Rush: Uma análise da letra de “The Trees”

A letra começa afirmando que: “Há inquietação na floresta / Há problema com as árvores / Pois os bordos querem mais luz do sol / E os carvalhos ignoram seus argumentos”. Dois tipos de árvores discutindo pelo direito à luz solar, que lhes faz crescer e manter-se sadias.
Quantas vezes vemos nas relações humanas alguém que possui algo (poder, dinheiro, carisma, relações) que acaba afetando e prejudicando a outros que não possuem tal bem (material ou não)? Muitas vezes é difícil para quem se sente prejudicado explicar a quem lhe prejudicou o motivo de seu desconforto, pois quem não sofre o problema não consegue imaginar suas consequências, muitas vezes não tendo a empatia necessária para se colocar no lugar da outra pessoa, como acontece na história com os carvalhos em relação aos bordos.
O relato termina dizendo que “Agora não há mais a opressão dos carvalhos, / Pois aprovaram uma lei nobre, / E as árvores são mantidas todas iguais / Por machadinhos, machados e serrotes.” Ou seja, alguém com um poder maior do que os dois (e que não é citado na letra, mas fica subentendido como o ser humano) decidiu a questão, de uma forma que não satisfez a nenhum dos dois, deixando-as todas do mesmo tamanho através do corte, mas prejudicando a ambos os lados, que agora não podem mais crescer e desenvolver-se.
Muito legal Micael…
Esse tipo de texto serve para que o blog consiga falar sobre assuntos que fogem um pouco da música, o que também é interessante…
Para mim, desde que a conheci, "The Trees" soou como uma referência à faceta mais autoritária do comunismo, onde o direito de ser e agir como sua própria natureza acaba por ser diversas vezes tolhido. Posteriormente, conhecendo mais sobre história e levando em conta a época na qual "The Trees" foi registrada (1978), veio à mente uma referência ao Khmer Rouge, partido comunista que esteve no comando do Camboja na segunda metade dos anos 70, praticando uma política de eliminar os detentores do conhecimento, fazendo com que o país regredisse ao nível de uma sociedade agrária primitiva.
Li em algum lugar uma vez uma interpretação da letra na qual o USA eram os carvalhos e o Canadá os Bordos. Ótimo post.
Essa relação dos USA e o Canadá é bastante interessante, ainda mais o Rush sendo um trio canadense, e toda a relação cultural que existe entre os dois países (com os USA desprezando o Canadá, que por sua vez acha os americanos muito pretensiosos).
É um ângulo de interpretação bem legal de ser explorado.
Por isso que acho legal "viajar" em letras assim, sempre se pode interpretá-las de modos diferentes e interessantes. Embora as palavras sejam sempre as mesmas, seu significado pode ser bastante diferente dependendo de quem lê.
Verdade. O Rush é mestre em nos presentear com essas letras cheias de interpretações e ambiguidades.
Bom, para não perder a viagem vou deixar uma sugestão para um próximo "letras analizadas" para os organizadores do blog.
Que tal uma analise profunda de 2112?
Realmente, Marcoré, o 2112 merece uma bela analisada. O problema é que para isso seria necessário ler a obra de Ayn Rand que inspirou Peart, coisa que acredito que poucos por aqui chegaram a ler (se é que algum de nós chegou a ter acesso, o que, por exemplo, não foi o meu caso).
Mas a dica está dada!
Muito interessante a análise. Eu sempre vi The Trees com um tom politico, e essa anlise do Micael confirma um pouco disso. A melhor letra do Rush para muitos é Closer to the Heart, mas particularmente, eu prefiro a sequência viajante de Cynus X-1.
Engraçado que alguns acham a melhor letra os gritos de Geddy Lee durante a versão de La Villa Strangiato no Exit Stage Left, hehehehe
O encerramento eh interessante, mas a "moral da história" fica me parecendo aquele pensamento aristocrático que eu encontro em muitos textos de Filosofia, como os do Nietzsche. Inclusive, a forma como o Peart colocou as coisas dá a entender que a superioridade de alguns eh algo que vem de natureza..
Tive de parar de ler. Falta de inteligência pra apreciar esse artigo. O que li foi tão fantástico que preciso pausar antes de prossegui.

Não há o que dizer, artigo tá muito bom e sensivelmente visto. Ouço a música mas não presto atenção em letras (obviamente das que são minhas favoritas, procuro sempre o significado) … assinalo mais uma que certamente estarei analisando.
Minha favorita em letra e som é Red Sector A, só que não sei quem compõe.
O nosso senhor Jesus Cristo o acolha em Sua glória, nobre Neil.

Essa música usei em aulas interdisciplinares no Ensino Fundamental.
Letra, tradução, metáfora e música.
Daí um dia a direção da escola tentou limitar as cores das calças dos estudantes… E eles se rebelaram! Aí passaram pela minha sala e disseram: professor! Somos os Bordos!!
Kkkkkk
Fiquei quietinho com um sorriso oculto.
Excelente relato, Jordânio! São pequenas vitórias assim que fazem a vida valer a pena, não é mesmo? (Sim, fiz um trocadilho internacional com o título de “One Little Victory”, do mesmo Rush. Não consegui resistir…”