Cinco Discos Para Conhecer: Os Renegados do Hard Rock – Parte III
Por Marcelo Vieira (originalmente publicado no blog Van do Halen)
Inspirado nas listas de Igor Miranda e João Renato Alves e amparado na posição que adquiri após anos dirigindo a Combe do Iommi, resolvi fazer a minha lista com cinco discos para conhecer os chamados ‘renegados’ do hard rock. Não foi nada fácil, mas vamos lá!
XYZ – XYZ [1989]
Na segunda metade dos anos 80 tocar hard rock era sinônimo de grana fácil. Produzir uma banda do gênero então nem se fala. A fim de ganhar uns trocados a mais, Don Dokken se aventurou a produzir o XYZ. O quarteto já vinha fazendo seu nome como residente no famosíssimo The Whiskey de Los Angeles e possuía um álbum gravado pela Atlantic, o até 2005 inédito Rainy Days. Mas quando Don entrou na jogada e levou o XYZ para a Enigma, deu a Terry Ilous (vocais), Patt Fontaine (baixo) e os novatos Marc Diglio (guitarra) e Paul Monroe (bateria) o que se pode chamar de “the real deal”.
XYZ chegou às lojas em 1989 e logo de cara emplacou dois hits, a irresistível “Inside Out” e “What Keeps Me Loving You”, baladaça pra lá de açucarada. Em matéria de seis cordas, Marc Diglio dá um show a parte com riffs e fraseados de influência blueseira e muita técnica nos solos. Mas o carro-chefe da banda mesmo é o vozeirão de Terry Ilous, que além de potente, é dotado de uma infinidade de recursos, permitindo interpretações grandiosas tanto em músicas pesadas (“Maggy”, “Nice Day to Die”) quanto em músicas mais leves e cadenciadas (“Follow the Night”, “After the Rain”).
01. Maggy
02. Inside Out
03. What Keeps Me Loving You
04. Take What You Can
05. Follow The Night
06. Come On N’Love Me
07. Souvenirs
08. Tied Up
09. Nice Day To Die
10. After The Rain
Terry Ilous – vocals
Marc Diglio – guitar
Patt Fontaine – bass
Paul Monroe – drums
Graças a Kevin DuBrow, o guitarrista Robert Sarzo e o baixista Tony Cavazo (irmãos mais novos de Rudy Sarzo e Carlos Cavazo, do Quiet Riot) foram apresentados e deram origem a uma das melhores bandas da safra oitentista. Kelly Hansen (vocais) e Jay Schellen (bateria) completariam a formação clássica do Hurricane, responsável pelo matador EP de estreia Take What You Want (1986) e, posteriormente, pelo LP Over the Edge (1988). Sabe-se lá o porquê, Sarzo deixou seus colegas a ver navios e, para o lançamento seguinte foi chamado o encara-todas Doug Aldrich.
A entrada de Aldrich somada a produção caprichada de Michael James Jackson levou o som do Hurricane a outro nível em Slave to the Thrill. O novo guitarrista, a exemplo do que já havia feito no Lion e em diversas participações especiais, era uma biblioteca de timbres e dominava seu instrumento como poucos de sua geração. Com Aldrich, o hard rock do Hurricane ganhou novos contornos, sem contar que Kelly Hansen estava cantando como nunca. Slave não obteve o reconhecimento merecido, mas pra sempre será lembrado como o registro definitivo do Hurricane.
01. Reign Of Love
02. Next To You
03. Young Man
05. Don’t Wanna Dream
06. Temptation
07. Ten Thousand Years
08. In The Fire
09. Let It Slide
10. Lock Me Up
11. Smiles Like A Child
Kelly Hansen – vocals
Doug Aldrich – guitar and background vocals
Tony Cavazo – bass and background vocals
Jay Schellen – drums, percussion and background vocals
O último álbum a ser incluído nesta lista talvez seja o mais desconhecido do grande público. O Jagged Edge U.K. foi descoberto pelo baixista Neil Murray, que prontamente se ofereceu para produzir sua primeira demo, datada de 1988. Depois de mudanças na formação, o grupo se estabilizou com Matti Alfonzetti (vocais), Myke Gray (guitarra), o já experiente Andy Robbins (baixo) e Fabio del Rio (bateria) e assinou com a Polydor. Logo de cara veio o EP Trouble. Em seguida, o único full length do grupo, Fuel for Your Soul, ambos em 1990 e com participação de Don Airey nos teclados.
