|
Black Sabbath em 1986, com Ray Gillen (primeiro à esq.) |
Por Pablo Ribeiro
Em 1982, Tony Iommi, guitarrista – e a essa altura chefão inconteste – do Black Sabbath, encontrava-se em uma encruzilhada. Depois de demitir Ronnie James Dio (segundo a versão do bigodudo), Iommi precisava recrutar alguém de peso para o posto de vocalista. A escolha recaiu sobre o londrino Ian Gillan, que havia gravado seu último disco de estúdio como vocalista do Deep Purple em 1973. O guitarrista chegou a cogitar nomes como Robert Plant (Led Zeppelin) e David Coverdale (outro ex-Deep Purle). Menos mal, no final das contas. Apesar de não ser tão influente quanto os seminais discos da fase Ozzy e Dio, Born Again não é de todo ruim, e, se até pouco tempo atrás era considerado um álbum menor na discografia da banda, hoje muitos o têm como um álbum cult (terminho idiota, esse).
Além da escolha de Gillan para os vocais, pelo menos mais dois fatores foram motivos de polêmica: a arte da capa e a produção. Criada por Steve “Krusher” Joule, a ideia original para a capa de Born Again, com a famosa criança-demônio, poderia até ter sido boa, mas foi executada “nas coxas”, resultando em uma arte primária e feia. Bill Ward, por exemplo, de volta à bateria nessa época, por várias vezes disse que adorou fazer o disco, mas achou a capa ridícula. Já no que tange à produção do álbum, rondam algumas lendas. Há quem diga que o som abafado é proposital, enquanto outros defendem que problemas nos amplificadores causaram o “defeito”. Por mais que esses fatores confiram um certo charme para Born Again, seria ingenuidade deixar de pensar que ele seria, sim, um trabalho mais forte se tais falhas não existissem. Apesar de tudo, é inegável que o álbum tem composições extremamente cativantes e poderosas, como “Zero the Hero”, “Thrashed” (que ganhou um videoclipe tão tosco quanto divertido) e “Disturbing the Priest”, favoritas entre muitos fãs do quarteto, e que, se por um lado não transformam a bolacha em um clássico seminal atemporal como alguns álbuns anteriores da banda, o mantém em um patamar digno de figurar entre os discos da banda que valem o dinheiro gasto. Diferentemente de lançamentos posteriores sob a alcunha do Black Sabbath.
Relançado em maio de 2011, em sua versão deluxe Born Again traz um disco bônus com uma faixa gravada nas mesmas sessões, “The Fallen”, que segue a linha do disco, e poderia muito bem ter entrado no track list final, uma versão estendida com quase três minutos adicionais para “Stonehenge” e nove faixas registradas no Reading Festival, em agosto de 1983, onde, entre clássicos da era Ozzy, tocaram também músicas de Born Again e uma desnecessária (para dizer o mínimo) versão de “Smoke on the Water” do Deep Purple. Ao contrário das edições deluxe da primeira fase da banda, todas as músicas do disco bônus – com exceção, talvez, da versão de “Stonehenge” – circulam há muito tempo em diversos bootlegs, com qualidade de gravação variável. De qualquer forma, para o fã que deseja o material de uma forma oficial, juntamente com um material gráfico mais “gordo”, essa edição – assim como as outras – tem seu valor.
