Entombed – Sons of Satan Praise the Lord [2002]
O grupo de death metal Entombed surgiu no ano de 1987, na Suécia, batizado como Nihilist. Em 1989, mudou o nome para Entombed, e em 90, lançou seu primeiro álbum: Left Hand Path, um dos grandes álbuns da história do metal, e que ajudou a definir a cena do death metal sueco a partir de então, já que foi o primeiro a usar a distorção “buzzsaw” (uma violenta distorção que torna o som das guitarras extremamente sujo).
Mas, com o passar dos anos, o grupo liderado pelo trio Alex Hellid (guitarra), Ulf Cederlund (guitarra) e Lars Göran Petrov (voz), contou com algumas mudanças na cozinha, por onde passaram Lars Rosenberg (baixo), Jörgen Sandström (baixo), Nicke Andersson (bateria) e Peter Stjärnvind (bateria), e começou a adquirir novas sonoridades, recebendo influências tanto do rock ‘n’ roll quanto até mesmo do hard rock e do punk. Grupos da década de 70 se tornaram as principais referências para o que o Entombed começou a gravar, que foi batizado de Death Rock principalmente após o fundamental DCLXVI: To Ride Shoot Straight and Speak the Truth, de 1997.
Nesse período de transição, várias foram as canções de bandas clássicas que o grupo gravou em estúdio, sendo aos poucos lançadas como bônus em edições. Até que em 2002, essas canções foram reunidas na coletânea Sons of Satan Praise of the Lord. O álbum duplo apresenta 27 recriações do Entombed para canções conhecidas (outras nem tantas) de nomes que marcaram o rock e o heavy metal mundial. Não irei me prender nas formações que gravou cada canção, até por que varia bastante, e vou me concentrar apenas nas canções. As formações para cada canção serão citadas ao final através dos símbolos que acompanham o nome da canção.
A primeira faixa do CD 1 é a paulada “Black Breath” (*), original do Repulsion, e aqui com todo o peso das guitarras distorcidas de Cederlund e Hellid, além do marcante vocal de Petrov. Na sequência, outro petardo, “Albino Flogged in Black” (**), com o baixo pesadíssimo de Sandström fazendo as notas que acompanham a letra dessa rara pérola da carreira do Stillborn. Nela, os vocais não são guturais, mas limpos, fazendo a compreensão do inglês muito fácil. Apesar de não ser do estilo original do Entombed, é uma grande canção, bem trabalhada e próxima ao grunge e destacando belo solo de Alex Hellid.
Duas covers ara o grupo S. O. D. vem na sequência: a instrumental “March of the S. O. D.” / “Sergeant D & the S. O. D.” (***), a primeira pesadíssima, parecendo sair de algum álbum do Slayer na fase South of Heaven, e a segunda bem próxima a versão original, com um ótimo trabalho das guitarras de Hellid e Cederlund.
O Entombed então surpreende para a cover de “Some Velvet Morning” (**), original do cantor pop Lee Hazlewood, e que aqui ganhou uma versão pesada que não tem nada da versão original, apesar dos vocais femininos no trecho central da canção, acompanhados por teclados. A extremamente pesada versão para “One Track Mind” (***), do Motörhead, mantém o ritmo das canções, com Petrov trazendo sa voz gutural novamente para o ouvinte, onde aqui podemos perceber a importância da distorção empregada pelo Entombed, com o início repleto de microfonias, e também da potência do baixo de Sandström.
Em um disco bem eclético, depois da pedrada de “One Track Mind” é a vez do grupo Misfits ser homenageado, através de “Hollywood Babylon” (***), muito suja e similar ao original. “Night of the Vampire” (*) , do guitarrista Roky Erickson, com suas versões entre ritmos marciais e riffs sujos, é uma experiência e tanto em busca da superação das toneladas de peso apresentadas por baixo, guitarra e bateria.
Mas se você não está satisfeito com tanto peso, achando que ainda é poco, então ouça “God of Thunder” (*) e caia de joelhos. A versão para esse grande clássico do Kiss é mais que perfeita. A microfonia inicial, junto do riff perfeito da guitarra, cai como uma luva para os vocais de Petrov, em uma versão fiel a original, porém ainda mais pesada.
O punk rock de “Something I Learned Today” (***) , original do grupo Hüserk Dü, tira o peso do álbum, mas mantém o pique de faixas velozes, e irá agradar certamente aos fãs do gênero. Até o progressivo é homenageado, agora com o King Crimson recebendo uma curta versão para “21st Century Schizoid Man” (***), que modestamente não gostei, pois os efeitos vocais acabam não encaixando com o instrumental, que como vocês podem imaginar, é levado pelo pesado ridd da guitarra. Destaque para a sessão instrumental do centro da canção, onde bateria, baixo e guitarra travam um duelo fantástico e mais veloz que a versão original. Pena que não exploraram toda essa sessão, fornecendo-nos apenas alguns segundos do duelo.
O CD 1 encerra com outra curta versão para uma longa faixa, “Black Juju” (***), do Alice Cooper, em pouco mais de três minutos apresentando apenas a parte inicial da canção, sem explorar as viagens instrumentais da mesma, mas com uma boa participação de Nicke Andersson na bateria, e com a versão punk para “Amazing Grace” (***), que parece ter saido de algum LP dos Ramones.
