Por Fernando Bueno
Depois da participação do Angra com a Tarja Turunen no último Rock in Rio choveram críticas à banda, principalmente relativas ao trabalho de Edu Falaschi. Realmente foi decepcionante a apresentação, que trazia muitas expectativas quando foi divulgada. Edu Falaschi se justificou dizendo que o som estava péssimo e que a transmissão pela televisão pegava o áudio, sem tratamento, direto da mesa de som. Na segunda feira seguinte ele teve uma pequena rusga via twitter com Eloy Casagrande, que já tocou com a banda de André Matos, atualmente baterista do Gloria, porque criticou que o som do palco mundo estava parecendo um CD enquanto eles tiveram que tocar com um som ruim. Disse também que a equipe de som que trabalhou no festival foi mandada embora após os shows.
Independente de todos esses problemas a relação entre os integrantes do Angra já não andava muito boa e certamente essa apresentação infeliz deve ter agravado ainda mais as coisas. Isso me fez lembrar de que por volta de 2008 o Angra deu uma parada motivada por problemas empresariais e ficou em stand by até sua volta para a gravação de Aqua (2010). Diga-se de passagem, problemas empresariais já havia sido o motivo que fez com que a formação original da banda se desintegrasse. Pelo jeito as coisas nunca estiveram boas nos bastidores. Durante essa parada seus integrantes foram cuidar de suas bandas paralelas, de seus projetos paralelos e de suas carreiras solo.
Os dois guitarristas do Angra sempre tiveram um ótimo entrosamento, sendo que as funções parecem bem definidas na banda. Enquanto Rafael Bittencourt é responsável pela criação de melodias, Kiko Loureiro faz a parte virtuose. Claro que falando assim dá a impressão que o Rafael não é tão bom quanto Kiko e é um erro pensar assim. Acho que os dois são equivalentes, porém cada um tem seus pontos fortes. Basta comparar os discos lançados pelos Kiko Loureiro e Brainworms I, o foco dessa matéria.
Lembro-me de ler que as influências para o disco seriam desde música brasileira, passando pelo pop, progressivo e, claro, metal melódico. Fiquei sem saber o que iria dar esse caldeirão de estilos e o resultado me deixou bastante contente já que todas essas influências apareceram e não soam forçadas. O que eu quero dizer é que não dá a impressão que algumas partes foram adicionadas à força, pelo contrário, as músicas fluem de maneira impecável.
O álbum começa arrebentando com “Dedicate My Soul” que tem um refrão que fica na cabeça, e poderia muito bem estar em um disco do Angra. “Holding Back the Fire” é mais lenta, porém com ótimas melodias e um solo bonito. Ele diz que a inspiração para essa música veio dos anos 70, de bandas como Yes, The Who e Queen. A curiosidade é que a música tem uma dupla de baixos, um fretless e outro normal. Já na próxima música, “Tormento of Fate”, que ele descreveu como sendo um tango-punk, as influências citadas foram Linkin Park e Evanescence. Até dá para notar o algo desse tipo de banda na música, mas aqui esse tempero foi muito bem feito.
Depois ainda temos uma balada, “The Dark Side of Love” e “Nitghtfly” em que ele conta algumas memórias da casa de seu avô onde ele costumava passar as férias. Uma das coisas que me chamaram atenção no disco, e é sempre uma das primeiras perguntas que as pessoas fazem quando sabem que ele também cantou no álbum, é a voz de Rafael. De tom muito agradável e se destacando em algumas faixas. Outra coisa é que dá para notar o sotaque quando ele canta em inglês o que deixou o aspecto da brasileiridade do álbum bem evidente.
“The Underworld” tem um jeitão de Dream Theater, como ele mesmo cita. “Faded” é outra balada que inicia com um dedilhado de violão e tem um andamento bem arrastado. Em “Santa Tereza” ele utiliza uma viola caipira e tem muito de música brasileira. Foi composta durante a época de composição de Holy Land (1996) e ainda não estava totalmente finalizada até ele gravar Brainworms I. “O Pastor” é um cover do grupo Madredeus, que mistura fado com outros estilos musicais. É cantada em português e tem uma letra bem interessante. Depois disso temos duas músicas instrumentais, “Comendo Melancia” e “Primeiro Amor”. A primeira tem um direcionamento bem rock e também lembra o Dream Theater dos primeiros álbuns. Na sua explicação do porque desse nome para a música ele explica que para ele o Lá maior, que é o tom usado, é vermelho (?) e a sétima, Sol, é verde (?), o que me faz pensar que ao invés de melancia, o Rafael deve estar comendo cogumelos. A segunda instumental é uma homenagem a diversos violonistas brasileiros.
