Melhores de 2011: por Mairon Machado

Melhores de 2011: por Mairon Machado
Massahara
Nesta primeira semana de janeiro, de segunda a sexta, diversos colaboradores da Consultoria do Rock estarão apresentando listas com suas preferências particulares envolvendo os novos álbuns de estúdio lançados em 2011. Cada redator tem a oportunidade de elaborar sua listagem conforme seus próprios critérios, escolhendo dez álbuns de destaque, além de uma surpresa e uma decepção (não necessariamente precisam ser discos). Conforme o desejo de cada um, existe também a possibilidade de incluir outros itens à seleção, como listas complementares, enriquecendo o processo e apresentando sugestões relacionadas ao ano que acabou de se encerrar. Como culminância do processo, no sábado, os dez álbuns mais citados serão compilados e receberão comentários de todos os colaboradores, não importando o teor das opiniões.

Por Mairon Machado
Não sou muito adepto aos novos sons, mas sempre que uma banda que eu curto lança um álbum novo, corro atrás para ver o que está acontecendo, com exceção do jazz, um dos meus estilos preferidos e que, independente da década, é sempre bem vindo a qualquer momento. Porém, no último ano, graças principalmente à minha colaboração aqui no blog, acabei ouvindo muito material de bandas novas ou desconhecidas para mim, e isso refletiu bastante na minha definição dos 10 melhores álbuns de 2011, mesmo de alguma forma incluindo algumas velharias. De forma geral, ficou o lado positivo de um ano repleto de bons lançamentos e a dificuldade em escolher apenas 10 entre tantos discos bons.
Álbuns do ano
Massahara – Massahara
Uma das sessões do blog é a “Direto do Forno”, na qual um de nossos colaboradores recebe um CD que acaba de ser lançado ou relançado e é designado para resenhar o mesmo. Fui felicitado de receber o primeiro álbum do grupo paulista Massahara, auto-intitulado, que alegrou bastante vários dias do meu 2011. Nas oito canções do CD, um ótimo resgate da sonoridade do hard setentista, destacando o talento individual de músicos com grande técnica e principalmente, criatividade, que fizeram de Massahara o melhor álbum do ano passado para este que vos escreve. Ainda hoje continuo ouvindo e me surpreendendo com canções como “Já Nem Ligo Mais”, “Lugar ao Sol” e “Tudo o que Eu Quero”. O Massahara virou a referência para mostrar que o som setentista, cultuado por muitos (eu inclusive) ainda é capaz de sobreviver e apresentar discos decentes.
Yes – Fly from Here
Quando Jon Anderson saiu do Yes em 1979, o mundo recebeu de presente Drama (1980), um dos melhores discos do grupo, que mostrava o talento de compositor do baixista Chris Squire e do guitarrista Steve Howe. Ao lado dos ex-Buggles Trevor Horn (vocais) e Geoff Downes (teclados), bem como do baterista Alan White, Squire e Howe começaram a compor diversas canções, e muitas delas ficaram de fora de Drama. 30 anos depois, Anderson saiu novamente do Yes. Algumas das canções que ficaram fora de Drama foram resgatadas por Squire, Howe e White, que reviveram os momentos do que foi chamado de Yes-Buggles ao lado de Downes e do novato vocalista canadense Benoît David. Com a produção de Trevor Horn, saiu Fly from Here, que apresentou finalmente ao mundo a versão final da suíte “Fly From Here”. É inegável que não é o velho Yes dos anos 70, e que David não tem o alcance vocal de Anderson, mas, por outro lado, as composições de Fly from Here são de encher os olhos e ouvidos. Não somente a faixa-título é destaque. Todo o álbum é um conjunto de belas canções, que soa como uma perfeita sequência para Drama. Se você curtiu o álbum de 1980, certamente curtirá esse segundo álbum sem Anderson, e o segundo melhor lançamento de 2011.
Saxon – Call to Arms
O que você espera ouvir de um grupo da NWOBHM? Bom, eu espero ouvir linhas melódicas de guitarras, um baixo grudento e canções que fazem cantarolar do nada. Há algum tempo eu não conseguia encontrar isso em um disco do estilo, até que ouvi Call to Arms, o décimo nono álbum do Saxon. Com certeza, é o melhor disco do grupo desde Solid Ball of Rock (1991), e a adição de Don Airey nos teclados deu um ganho a mais para o já ótimo som feito por Biff Byford (vocais), Paul Quinn (guitarra), Doug Scarratt (guitarra), Nibbs Carter (baixo) e Nigel Glocker (bateria). Vários são os pontos altos de Call to Arms, mas vou indicar apenas três pérolas, que futuramente, serão chamadas de clássicos: “Call to Arms”, “Hammer of the Gods” e “Mists of Avalon”. Enquanto outros grupos da NWOBHM estão meio perdidos em termos do que querem fazer musicalmente, o Saxon é a prova viva de como se manter na ativa fazendo o que fazia no passado, e ainda assim sendo original.
Vãn Züllat – Betelgeuse
Três anos de espera e finalmente o segundo álbum do grupo pelotense Vãn Züllat foi lançado. A expectativa era enorme. Afinal, a suíte “Betelgeuse” estava sendo interpretada ao vivo, e muitos se perguntavam como aquela maravilha do rock progressivo ficaria em estúdio. A dúvida foi sanada em Betelgeuse, e mostrou que não só os quase 20 minutos da faixa-título eram a arma principal de Cleber Vaz (teclados, flautas, guitarras), Gabriel Mattos (baixo), Marcelo Silva (bateria) e Jonatã Müller (guitarras). A épica “Seis Níveis de Criogenia” é o ápice de criatividade do rock progressivo nacional nos últimos 20 anos, misturando bandolim, berimbau, e claro, efeitos sintetizados de moog, mellotron, hammond e outros aparatos que tanto encantam os admiradores do estilo. Fora isso, o talento individual de cada membro é excepcional, resultando em um disco redondinho e que superou o já perfeito O Casulo (2008). Segundo disco de progressivo na minha lista, e não o último. 
R.E.M. – Collapse Into Now
Quando em 2010 foi anunciado que os americanos do R.E.M. estavam gravando um novo disco, a dúvida pairava no ar. Desde New-Adventures in Hi-Fi (1995), o grupo lançava material que alternava entre o ótimo e o descartável. O último disco do grupo até então, Accelerate (2008), figurava como ótimo, e assim, o próximo álbum deveria ser considerado descartável. Pois Collapse Into Now fugiu à regra e agradou em cheio aqueles que apreciam o que o trio Michael Stipe (vocais), Peter Buck (guitarras) e Mike Mills (baixo, teclados) vêm fazendo desde que estourou no planeta inteiro com “Losing My Religion”, há vinte anos. Vários são os momentos de destaque desse bonito disco, do qual recomendo três canções: “Überlin”, “It Happened Today” (com participação de Eddie Vedder) e “Blue”, a segunda canção do grupo contando com os vocais emocionantes de Patti Smith. Infelizmente, esse álbum também marcou por ser o último de uma das principais bandas de rock dos anos 80.

