Maravilhas do Mundo Prog: Steve Howe – Beginnings [1975]
Por Mairon Machado
Em 1975, o Yes estava no auge de sua carreira. Terminada a turnê do fantástico Relayer, o quinteto formado por Jon Anderson (voz), Steve Howe (guitarras, voz), Chris Squire (baixo, voz), Patrick Moraz (teclados) e Alan White (bateria) estava exausto. A grande quantidade de shows, contendo mais de duas horas e meia de canções extremamente complicadas, levou o quinteto ao cansaço, e então, todos se deram férias merecidas. Como a maior diversão de um jogador de futebol durante as férias é aquela tradicional partida beneficente, a melhor férias para um músico é gravar um disco solo. E foi isso que cada integrante do Yes fez
Mas, seria possível que os integrantes do Yes, isolados e sem seus colegas, conseguissem elaborar canções tão belas, intrincadas, complexas e dignas do que faziam quando unidos, portanto, merecedoras de receber o nome de Maravilha do Mundo Prog? Nesse mês de outubro, vamos trazer para você, leitor do Consultoria do Rock, algumas maravilhas feitas pelos músicos do Yes no período de férias (1975 / 1977), e discutiremos essa questão do ponto de vista tanto das canções quanto da personalidade de cada membro.
E começaremos justamente com a canção que abre o Lado B do primeiro álbum solo gravado nesse período, e que carrega o nome do mesmo, “Beginnings”. Gravada pelo guitarrista Steve Howe, “Beginnings” é uma aula de harmonia, composição, técnica e sentimento. A canção é uma parceria entre Howe e Moraz, responsável pelos arranjos da mesma.
Contando com a colaboração de uma pequena orquestra, formada por Patrick Halling (violinos), William Reid (violino), John Meek (viola), Peter Halling (violocelo), Chris Laurence (baixo), James Gregory (flauta, pícolo), Sidney Sutcliffe (oboé) e Gwyd Brook (fagote), a canção começa com o lindo tema das cordas, acompanhado pelo dedilhado do violão. As cordas vão se sobrepondo, violinos, violoncelo e viola, tendo ao fundo um saltitante pícolo, bem como o dedilhado do violão de Howe.
A velocidade das cordas aumenta, deixando Howe sozinho, para fazer um belíssimo dedilhado, na linha de “Mood for a Day” (clássico gravado em Fragile, 1972, do próprio Yes). Após o solo de Howe, a flauta dá lugar para o oboé fazer seu tema, acompanhado pelo fagote. A flauta faz uma pequena ponte, e o oboé repete seu solo, acompanhado agora pelas cordas, pelo fagote e pela flauta. As cordas misturam-se ao tema do oboé, e a canção fica sombria, com cordas e flautas fazendo arpejos, trazendo então Howe, dessa vez na guitarra, utilizando o pedal de variação de volume, para repetir o tema do oboé.
O andante dessa parte da canção é composto por uma cama de cordas, fagote e flauta que apresentam Howe, construindo uma bonita escala com o pedal de volume, acompanhado pelas cordas, flauta e oboé, e então, Moraz surge fazendo um leve dedilhado no piano, enquanto Howe sola no slide guitar. Cordas, flautas e oboé fazem a ponte, para então o slide guitar repetir o tema do oboé, com uma triste melodia das cordas e dos metais. A beleza do violoncelo e da viola, mesclada com as notas dos violinos e das intervenções do fagote, é muito emocionante, e essa construção vai aumentando a cadência, com slide guitar, oboé e violino tentando achar espaço um dentro da escala do outro. Fantástico é pouco para a intrincada peça construída.
Finalmente, um sintetizador é reponsável por que todos os instrumentos repitam o tema do oboé, em uma velocidade mais cadenciada, deixando as cordas nos apresentarem o tema final, o qual é feito por Howe, novamente dedilhando seu violão, com acordes quebrados e intrincados, entre intervenções das cordas, fechando essa belíssima canção com um sensacional crescendo das cordas e do fagote, repetindo o tema introdutório, em um allegro encantador, onde flautas, oboé e cordas misturam-se, concluindo com um simples acorde em E. Genial!
Todo o álbum Beginnings é composto de ótimas composições e canções, sendo um dos melhores álbuns já gravados por um artista solo na opinião deste que vos escreve. Longe de ser um disco somente de guitarras, esse álbum é voltado para a divisão entre temas suaves e outros muitos próximos a linha do Yes. Howe aparece com destaque cantando em “Australia”, na harmoniosa “Lost Symphony” e na encantadora “Will o’ the Wisp“, que parece sair de algum álbum do Traffic. Desse álbum, a canção que mais se destacou foi “Ram“, uma peça instrumental somente ao violão, similar a outro clássico do Yes, “The Clap” (gravada em Yes Album, de 1971) e executada nos shows do Yes durante a turnê de Union. Outro destaque instrumental vai para “Nature of the Sea“, com Howe desfilando suas escalas, além de “Pleasure Stole the Night”, e “Break Away From It All”, as quais contam com a participação de Bill Bruford.
Howe ainda lançaria outro fantástico disco solo na década de 70, Album, de 1979, apresentando outras bonitas peças instrumentais, e que podem facilmente aparecer por aqui um dia, além de ter feito parte do grupo Asia (um dos mais importantes nomes do AOR) e também do projeto GTR, ao lado do guitarrista Steve Hackett (ex-Genesis), bem como em paralelo a essas bandas, e também ao Yes, mantém uma bem-sucedida carreira solo, assim como vários projetos paralelos (como a participação no primeiro álbum do Explore’s Club, Age of Impact, de 1998, sendo que o grupo conta com diversos nomes de destaque, como o baterista Terry Bozzio e os membros do Dream Theter John Petrucci, James LaBrie e Derek Sherinian), também com belas composições, mas sem dúvida, nenhuma equiparada à beleza e profundidade de “Beginnings”.
Sou suspeito pra falar, mas gostei muito da ideia de ilustrar a coluna em outubro com as belas músicas feitas pelos integrantes do Yes nesse período de afastamento. Não conhecia a capa desse álbum, e gostei bastante da manutenção da identidade visual do Yes na carreira solo de Howe. Banda diferenciada é outra coisa.
O Steve Howe Album tb segue a mesma linha Diogo. Depois que saiu do Yes, ai sim o mundo mudou para ele, e também para os demais Yes
Tive a oportunidade de comprar esse CD, mas optei no dia pelo Vemod do Anekdoten. Não posso dizer que me arrependo, mas acho esse disco bem legal, principalmente a faixa-título. Claro que, sendo o Howe ao menos aparentemente o gênio por trás dos melhores momentos do Yes clássico, eu esperava da carreira-solo dele algo naquela linha, mas o resultado não desagradou. O monte de músicas na linha country/bluegrass também é algo bastante curioso! Parabéns por essa iniciativa, Mairon!
Me arrependo até hoje de ter vendido o vinil… Mas tenho em cd! Ótimo texto, para variar!
As composições, os arranjos e as interpretações instrumentais deste disco são primorosas, mas os vocais são, na minha opinião, muito fracos. Acho que é o calcanhar de Aquiles do álbum. Considero o primeiro trabalho do Chris Squire como melhor trabalho da época e acho o “Álbum” o melhor disco do Steve Howe. Abraços Musicais.
Valeu Henrique. Houveram outras matérias referentes aos discos dos membros do Yes. Busque no nosso site. Abraços