Discografias Comentadas: Bruce Dickinson
Esta é uma das grandes honras que poderia ter: escrever um artigo comentando a discografia de Bruce Dickinson! Realmente me sinto nas nuvens com esta possibilidade, simplesmente por que sou um fã incondicional da obra de tão legendário artista. Exultei com o convite e exulto escrevendo!
Você, como meu leitor, deve já ter notado que costumo usar o substantivo “Mestre” para me referir a Bruce Dickinson. Assim sendo, se no texto houver simplesmente a menção à palavra “Mestre”, com inicial maiúscula, ela será referência direta a Bruce Dickinson. Além disso, também me refiro ao Mestre como simplesmente “A Voz”, por motivos óbvios. O grande Frank Sinatra, que pouco ou nada tem a ver com o rock, também era assim conhecido, e nada mais justo que Bruce Dickinson também o seja.
Comentarei aqui apenas os discos de estúdio do Mestre. Não passarei por sua história pré-Maiden, que engloba o início da carreira profissional no Samson, afinal, a proposta é comentar a discografia solo de estúdio. É uma discografia curta se comparada a outros artistas e bandas de igual expressão. Mas, apesar de curta, ela é profícua, incluindo momentos autobiográficos, de crítica ao mainstream do rock, de busca por uma nova sonoridade e de retorno aos valores do Heavy Metal.
Lançado enquanto Bruce ainda fazia parte do Iron Maiden, Tattooed Millionaire é um disco que teve sua semente lançada quando o Mestre foi convidado a gravar uma música para o filme “Nightmare on Elm Street 5: The Dream Child” (“A Hora do Pesadelo 5”, 1989). Para o filme, Bruce criou “Bring Your Daughter… to the Slaughter”, que foi posteriormente inserida no álbum No Prayer for the Dying, do Iron Maiden. Durante o desenrolar das atividades para a criação da faixa, o Mestre iniciou, em colaboração com o guitarrista Janick Gers (que depois faria parte da Donzela de Ferro), o projeto de gravar um disco solo, no qual ele poderia expressar seu trabalho de uma forma diferente da que ele realizava no Maiden. Tattooed Millionaire é voltado para o Hard Rock, e inclui originalmente dez músicas, das quais destaco a própria “Tattooed Millionaire“, que critica os excessos dos estereotipados rock stars, “Born in 58“, uma balada autobiográfica (Dickinson nasceu em 1958), “Dive! Dive! Dive!“, retratando ataques de submarinos durante a Segunda Guerra Mundial, e “All the Young Dudes“, cover da música de David Bowie originalmente gravada pela banda Mott the Hoople. O primeiro álbum solo do Mestre contou com Janick Gers na guitarra (ex-Gillan, White Spirit, Gogmagog, Fish e atual Iron Maiden), Andy Carr no baixo e Fabio Del Rio na bateria. Tattooed Millionaire teve uma recepção morna pela crítica e pelos os fãs do Maiden. Mais do que polêmicas sobre a qualidade das músicas, o álbum trazia a mensagem de que A Voz estaria pensando em seguir uma carreira solo fora de sua banda principal, fato que abalaria fundamentalmente o Heavy Metal quando concretizado.
