Maravilhas do Mundo Prog: Chris Squire – Lucky Seven [1975]
Por Mairon Machado
Contando com a participação de Bill Bruford na bateria, o baixista Chris Squire criou um magnífico álbum solo, e que talvez no geral, seja o mais apreciado pelos fãs do Yes. Fish out of Water carrega a discrição que o baixista do Yes mantém empunhando as quatro cordas do grupo, e destaca o lado vocal de Squire, que no Yes só aparece mais claramente no belíssimo álbum Drama, de 1980.
Squire decidiu seguir a linha do material que fora composto pelo Yes em Relayer (1974), chamando para ajudá-lo com as partes orquestrais outro ex-colega de grupo, mas agora não do Yes, e sim do The Syn, Andrew Jackman.
Squire, empunhando guitarra no seu disco solo |
Entre 1965 e 1967, Squire e Jackman fizeram parte do The Syn, um grupo psicodélico da Inglaterra, com origens no rhythm & blues e muito similar ao que o Moody Blues fazia na mesma época. Além da dupla, faziam parte do The Syn Steve Nardelli (guitarras, vocais), Martyn Adelman (bateria) e John Painter (guitarra). Painter não durou muito tempo, sendo substituído por Peter Banks, enquanto Adelman também pegou suas trouxas cedo, sendo substituído pelo islandês Gunnar Jökull Hákonarson.
Essa foi a fase de ascensão do grupo, regada pela lisérgica psicodelia londrina e de onde saíram os singles “Created by Clive” / “Grounded” e “Flowerman” / “14 Hour Technicolor Dream“, levando-os inclusive a abrir um show de Jimi Hendrix no Marquee Club de Londres, em 1967, mesmo ano que o grupo acabou, com Squire e Banks indo formar o Yes.
Compacto do grupo The Syn. Squire é o primeiro da direita para a esquerda |
O re-encontro entre os ex-colegas Squire e Jackman propiciou à dupla fazer trabalhos mais pensantes, elaborados, e também criativos. Jackman trouxe com ele uma pequena orquestra, formada por Adrian Bett (instrumentos de sopro), Jim Buck (trompas), Julian Gaillard (cordas), David Snell (harpa) e John Wilbraham (metais), e passou a transcrever as ideias orquestrais de Squire para o papel.
Assim, no dia 07 de novembro de 1975, Squire lançou Fish out of Water, uma brincadeira com seu apelido (The Fish) como que estando fora do Yes. Nele, o baixista ficou encarregado, além das quatro cordas, das guitarras, violões e vocais. O álbum abre com “Hold out Your Hand” e “You By My Side”, as quais são canções simples, com destaque para a participação mais que importante de Bill Bruford e Patrick Moraz, além dos poderosos solos de Squire no baixo, e do bonito solo de Jackman no órgão da Catedral de St. Paul em “Hold out Your Hand”, enquanto “You By My Side” é uma bonita balada levada ao piano. “Silently Falling“, a longa canção que encerra o lado A, é uma poderosa faixa, linda, com harmonias de flautas e metais que encantam, com Moraz participando nos teclados, Bruford destruindo na bateria, e que poderia ocupar o lugar de maravilha prog facilmente.
Chris Squire |
Mas a faixa que abre o lado B é insuperável. Além de Jackman e Bruford, “Lucky Seven” traz a participação mais que especial do saxofonista Mel Collins (King Crimson), o que deu um ar mais progressivo à canção. O piano elétrico de Jackman faz o tema introdutório, com Squire marcando o tempo no baixo. Bruford surge com a marcação no bumbo, chimbal e caixa, com Squire aumentando a quantidade de notas de seu baixo. O saxofone de Collins aparece fazendo um curto tema, e Squire passa a cantar a letra da canção.
A semelhança com canções do Van der Graaf Generator é incrível, misturando jazz fusion e progressivo em doses homeopáticas e extremamente chapantes. Squire canta o refrão e faz algumas escalas, sempre sobre o tema do piano elétrico e das intervenções do saxofone, enquanto Bruford continua sua sequência de batidas incomuns, com ritmos descompassados mas que encaixam-se perfeitamente na estrutura da canção. O refrão é repetido, e Squire passa a solar no baixo, com escalas rápidas que vão envolvendo um pequeno arranjo de cordas que surge ao fundo.
Vocalizações levam a um aumento no ritmo de Bruford, que agora soca os pratos com uma técnica que mistura força e precisão, enquanto Squire continua seu solo e Jackman não para com o tema do piano elétrico. A letra é retomada, e as cordas passam a acompanhar a melodia vocal de Squire, de onde Collins surge solando com escalas coltranianas, e as cordas fazendo o belo tema de acompanhamento do solo, onde Bruford demonstra o porquê de ser considerado um dos principais bateristas do rock progressivo, com quebradas dificílimas, em um andamento 7/8, e com Squire solando independentemente do saxofone, que gradativamente, vai diminuindo o volume de seu solo, para encerrar com as notas do piano elétrico e com o saxofone suavemente deixando seu quarto.
Na sequência de “Lucky Seven”, a suíte “Safe (Canon Song)” surge repleta de cordas e partes que compõem uma belíssima canção, também merecedora de ser chamada de Maravilha, só que o conjunto da obra em “Lucky Seven” soa mais progressiva, e não tão grandiosa quanto “Safe (Canon Song)”.
Squire não tem uma carreira solo de destaque. Em 1981, lançou em parceria com o baterista Alan White o álbum Run With the Fox, e somente em 2007 lançou seu segundo álbum solo, Swiss Choir. Porém, participou de vários projetos, com destaque para o Conspiracy (ao lado do guitarrista Billy Sherwood) e também como músico convidado de álbuns do tecladista Rick Wakeman, sendo o único a permanecer no Yes desde sua formação.
Re-lançamento DELUXE de 2007 |
Fish out of Water foi relançado em uma versão DELUXE em 2007, trazendo muito material bônus, como vídeos promocionais e também um documentário com entrevistas. A performance de Bruford no álbum é exaltada pelos fãs como sendo a definitiva de sua carreira, e realmente, se não é a definitiva, é uma das mais importantes. E claro, o talento de Squire como compositor foi colocado a prova, e passou no teste de fogo, já que as cinco canções do álbum são ótimas referências para um aprendiz no mundo do Yes, tendo em “Lucky Seven” um símbolo extra, possuído apenas por canções dignas de serem chamadas de Maravilhas.
Sensacional disco, o Squire é excelente em tudo que faz – tocar, compor, cantar, arranjar, enfim, o cara é o cara. Esse som realmente é muito bom, mas ainda gosto um pouquinho mais da Silent Falling!
Abraço!!
Ronaldo
Preciso copiar o Ronaldo: "Sensacional disco, o Squire é excelente em tudo que faz – tocar, compor, cantar, arranjar, enfim, o cara é o cara."
Mas "Lucky Seven" é minha menos favorita do disco! A melhor, com certeza, é "Hold Out Your Hand", seguida de "Silently Falling" e "You by My Side" empatadas, e finalmente "Safe (Canon Song)". Parabéns mais uma vez, Mairon!