Por Fernando Bueno
Quase todas as crianças sonham em ir à Disneyland e muitos consideram Las Vegas a versão adulta do parque do Mickey. Apreciadores de artes e antiguidades sonham em ir ao Louvre e recém casados têm o desejo de passar sua lua de mel em Veneza. Ou seja, sempre existe um lugar que materializa e concretiza um determinado interesse de uma pessoa como diversão, conhecimento ou romantismo. Também podemos citar Meca para os muçulmanos e o Wacken Open Air para os headbangers, que segundo os integrantes desses grupos deve ser visitada pelo menos uma vez na vida.
Para os colecionadores de discos aqui do Brasil a Galeria do Rock, a Woodstock Discos e a Nuvem Nove foram pontos de encontro importantes durante os anos 80 e 90. A Galeria não é mais o que foi no passado, mas ainda atrai muita gente, entretanto as duas lojas citadas já não existem mais. A extinção de lojas de discos é um fenômeno que vem ocorrendo no mundo todo, basta lembrar que a gigante Virgin Store fechou suas lojas nos Estados Unidos. Porém, algumas lojas se mantém por aí e uma delas vai ser o assunto desta matéria.
A revista Rolling Stone publicou há algum tempo atrás uma lista das melhores lojas de discos dos Estados Unidos. Já tinha tido o privilégio de ir a duas delas, Academy Records e Other Music, ambas em Nova York. Mas o lugar que eu e todo mundo que gosta de discos tinha/tem vontade de ir é a Amoeba Music, em Los Angeles, Califórnia. Essa é uma das três lojas que o grupo possui, as outras estão em Berkeley e San Francisco.
Semana passada publicamos aqui no blog uma
resenha de um show que fui em Las Vegas onde descrevo que a primeira coisa que fiz quando agendamos a viagem foi saber dos shows que aconteceriam durante minha estadia lá. Isso só aconteceu porque eu tinha esquecido que essa loja ficava em Los Angeles. Senão tenho certeza que teria começado meus planos para a loja antes mesmo de reservado ingresso para o show.
Já estava com grandes expectativas nas semanas anteriores à viagem. Cheguei a olhar o catálogo on line deles praticamente inteiro (o de rock, é claro), só para ter uma ideia do que poderia encontrar. Resumindo, eu estava tão ansioso como uma criança estaria antes de ir para a Disney.
A loja abre às 11 da manhã e no dia anterior ao programado para a visita fiquei preocupado em dormir cedo para não acordar tarde, como se a loja abrisse às 7 horas. Apresentada com a Maior Loja do Mundo, a Amoeba reúne todos os estilos musicais possíveis em apenas um lugar. Com quase metade de um quarteirão e com dois pisos, a loja surpreende logo na entrada. Fiquei um tempão apenas olhando para os lados e admirando o local. Como já tinha olhado o mapa deles (sim, eles têm um
mapa), sabia mais ou menos para onde me dirigir.
Pensei em dar uma olhada primeiro na seção de discos usado e, como era de se esperar, comecei pela letra A. As bandas mais importante, ou as que possuem mais discos disponíveis, estão separadas com plaquinhas o que acaba facilitando pois você não é obrigado a olhar cada um dos CDs. Claro que isso não é tão incomum. Até nas lojas de departamentos aqui do Brasil existe isso. Mas a diferença é que os caras sabem o que estão organizando. Por exemplo na seção de Yes estava escrito algo parecido como: procurar também em Steve Howe, Rick Wakeman, Jon Anderson, etc. No fim de cada letra tem os discos que estão misturados. Para ser sincero não olhei essas partes. Decidi não fazer isso depois de ver que eu já estava olhando havia uns 15 minutos e não tinha saído ainda da letra A.
A seção de usados dessas lojas nos Estados Unidos é uma boa opção para quem quer pagar um pouco menos em algum CD que talvez não tivesse interesse em pagar o valor inteiro por ele. Além disso você encontra muitas coisas interessantes que provavelmente as gravadoras nunca mais farão um relançamento. Não preciso dizer que os CDs estão em ótimo estado, o máximo que pode acontecer é da caixinha ter alguma trinca ou alguma outra pequena avaria. O que acontece é que os caras que vendem aqueles CDs que não gostaram ou que já estão enjoados, normalmente trocam as caixinhas por outras mais velhas. Existe um local na loja só para quem quer vender suas coisas e a área reservada para isso é maior que muitas outras lojas.