Uriah Heep – Into the Wild

Ah, que saudades dos anos 90! É o pensamento que vem à cabeça quando ouço Into the Wild, o disco lançado pelos ingleses do Uriah Heep. Depois de dez anos,  o grupo resolveu voltar a lançar discos de estúdio. Assim, em 2008 veio Wake the Sleeper, seguido por Celebrate (2009) e Into the Wild, o melhor dos três. A linha musical é similar ao que foi apresentado quando Bernie Shaw assumiu os vocais do grupo, remetendo diretamente aos bons Sea of Light (1995) e Sonic Origami (1998). Os principais destaques vão para “Trail of Diamonds”, “Nail on the Head” e “Lost”, nas quais os tradicionais solos com wah-wah de Mick Box, acompanhados pelo hammond certeiro de Phil Lanzon e da cozinha formada por Trevor Bolder (baixo) e Russell Gilbrook (bateria) mantém o som característico de um dos mais injustiçados grupos do hard britânico. Mais um exemplo de que é possível sobreviver no presente soando idêntico ao passado. No caso do Uriah Heep, é um passado bem recente, mas muito bom.

Wynton Marsalis e Eric Clapton – Play the Blues Live from Jazz at Lincoln Center
A passagem de Eric Clapton pelo Brasil no ano passado não foi tão alardeada, principalmente por ocorrer em um período no qual o Rock in Rio e o SWU Festival eram as principais atrações no país. Além disso, a divulgação do álbum lançado pelo guitarrista em 2011 foi precária. Sei que não era permitido tratar de discos ao vivo entre os 10 melhores do ano, mas com todo o perdão aos meus colegas consultores, Play the Blues Live from Jazz at Lincoln Center não poderia ficar de fora dessa lista de jeito nenhum. Não é apenas um disco ao vivo. É um disco ao vivo de jazz com Eric Clapton e o monstro do trompete Wynton Marsalis, acompanhados por uma ótima big band, e que é de um ineditismo tão raro, que suas canções soam todas como novas, com a diferença de que os presentes no Lincoln Center naquela noite puderam ouvir essa obra-prima. Os fãs mais fieis do guitarrista irão se apavorar com os alucinantes nove minutos de “Layla”, mas os admiradores do jazz voltarão no tempo para um boteco impregnado de fumaça de cigarro, com um copo de uísque e a embriagante sonoridade de pérolas arrebatadoras como “Je Turners Blues”, “Ice Cream” e “Joliet Bound”. Destaque também para o resgate de duas canções de Taj Mahal, “Corrine Corrina” e “Just a Close Walk With Thee”. Belíssimo álbum, como poderia ser com a união de dois gigantes da música.
Marcin Wasilewski Trio – Faithful
Ainda no jazz, os poloneses do Marcin Wasilewski Trio lançaram uma obra-prima. Conhecedores do estilo, preparem-se para se assustar com a performance de Marcin Wasilewski (piano), Slawomir Kurkiewick (baixo) e Michal Miskiewicz (bateria). Os caras detonam literalmente, e parece que estamos ouvindo um trio com os saudosos Art Tatum (piano), Slam Stewart (baixo) e Jo Jones (bateria). O trio polonês consegue alternar momentos calmos e simples (à la Keith Jarret Trio) com outros de muita experimentação e delírios instrumentais (no estilo do trio de Michel Petrucciani). Ótimo disco de jazz trio, para curtir em qualquer dia, acompanhado de bons petiscos e embriagantes drinques. Destaque para as gemas “Night Train to You”, “Oz Guizos” e “Lugano Lake”, que ajudam a fazer deste o melhor disco instrumental lançado ano passado. 
Van der Graaf Generator – A Grounding in Numbers
