Review Exclusivo: Duff McKagan’s Loaded & Down (Porto Alegre, 16 de novembro de 2011)

Review Exclusivo: Duff McKagan’s Loaded & Down (Porto Alegre, 16 de novembro de 2011)

Por Micael Machado

O Guns And Roses é uma banda importantíssima na minha história musical. Foi através deles que descobri o chamado “som pesado”, e então o heavy metal e estilos ainda mais extremos, como, por exemplo, o praticado pelo Pantera, uma das mais importantes bandas dos anos 1990, mas que, apesar do respeito que tenho por álbuns como Cowboys From Hell (1990) e Vulgar Display Of Power (1992), nunca foi das minhas favoritas. Outro estilo ao qual cheguei a partir do interesse pelo Guns (e que sempre curti) é o chamado Stoner, do qual o Corrosion of Conformity é um dos melhores representantes.

Pois foram músicos destas bandas que se apresentaram em Porto Alegre na última quarta feira, em um Pepsi On Stage com um público muito pequeno (cerca de 700 pessoas), mas bastante participativo.

Duff McKagan.

Faltavam quinze minutos para as nove da noite quando o Duff McKagan’s Loaded entrou no palco. Liderados pelo legendário ex-baixista do Guns And Roses (aqui vocalista e guitarrista) que lhe empresta o nome, o grupo entrou em cena para menos pagantes ainda do que haveria mais tarde. Com um Hard Rock bem mais pesado e sujo que o do Guns, o quarteto, completado pelos desconhecidos (ao menos para mim) Mike Squires (guitarra solo), Jeff Rouse (baixo) e Issac Carpenter (bateria), apresentou músicas de seus três discos, sem conseguir muita resposta dos poucos presentes, que só reagiram mesmo nas canções gravadas pela banda anterior de Duff, como “New Rose” (cover do The Damned gravado no disco The Spaghetti incident? – 1993) ou o baladão “So Fine” (do Use Your Illusion II – 1991). Nas demais, havia o respeito por estar diante de uma lenda viva do rock and roll, mas não me saía da cabeça o quanto devia ser difícil para Duff estar ali, diante de meia dúzia de gatos pingados que pareciam não conhecer o seu trabalho, e com uma qualidade sonora que deixava em muito a desejar, após ter tocado para milhares de pessoas com aquela que, durante certo período, foi a maior banda do mundo.

Jeff Rouse e Duff.

Duff e Mike Squires.

Um sujeito bem à frente do palco insistia em tentar alcançar para Duff uma cópia em vinil de Apettite For Destruction (1987), disco de estreia do Guns, para visível desconforto do músico, que não pegou o “presente” oferecido. Não chegou a prejudicar o show, mas deu uma ideia do tom da apresentação…

Duff novamente no baixo!

Durante a penúltima música, “Attitude” (cover dos Misfits também registrado pelo Guns no Spaghetti), Duff trocou de instrumento com Jeff Rouse, e a empolgação da galera quando ele soltou os primeiros acordes no baixo foi a maior da noite até ali, só superada quando o (naquele momento) vocalista e baixista puxou os riffs iniciais de “It´s So Easy”, do já citado Apettite, e que incendiou a galera. Quem só tivesse assistido a esta última música poderia pensar que o público havia sido insano daquele jeito durante toda a apresentação, fato que não foi de jeito nenhum verdadeiro. Mas a reação do público nesta única canção deve ter valido por todo o show, pois a banda se despediu depois de uma hora de espetáculo visivelmente satisfeita, assim como o público, que teve a oportunidade de ver uma lenda ali, bem pertinho de si. No meu caso, foi também a primeira oportunidade de ver um gunner ao vivo, pois troquei o show realizado ano passado na capital gaúcha pelo do Dream Theater, que ocorria na mesma data, em uma decisão que, devido a vários fatores, acabou se mostrando bastante acertada depois. Duff me deu a impressão de ser um sobrevivente, visivelmente debilitado fisicamente após anos e anos de abusos dos mais diversos, mas ainda com garra para apresentar um belo espetáculo!

Na meia hora que separou o Loaded da atração seguinte, a pista ficou bem mais cheia do que antes, e as muitas camisetas do Pantera mostravam o motivo da maioria dos presentes estarem ali: Phil Anselmo, o ex-vocalista do quarteto texano, agora à frente do Down, outra banda de Stoner Metal da qual sempre fui fã, desde que assisti pela primeira vez ao clipe de “Stone The Crow” no saudoso programa Fúria Metal da MTV. Contrário à maioria dos presentes, o maior motivo de eu estar ali não era nem o meu gosto pelo Down, mas sim Pepper Keenan, ex-guitarrista do Corrosion Of Conformity, e também membro do quinteto norte-americano, e ao qual sempre admirei.