Disco 1:
1. Trashed
2. Stonehenge
3. Disturbing the Priest
4. The Dark
5. Zero the Hero
6. Digital Bitch
7. Born Again
8. Hot Line
9. Keep It Warm
Disco 2:
1. The Fallen [Album Outtake]
2. Stonehenge [Extended Version]
3. Hot Line [Live]
4. War Pigs [Live]
5. Black Sabbath [Live]
6. The Dark [Live]
7. Zero the Hero [Live]
8. Digital Bitch [Live]
9. Iron Man [Live]
10. Smoke On The Water [Live]
11. Paranoid [Live]
Após a turnê promocional de
Born Again, Ian Gillan e o Black Sabbath tomaram caminhos diferentes. O primeiro acabaria por voltar ao Deep Purple em 1984. Já o resto da banda se separou por completo, levando Iommi a concluir um projeto em que pensava havia alguns anos: seu primeiro disco solo. Para a empreitada, chamou o também inglês de Staffordshire, Glenn Hughes (outro ex-Deep Purple), para os vocais, Dave Spitz para o baixo (Gordon Copley assumiu a função em “No Stranger to Love”), Eric Singer (Kiss, Alice Cooper e infinitos outros) na bateria e Geoff Nicholls nos teclados. Uma vez que o álbum seria um trabalho solo de Iommi, o som dele difere consideravelmente do que o Black Sabbath havia feito até então. Tendo isso em vista,
Seventh Star é bem mais leve que seus antecessores, e possui um clima mais
bluesy na maioria das faixas. Tudo ok, então, para o lançamento do primeiro voo solo do guitarrista de Birmingham, certo? Errado. Ocorre que o empresário do Sabbath – e de Iommi – na época era Don Arden, que agenciava os negócios com mão de ferro e boas doses de picaretagem. Arden (pai de Sharon, futura esposa – e dona – de Ozzy) cortou o embalo do músico, e exigiu que a bolacha saísse sob o nome do Black Sabbath. Sem opções, Iommi aceitou a imposição, lançando
Seventh Star em 28 de janeiro de 1986. Na capa, que trazia uma foto apenas do guitarrista, lia-se (além do nome do disco),
“Black Sabbath featuring Tony Iommi”. Do álbum saiu o single para “No Stranger To Love”, acompanhado de um vídeo com a participação da atriz Denise Crosby (relativamente famosa, anos depois, por sua participação em “Star Trek – The Next Generation”). A música – uma balada – é a faixa mais acessível do disco, e destaca o vocal competentíssimo de Glenn Hughes, e demonstra bem a diferença de estilos entre
Seventh Star e os discos do Black Sabbath propriamente ditos, embora as outras músicas sejam menos “amigáves”, comercialmente falando.
Logo depois do lançamento, o grupo saiu em turnê, mas Hughes, depois de participar de apenas alguns poucos shows, se meteu em uma briga, levou a pior, e por causa de ferimentos na garganta, acabou dançando. Iommi não perdeu tempo, e, como substituto, chamou o talentosíssimo Ray Gillen (depois Badlands, Phenomena, Sun Red Sun e outros). Dotado de uma goela privilegiada e um feeling absurdo, Gillen assumiu o posto sem problemas, substituindo brilhantemente Glenn Hughes (o que não é, definitivamente, pouca coisa), segurando as pontas até o final da turnê de divulgação do disco. É exatamente dessa turnê que saíram as musicas presentes no disco bônus da edição deluxe de Seventh Star. Trata-se de um show no Hammersmith Odeon em 2 de junho de 1986, contendo duas faixas do recém lançado álbum, intercaladas com mais sete canções das épocas de Ozzy e Dio. Apesar de amplamente disponíveis em várias edições bootlegs, é a primeira vez que essas faixas aparecem em qualquer lançamento oficial do Sabbath. O primeiro disco do pacote ainda inclui uma versão editada para as rádios de “No Stranger to Love”, que não apresenta nada de mais, sendo apenas um pouco mais curta. Essa edição vale como documento histórico para os fãs não só de Tony Iommi, mas também da lenda Ray Gillen.
1. In For the Kill
2. No Stranger to Love
3. Turn to Stone
4. Sphinx (The Guardian)
5. Seventh Star
6. Danger Zone
7. Heart Like a Wheel
8. Angry Heart
9. In Memory…
10. No Stranger to Love [Single Remix]
Disco 2:
1. The Mob Rules [Live]
2. Danger Zone [Live]
3. War Pigs [Live]
4. Seventh Star [Live]
5. Die Young [Live]
6. Black Sabbath [Live]
7. N.I.B. [Live]
8. Neon Knights [Live]
9. Paranoid [Live]
Parecia lógico que, após a turnê para
Seventh Star, Iommi acertaria em manter Gillen no posto de vocalista. Assim sendo, entraram em estúdio Iommi, Gillen, Singer e Nicholls, mais a adição do baixista Bob Daisley no lugar de Spitz (embora creditado, ele não tocou no álbum) a fim de gravar
The Eternal Idol. As gravações ocorreram de maneira relativamente tranquila, mas antes do lançamento do disco, Gillen e Iommi se desentenderam. De acordo com o primeiro, o motivo seria “questões financeiras”, já o guitarrista defende que Gillen não compunha, o que comprometia o grupo. Isso, juntamente com a dificuldade de comunicação interna que imperava na banda à época, levou à saída não apenas de Gillen, mas também do baterista Eric Singer. Iommi decidiu regravar os vocais de Gillen, chamando Tony Martin para a tarefa, também natural de Birmingham. Sem entrar no mérito da importância de Ozzy Osbourne para a definição do som do Sabbath (e sua consequente influência), do poderio e desenvoltura vocais de Ronnie James Dio e Ian Gillan, do
feeling aliado à técnica de Gillen e Hughes, Tony Martin é competente. E só. Apesar disso, Martin não só regravou os vocais de
The Eternal Idol, mas também registrou as vozes em mais quatro discos de estúdio e um ao vivo, o que faz do cabeçudo o segundo vocalista com mais material de estúdio gravado sob o nome do Black Sabbath. Para a capa do álbum seria usada uma foto da escultura de mesmo nome do famoso artista francês Auguste Rodin, mas como não foi permitido o uso da mesma, utilizou-se a foto de dois modelos cobertos de tinta, posicionados como na escultura de Rodin. Assim como o trabalho vocal, não era o que Iommi desejava inicialmente, mas passou.
