Review Exclusivo: Pearl Jam (Porto Alegre, 11 de novembro de 2011)
Por Micael Machado
Fotos por Kelen Meirelles
Já havia presenciado um show da banda em 2005, no Gigantinho, na mesma capital gaúcha. Seis anos depois, o quinteto formado por Eddie Vedder (vocais e guitarra), Stone Gossard e Mike McCready (guitarras), Jeff Ament (baixo) e Matt Cameron (bateria) – acrescidos, já a algum tempo, do tecladista Kenneth “Boom” Gaspar (que tocou com uma enorme bandeira do Brasil pendurada em seu teclado) – estava de volta à Porto Alegre, desta vez tocando no estádio do EC São José (o famoso “Zequinha Stadium”, como o mesmo ficou conhecido após ser divulgado com esse nome no site oficial do REM quando do show da banda no mesmo local em 2008). Naquela ocasião, o show só não foi perfeito porque o grupo não executou “Black”, minha canção favorita deles, sendo o show a que assisti o único da turnê sul-americana onde a mesma não foi tocada.
Mas antes de curtir os americanos, tivemos de ultrapassar o show de abertura dos gaúchos da Wannabe Jalva. Com músicas que lembram (segundo alguns) o estilo do Franz Ferdinand, a banda foi prejudicada pela péssima qualidade do som, onde tudo soava embolado e o vocal era praticamente incompreensível. Em meia hora de espetáculo, o quarteto apresentou músicas próprias que não chegaram a levantar a galera, embora tenham sido tratados com respeito pelos presentes ao local.
Particularmente, a única canção que reconheci foi um cover de “Soul Kitchen”, dos Doors, em versão muito mais acelerada e punk que a original dos conterrâneos e padrinhos do X, além da anunciada “Breathless”, original de Jerry Lee Lewis. Mas a força das músicas contagiava mesmo quem não as conhecia, e foi um belo show para esquentar as turbinas. Na última música, “Devil Doll“, o quarteto chamou Eddie Vedder ao palco para dividir os vocais com Excenne e Doe, causando um enorme frenesi na plateia, e antecipando o que estava por vir. Memorável!
Mais alguma espera e, às nove e vinte da noite (vinte minutos depois do previsto, como é de praxe no Brasil), uma introdução pré-gravada acompanhava a entrada dos músicos de Seattle no palco. Preparado para alguma canção mais lenta no início (como foi “Long Road”, no show de 2005), fui surpreendido logo de cara por “Why Go”, a primeira das músicas de Ten que eles tocariam nessa noite. Logo ao primeiro acorde, as vinte mil pessoas presentes ao estádio pularam e cantaram ao mesmo tempo, praticamente ofuscando o som perfeito (melhor ainda que o do X) que vinha do palco. Foi também logo na música de abertura que McCready tocou o primeiro dos muitos solos memoráveis executados ao longo do setlist, para alegria dos verdadeiros roqueiros presentes ao espetáculo!
“Got Some” não recebeu a devida atenção do público, e a linda balada “Low Light” pode ter empolgado apenas a alguns poucos, mas serviu para mostrar que nem só de “pauleiras” é composta a música do quinteto, sendo o primeiro de muitos momentos “românticos” com que os casais presentes ao local seriam presenteados ao longo do show. “Given To Fly” colocou todo mundo em polvorosa novamente, e “Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town” novamente acalmou o pessoal. Foi indescritível a emoção de ouvir esta música naquele momento, uma das quais eu mais me identifico no longo repertório do PJ, em muito por causa da letra, meio piegas, mas belíssima.
“Unthought Known” e “Present Tense” foram reconhecidas apenas pelos verdadeiros fãs, mas, quando Stone Gossard pegou um violão e executou os dois primeiros acordes de “Daughter”, muita gente expressou verbalmente sua satisfação, logo seguida pelo resto da multidão, quando a banda efetivamente iniciou a execução de mais um clássico do repertório do grupo. A sua parte do meio, sempre afeita à inclusão de covers diversos, desta vez foi intercalada com a conhecida (pelos fãs) “It’s Ok!”, e alguns gritos de “Hey Ho! Let’s Go”, mote dos Ramones, ídolos da banda e de muitos dos presentes. “1/2 Full” novamente “quebrou” a empolgação da maioria dos presentes, logo retomada com a execução de “Wishlist”. “Rats” foi uma enorme surpresa, uma música maravilhosa, mas que é uma espécie de “lado C” dentre as canções do grupo, escondida no track list de Vs e dificilmente executada ao vivo. Um legítimo “Lado B” veio na forma da aclamada “State Of Love And Trust”, e então chegamos ao ponto alto do show para este que vos escreve: com seis anos de atraso, finalmente os acordes de “Black” começavam a soar em um show do Pearl Jam ao qual eu estava presente! Se “Elderly” por pouco não me levou às lágrimas, “Black” fez o serviço com facilidade. Podem rir de mim, mas aquela melodia e (principalmente) aquela letra me atingem de tal forma que é impossível segurar a emoção que ela gera. E a execução foi perfeita, com a inclusão do trecho “we belong together” presente na versão do acústico MTV, além de todos os “tchururus” a que a música tem direito. O meu melhor momento em um show ao longo de 2011 estava completo, e fiquei com a alma lavada e enxaguada (ainda que pelas lágrimas, mas tudo bem)!
