mogguy e Pastura. Ao saber da decisão dos demais integrantes, Villardi pulou fora e disse não confiar em Galvão, e também porque o guitarrista era namorado de Mogguy.
Enfim, meses depois nascia Os Mutantes. Galvão acabou sendo um dos responsáveis pelo nome da banda. Ele havia sugerido dois nomes: Os Bruxos e Os Mutantes. Ronnie Von colocou o nome de Os Bruxos em sua banda, ficando então Os Mutantes para o jovem trio. Ronnie também foi o responsável pelo batizado do grupo na parte de gravação, que viria a ser no álbum Ronnie Von No 3, além de tornar a banda uma das atrações de seu programa de TV, “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”, da Rede Record.
Delirando em Sampa (1968) |
Estreia dos Mutantes, vinil esencial em qualquer discografia de rock nacional |
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A banda ainda participou de faixas dos álbuns de Gil e Caetano antes de, em 1969, lançar seu segundo disco. Agora retirando o artigo “Os” do nome, Mutantes chegou as lojas escandalizando a sociedade paulista e brasileira, já que Rita aparece na capa do disco vestida de noiva, mas com um detalhe: uma noiva grávida (forte para os padrões culturais da época). Na contra-capa, temos os integrantes fantasiados de ETs, sendo que Rita esta com seis dedos.
A contribuição de Duprat nesse álbum diminuiu consideravelmente, mas o que não diminuiu o trabalho dos garotos, pelo contrário, eles já estavam prontos para galgar horizontes maiores, contando agora com o baterista Dinho “Du Rancharia” Leme. O sucesso de seu segundo álbum, regado com as diversas participações em festivais, fizeram com que Rita Lee se tornasse uma musa para os fãs, chamando a atenção também de diversas gravadoras.
Em Mutantes, estão clássicos como “Don Quixote”, “Mágica”, “Qualquer Bobagem”, “Rita Lee”, “Caminhante Noturno” e a colaboração com Tom Zé, “2001”. Além disso, a canção “Algo Mais” acabou sendo utilizada em diferentes propagandas televisivas da gasolina shell, onde Rita, Sérgio e Arnaldo são os protagonistas.
Compacto de Caetano Veloso com participação dos Mutantes (1968) |
Ando Meio Desligado ou A Divina Comédia, com o túmulo de isopor (acima) e a polêmica contra-capa do mesmo álbum (abaixo) |
A passagem pela França influenciou direto os garotos, que voltaram a mil para o Brasil, lançando o antológico e marcante A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado. Já na capa, uma visão do inferno de Dante, com Arnaldo saindo de uma tumba feita de isopor e com muito gelo seco, mais uma ideia do irmão Cláudio. Nos sulcos do vinil, os Mutantes começavam a mostrar cada vez mais a evolução individual de cada um, com Arnaldo concentrando-se em novos sons para os teclados e com Sérgio fazendo solos cada vez mais elaborados.
Os grandes destaques desse LP ficam por conta de “Ando Meio Desligado”, “Meu Refrigerador Não Funciona”, “Desculpe Babe”, “Ave Lúcifer”, “Haleluia” e “Oh! Mulher Infiel”. O grupo fez uma debochada versão para a clássica “Chão de Estrelas” (de Silvio Caldas e Orestes Barbosa), e acabou gerando problemas com a conservadora sociedade brasileira, que acabou destruindo diversas cópias do vinil em praça pública, alegando que tal obscenidade com um clássico da canção popular brasileira não poderia ser admitido.
Antes disso foi lançado o primeiro trabalho solo de Rita Lee. “Build Up” tem a participação dos Mutantes em todas as faixas, mas, perto do que eles haviam feito com A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, é um álbum relativamente fraco.
Se em A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado os Mutantes rasgaram o cordão umbilical que os prendia a sua carreira inicial, foi em Jardim Elétrico que se tornaram respeitados também como músicos. O álbum começou a ser gravado em uma nova incursão pela França. A ideia era lançar os Mutantes como banda também na Europa, fazendo então um álbum totalmente voltado para a indústria fonográfica européia. O problema barrou na falta de critério para a seleção das músicas, bem como na falta de apoio financeiro para os integrantes (que agora já eram cinco) permanecerem na França. O álbum ficou engavetado por anos, sendo lançado somente em 2000 com o nome de Tecnicolor.
