Maravilhas do Mundo Prog: Quintal de Clorofila – As Alamedas [1983]
Por Mairon Machado
Mas, no final da década de 70 e início dos anos 80, os principais grupos do Rio Grande do Sul não eram de Porto Alegre como todos os citados acima, e sim do interior do estado. O mais famoso, Os Almôndegas, revelou ao país Kleiton & Kledir (famosos por canções como “Maria Fumaça”, “Deu Prá Ti” entre outras), tocando canções tipicamente “gaudérias” mas com pitadas de rock’n’roll no período de 1972 até 1978. Exatamente nesse ano, surgiu talvez o principal grupo de rock progressivo do estado, o Quintal de Clorofila.
Vindos da cidade de Santa Maria, os irmãos Dimitri e Negendre Arbo eram os únicos membros do grupo, que mesmo sendo formado apenas por uma dupla, compunha canções de extrema complexidade, com letras fantásticas e desenvolvendo uma série de instrumentos caseiros como telhas de zinco, galões de gasolina, serrotes, entre outros criados especialmente pela dupla de irmãos, que posteriormente, viriam a influenciar outro grande grupo progressivo do país, os mineiros do UAKTI.
Quintal de Clorofila em ação na década de 80 |
Na época do início da banda, outros grupos semeavam e colhiam suas sonoridades misturando folk rock com elementos gaúchos, tais quais o Couro, Cordas e Cantos, Grupo Terra Viva e Os Tápes. O diferencial do Quintal de Clorofila eram as doses de psicodelismo e as viajantes sessões instrumentais, mescladas com letras complicadíssimas, criando um abiente acústico raríssimo na literatura musical, e que pode ser conferido no único e também muito raro LP do grupo.
O Mistério dos Quintais, lançado pelo em 1983, é um achado na musicultura gaúcha. Contando com diversos elementos tradicionais do pampa e com a participação de Paulo Soares tocando violão em algumas faixas, está fortemente construído em um clima emocional e musical criado pelos irmãos Arbo, acessorados por diversos instrumentos acústicos como violões, banjo, bandolim, flauta, ocarina, saxofone, além de uma parte percussiva bem elaborada e também pelas lindas poesias do pai, Antônio Carlos Arbo.
A introdução é repetida, seguindo o melodioso e bonito ritmo medieval, tendo nos violões uma encantadora sequência de acordes que repetem o tema do mandolim e retornam para a repetição da letra. Ao final dos quase seis minutos dessa linda canção, temos a repetição do lindo tema do mandolim, e Dimitri nos brinda com uma intervenção de saxofone sobre efeitos percussivos de pratos e apitos, terminando com um solo de flauta andina acompanhado por violões e por um bumbo-leguero.
Dimitri Arbo e o bolha que vos escreve (ainda com um certo cabelo) |
Depois de O Mistério dos Quintais, a dupla participou em muitos festivais pelo Rio Grande do Sul, se destacando na cena cool de Porto Alegre, para onde mudaram-se logo após a gravação do vinil, e sendo um dos principais nomes na inauguração de um dos principais locais de show da capital gaúcha, o Bar Opinião, ainda no ano de 1985. Em 1988, o Quintal de Clorofila deixou de existir, com Negendre indo morar no Paraná e seguindo carreira solo, enquanto Dimitri partiu para outros aminhos, continuando a morar em Porto Alegre.
Negendre Arbo e o bolha que vos escreve |
Bem interessante, Mairon! Infelizmente, o grupo não consta no ProgArchives, mas tô baixando aqui pra ver qual que é. Fiquei curioso!