Desde a volta do Van der Graaf Generator em 2005, o grupo vem lançando um álbum a cada três anos. O primeiro deles, Present (2005), era um dos mais promissores retornos da história. Porém, em Trisector (2008), o grupo virou um trio, e a ausência do saxofonista David Jackson acabou afetando o gosto dos mais conservadores. Pois os remanescentes Peter Hammill (teclados, voz, guitarras), Hugh Banton (teclados, baixo) e Guy Evans (bateria) mantiveram o norte planejado em Trisector e arrebentaram com o fantástico A Grounding in Numbers. O sinistro órgão de Banton volta a se fazer presente, e as letras de Hammill continuam cada vez mais atraentes e inteligentes. Nada melhor para um físico do que ouvir uma canção sobre a identidade de Euler, no caso “Mathematics”. Outra fantástica faixa é a épica “All Over the Place”, assim como as instrumentais “Red Baron” e “Splink”. Por fim, o que mais chama a atenção é a ausência de uma longa canção, sempre característica nos álbuns do grupo, mostrando que, passados mais de 40 anos desde o nascimento do Van der Graaf Generator, eles ainda são capaz de surpreender.
Robbie Robertson – How to Become Clarvoyant
A The Band foi talvez a melhor banda do Canadá, muito devido às canções compostas por seu líder, o guitarrista e vocalista Robbie Robertson, que, cercado de outros gênios da música, lançou álbuns essenciais em qualquer coleção. Seu último disco foi lançado em 1998, e essa volta repentina surpreendeu a todos. E não é que Robbie conseguiu se modernizar sem soar forçado? How to Become Clarvoyant é um disco simples, honesto, recheado de canções leves e gostosas de ouvir em qualquer situação. Trazendo participações especiais de nomes como Eric Clapton, Steve Winwood e Trent Reznor, entre outros, Robbie emociona com bonitas faixas e ótimas letras, onde os destaques maiores vão para as baladas “When the Night Was Young”, “The Right Mistake”, “She’s Not Mine” (essa, uma mistura de U2 com Bruce Springsteen) e as lindas instrumentais “Madame X” e “Tango for Django”. Um retorno digno de um dos principais nomes da música.
Menções honrosas:

Alice Cooper – Welcome 2 My Nightmare 
Anthrax – Worship Music
Black Country Communion – 2 
Chickenfoot – III

Deicide – To Hell With God
Domingos Mariotti e Fernando Motta – Reunião
Keith Jarret – Rio
Marcelo Camelo – Toque Dela
Megadeth – Th1rt3en
Psychotic Eyes – I Only Smile Behind the Mask


A surpresa

 

Çağdaş Gençlik Senfoni Orkestrası

Em busca de canções para o segundo Podcast em homenagem ao Dream Theater, descobri uma fascinante apresentação da Orquestra da Juventude Contemporânea de Istambul, na qual, regida pelo jovem maestro Eren Başbuğ, garotos e garotas interpretam diversas canções do Dream Theater em versões sinfônicas. Um espetáculo sonoro, que inclusive me levou às lágrimas em alguns momentos, demonstrando que, por trás de todas as masturbações instrumentais de John Petrucci e cia., existem sim belas e encantadoras melodias. Parabéns à Eren Başbuğ pela iniciativa, e aos membros da Çağdaş Gençlik Senfoni Orkestrası pela coragem e habilidade para interpretar as intrincadas e complexas canções do grupo americano, com destaque para o vídeo acima, no qual “Octavarium” é apresentada na íntegra.
A decepção

O não lançamento do novo álbum do Rush
Em 2010, o single com “Caravan” e “BU2B” foi o anúncio de que em 2011 seria lançado o novo álbum do Rush. A turnê “Time Machine Tour” estava promovendo as novas canções e diversos clássicos do passado. Fui ao Rio de Janeiro assistir ao trio canadense e, comprovei com meus ouvidos, que Geddy Lee não está cantando mais nada, mas está tocando muito. A expectativa ficou então para o que aconteceria em estúdio. Passou-se o ano e nada do novo álbum. Parece que em fevereiro de 2012, Clockwork Angels chegará às lojas. Esperamos que esse não seja o novo Chinese Democracy do rock.

