Maravilhas do Mundo Prog: Jon Anderson – Qoquaq Ën Transic / Naon / Transic Tö [1976]
Por Mairon Machado
Continuando nossa peregrinação pela carreira solo dos membros do Yes no período entre 1975 e 1976, hoje vamos conhecer aquela que talvez seja a mais progressivas das canções gravadas por um membro do Yes em carreira solo. Obviamente, esse membro só poderia ser o vocalista Jon Anderson.
Jon Anderson, em 1975 |
Sempre adepto a um lado espiritual, zen e meditativo, Anderson era o responsável por ser o mestre de cerimônias do Yes, empunhando o microfone para transmitir as bonitas e complicadas letras do grupo, muitas vezes compostas justamente por ele. A parceria com Steve Howe (guitarra) concebeu canções que marcaram época como as mais lindas do rock progressivo. “Close to the Edge”, “Roundabout”, “Awaken” e todo o álbum Tales from Topographic Oceans são alguns dos melhores exemplos de uma das melhores duplas de compositores da história do rock (assim como Lennon/McCartney ou Jagger/Richards).
Seria possível que, sem Howe, Anderson construísse canções que marcassem? A resposta positiva é dada no álbum Olias of Sunhillow, o primeiro álbum solo do cantor. Em mais uma imaginativa história criada por Anderson, Olias of Sunhillow narra a história de uma raça alienígena, a qual vive em um planeta chamado Sunhillow, que viaja para um novo mundo, no caso a Terra, devido a destruição de seu planeta original por catástrofes climáticas causadas pelos habitantes daquele lugar.
A capa original do livro + vinil Olias of Sunhillow |
A fuga de Sunhillow é necessária de ser feita com brevidade, e o escolhido para construir a aeronave que irá levar os habitantes para o novo planeta é o arquiteto Olias. Olias constrói a nave Moorglade, a qual tem como capitão Ranyart e como líder Qoquaq, responsável por unir as quatro tribos existentes em Sunhillow e fugir do planeta.
Olias, Ranyart e Qoquaq encontram-se nas clareiras dos Jardins de Geda, mais precisamente na planície de Tallowcross, e lá, desenvolvem o plano e as escolhas necessárias para resgatar a população de Sunhillow e leva-la para outro planeta. As quatro tribos vivem da música, dos ritmos e dos tempos característicos de cada tribo, cantando para as estrelas em busca da luz própria, que é o que os alimenta. A energia, a alma, os movimentos das tribos, era tudo de acordo com a estrela para a qual ela dedicava seus cânticos.
Essas tribos eram: Nagranium, de pele escura, que faziam batidas em pequenas estrias de Sunhillow; Asatranius, os quais faziam linhas monotônicas em metais; Oractaniom, os quais estimulavam vários sons de metais leves; e Nordranious, responsáveis por extrair sons de seus próprios corpos.
Parte do livro que acompanha a versão original do LP |
Ranyart passa a construir forças através de uma dança com feixes de alternidade enviados para os céus, onde esses feixes de alternidade são movimentos feitos com luz e energia (viagem zen total). Olias enquanto isso, ocupa-se de construir Moorglade, cantando para as árvores metálicas de Sunhillow, com suas folhas de ouro e com suas fortes raízes, extraídas para a criação de uma nave com braços e pernas bem abertos, como asas, além de um grande mastro e de espaço suficiente para todos os habitantes de Sunhillow. Olias reforça a estrutura de Moorglade com peixes do oceano solar que envolve o planeta, que envoltos pelos cantos de Olias, moldam-se a nave submissos ao construtor, onde acabam morrendo, mas fortalecendo a nave.
Com Moorglade pronta, Qoquaq encarrega-se de juntar as tribos, cantando em um vale profundo, pelo qual o som espalhou-se do oriente ao ocidente, de norte a sul do planeta. O cântico de amor e paz, foi o sinal de que era necessário sair de Sunhillow, e assim, pouco a pouco as tribos foram sendo unidas naquele vale. Depois de todos unidos, Qoquaq levou as tribos para Moorglade, através de um transe com a canção que Olias passava a entoar da aeronave, localizada na planície de Tallowcross.
Mais algumas páginas do livreto |
O ritmo dos cânticos de todas as tribos fez com que a Moorglade levanta-se vôo, lentamente, arrastando-se ao longo da planície e indo em direção às estrelas, com suas velas gigantes. Pouco depois, já no espaço, a população dentro da Moorglade ouviu uma enorme explosão. Era o fim de Sunhillow. Os milhões de pessoas na nave choraram lágrimas silenciosas.
Depois do choque, as brigas das tribos dentro de Moorgrade acabou afetando o andamento da viagem. O som agora era em desarmonia, sem equilíbrio, gerando medo dentro das almas da população, e então, a nave acabou ruindo-se devido a presença de uma força estranha, Moon Ra, a força da desorientação. Olias então depara-se com o tormento de seu povo, e passa a cantar acordes de amor e vida para acariciar Moon Ra. A tensão diminui, e as pessoas agora dormem sob um cobertor de cristal (!), e então, a Moorglade continuou sua viagem através de uma canção de amor cantada por Olias.
Selo de Olias of Sunhillow |
A aeronave segue seu caminho, planejado por Ranyart, e chega na Terra, onde a população passa a cantar uma nova canção, uma canção de pesquisa para voar sobre as colinas e nuvens do novo planeta, onde a Moorglade irá descansar nas planícies de Asguard. Lá, em despedida, Olias, Ranyart e Qoquaq sobem na montanha mais alta, e deitados, com os olhos fixos para as estrelas, voltam a viver suas vidas em contato direto com o universo.