Apesar dos percalços, The Eternal Idol, lançado no primeiro dia de novembro de 1987, produziu dois singles: “The Shining” e a faixa-título. Sua edição deluxe traz no primeiro disco a adição dos lados-b para esses singles: “Some Kind of Woman” e uma versão inicial de “Black Moon”, respectivamente. (“Black Moon” foi posteriormente regravada e lançada no álbum seguinte, Headless Cross). O segundo disco traz, na íntegra, as sessões do que seria a versão original de The Eternal Idol, com Ray Gillen tomando conta do microfone.
1. The Shining
2. Ancient Warrior
3. Hard Life to Love
4. Glory Ride
5. Born to Lose
6. Nightmare
7. Scarlet Pimpernel
8. Lost Forever
9. Eternal Idol
10. Black Moon [Single B-Side]
11. Some Kind of Woman [Single B-Side]
Disco 2: “The Original Ray Gillen Session”
1. Glory Ride
2. Born to Lose
3. Lost Forever
4. Eternal Idol
5. The Shining
6. Hard Life to Love
7. Nightmare
8. Ancient Warrior
Novamente, todo o material presente como bônus dessas edições já havia circulado amplamente como bootlegs, sendo que algumas dessas gravações possuem qualidade sonora até mesmo superior em relação às agora lançadas como oficialmente. Em outros casos, talvez fosse mais interessante um material independente – caso das sessões com Ray Gillen. Mesmo assim esses registros mantêm seu valor não só entre os fãs die hard da banda, mas até mesmo para o fã eventual de determinada fase específica da banda de Tony Iommi.
Gosto do 'Seventh Star' e do 'Eternal Idol', e não curto o 'Born Again'. Podem jogar as pedras …
Ainda não ouvi a edição deluxe do "Born Again", por isso não opinarei sobre ela, mas quanto às outras, o grande problema é contar com material previamente conhecido, e, em especial no disco bônus de "Seventh Star", lançado como bootleg com qualidade superior. O ponto positivo é que Ray Gillen finalmente teve seu trabalho reconhecido em material oficial, retratando sua potência vocal e um talento nato. Sou fã do cara.
Quanto aos álbuns em si, acredito que de uns anos para cá tem havido uma supervalorização excessiva de "Born Again", em especial no Brasil. Ok, é um disco legal, algumas faixas são ótimas, Gillan se esgoela valendo, mas não é tudo aquilo que alguns fazem parecer. "Seventh Star" é um caso especial: foi um dos primeiro discos da banda que adquiri e gosto muito de sua sonoridade, da produção (apesar de datada) e adoro canções como "Danger Zone" e a faixa-título. "The Eternal Idol" também tem seus méritos, em especial a ótima "The Shining" (putz, deliro com essa!), mas adoraria vê-lo registrado devidamente com Ray Gillen, um cantor certamente superior ao esforçado Tony Martin.
Diogo, o problema dessa edição deluxe do "Born Again" é o mesmo que você citou nos outros dois, ou seja, essas músicas do Reading Festival já circulavam por aí desde antes da "era internet", embora estas versões tenham ganhado um "banho digital" que ficou bem legal.