O som presente em Fuel for Your Soul é um hard rock de melodias caprichadas e refrões cativantes tocado por músicos de primeira linha, com senso melódico apurado e bom gosto na escolha dos timbres. Fica até difícil apontar um carro-chefe, uma vez que nenhuma das músicas de trabalho (“Hell Ain’t A Long Way”, “Out in the Cold” e “You Don’t Love Me”) emplacou e o restante não oscila em termos de qualidade. Devido à baixa expressão de vendas e consequente demissão, a banda se separou em 1991. Del Rio foi tocar com Bruce Dickinson e Alfonzetti apostou todas as fichas no Talisman. E perdeu.
01. Liar
02. Out In The Cold
03. You Don’t Love Me
04. Hell Ain’t A Long Way
05. Smooth Operator
06. Sweet Lorraine
07. Fuel For Your Soul
08. Law Of The Land
09. Loving You Too Long
11. Money Talking
12. Burnin’ Up
Matti Alfonzetti – vocals
Myke Gray – guitar
Andy Robbins – bass and backing vocals
Fabio Del Rio – drums
Quatro maconheiros de origem new wave que orgulhosamente se auto-denominavam a banda mais imbecil do mundo. Em seu auge, o Love/Hate chegou a ser apontado pelos jornais e revistas de Los Angeles como a melhor banda local desde o Guns N’ Roses. Exageros midiáticos a parte, Jizzy Pearl (vocais), Jon E. Love (guitarra), Skid (baixo) e Joey Gold (bateria) fizeram de seu primeiro LP, Blackout in the Red Room, um dos melhores discos de estreia do hard rock estadunidense.
Com uma atitude quase punk, lapsos psicodélicos dos tempos de Dataclan e marijuana pra dar e vender, Jizzy e companhia escreveram mantras como “Why Do You Think They Call It Dope?” e “Mary Jane”, que não apenas elucidam a importância das drogas no processo criativo do grupo, como também documentam os chamados dias de decadência do fim da era hair metal. E mesmo com a concorrência do grunge, as vendas foram tão boas que a CBS investiu pesado no lançamento seguinte, Wasted in America.
01. Blackout In The Red Room
02. Rock Queen
03. Tumbleweed
04. Why Do You Think They Call It Dope?
05. Fuel To Run
06. One More Round
07. She’s An Angel
08. Mary Jane
09. Straightjacket
10. Slutsy Tipsy
11. Slave Girl
12. Hell, Ca., Pop. 4
Jizzy Pearl – vocals
Jon E. Love – guitar
Skid – bass
Joey Gold – drums
Impulsionado pelo sucesso que a banda de seu irmão Kenny Chaisson (Keel) ia aos poucos alcançando, o baixista Todd “Chase” Chaisson uniu forças com o guitarrista Jorge DeSaint, o baterista Michael “Lean” Raimondo e o já excêntrico vocalista Jim Gillette (na época, Jimmy L’Mour) dando origem ao Tuff. O ano era 1985, mas só em 1991, no deadline do rock farofa e com outro vocalista, Stevie Rachelle, o quarteto lançaria seu LP de estreia, What Comes Around Goes Around, pela Atlantic.
Se originalidade implicasse em falta de qualidade, o Tuff estaria ferrado. Rachelle, cujo ídolo maior era Bret Michaels, era uma versão mais “durona” do vocalista do Poison; o estilo de DeSaint e Chase tocarem remetia a Mick Mars (Mötley Crüe) e Rachel Bolan (Skid Row); e Lean era o batera mais genérico possível. Felizmente esse ‘cover way of life’ passa batido diante do clima festeiro que What Comes Around Gomes Around proporciona. Aqui está o maior hit do Tuff, a balada “I Hate Kissing You Good-Bye”, último hard rock a atingir o topo das paradas antes do lançamento de Nevermind, do Nirvana.
01. Ruck A Pit Bridge
03. I Hate Kissing You Good-bye
04. Lonely Lucy
05. Ain’t Worth A Dime
06. So many Seasons
07. Forever Yours
08. Wake Me Up
09. Spit Like This
10. Good Guys Wear Black
Stevie Rachelle – vocals
Jorge DeSaint – guitar and background vocals
Todd Chase – bass and background vocals
Michael Lean – drums, percussion and background vocals