O segundo álbum do Mestre foi marcado pelo início da parceria com o guitarrista e produtor Roy Z. É também um trabalho orientado para o Hard Rock, deixando longe a pegada Metal. Foi lançado quando Dickinson já não estava mais no Iron Maiden, e pode ser considerado um disco mediano, apesar da participação de Roy Z. Entre suas dez músicas, destacam-se três: “Laughing in the Hiding Bush“, composta com a participação de Austin Dickinson (filho da Voz), “Sacred Cowboys“, com uma estranha letra de protesto, e a famosa “Tears of The Dragon“, uma balada muito bem aceita pelo público em geral, ganhando videoclipe e versões acústicas, e pode ser considerada um clássico da carreira solo do Mestre. A música “Tears of The Dragon” tem uma letra que se baseia em antigos textos alquímicos, uma temática recorrente na obra de Dickinson. Nela, a influência de Roy Z se fez clara, e o guitarrista deixou sua marca espalhando aqui e acolá alguns acordes latinizados. Confesso que demorei muito tempo, anos na verdade, para digerir esses riffs e acordes, mas hoje acho que sua inclusão realmente ficou muito boa. A melodia é inconfundível, a letra é fácil de cantar e o refrão se torna praticamente uma poderosa bomba quando cantada pela voz dramática do Mestre. Um clássico que agrada a todos os públicos! Além da participação de Roy Z na guitarra, também estão no disco Eddie Casillas (baixo), David Ingraham (bateria) e Doug Van Booven (percussão). Juntos, Z, Casillas, Igraham e Van Booven (como músico convidado) realizavam um fantástico trabalho na banda de Hard Rock Latino Tribe of Gypsies, um grupo que vale a pena ser conhecido e que pode ser objeto de um artigo meu em breve. Finalmente, vale lembrar que o título do álbum não se refere a nenhuma música, mas simplesmente foi dado pelo filho de Dickinson, que rabiscou numa parede os dizeres Balls to Picasso, sendo que em seu vídeo antológico o Mestre afirma que originalmente o disco seria chamado “Laughing in the Hiding Bush”, o que, em minha opinião, teria sido bem melhor.
Em 1996, o lançamento de Skunkworks tornou a vida dos fãs de Dickinson muito difícil. Foi um disco lançado sem a participação de Roy Z, e que na verdade não deveria ser considerado um lançamento solo do Mestre, mas sim um trabalho realizado por uma banda chamada Skunkworks (leia um artigo sobre este disco aqui). Porém, a confusão foi criada pelo selo Sanctuary, que se recusou a lançar o álbum sem uma referência clara e direta a Bruce Dickinson. Sendo assim, o disco foi lançado com o título de Bruce Dickinson – Skunkworks, e a confusão criada pelo selo jamais foi realmente desfeita. O trabalho gráfico da capa e do encarte me agrada muito, pois são utilizadas montagens fotográficas com imagens simétricas muito inteligentes. Mas… é isso. O que mais gosto no álbum é o trabalho gráfico. Com uma proposta despojada, Skunkworks é composto por treze músicas, na qual a temática rodeando a ficção científica e as músicas com uma pegada bem light se afastaram totalmente do hard rock praticado nos discos anteriores. O grande público tomou contato com o trabalho através da música “Inertia“, que é a de mais fácil consumo. “Back from the Edge” é a que mais me agrada, tanto pela sua bateria impecável e cadenciada, como por ter um solo de guitarra melódico e bem elaborado. É certamente a melhor música deste trabalho. Por outro lado, “Solar Confinement” também é bastante palatável. A Voz se destaca no meio do instrumental muito básico, de tal forma que faz lembrar os áureos tempos do Iron Maiden. Indo das notas mais graves até as mais agudas, arrastando a voz e esbanjando dramaticidade, o Mestre mostra quase tudo de que é capaz. Neste disco fica fácil de notar que Dickinson era de fato “muita areia para o caminhão da Skunkworks” e assim, sem grandes explicações, a banda se dissolveu, e este foi o único trabalho lançado por eles. Além do Mestre, compunham a banda Alex Dickson na guitarra, Chris Dale no baixo e Alessandro Elena (“o baterista italiano”) na bateria.