O álbum fecha com “Nacib Veio”, também cantada em português com uma letra meio doida, mas que acaba tendo sentido quando se conhece qual é a ideia por trás da canção, que é retratar o cotidiano simples do morador do campo.
Um dos destaques do álbum é a participação de Amon Lima no violino. Quando encontrei o Amon comentei que me lembrou muito o que David Cross fazia no King Crimson e ele me respondeu que essa era a ideia mesmo. O uso desse instrumento no rock deveria ser mais freqüente. Eu adoro o som do violino.
Rafael já adiantou que pretende fazer um Brainworms II e, agora com essa nova parada (definitiva?) do Angra, é possível que o venha fazer. Espero que isso venha a acontecer mesmo, afinal essas brigas aí não podem atrapalhar a carreira desse que é um dos caras mais simpáticos do meio do metal, além de grande músico, é óbvio.
Não poderia deixar de comentar o trabalho gráfico do CD. O encarte em si não tem muita inovação, porém a ideia de incluir um segundo encarte contendo as letras traduzidas e explicando os conceitos das músicas foi louvável. Eu consegui meu CD direto com o Rafael Bittencourt em um show que eles fizeram no Manifesto para o seu lançamento. Esse encarte foi apresentado para mim por ele com muita empolgação, que é totalmente compreensível e justificável. Isso demonstra que além do artista estar preocupado em apresentar sua música, ele também ajuda o ouvinte a interpretá-la e entendê-la. Esse é um exemplo que toda banda poderia seguir.
Track list
1. Dedicated My Soul
2. Holding Back the Fire
3. Torment of Fate
4. The Dark Side of Love
5. Nightfly
6. The Underworld
7. Faded
8. Santa Teresa
9. O Pastor
10. Comendo Melancia
11. Primeiro Amor
12. Nacib Veio
O pessoal da Familia Lima tem uma boa inclinação para o Rock Progressivo. Quando conheci o "buneco" da Sandy e o Amon, eles falaram bastante sobre ELP, King Crimson, Yes e principalmente Pink Floyd. Nesse mesmo show, tocaram "Kashmir" (Led) e "Wish You Were Here" (Pink Floyd). Não seria surpreendente se eles fizessem um disco só de rock progressivo.
Qunto ao fim do Angra, por mais que se tenha alardeado que o show foi ruim e tal, tomara que não seja real. Apesar dos pesares, é uma das poucas bandas ainda dignas de merecerem o rotulo de importantes em nosso país.
Bela resenha Bueno
Muito bom Bueno!! Brainworms é um grande trabalho do Rafael e tb espero que ele dê sequencia com o Brainworms II.
Quanto ao Angra, sou suspeito para falar…torço muito para que a banda lance mais discos, faça mais turnês, etc…simplesmente uma de minhas favoritas em todos os tempos.
Eu ouvi esse disco sem muita expectativa na época, mas gostei bastante. O mais legal é que não parece um disco de "sobras do Angra", mas sim o disco de um compositor que não toca só metal melódico.
O cover do Madredeus ficou excelente, e "Comendo Melancia" e "Nacib Véio" são bastante legais. O resto não foge tanto assim do estilo de Rafael, mas não é uma cópia pura e simples do som do Angra.
Que venha a segunda parte, e que o violino continue ali, pois este instrumento é maravilhoso!
Quanto ao Angra, o último disco do grupo de que gostei "mesmo" foi o Rebirth. Daí para a frente ficou com uma cara de "mais do mesmo", pelo menos para mim.
Parabéns pela resenha, Bueno!
Para mim esse é o melhor disco de um membro do Angra. Sem desmerecer a banda, até porque gosto muito deles também. Mas a variação e exploração de novos caminhos nesse trabalho me conquistaram. Ainda ouço esse álbum até hoje.