Fiquei tão concentrado na minha procura por coisas interessantes que só depois de passar por um corredor inteiro é que notei que as prateleiras tinham dois níveis com muita coisa ainda nessa parte de baixo. Nessa hora percebi que não fosse um pouco mais displicente para olhar as opções ficaria ali na loja até o fim da viagem. Acima nas prateleiras estão localizados os boxes. Diversos deles e de todas as bandas imagináveis. Quando encontramos esse tipo de item aqui no Brasil temos até medo de perguntar os preços.
Logo na chegada existem cestas como aquelas de supermercado para facilitar a vida dos que pegam mais CDs do que podem carregar. Quando estava com a minha cesta quase transbordando, um funcionário da loja veio me falar que eu poderia deixar a cesta no caixa para não ter que ficar carregando. Dei-me conta do óbvio nesse momento: é claro que eu não fui o primeiro nem serei o último a fazer compras desse volume na loja e eles certamente estão acostumados a lidar com esse tipo de situação. Deixei a minha cesta no caixa com um cartão com meu nome sobre ela, peguei outra e voltei para as prateleiras.
A seção de novos é tão grande quanto a de usados e a parte reservada ao rock é a maior disparada na loja, como vocês pode ver pelo mapa disponibilizado no link acima. Como olhei todas as bandas indicadas na prateleira de usados e novos (sempre de A até o final), acabei focando somente nesses grupos e em um dado momento notei que muitos dos que gosto não estavam ali e percebi que todas essas bandas eram de thrash, power metal, melódico e similares. Lembrei-me que quando entrei eu vi uma placa indicando Black Metal e não é que era nessa seção que estavam os discos de bandas como Blind Guardian, Opeth, Machine Head. Claro que até entendo que eles não classificam todas essas bandas como Black Metal, na verdade apenas aproveitaram um canto da loja para separar o metal mais extremo, ou o que eles entendem por extremo.
Quando tinha enchido a minha terceira cesta ponderei que já estava satisfeito e também fiquei me perguntado se conseguiria pagar por tudo o que peguei. Lembrei-me de algumas coisas que não tinha encontrado para pedir informações e decidi dar uma volta pela loja apenas para olhar. Passei pelas diversas seções, desde country, blues e jazz até nas de música eletrônica. Passei pelo palco que existe lá, onde de tempos em tempos há apresentações ao vivo de diversos artistas. Vi uma caixa de compactos de 7” com uma etiqueta escrita “Heavy Metal” e dei uma boa olhada também. O segundo piso é dedicado aos DVDs de todos os estilos, mas acabei pegando apenas um. Há também DVDs de filmes e jogos de videogame usados. Passei pela seção de camisetas, mas já estava cansado de ficar procurando e não tinha nenhuma em mente. Com a seção de pôsteres aconteceu a mesma coisa. Resolvi que era hora de ir embora após ter ficado mais de quatro horas lá dentro.
Chegando ao caixa olhei para onde tinha deixado as outras duas cestas cheias e não as vi mais. Preocupado, perguntei por elas e o cara perguntou se eu era o Fernando e, após a confirmação, fui encaminhado para outro caixa onde já tinha uma pessoa tirando os lacres de segurança e organizando tudo. Acabei gastando bem mais do que tinha planejado, mas dificilmente conseguiria me desfazer de alguma coisa que tinha separado. Claro que quando estava debruçado nas prateleiras deixei muita coisa que achava interessante, mas para nós que escutamos muita coisa diferente, principalmente de quase todos os estilos dentro do rock, é sabido que se formos pegar tudo o que queremos é mais fácil comprar a loja. Não sei se o conselho de ter em mente o que quer antes de ir em um lugar como esse vale para a Amoeba. Afinal se você não for morador da cidade e quiser ir à loja, vai querer aproveitar ao máximo. Então o único conselho que posso dar é para ficar ciente que você vai acabar gastando bastante, portanto economize antes de ir e aproveite.
Saí da loja já pensando em quando terei nova chance de poder voltar. Peguei um taxi, que foi chamado pelo caixa da loja, para voltar para o hotel com duas sacolas não só de CDs, mas de souvenirs de um lugar que é um sonho para qualquer colecionador que, assim como Meca é para os muçulmanos, deve ser o destino de todos pelo menos uma vez na vida. Tenho certeza que todas as vezes que eu escutar um dos discos comprados lá vou me lembrar dessa experiência.