Toda essa viajante história é narrada através de muitas vocalizações, efeitos e climas viajantes, através das belíssimas canções do LP. “Ocean Song” apresenta o som dos oceanos, que vão tomar conta de Sunhillow. “Meeting (Garden of Geda) / Sound out the Galleon” é quando a população de Sunhillow descobre que o planeta irá acabar. “Dance of Ranyart / Olias (To Build the Moorglade)” é o momento onde Olias é escolhido par construir a arca que levará os habitantes de Sunhillow, enquanto “Qoquaq Ën Transic / Naon / Transic Tö” é a busca pela paz entre as tribos do planeta através de Qoquaq.
O lado A encerra-se com a fuga de Sunhillow em “Flight of the Moorglade“, e o lado B abre com os efeitos especiais de “Solid Space“. Então, finalmente os habitantes encontram um novo lar, através de “Moon Ra / Chords / Song of Search”, concluindo a longa jornada em “To the Runner”.
Moorglade, carregando os habitantes de Sunhillow pelo espaço |
As variações climáticas das canções demonstram cada momento da população de Sunhillow com perfeição, e exaltam a capacidade de criação de Jon Anderson, fazendo dessa história uma das mais bonitas composições do progressivo, e também do estilo cunhado posteriormente pelo nome de New Age. Musicalmente, o ponto máximo do álbum é justamente quando Qoquaq vai em busca das tribos do planeta para consolidar a fuga, durante “Qoquaq Ën Transic / Naon / Transic Tö”.
A canção abre com efeitos de sintetizadores, com longos acordes, enquanto o moog faz o belo tema de “Qoquaq Ën Transic”. O viajante tema de sintetizadores é tomado por percussões em “Naon”, com batidas tribais que mudam totalmente o clima da canção. Se antes tinhamos uma viagem zen, agora as percussões, junto com o violão e uma espécie de cítara, apresenta a voz de Anderson, cantando no ritmo da percussão, cercado por muitos efeitos e vocalizações.
As vocalizações passam a se sobrepor, lembrando bastante “We Have Heaven”, do álbum Fragile, lançado pelo Yes em 1972, entrando em “Transic Tö”, onde as camadas de sintetizadores trazem novamente o tema do moog, agora com Anderson fazendo vocalizações que acompanham a linda e viajante melodia do moog, encerrando a canção com esse bonito tema hipnotizando o ouvinte.
Destaque no livreto, com a história e a bela imagem de David Fairbrother |
Anderson teve a companhia de Brian Gaylor nos sintetizadores e Ken Freeman, que fez o arranjo de cordas. No mais, tocou todos os instrumentos, os quais são violões, guitarras, harpa, sintetizador e percussão, além de fazer todos os vocais. É impressionante como o talento desse gênio ainda é discutido por alguns preciosistas, e inegável que mesmo fora do Yes, Anderson era capaz de fazer maravilhas como as feitas em Olias of Sunhillow, que ficou na oitava posição no Reino Unido e foi o mais aclamado dos álbuns solos dos membros do Yes entre 1975 e 1976.
A capa de Fragile inspirou Olias of Sunhillow, através da nave Moorglade |
A bonita capa do LP foi inspirada em Fragile, sendo Moorglade a mesma nave que aparece na capa do álbum do Yes. Aliás, a canção “We Have Heaven” citada, é um bom aperitivo para as sonoridades que você irá encontrar em Olias of Sunhillow. Elaborada pela Hipgnosis, e tendo figuras desenhadas por David Fairbrother (responsável pelas capas do Nazareth), a versão original da capa do LP vêm acompanhada de um bonito livreto, onde as ilustrações e as letras das canções ganham destaque com uma belíssima mistura de cores, figuras e detalhes (que ilustram essa matéria).
Am I Genius??? Or am I God??? |
A carreira solo de Anderson seguiu com mais baixos do que altos, com Song of Seven (1980) sendo outro disco merecedor de um pouco de atenção. Mesmo sua parceria com o tecladista grego Vangelis, gerou alguns bons momentos, mas nada digno de ser chamado de maravilha. Em compensação, no Yes ele voltaria para fazer muitas canções que aos poucos, aparecerão por aqui.
Faz tempo que não ouço esse disco e não tenho nenhuma das músicas gravada na mente. Irei re-ouvir o disco todo e, em especial, essa faixa e retornarei pra comentar. Parabéns pelo texto e, novamente, por essa iniciativa bem legal, Mairon!
Valeu Groucho, Particularmente, eu fico impressionado como esses discos solos de 75-76 são bons. O Olias é uma obra-prima. O clima new wave do mesmo é perfeito. O Beginnings do Steve Howe é fantastico. Enfim, boa audição e mais uma vez, obrigado por estar divulgando os posts no teu facebook
Eu que te agradeço, assim como todos aqui, por vc, principalmente, mas também os demais colaboradores, manterem esse blog ativo e LYMDO! hehe
Quanto ao Olias, ouvi e não curti muito. Só tinha uma música que eu curtia das antiga – a segunda – e continuo curtindo só ela. Quem sabe com mais audições..
Eu não sei muito o inglês. Mas já conhecia Olias of Sunhillow há muito tempo. O Yes é a minha banda predileta. Recomendo também uma resenha sobre o álbum do Rick Wakeman No Earthly Connection que eu acho uma viajem só, assim como Olias. Sempre leio suas postagens.
Cresci ouvindo progressivo. não podemos esquecer da banda ELOY com Power and passion.