O podcast dessa semana encerra a homenagem aos 45 anos de Pet Sounds, o principal álbum da carreira dos Beach Boys, e um dos melhores (se não o melhor) disco da história do rock. Em uma hora e meia de programa, iremos ouvir o disco na íntegra, em sua versão original mono, tanto o lado A, quanto o lado B, seguido de sessões de gravação de algumas das canções do álbum, as quais demonstram todo o trabalho de criação das partes instrumentais e vocais que o gênio Brian Wilson teve durante o período entre 1965 e 1966. Nosso bloco de encerramento apresenta Grandes Nomes do Rock fazendo regravações para canções de Pet Sounds.
Portanto, prepare-se para ouvir um programa repleto de sentimento, experimentalismo, e principalmente, genialidade.
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Beach Boys no Zoológico onde foram registradas as imagens da capa de Pet Sounds |
Seguem pequenos textos narrando um pouco sobre cada canção do álbum:
“Woudn’t it Be Nice” – gravada em 22/1/66, é uma canção que fala sobre esperança e amor. O lindo tema da introdução apresenta a bateria, destacando o acordeão em um ritmo muito dançante, que acompanha os vocais de Brian em uma das letras mais bonitas do álbum. Os vocais dos demais Beach Boys aparecem na segunda estrofe, e a ponte da terceira estrofe é construída em cima do tema inicial. Linda canção, tema principal do filme romântico “Como Se Fosse a Primeira Vez” (2004), estrelado por Adam Sandler e Drew Barrymore, e que foi escolhida perfeitamente para mostrar como Pet Sounds vem para o ouvinte.
“You Still Believe in Me” – gravada em 24/1/66, é uma canção sobre possibilidade de realizar sonhos inimagináveis. Com Brian nos vocais, esta é uma remanescente da canção chamada “In My Childhood”, que acabou sendo abortada por que Brian não conseguia construir a letra. O tema vocal da introdução, acompanhado pelo piano, mostra uma balada muito lenta, onde os membros do Beach Boys aparecem com as vocalizações cantando o nome da canção. O ponto alto da mesma é o encerramento, com um show vocal do Beach Boys.
“That’s Not Me” – gravada em 15/2/66, é a primeira canção do álbum com Mike Love nos vocais. Tão agitada quanto “Woudn’t it Be Nice”, possui um lindo órgão fazendo os acordes que acompanham os vocais de Mike, além da guitarra fazendo um sutil tema ao fundo, junto do interessante acompanhamento percussivo. Os vocais não aparecem tanto nessa canção, tendo seus momentos somente durante o refrão, o qual é cantado por Brian e Mike.
“Don’t Talk (Put Your Head on My Shoulders)” – gravada em 11/2/66, trata de momentos românticos. Brian dá uma pequena amostra de sua potencialidade vocal, acompanhado pelo órgão e pelas cordas. Lindíssima canção, em um arranjo de cordas sensacional e hipnotizante. Clima totalmente relaxado, e com a divina frase “Listen to my heart beat”, onde o baixo faz o ouvinte ouvir o coração de Brian batendo forte. As cordas, junto com a leve participação do tímpano, contornam a ausência dos vocais.
“I’m Waiting for the Day” – gravada em 6/3/66, fala sobre como o amor na Terra é imperfeito, e retorna as canções agitadas. O tímpano da introdução traz o órgão, para o english horn fazer a melodia que acompanha o vocal de Brian. Mandolim, piano elétrico, flauta e baixo são alguns dos instrumentos que aparecem na primeira estrofe. As vocalizações, que entram na segunda parte, são uma aula a parte, com cada membro fazendo uma determinada voz, que por si mesma não é nada, mas fundida com as demais, cria um ritmo dançante. A flauta faz um tímido solo em cima da melodia vocal, seguido pelas vocalizações, e a canção encerra com o ritmo do tímpano e as vocalizações acompanhando Brian.
“Let’s Go Away for Awhile” – gravada em 18/1/66, inicialmente foi pensada para ter uma letra falando sobre fugas fantasiosas, mas acabou sendo uma canção com 12 violinos, quatro saxofones, oboé, piano, vibes, guitarra e violão. Cada instrumento tendo sua contribuição, com os vibes e os violinos fazendo os temas principais, além do leve e belo solo de guitarra. “Let’s Go Away for Awhile” também possui um maravilhoso arranjo de cordas.
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Compacto de “Sloop John B” |
“Sloop John B” – gravada ainda em 12/7/65, é uma cover de uma canção folk que Alan Jardine apresentou para o grupo, cuja principal versão do Kingston Trio é de aproximadamente 1927. Existe uma versão acústica gravada para essa canção pelos Beach Boys e que está perdida em algum porão da Capitol Records. Foi incluída no LP por que era o principal single dos Beach Boys na época. A entrada dos vibes apresenta o dedilhado das guitarras, com Brian cantando. A canção vai ganhando ritmo, e agora já temos Brian e Mike cantando juntos. Cada estrofe aumenta o número de instrumentos na canção, e finalmente, as vocalizações trazem baixo e bateria para ditar o ritmo da canção. O andamento da canção apresenta ainda alguns segundos do Beach Boys a capella, e ela encerra o lado A com o clima de paz perpetuando em seu lar.