Uma pausa para respirar e chegamos no CD 2. Se o CD 1 encerra com o punk rock, aqui, o grupo punk The Dwarves recebe uma cover para a canção “Satan”, (***) com uma introdução bem satânica, virando uma paulada punk de primeiro grau. Uma nova surpresa é “Hellraiser” (*), incluída originalmente na trilha sonora do filme de mesmo nome, com o riff das guitarras sendo o centro das atenções, além das vozes do filme entremeando o riff da mesma.
Mais punk rock, agora com uma ótima versão para “Kick Out the Jams” (***), do MC-5, também com muita distorção nos vocais além de um bom trabalho das guitarras, e com “You’t Juice” (***), do grupo Bad Brains, talvez a mais fraca canção do álbum, sem tanto peso e moderna demais para o meu gosto.
Já a recriação para “Burstin Out” (***), do Venom, coloca o CD nos eixos novamente, onde o belo dedilhado inicial, dá início uma insana quebradeira de guitarra, baixo e bateria, no melhor estilo do que o Venom fazia no auge de sua carreira, e com direito ao encerramento com uma citação para a imortal “At War with Satan”, um dos principais clássicos da história do grupo. Os irlandeses do Stiff Little Fingers ganharam uma versão para “State of Emergency”, (*) onde novamente as distorções nos vocais não ficaram legais, apesar da canção não ser ruim.
Para os saudosistas, um dos principais grupos do metal recebe uma justa homenagem através de uma de suas canções mais belas (e menos conhecidas). “Under the Sun” (***), do Black Sabbath, segue fielmente as linhas originais de Ozzy e cia., com o vocal de Petrov não tão gutural, mas tão pouco limpo, e com um ótimo trabalho de Nicky Andersson na sessão agitada da mesma, além do emocionante tema final da canção, com cada nota do solo de Iommi sendo fielmente reproduzida. Ótima versão para um clássico!
O grupo de Noise Rock, Insane, ganhou uma versão para “Vandal X” (*), que como o nome do estilo do grupo define, é uma barulheira só, sendo uma mistura de todos os estilos de metal possíveis. “Tear it Loose” (***), do Twisted Sister, retorna a sanidade, em um punk rock vigoroso e muito bom, onde os vocais de Petrov fazem a diferença para a versão original.
Do thrash metal do Dead Horse, o Entombed retira “Scottish Hell” (**), muito pesada, soando como um Smashing Pumpkins em início de carreira, seguida da impressionante versão para “The Ballad of Hollis Brown” (***), de Bob Dylan, que dá versão original ficou apenas com a letra, já que os violões e dose emocional foram substituídos por guitarras sujas e muita velocidade. Outra grande recriação.
A melhor canção do CD vem a seguir, “Mesmerization Eclipse” (***), um dos principais trabalhos do Captain Beyond, que com o Entombed, ganhou uma cara moderna em seu riff setentista, e claro, a voz de Petrov é bem diferente da de Rod Evans. A modernidade para um clássico dos 70 dessa vez soa muito bem, e o grupo conseguiu encaixar muito bem as linhas de guitarra do Captain Beyond com as distorções do Entombed, sem esquecer inclusive o cowbell que faz parte da versão original.
Para completar, o grupo de hard core Jerry’s Kids recebe uma versão para “Lost” (***), sem muitos atrativos, e uma versão Mellow Drunk de “Amazing Grace” (***), muito similar a versão punk, porém com os vocais como “embriagados” de Petrov.
Sons of Satan Praise the Lord é uma coletânea de 90 minutos de muito peso e diversão, para ouvir sem compromisso e verificar que o Entombed, além de ser uma das principais bandas da Suécia com um death metal de primeira qualidade, também é um ótimo grupo para recriar clássicos do rock’n’roll.
Formações:
* Alex Hellid (guitarra), Ulf Cederlund (guitarra), Lars Göran Petrov (voz), Lars Rosenberg (baixo), Nicke Andersson (bateria)
** Alex Hellid (guitarra), Ulf Cederlund (guitarra), Lars Göran Petrov (voz), Jörgen Sandström (baixo), Peter Stjärnvind (bateria)
*** Alex Hellid (guitarra), Ulf Cederlund (guitarra), Lars Göran Petrov (voz), Jörgen Sandström (baixo), Nicke Andersson (bateria)
Track List:
Disco 1
- Black Breath
- Albino Flogged in Black
- March of the S.O.D
- Sergeant D. & The S.O.D.
- Some Velvet Morning
- One Track Mind
- Hollywood Babylon
- Night of the Vampire
- God of Thunder
- Something I Learned Today
- 21st Century Schizoid Man
- Black Juju
- Amazing Grace
Disco 2
- Satan
- Hellraiser
- Kick out the Jams
- Yout’ Juice
- Bursting Out
- State of Emergency
- Under the Sun
- Vandal X
- Tear It Loose
- Scottish Hell
- The Ballad of Hollis Brown
- Mesmerization Eclipse
- Lost
- Amazing Grace (Mellow Drunk version)
O Mairon resenhando (e bem, e com elogios) uma banda de Death Metal não era algo que eu esperava encontrar tão cedo por aqui…
Altamente surpreendente!
Micael, esse disco é muito bom e não tem muito death metal,é death rock puro. Alias, o Entombed (ao lado do Deicide) é uma das poucas bandas de death metal que eu ainda consigo ouvir
Vlw o elogio!
Apesar de conhecer o Entombed dos primórdios, nunca havia tomado conhecimento dessa coletânea de regravações, que parece ser bastante apetitosa. Gosto da banda e a considero dona de um pioneirismo não apenas em fazer death metal na Suécia, como em uni-lo com muita propriedade ao rock 'n' roll mais direto.