Em 1997, Gastão Moreira, da MTV Brasileira, entrevistou o Mestre, e da entrevista extraí os seguintes trechos declarados por Dickinson sobre o álbum Accident of Birth: “Saímos em turnê promovendo Skunkworks, foi divertido. O que o Alex e eu queríamos fazer musicalmente estava se distanciando cada vez mais, em relação ao próximo álbum. É por isso que acabamos. Eu queria fazer um álbum metal, e ele queria fazer o seu próprio trabalho. Achei melhor cada um seguir o seu caminho… Então, tudo terminou bem. Acabei ficando sem banda. Só sobrou eu. Pensei: o que vou fazer agora? Aí chamei o Roy Z, que fez Balls to Picasso comigo… Liguei pro Roy e falei: vamos compor algumas músicas? O que você acha? Ele disse que tinha alguns riffs e algumas músicas ‘metal’. Eu falei: não sei se ainda consigo fazer heavy metal, pois lembrava os meus dias com o Iron Maiden. Não quero fazer algo que será comparado com aquela época. Terá que ser melhor!”. O primeiro impacto veio da capa desenhada por nada mais nada menos que Derek Riggs (autor de várias capas clássicas para o Iron Maiden), e estamos falando aqui de desenho mesmo, não daquelas capas feitas através de computação gráfica, feitas por ele hoje em dia, e que sempre acho sofríveis. Por sugestão de Dickinson, Riggs criou um fantoche com cara de psicopata, segurando um ameaçador taco de baseball cheio de pregos sobre um fundo vermelho… fantástico! Tão fantástico que foi chamado de Edison, o filho do Eddie. O segundo impacto veio do fato de que Adrian Smith, que anos antes também havia deixado a Donzela, se juntou a Dickinson nesse poderoso disco. Com esses dois músicos no mesmo trabalho, muitas expectativas pairavam sobre o álbum até seu lançamento. Os fãs do Maiden viam nele uma oportunidade de lavar a alma, já cansada dos vocais aprisionados na garganta de Bayley e das melodias duvidosas de Janick Gers. E foi o que aconteceu! Accident of Birth lavou a alma dos fãs do Iron Maiden, correspondeu a todas as expectativas e consolidou uma legião de seguidores do Mestre Dickinson! Um disco fantástico, elaborado e pesado como há muito tempo não se via. Lembro até hoje das lágrimas de felicidade ao ouvir pela primeira vez “Darkside Of Aquarius“, seguida de “Road to Hell“, momentos inesquecíveis! Accident of Birth mescla aspectos autobiográficos, dado que A Voz nasceu “por acidente”. Sua mãe engravidou muito jovem e ele praticamente foi criado pelos avós, enquanto os pais se preocupavam em conseguir o mínimo de subsistência. Sobre a temática, Dickinson declarou: “It’s about a family from Hell. Except they’re in Hell and one of them has accidentally been born, and they want him back and he doesn’t want to go. For all the same reasons that you wouldn’t want to go back to your family if they’re a pain in the ass, he doesn’t want to go back to his family. OK, so they’re in Hell, that makes a little difference too.” Em sua versão inicial, o álbum tem impecáveis doze músicas, em sua maioria compostas pela parceria de Dickinson e Roy Z. O disco também contou com uma versão lançada nos EUA, na qual foi acrescentada a música “Ghost of Cain” composta por Dickinson e Smith, e uma edição dupla incluindo diversas versões para “Man of Sorrows” (orquestrada, versão para rádio e até uma versão em espanhol, com o curioso nome de “Hombre Triste“), além de demos das várias músicas do disco, nas quais é possível se ouvir o metrônomo marcando o tempo. Para cada edição e reedição foi preparada uma capa diferente contendo o famoso Edison, que aparece com o bastão de baseball, nascendo como um alien da barriga de um homem e crucificado em uma das edições especiais. Todas as músicas são perfeitas, porém destaco “Darkside of Aquarius”. De temática apocalíptica, ela narra a vinda dos quatro cavaleiros do fim dos tempos, misturando mitos da religião hindu e aspectos alquímicos para dar o alerta de que nem tudo na Era de Aquário é feito de paz e amor. Nela Dickinson e Adrian dão tudo de si, em uma obra prima do metal. Vale a pena ser ouvida a qualquer momento! Na mesma linha, “The Magician” nos traz de volta aos bons tempos de Seventh Son of a Seventh Son, contando a história de um mago e sua jornada pelo mundo na busca pelo conhecimento. Um tiro rápido que anuncia “I´m the living flame and I teach the holy games. The magician is my name and magic is my game”. Porrada total, no melhor estilo Adrian Smith, é claro. A porradaria continua com “Road To Hell” e seus riffs característicos, distinguíveis “a quilômetros de distância”: Por várias vezes a reconheci no trânsito de Sampa tocando dois ou três carros atrás do meu… E finalmente, encerrando o disco surge “Arc of Space“, uma balada poderosa, na qual a voz do Mestre é acompanhada de violinos e das cordas de Adrian Smith e de Roy Z (com sua pegada latina). Accident of Birth (que conta também com a volta de Eddie Casillas no baixo e David Ingraham na bateria, portanto quase a mesma formação de Balls to Picasso), antes de tudo foi um deleite aos fãs, mas principalmente foi um recado para Steve Harris (baixista e “chefão” do Iron Maiden), pois era possível ler nas entrelinhas: “Cuidado, nós podemos fazer melhor!”