A melhor notícia

A volta do grupo Los Hermanos

Anunciada no final do ano, foi a melhor notícia que um fã do grupo poderia ter. Claro que o quarteto carioca vem se reunindo regularmente, mas para ocasiões especiais. Agora, parece que com uma grande turnê pelo país, pode ser que um novo material surja, saciando a sede pelas canções de Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Barba e Bruno Medina.

A pior notícia
A morte do guitarrista Gary Moore
Entre tantas perdas que a música sofreu em 2011, sem dúvida a mais sentida foi a do guitarrista Gary Moore. No dia 6 de fevereiro, o mundo acordou sabendo de sua morte. Dono de uma técnica impecável, que foi registrada em dezenas de álbuns perfeitos como Back on the Streets (1978), Run for Cover (1985), After the War (1989), Still Got the Blues (1990), bem como os discos ao lado do grupo Skid Row (34 Hours, de 1971), Thin Lizzy (Black Rose: A Rock Legend, de 1979) e Colosseum (Electric Savage, 1977), isso só para citar alguns, Moore foi um dos nomes mais importantes do rock irlandês, e nos deixou cedo, com apenas 59 anos. Ausência que será marcante na música a partir desse ano.

10 comentários sobre “Melhores de 2011: por Mairon Machado

  1. Pô Mairon…
    Só tivemos um disco em comum nas nossas listas. Acho que o Unleashed the Beast do Saxon é o melhor deles desde o início dos anos 90.
    Melhor noticia é a volta do Los Hermanos?!?!?!? Para quem? Para os que sofrem de insônia???? hahahaha
    Abraços

  2. As listas são bem diferentes uma das outras, isso é algo positivo no meu entendimento pois faz com que gente meio desinformada, no qual me incluo, se atente à sons tão distintos, sobretudo contido nessa lista
    nessa lista escutei os do Saxon, Uriah Heep e Eric Clapton, e gostei muito de todos, grandes albuns sobretudo o do Saxon que remeteu aos aureos tempos sem perder certa modernidade, se é que vc me entende rsrs
    e falar de Eric Clapton é chover no molhado, e ainda mais ao lado de Wynton Marsalis
    e sobre os outros albuns, alguns me interessaram depois das resenhas, vô escutar pra ter um parecer
    abraço

  3. Esse disco do Robbie Robertson é bem legal, já estou me arrependendo de não tê-lo incluído ao menos entre as menções honrosas. Admirei-me por não citares a ótima "Fear of Falling", uma das músicas mais legais que ouvi em 2011, cuja composição e vocais são divididos com Eric Clapton.

    Pô Bueno… sacanagem tirar onda com um cara com sérios problemas de insônia! deixa o cara curtir seu Rivotr… digo, Los Hermanos!

  4. gostei muito da sua surpresa, mairon…já tinha visto esse vídeo e realmente é de emocionar! o trabalho feito pelo regente (que diga-se de passagem é bem jovem) e pelos garotos e garotas turcos é digno de nota.
    Grande lembrança!
    abrasss

  5. Valeu pela menção à Massahara, Mairon! =)
    ouvi dizer pela primeira vez do Van Zullat por seu próprio texto e agora novamente…sinal de que eu preciso conhecer essa banda!
    Gostei da lista e dessa sequência de listas do blog!
    Abraço!
    Ronaldo

  6. Ronaldo, o som da Massahara sacudiu (e sacode) minha mente muitos dias do ano. Foi a melhor coisa que ouvi do ano passado, incomparável. O Van zullat é uma otima banda, e o que vale mais ainda são as experimentações. Thiago, tu sabes q de DT eu não gosto, mesmo tendo ouvido todos os álbuns como fiz para ver se perdia o ranço (e nao deu), mas essa apresentação ai é sensacional. Carlos, quais bandas vc mais se interessou? E Diogo e Fernando, vcs ainda vao gostar de Los Hermanos, hauauhauahau

  7. Das listas que li até agora só essa fez algum sentido pra mim. Infelizmente não ouvi nada do que tem aí. As coisas que tentei baixar, não consegui. E DTQSF!

    P.S.: LHQSF tb!!

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