Down no palco.

Após uma intro pré-gravada, os quatro instrumentistas do Down entraram no palco sob uma verdadeira avalanche de distorções na introdução de “Lysergik Funeral Procession”. Muito mais conhecidos do que os músicos do Loaded, Kirk Windstein (guitarra, ex-Crowbar), Jimmy Bower (também ex-Crowbar e ex-Eyehategod, bateria), e Patrick Bruders (mais um ex-Crowbar), além do citado Pepper (que tocava com uma camiseta com o símbolo do Zoso, de Jimmy Page), levantaram a galera só pela sua simples presença no palco, e a euforia foi ao máximo quando Phil Anselmo surgiu enrolado em uma bandeira do Rio Grande do Sul. Após ter comprado ingresso para o show do Pantera em 1998 na capital gaúcha, que acabou cancelado, finalmente eu estava ali, de fronte ao homem que voltou dos mortos para cantar para seus fãs (para quem não sabe, em 13 de julho de 1996 o músico sofreu uma overdose e foi declarado oficialmente morto por quatro minutos, tendo sido ressuscitado por paramédicos). Quando o vocalista iniciou os primeiros versos da canção, o “pula-pula” do público foi automático, além da abertura de uma imensa roda de moshs no meio do público, que permaneceu intensa durante a próxima música, “Temptation’s Wings”.

Anselmo com uma máscara na cabeça, jogada por um fã.

Autografando o braço da fã.

Após “Lifer”, alguém jogou um cartaz ao palco, que Anselmo recolheu e, após ler a mensagem, mostrou rapidamente aos fãs. Ao que consegui ler, uma menina queria que o vocalista autografasse seu braço para ela fazer uma tatuagem sobre o local (algo que está virando moda entre os adolescentes), pedido que foi atendido pelo músico, que chamou a guria ao palco para muitas fotos e o solicitado autógrafo. A galera ficou o tempo todo pedindo para a garota mostrar os seios ou tirar a saia, mas ela se comportou de maneira correta e foi rapidamente levada para os camarins por membros da crew do Down sem mostrar seus “tesouros” para o pessoal.


O show recomeçou com “The Path”, e a empolgação da galera não diminuía em nada. O som que vinha do palco era muito alto e algo embolado, e a voz de Anselmo por vezes ficava bastante difícil de ser ouvida no meio da barulheira. Mas ninguém parecia se importar, desde que o peso das músicas do quinteto continuasse jorrando do palco, o que aconteceu com “Losing All” e “Underneath Everything”.

Anselmo falando com a galera.

O grupo demonstrava muito prazer e alegria em estar no palco tocando, ainda que para um público tão reduzido. Anselmo, além de apresentar uma potente garganta e um grande carisma ao vivo, a toda hora incitava o público a participar da imensa roda aberta no meio da pista, a qual estava tão violenta que tive de deixar minha posição à beira do palco e me deslocar para o fundo do local para poder assistir ao espetáculo de forma satisfatória.

O trio das cordas do Down.

Em certo momento, alguém jogou um sutiã ao palco. O vocalista recolheu o mesmo e fez com que o baterista Jimmy o vestisse, o que ele fez sem hesitar, tocando com a vestimenta durante o resto da noite, inclusive durante o bis. Enquanto ele vestia a peça, um outro sutiã foi jogado, e Anselmo fez com que Dave Sabo, guitarrista do Skid Row e que estava presente ao local, viesse ao palco e também ele vestisse esse acessório, em um momento hilário do show.


A banda havia se apresentado pouco antes no festival SWU, em um show onde o repertório foi basicamente focado no álbum de estreia, Nola, de 1995, o que fez com que duas das minhas músicas favoritas da carreira do grupo não fossem apresentadas, “Ghosts Along the Mississippi” e “New Orleans is a Dying Whore”. Felizmente, aqui em Porto Alegre as duas estiveram presentes, intercaladas por “N.O.D.” e “Pillars of Eternity”, e se constituíram em alguns dos pontos altos do espetáculo para este que vos escreve.