Para finalizar, um pouquinho de curiosidades sobre o local. A Amoeba fica na Sunset Boulevard, uma longa avenida conhecida por seus inúmeros clubes onde diversas bandas importantes da história do rock tocaram em começo de carreira. Essa avenida é paralela à outra: a famosíssima Hollywood Boulevard onde fica a calçada da fama. Abaixo estão algumas fotos de algumas dessas estrelas presentes na calçada da fama que são de interesse aos leitores da Consultoria do Rock. A poucos quarteirões fica o prédio da Capitol Records que foi a gravadora de diversas bandas que todos que acompanham essas linhas devem gostar.
Muito legal, Bueno.
Mas pelo que eu vi nas fotos, a loja estava um tanto vazia. Precisou de um brazuca para salvar a féria do dia dos gringos, hehe…
Isso tá virando rotina. Ainda vamos comprar os EUA. Basta o Obama por preço.
Marco
Essas fotos foram tiradas pela Cristiane. Lembra que falei q a loja abria às 11e cheguei lá cedo? Então, a Cris aguentou ficar lá uns 15 minutos, tirou as fotos e foi embora…depois de um tepo a loja encheu sim.
Fernando está viajando o mundo as custas do Blog…. muito bom trabalho!!!
Só faltou uma camisa de time ou da seleção….
Sobre a loja…. nao tem nem o que falar…. eu quero ir nisso ae…..
PQP.. acho que serei preso…. kkkkkk
qual será a proxima aventura???
Bueno… o trotamundo da Consultoria do Rock.
Mas também senti falta da camisa do Cirinthians.
Daniel e Marco…
Se vcs notarem bem a camisa que estou usando é aquela comemorativa ao centenário do Todo Poderoso Timão, que por sinal TEM que ganhar amanhã pq o Vasco tá ganhando hj….
Hahaha
Bah Fernando, desculpa dizer mas, que inveja, hehehehe. Que baita loja. Eu ficaria louco lá. O que me encanta é a profissionalização do lugar. Lá fora eles sabem atender muito bem. Eu estive em uma loja em Atenas, a Zakarias, caraca, que espetáculo de loja. A especialidadeera o vinil, e meu, a separação, a profissionalização , é encantador. Fiquei umas quatro horas lá dentro tb, e sai com muita coisa. Um dia eu volto lá, e um dia vou na amoeba.
Pergunta: como é a venda de vinis na amoeba?
Fernando, isso não se faz! Agora essa Amoeba Music não sai da minha cabeça e minha mulher quer me matar! rsrsrs
Cara, excelente post! Parabéns!
Fernando se você estivesse trajando o uniforme da fiel, provavelmente você não passaria na alfandega! certeza que sim! rsrsrsr
Tem muitos singles e EPs por lá?
Abraços
Fernando, isso é maltratar o coração de um colecionador! Uma loja dessas é realmente o sonho de consumo para qualquer um que goste de discos! Nossa Senhora! E ainda coloca a foto das "compras" destacando um box do Lynyrd Skynyrd e outro do BTO só para provocar! Vejam só!
Acho que vou abrir uma caderneta de poupança para, daqui há um tempo, ir aos USA e ter grana para visitar essa "Disneylandia" e comprar o que eu quiser, pois se for só "por ir", sem preparo prévio, declaro falência e ainda pago o triplo de excesso de bagagem…
Quatro horas numa loja de discos no meio de uma viagem aos EUA… só mesmo um bolha para fazer isso, e outro como eu para perguntar "mas só quatro horas? É muito pouco para ver tudo" como fiz ao ler o texto… ou seja: só um bolha entende outro!
Parabéns e que venham mais aventuras dessa viagem, ou de outras!
Ah, só lembrando, a gerência financeira do blog ainda não recebeu a prestação de contas da viagem, então não vai ser nesse mês que vais ser ressarcido… Cuidado com teu cartão de crédito!
Fico imaginando a esposa do Bueno: ficou uns quinze minutos com ele na letra "A", tirou as fotos e foi curtir a cidade. Voltou depois de duas horas para encontrar ele na loja e o Bueno recém na letra "C"… a coitada deve ter tido um treco…
Por isso que ele ficou só quatro horas… quando deu esse tempo e ele tava só na letra "K" ainda, ela carregou ele para fora da Amoeba, os discos que ele tinha pego caindo pelo chão e ele tentando juntar tudo enquanto ela gritava em bom português: "Vamo embora daqui, pô, que eu não aguento mais"!
O Mairon que tem uma história assim em uma loja do RJ. Conta aí, mano!
Três horas revirando uma loja atrás de um vinil. A mulher foi fazer maquiagem, cortar o cabelo e fazer chapinha. Passados as três horas, ela saiu do lugar e eu ainda atrás do vinil. Sorte que encontrei o mesmo, hehehe, mas ainda fiquei mais uma meia hora por la