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Compacto de “God Only Knows” |
“God Only Knows” – gravada em 10/3/66, fala sobre graças a um Deus espiritual. Única com Carl Wilson nos vocais, foi Top 5 na Inglaterra, fazendo o Beach Boys estourar por lá. Ela abre o lado B, com um tema no french horn acompanhado pelo banjo e acordeão. O andamento percussivo traz a doce voz de Carl, em um ritmo muito simpático e tranquilo. Cordas, baixo e mais percussão são adicionados, fazendo a cama de ritmos para a voz de Carl ser ouvida. O pequeno tema instrumental leva para o solo vocal dos grupos (originalmente aqui teríamos um saxofone fazendo o solo), voltando a seqüência e encerrando a canção com a flauta também se fazendo presente ao lado de outros metais e da bateria, que foram acrescentadas às cordas, ao banjo e ao acordeão.
“I Know There’s an Answer” – gravada em 9/2/66, trata sobre busca por respostas. Os teclados, saxofone e percussão fazem a introdução. Mike canta a primeira estrofe e Alan canta a segunda, acompanhado das vocalizações, com Brian cantando o nome da canção acompanhado pelas vocalizações. A letra segue com a mesma sequência vocal, e com um confuso mas magistral arranjo ao fundo, com destaque para o solo de saxofone, acompanhado apenas pelo banjo e percussão. Co-escrita com Terry Saches, empresário de shows do grupo, originalmente se chamava “Hang Up to Your Ego”, mas a gravadora achou que a palavra EGO ia soar desafiadora para o público em geral, e a letra acabou sendo modificada.
“Here Today” – gravada em 11/3/66, trata sobre a tênue natureza do amor, e apresenta novamente Mike Love nos vocais, com o órgão e o baixo sendo os responsáveis pelo acompanhamento inicial de uma canção que vai se transformando com a entrada do saxofone, vocalizações e percussão. O refrão, repleto de vocalizações, e a bela sessão instrumental, com guitarra e baixo acompanhando o tema que as cordas e os metais apresentam, são os maiores destaques, e podemos perceber ao fundo Brian regendo os músicos nas mudanças da intrincada peça instrumental que ele compôs.
“I Just Wasn’t Made for These Times” – gravada em 14/2/66, trata sobre esquizofrenia e a aceitação de pessoas com anomalias. A mais psicodélica canção do álbum possui em grande parte apenas o órgão, bateria e baixo acompanhando os vocais de Brian. A frase “sometimes I feel very sad” exalta tristeza na voz de Brian, narrando a história de um garoto que chora por que pensa que é tão avançado que precisa se afastar das pessoas. Essa foi a primeira canção que Brian experimentou com o theremim, sendo que o instrumento recebeu um momento especial para ele, que é o solo principal da canção.
“Pet Sounds” – gravada em 17/11/65, a faixa que dá título ao álbum foi inicalmente batizada de “Run James Run”, já que era para ter saído em um single de uma trilha sonora de James Bond. Como não deu certo, mudou de nome para batizar o melhor álbum da história. Os Sons de estimação que a canção sugere tem dois signficados: o primeiro é o de que apenas o lado pessoal de Brian está sendo exposto ao ouvinte; o segundo é que os cachorros de Brian, Banana e Louie, participaram da gravação de “Caroline No”, e esses eram os animais de estimação de Brian fazendo seus sons (“Pet Sounds”). A idéia do título é atribuída para Carl Wilson, que atribui o fato para Brian, e na verdade ninguém assume a responsabilidade. A canção em si é totalmente instrumental, e lembra bastante uma trilha para um filme de James Bond, com a guitarra fazendo o solo da canção em uma afinação um tanto que estranha, sobre um andamento mezzo-bolero, mezzo-mambo, acompanhado por cordas, percussão (latas de refrigerante vazias, caixas e baldes, entre outros, foram usadas como percussão), baixo e metais.
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Single de “Caroline No” (Brian Wilson solo) |
“Caroline No” – gravada em 31/1/66, trata da perda da inocência. Brian mostra sua genialidade, dando outro significado para as palavras “Carol I Know”. A perda da inocência tratada na canção não é do garoto que está sendo atacado pela Caroline, mas sim do garoto que ataca Carol. Tida por Brian como a melhor canção do álbum, é uma leve balada com Brian cantando sobre camadas de percussão e órgão, com sua voz angelical, encerrando esse maravilhoso LP com os “barulhos de estimação” dos cachorros de Brian, Banana e Louie, latindo para um trem que “passa” pelo estúdio.
A capa de Pet Sounds foi feita no dia 15 de fevereiro de 1966, no Zoológico de San Diego. Lá, diversas fotos foram realizadas com o grupo e animais do zoológico (algumas delas apresentadas a você nas matérias anteriores e nesse podcast) com o objetivo de encontrar uma para simbolizar os “sons de estimação” proposto no título do álbum. O fotógrafo responsável foi George Jerman. A foto com as cabras foi a escolhida por que, segundo Carl Wilson, esses foram os animais que mais barulho fizeram com a presença do grupo.
O nome Pet Sounds surgiu quando Brian contou ao grupo que gostaria de homenagear Phil Spector no próximo álbum. Utilizando as iniciais de Phil Spector (P e S), Carl criativamente sugeriu que já que estavam gravando as canções que revelavam as emoções de Brian, essas eram as canções de estimação de seu irmão, nascendo assim, Pet Sounds.
Porém, como citado acima, essa história é confusa, já que apesar de Brian creditar a ideia para Carl, Carl creditava a ideia para Brian. Existe ainda uma versão de que Mike Love é o responsável pelo título do álbum, mas essa é a menos confiável de todas. Esse é um dos grandes mistérios que um grande álbum como Pet Sounds não poderia deixar de ter.
Nunca entendi por quê esse álbum é Pet Sounds? Não vi nada de pet lá….
Por que são os sons de estimação de Brian Wilson. É no sentido de estimação, e não animal. Abraços e obrigado!