Maravilhas do Mundo Prog: Bruford – The Sahara of Snow [1979]
Por Mairon Machado
O segundo membro a sair do Yes foi o tecladista Tony Kaye. A sua falta de técnica não era o suficiente para acompanhar o nível que o resto do grupo estava alcançando, e assim, Kaye foi convidado a sair, sendo substituído por Rick Wakeman. Enquanto Kaye passou a integrar o Flash de Peter Banks (ex-colega de Yes), e depois gravou com o Badger os bons One Live Badger (1973) e White Lady (1974), com Wakeman nos teclados, o Yes chegou na sua formação clássica, consistindo do próprio Wakeman, Jon Anderson (vocais), Steve Howe (guitarras, vocais), Chris Squire (baixo, vocais) e Bill Bruford (bateria). Esse quinteto gravou dois álbuns fundamentais para os aprendizes e amantes do rock progressivo: Fragile (1971) e Close to the Edge (1972), mas, durante a turnê de Close to the Edge, Bruford sentia-se deslocado e limitado dentro do Yes.
Decidido a ampliar seus horizontes, Bruford saiu do Yes e foi parar no King Crimson. Junto de Robert Fripp (guitarras), John Wetton (baixo, vocais), David Cross (violinos) e Jamie Muir (percussão), veio outro álbum extremamente importante: Lark’s Tongues in Aspic (1973). Aos poucos, o King Crimson foi ruindo, mas mesmo assim, lançando álbuns excelentes, os quais são Starless and Bible Black (1974), já sem Muir, e Red (1974), já sem Cross.
O King Crimson acabou em 1975, e então, Bruford ingressou como músico convidado no Gong, onde ficou poucas semanas de 1975, passando para o Genesis, por onde participou da turnê dos álbuns A Trick of the Tail e Wind and Wuthering, ambos de 1976, e que foi parcialmente registrada no ao vivo Seconds Out (1977), já que Bruford saiu do Genesis exatamente no início da turnê em 1977, partindo para uma carreira solo.
Nessa carreira solo, Bruford decidiu misturar elementos de jazz, progressivo, e também inspirações de diferentes estilos, como blues, sons africanos, música eletrônica, etc. Assim, formou o que batizou de Bruford, tendo como companhia Dave Stewart (teclados), Jeff Berlin (baixo, e que já havia tocado com Patrick Moraz em Story of i, de 1976), Allan Holdsworth (guitarras) e Annette Peacock (vocais). A estreia do Bruford foi em 1978, com o ótimo Feels Good To Me. Contando, além do quinteto citado, do saxofonista Kenny Wheeler, Bill Bruford apresentou ao mundo uma sonoridade mezzo-fusion, mezzo-rock, onde o destaque era realmente as individualidades dos competentes Stewart, Berlin e Holdsworth, além de todas as técnicas e performances que o baterista consegue demonstrar em pouco mais de quarenta minutos. As misturas de jazz com eletrônicos agradou aos fãs do músico, e principalmente, levou Bruford a integrar outro importante nome do cenário progressivo britânico, o U. K..
No U. K., Bruford teve a companhia de Eddie Jobson (teclados), John Wetton (voz, baixo) e de Holdsworth (guitarras), gravando apenas um disco, que não preciso reforçar, é essencial. U. K. foi lançado em 1978, e foi aclamado por público e crítica. Mas o insatisfeito Bill Bruford não sentia-se confortável, e retomou seus trabalhos com seu grupo solo, trazendo novamente Holdsworth, Berlin e Stewart.
Então, como um quarteto, o Bruford entrou nos estúdios em 1979, e registrou uma obra belíssima, digna de um músico como Bill Bruford. One of a Kind é sem sombra de dúvidas o mais complexo disco que tem a mão do baterista no processo de composição. Canções como a faixa-título, “Hell’s Bells”, “Five G” e “Fainting in Coils” extrapolam os limites de um baterista comum, além de ter Jeff Berlin em uma forma fantástica. O que esse cara faz nessas canções não é pouco, sendo uma boa amostra para os que afirmam que Jaco Pastorius foi o responsável pela revolução no baixo. A briga entre Berlin e Pastorius é grande (Pastorius tocava no mesmo período que Berlin, porém, com o grupo Weather Report).
Dentre todas as canções de One of a Kind, “The Sahara of Snow” é a mais representativa do trabalho do Bruford nesse grupo, e por outro lado, é a que Berlin menos aparece. Dividida em duas partes, ela abre com os teclados de Stewart tomando conta do quarto em uma entrada longa e soturna, trazendo as agressivas notas do piano na medida que o volume aumenta. Stewart executa um complicado tema, e Bruford surge com um ritmo quebrado na bateria, enquanto baixo e xilofone fazem o tema central. A canção vai ganhando corpo, e Holdsworth cria um tema na guitarra que é diferente de todo o andamento da canção, desenvolvendo seu solo sobre a quebradeira de xilofone, baixo, piano e bateria.
O solo explode em uma maravilhosa virada de Bruford, chegando em uma sessão apenas com sintetizadores, em acordes trêmulos, de onde xilofone, baixo, piano e bateria brotam, desta vez para o xilofone solar, com muita velocidade, retornando ao estranho tema da guitarra. O que Bruford faz na bateria é indecifrável. As batidas na caixa em contra-tempos, as viradas, o prato levando o ritmo correto, é perfeição pura.
A parte dois de “The Sahara of Snow” surge com os sintetizadores e percussão, em um ritmo marcial, onde piano e guitarra surgem aos poucos, para Holdsworth solar manhosamente, e mesmo assim, exalando virtuosismo. O clima oriental do piano é preenchido pela entrada do órgão, e o ritmo suave leva essa pérola ao seu encerramento, com outro show de Bruford, para Holdsworth voltar ao tema de seu solo, que conclui mais um essencial álbum da carreira de William Scott Bruford com os sinistros acordes de órgão da introdução.
O grupo Bruford ainda lançou mais dois álbuns: Gradually Going Tornado (1980), com mais experimentações eletrônicas e com John Clarke no lugar de Holdsworth, e The Bruford Tapes (1980), esse gravado ao vivo durante o período inicial do grupo. Depois, Bruford voltou para o King Crimson, peregrinando tanto com o grupo de Robert Fripp quanto por sua carreira solo, ao lado do grupo que batizou de Earthworks, o qual conta com uma vasta coleção de álbuns ligados ao jazz. Além disso, gravou diversas participações em álbuns de outros artistas, sempre mostrando o talento de um gênio da bateria, que passou simplesmente por algumas das mais importantes bandas da história do rock progressivo e sempre deixando sua marca, seja no Yes, seja no King Crimson, seja no Genesis, seja no U. K., …
Bruford é o cara!!
O meu Yes favorito tinha ele na bateria.
E o cara ainda tocou com King Crimson e Genesis…é mole??!!!
Meu favorito do Yes, não canso de dizer, é o Relayer, e a bateria de Alan White influi um bocado nessa predileção, MAS sou fã do Bruford, é um músico fora de série! Preciso ouvir mais esse One of a Kind, pois até o momento só atentei mais aos discos Feels Good to Me e Gradually Going Tornado.
O Relayer é o disco que o White está tcando melhor no Yes. O problema é que ao vivo ele não conseguia ( e não consegue chegar ) aos pés do Bruford.
É ouvir Close to the Edge com os dois e ver a notavel diferença!
O Alan White tem algumas performances formidáveis. Curto em especial a interação entre ele e Chris Squire em "Release Release", mas Bruford é "O" cara. E realmente, especialmente hoje em dia, ao vivo a comparação pense totalmente para o lado de Bruford.
*A comparação pende.