Mutantes em Paris: Arnaldo, Sérgio, Rita, Dinho e Liminha |
Jardim Elétrico foi uma pedrada nos críticos, que diziam que os Mutantes era somente Rita Lee. Arnaldo está impecável nos teclados e Serginho nas guitarras, enquanto a cozinha, com Liminha e Dinho, funcionou muito bem. Rita se tornava cada vez mais “um membro” da banda, sendo que o seu único talento realmente era a voz.
Com o passar do tempo na Cantareira, os Mutantes decidiram se embrenhar em uma turnê pelas cidades do interior de São Paulo, munidos de seus instrumentos e de um ônibus. Esses shows começaram em Guararema (onde foram tiradas as fotos que aparecem no segundo álbum solo de Rita) e passaram por mais algumas cidades.
O excelente Mutantes e seus Cometas no País dos Bauretz |
Descontente com o que estava acontecendo, não só com a banda mas também com sua vida pessoal (Arnaldo tornava-se cada vez mais agressivo e infiel), Rita passou a projetar sua carreira solo. Ainda em 1972 foi lançado o seu segundo disco, Hoje é o Primeiro Dia do Resto da sua Vida, que também conta com a participação dos Mutantes e é bem melhor que o primeiro. Esse LP tem pérolas como “Tapupukitipa”, “Beija-Me Amor” e Superfície do Planeta”, mas o que parecia uma realidade acabou tornando-se uma ilusão.
Rita não tinha mais moral nenhuma com a banda. Em uma ida à Europa, voltou com um minimoog e um mellotron, mas quando foi tentar usar em um ensaio virou alvo de chacota por parte dos outros integrantes. Além disso, problemas internos como falta de criatividade, briga com empresários e também os excessos de Arnaldo fizeram com que no final de 72 Rita pedisse o boné (ou os Mutantes dessem o boné para Rita, ninguém sabe realmente o que aconteceu), seguindo uma carreira solo de sucesso, enquanto os demais passaram a dedicar somente a virtuose e ao progressivo, esquecendo o passado de vez.
Mutantes pós-Rita: Liminha, Dinho, Arnaldo e Serginho (1973) |
Sessões para Tudo Foi Feito Pelo Sol. Acima: Rui Motta, Túlio Mourão, Sérgio Dias e Antônio Pedro de Medeiros (1974); abaixo, os mesmos personagens ensaiando no Rio de Janeiro (1974) |
Mutantes em Milão: Luciano Alves, Rui Motta, Paul de Castro e Sérgio Dias (1976) |
Os dois álbuns da fase progressiva: Tudo foi Feito Pelo Sol (acima) e Ao Vivo (abaixo) |
Serginho seguiu com o grupo até 1978, passando por diversas reformulações. O último show, realizado na cidade de Ribeirão Preto, acabou sendo registrado no bootleg Transmutation, cobiçado até mesmo na Europa. Serginho seguiu uma carreira solo de não muito sucesso, mas continuou a mostrar seu talento e a ser reconhecido, principalmente nos EUA e na França.
Na década de 80 inúmeros boatos de uma reunião do trio original surgiram, mas os graves problemas de saúde de Arnaldo, bem como o ego de Rita, nos privaram (e privam) dessa improvável reunião.
O álbum perdido: O A E O Z; gravado em 73, lançado 20 anos depois |
Nos anos 90 um revival Mutante ocorreu, devido a pessoas como Sean Lennon, Kurt Cobain e David Byrne, que levaram os álbuns dos Mutantes para o exterior, fazendo com que muitos brasileiros voltassem a ouvir o som do grupo novamente. O disco O A E O Z finalmente foi lançado, porém numa versão mais compacta, com metade das músicas, mas fica claro que o trabalho que a banda realizou no ano de 1973 era muito bom, em músicas como “Rolling Stone”, “Ainda Vou Transar com Você” e as três partes da suíte “O A E O Z”: “O A E O Z”, “Hey Joe” e “Uma Pessoa Só”, onde a idéia de um grupo unido é pregado de forma veemente, e o belo trabalho da banda é destaque certo para aquele fã que deseja conhecer o que de bom foi feito no Brasil . Até hoje espera-se o resto da obra, mas poucos sabem o que pode acontecer (ou na verdade o que aconteceu) com o material original.