Down no palco do Pepsi On Stage.
A iluminação verde em “Hail The Leaf”

“Eyes of the South” encerrou a parte normal do repertório, mas logo eles estavam de volta, iniciando o bis com “Hail the Leaf”, ode à maconha que ganhou adequada iluminação verde no palco. Logo após o seu fim, Pepper puxou o riff de “Stone The Crow”, talvez a música mais aguardada pelos presentes (pelo menos por mim), e cuja perfeita execução foi o ponto alto da noite. Só faltou mesmo Pepper empurrando Anselmo para o lado na hora de seu solo, como ocorre no clipe da mesma, pois, de resto, foi tudo perfeito. Aliás, cabe comentar que Kirk é o responsável pela maior parte dos solos nas músicas do Down, apesar de os dois guitarristas serem solistas em suas bandas de origem. Outro detalhe é que os dois também são vocalistas em seus grupos, mas aqui apenas Kirk arrisca uns backing vocals, com Pepper ficando o tempo todo longe do microfone.

Para mim, a noite poderia ter terminado por ali mesmo, mas a galera ainda queria mais, e bradava “Pantera, Pantera” a plenos pulmões (aproveitei e gritei também “C.O.C.” em alusão à banda de Pepper, mas acho que ninguém ouviu). Pepper e Kirk puxaram então o riff do refrão de “Walk”, assim como haviam feito no SWU, com Anselmo cantando a letra da canção, e esses pouco mais de 30 segundos do clássico da ex-banda do vocalista do Down bastaram para novamente incendiar a pista.

Momentos da Jam final.

“Bury Me In Smoke” chegou para encerrar a apresentação. Assim como havia ocorrido no festival do interior paulista, os músicos do Down aos poucos foram sendo substituídos pelos integrantes do Loaded (à exceção de Duff, que não voltou para o palco), além de uma das roadies do quinteto (que assumiu a guitarra) e de uma espécie de Dominatrix mascarada e vestida com um conjunto de couro, que andava pelo palco chicoteando os músicos do Down, que, apesar de não estarem tocando (tarefa executada pelo pessoal do Loaded), não saíram do local. Ao final do show, todos se juntaram para agradecer aos presentes, e, após todos terem ido para os camarins, Phil Anselmo, sozinho no palco, declarou: “vamos encerrar este show da forma apropriada”, para então cantar o verso final de “Stairway To Heaven”, do Led Zeppelin: “And she’s buying a stairway to Heaven”, retirando-se logo depois, encerrando um espetáculo que foi um pouco prejudicado pela péssima equalização do som, mas que deixou a todos satisfeitos, ainda que exaustos. Memorável!

Set Lists:

Duff McKagan’s Loaded:

1. Executioners Song
2. We Win
3. Sleaze Factory
4. Dead Skin
5. Dark Days
6. Seattle Head
7. New Rose (The Damned)
8. Sick
9. Cocaine
10. So Fine (Guns n’ Roses)
11. Your Name
12. Lords of Abaddon
13. Attitude (Mistifis)
14. It’s So Easy (Guns n’ Roses)

Down:

1. Lysergik Funeral Procession
2. Temptation’s Wings
3. Lifer
4. The Path
5. Losing All
6. Underneath Everything
7. Ghost Along the Mississippi
8. N.O.D.
9. Pillars of Eternity
10. New Orleans is a Dying Whore
11. Eyes of the South

Encore:

11. Hail the Leaf
12. Stone the Crow
13. Walk (trecho) (Pantera)
14. Bury Me in Smoke

2 comentários sobre “Review Exclusivo: Duff McKagan’s Loaded & Down (Porto Alegre, 16 de novembro de 2011)

  1. Pois é, deve ser lamentavel par um cara como Duff McKagan tocar para meia duzia de gatos pingados depois de ter tocado para mais de 100 mil pessoas como no segundo Rock in Rio. Pior é que ele nem deve se lembrar da noite do RIR, tamanha a quantidade de entorpecentes na cabeça. Os gatos pingados que foram para ver ele tocar guns e nao respeitarem a carreira solo é algo bem comum, mas fazer o que … Muita lenda tem vivido de seu passado, e um cara com um passado glorioso como o do Duff, por ter tocado em uma das maiores bandas de rock dos ultimos 30 anos, só podia dar nisso.

    Quando eu vi o Sergio Dias pela primeira vez, era incrivel a quantidade de gatos pingados gritando "Ando Meio Desligado", "Balada do Louco". O cara tocou muita coisa solo e do Mutantes tocou "Cidadão da Terra" e "O Contrário de Nada". Hilário!!

    O que que uma boleta não faz. Esse era um boleteiro nato

    Quanto ao Phil Anselmo, é uma das maiores vozes do rock moderno. Não haveria de ser diferente em termos do público ter ido lá para ver o homem. Cartazes por Porto Alegre estavam espalhados, anunciando Phil Anselmo e sua nova banda. O cara é um ídolo, e ainda bem que ressucitou para propiciar momentos como esse aos que puderam assisti-lo

    E será que o pessoal do crew que levou a menina para o camarim deu um CREW nela???

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