Ao final da música (e de quase oitenta minutos de espetáculo!), o Pearl Jam deixou o palco, com muitos acreditando ser este o final do show. Acontece que esta pausa se faz necessária devido ao fato de o grupo, já há muito tempo, disponibilizar seus shows para compra (ou download pago) através de seu site. Sendo assim, uma interrupção se faz necessária antes de a capacidade de tempo de um CD ser preenchida, para que não haja interrupções nas músicas dos mesmos, em uma atitude de respeito ao seu público por parte do PJ.
Anunciada como “um pedido especial”, veio “Oceans”, também do primeiro disco, seguida por “Comatose”. Eddie então disse que a sua primeira vinda ao Brasil havia sido dez anos atrás com os Ramones, e dedicou “Light Years” ao falecido guitarrista do grupo, Johnny Ramone. A homenagem seguiu com “I Believe In Miracles”, cover do quarteto novaiorquino, em outro ponto alto do show.
Após o tradicional “vai e volta”, a surpreendente “Last Kiss” iniciou o bis, com toda a multidão cantando os versos do conhecido refrão, seguida por outro momento mágico em uma noite com tantos pontos altos: a execução de “Better Man”, com Eddie sozinho ao violão fazendo os acordes iniciais, e iniciando o verso “Waiting…”, para a galera continuar em uníssono a partir daí. Toda a primeira parte até o final do refrão foi executada com o vocalista atendo-se somente ao violão, e a multidão cantando os belos versos da canção (aliás, como é comum nos shows do PJ). De arrepiar todos os pelos do corpo! Após o “ô, ô, ô” do final do refrão, Vedder iniciou a parte do “talking to herself”, com a banda finalmente entrando a partir de “memories back…”, para então complementar a canção, sempre com a galera cantando junto. “Crazy Mary” (onde o longo duelo teclado/guitarra no meio da musica foi quase tão emocionante quanto o de 2005) foi outro momento de êxtase para este redator (embora muita gente tenha ficado boiando nessa fascinante canção), e então a banda acabou de vez com as poucas energias que nos restavam: emendou sem perdão “Jeremy” e “Alive”, dois dos maiores clássicos dos seus vinte anos de estrada, e que fizeram pular até mesmo as folhas do gramado artificial do Estádio. Antes de “Jeremy”, Vedder conduziu ao palco um garoto, sua irmã e um cunhado (segundo o vocalista explicou ao microfone, porque ele “estava o show inteiro na grade, e ele queria fazer com que o garoto ficasse mais confortável”). Depois de algumas fotos e abraços, os dois foram conduzidos a cadeiras sobre o palco, de onde assistiram ao resto da apresentação. Quando o telão os focava a partir daí, a irmã do garoto aparecia invariavelmente se debulhando em lágrimas, demonstrando a emoção que todos ali sentiam.
Antes que nos recuperássemos do choque da dobradinha de Ten, a conhecida cover de Neil Young “Rockin’ In A Free World” veio indicar que o espetáculo estava acabando (com Eddie passeando pelo meio do público, através de corredores instalados no gramado do estádio para dividir o público e, segundo se comentava, evitar incidentes como o da tragédia de Roskilde, em 2000, onde nove fãs do grupo morreram pisoteados após um tumulto), não sem antes apresentar mais uma surpresa: “Indifference”, mais uma canção pouco conhecida do público geral. Como sempre, “Yellow Ledbetter” encerrou a apresentação, com as luzes do estádio acesas e Mike McCready ficando sozinho no palco para terminar a canção, não sem antes fazer referência à linda “Little Wing”, do conterrâneo de Seattle Jimi Hendrix.
Cheguei em casa depois da uma e meia da manhã, cansado e com um grande sorriso no rosto. Mas não tem problema. Afinal, como diz a canção, “I’m still alive”!
Houve uma época na qual eu tinha até uma certa rejeição pelo Pearl Jam, algo que felizmente não existe mais. Posso não morrer de amores pelo grupo, mas reconheço seu talento e tenho consciência de que já estão marcados para sempre na história do rock. A maneira como conduzem seus shows, respeitando tanto os apreciadores eventuais, que conhecem apenas os hits, quanto os die hards, tocando diversos lados b, é mais uma atitude que reforça esse status. Belo relato, Micael.
Pois é, Diogo, esse fato de eles sempre colocarem músicas bem desconhecidas no setlist, daquelas que só os fã-zões tipo eu vão reconhecer, é algo que sempre me chamou a atenção no PJ. Sai todo mundo satisfeito: quem queria ouvir os hits, e quem queria ouvir algo mais incomum. E o show sempre agrada a todos! Simples, não? Mas bastante incomum!
Oi Micael!
Li o seu texto e adorei, foi como voltar aquela sexta-feira mágica.
Fiquei muito feliz de ver minhas fotos no seu blog,aproveitei e coloquei o link no Facebook para todos os meus amigos verem.
Não precisa agradecer por nada, não, eu fiquei contente de compartilhar as fotos com você!
Até mais!
Kelen
Oi Kelen!
Obrigado pelo comentário! E preciso agradecer sim, pois se dependesse das fotos da minha máquina, esse post iria ter só texto. As tuas fotos que fizeram o post muito melhor, complementando com perfeição a minha descrição.
Obrigado por ter compartilhado comigo alguns momentos que ficarão para sempre na memória! Até mais!
Noossa suas palavras me fizeram viajar, me teletransportaram para aquela sexta feira emocionante!!!! Nunca esquecerei aquele 11.11.11
Obrigado pelo comentário, caro(a)Anônimo! A ideia do post é justamente essa, não deixar a lembrança daqueles momentos espetaculares desaparecer!
Seja sempre bem vindo ao ler ou comentar em nosso blog!