O álbum gravado na França também foi lançado, no ano de 2000, com o nome de Tecnicolor, trazendo as versões que saíram no “Jardim Elétrico” e mais diversas regravações em inglês para músicas como “Panis Et Circensis”, “She’s My Shoo-Shoo” (“Minha Menina”), “I’m Sorry Baby” (“Desculpe Baby”), “I Feel a Little Spaced Out ” (“Ando Meio Desligado”), entre outras.
Em 2006 o grupo se reuniu para um show comemorando os 40 anos da Tropicália, contando com Serginho, Arnaldo, Dinho e mais Zélia Duncan nos vocais, além dos músicos Henrique Peters (teclados), Simone Soul (percussão), Vinícius Junqueira (baixo), Vitor Trida (teclados, guitarras, viola caipira, baixo), Esméria Bulgari (vocais) e Fábio Recco (vocais).
Liminha e Rita infelizmente não quiseram participar da reunião, que acabou sendo registrada no CD Live At Barbican Center. Após esse show, os Mutantes fizeram uma série de shows pelos Estados Unidos, se apresentando no Webster Hall (Nova Iorque), Hollywood Bowl (Los Angeles), Fillmore (São Francisco), Moore Theatre (Seattle), Pitchfork Music Festival (Chicago) e Cervantes Masterpiece Ballroom (Denver). Ainda em 2006, a gravadora Universal re Ainda naquele ano, a gravadora Universal remasterizou todos os disco da banda dos anos de 1968 e 1976 através das fitas originais.
A volta com Dinho, Zélia Duncan, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista (2007) |
Em 25 de janeiro de 2007, depois de quase 30 anos, voltam a se apresentar no Brasil durante o aniversário de 453 anos da cidade de São Paulo, levando mais de cincoenta mil pessoas para o parque do Museu do Ipiranga, começando então uma gigantesca turnê pelo país, arrancando lágrimas de muitos fãs (inclusive quem vos escreve). Em setembro, Zélia, alegando querer dedicar mais tempo para sua carreira solo, e Arnaldo, alegando tempo para projetos pessoais, acabaram saindo do grupo.
Formação dos Mutantes em 2010: Fábio, Sérgio, Bia, Vitor, Dinho, Vinícius e Henrique |
Porém, Sérgio e Dinho reformularam os Mutantes. Efetivando Henriqu, Vitor, Vinícius e Fábio, além de adicionar a talentosa vocalista Bia Mendes, o grupo lançou em 25 de abril de 2008 o single “Mutantes Depois”, a qual se tornou a primeira composição dos Mutantes a ser gravada depois de trinta anos. A canção foi colocada para download gratuito no site da banda, e esteve presente na trilha da novela Os Mutantes, da TV Record.
Haih … or Amortecedor, lançado primeiramente apenas no exterior |
Os Mutantes mostraram ao Brasil e ao mundo como era possível fazer um som excelente em um país tão precário em termo de apoio à cultura, sendo reconhecidos de forma unânime como a maior banda do rock nacional e uma das principais bandas do mundo.
Discos oficiais com Rita Lee nos vocais |
Discos, compacto, bootleg e CDs pós-Rita Lee |
Algumas raridades relacionadas ao grupo |
Muito bom!
Valeu!
Desculpa, mas RITA é RITA ! Mutantes nao seriam nada sem ela.
Rita = Negado
Arnaldo = Pai da Matéria.
E tenho dito.
Muito legal o post. Poderia ser um mini livreto biográfico da banda com certeza. Eu que sou macaco velho do Rock n Roll, desconhecia diversos fatos da carreira deles.
Parabéns.
**Quanto a alguns comentários o que tenho a dizer é que todos foram importantes igualmente no Mutantes. O que houve foi fases diferentes em que cada um contribuiu da maneira que pode.