Quanto ao disco em si, para mim o Born Again é melhor que qualquer disco da era Dio ou Tony Martin, e só perde para os cinco primeiros da era Ozzy. Foi um dos primeiros discos do Sabbath que ouvi, numa fase em que andava viciado em Purple, portanto o "fator sentimental" se sobrepõe a qualquer fator racional quando da análise deste álbum…
Os outros dois para mim estão entre as piores coisas já lançadas sob o nome Black Sabbath, junto ao Tyr e ao Forbiden. Podem jogar as pedras, mas nos meus ouvidos eles não descem de jeito nenhum. E isso que faz uns 20 anos que tento gostar deles…
Dos comentados aqui o meu preferido é o Seventh Star e muito se deve pela participação do Glenn Hughes…
Dessa fase o melhor é O born Again, seguido de perto pelo Seventh Star. Como complemento, pareceu estranho (pelo menos para mim) a frase citando a entrada do Gillan, onde dá a entender que desde que saiu do Deep Purple ele não gravaou mais nada até o Born Again.
Na verdade, Gillna foi percorrer uma carreira solo de extrema categoria, mesclando o jazz fusion com rock pesado, e que gerou uma pérola na disocgrafia mundial: Clear Air Turbulence (1977), além do também muito bom Scarabus (1977)
Gillen em disco oficial do Sabbath era algo que já deveria existir faz tempos.
Parabpens pelas resenhas, Pablo!
born again eo album da minha vida,eu amo esse album o ian gilan parece um demonio nele,e incrivel,born again ,to mega therion(celtic frost),hell awaits(slayer)são os discos que mais ouvi na minha vida.estou ouvindo agora disturbing the priest,sensacional
disco macabro,lindo,perfeito hail born again e vol4
Comprei o BORN AGAIN deluxe,infelizmente se vc comparar com o da CASTLE de 1996, vai perceber que o audio da Castle é melhor que o da UNIVERSAL de 2011,os extras dos discos 2 são bons,o que é triste é que o BRASIL só lançou o DEHUMAIZER.
Max Cavaleira citado no encarte do Born Again só mostra o quão grande o Sepultura foi. Uma pena que a banda se perdeu por aí, e nunca mais voltará a ser o gigante do metal mundial que chegou a ser no fim da década de 80, início dos 90.
Acho que sou um dos poucos fãs do Sabbath que curti toda a carreira da banda em suas varias acepções, faço ressalva ao Never say Die e Forbidden, pois ,ambos, são de doer.
Já tinha ouvido a versão com Ray no vocal e, apesar de concordar que a versão gravada por ele é superior a de Tony, seria uma crueldade não ressaltar a competência com que esse o faz.
Falando de Born Again, o álbum é fantástico, não só por amalgamar, em tese, duas das minhas bandas preferidas, Sabbath e Purple, mas pelo fato das composições cativarem de imediato. Gillan estava possuído e Iommi não fica atrás. Por fim, Seventh star também tem seu valor, ouvi varias e varias vezes o álbum e não há como negar que ,o The voice of rock foi, e ainda é “o cara”.
O riff de Zero the Hero é magnífico. Até o Cannibal Corpse gravou uma cover dessa música.
Curtindo aqui a edição DELUXE do Seventh Star, constato que esse disco realmente foge dos padrões Black Sabbath que nos acostumamos a ouvir, ainda mais por que as letras são a marioria do Iommi, algo raríssimo, sabendo-se que o Butler tomava conta de tudo. Só que considero o disco ainda assim muito bom, melhor inclusive que Fused. Com participação de Glenn Hughes e Eric Singer, destaque para a épica faixa-título. Porém, nessa específica versão DELUXE aqui do texto, o grande destaque vai para o segundo CD, já que temos uma apresentação ao vivo de 1986 com Ray Gillen nos vocais. Me atrevo a dizer que este foi o segundo melhor vocalista, tecnicamente falando, a passar pelo Sabbath (atrás apenas de Dio). O que o homem cantava não está no mapa. Pena que se foi cedo demais, e não fez nenhum registro oficial com o grupo.
Ainda espero versões deluxe de Vol 4, Sabbath Bloody Sabbath, Sabotage, Tecnical Ecstasy, Never Say Die, Headless Cross, Tyr, Cross Purpose e Forbidden… kkk
Idem meu caro Comodoro
Ouvindo aqui a versão DELUXE do The Eternal Idol, só constato ainda mais o que comentei acima sobre Ray Gillen. O cara era fora de série. Uma lástima ele ter ido para o Blue Murder e depois o Badlands. Imagina o que ele não poderia ter feito com a carreira do Black Sabbath. Não que eu não goste dos discos do Martin, mas putz, ouvir o disco bônus é ver que o cara tinha muito mais tempero vocal do que o Martin.