Todo alquímico, todo místico, este álbum é baseado em parte nos trabalhos esotéricos de William Blake, poeta e pintor inglês do século XVIII, e em parte no livro alquímico de Christian Rosenkreutz intitulado “Chymical Wedding” ou “Chymische Hochzeit” escrito em 1459. Tornou-se um clássico instantâneo, pois no aspecto musical é extremamente lírico e ao mesmo tempo pesado, e no aspecto conceitual aglutina todos os complexos temas recorrentes da obra de Dickinson. Foi o terceiro álbum em parceria com Roy Z e o segundo com a participação de Adrian Smith. Além deles, se fizeram presentes novamente Eddie Casillas e David Ingraham. Considero este disco uma pancada final para arrebatar os fãs que ainda duvidavam da carreira solo de Dickinson. Ao terminar de ouvi-lo pela primeira vez, senti um frio percorrendo a espinha, um frenesi desenfreado, uma reação inexplicável… que hoje ainda persiste. A capa é forte, trazendo a pintura “The Ghost of a Flea”, que exibe uma das visões que atormentavam Blake em sua idade avançada. No interior do encarte constam várias pinturas mostrando passagens bíblicas, trechos da “Divina Comédia”, de Dante, e várias cenas históricas e mitológicas pintadas por Blake. Em sua primeira versão o disco foi lançado com 10 músicas que faço questão de comentar uma a uma. “King in Crimson“: riffs pesados (gravados por guitarras equipadas com cordas de baixo!) e uma bateria avalassadora anunciam a entrada do Rei de Vermelho. Levantem-se, pois ele está chegando para o casamento químico; “Chemical Wedding”: aqui a alquimia se revela totalmente. A junção do masculino com feminino, a busca pela pedra filosofal em uma música épica, com um refrão inesquecível que consuma o casamento; “The Tower“: tarô e astrologia são a temática desta gloriosa música eternizada no show de São Paulo com um dos maiores, perfeitos e longos gritos do Mestre: “Now it’s your turn…”. A música segue em um ritmo cadenciado e organizado, no qual a bateria comanda, enquanto Dickinson e Adrian Smith cantam em coral, até o surgimento do riff característico. Fantástica!; “Killing Floor“: guerra, terror e caos. Satã deixou o último círculo do inferno e ameaça a humanidade nesta música surpreendente. Adrian dá um show com sua guitarra melódica e rápida, nesta canção que anuncia os perigos da guerra trazida pelo anjo caído; “Book of Thel”: um poema de Blake musicado pelos Mestres. O livro de Thel é uma alegoria onde o desejo puro (Thel) renega as limitações do mundo físico e decide viver apenas na eternidade, onde pode ser satisfeito em sua plenitude. Um recado de que em nosso mundo os desejos nunca são satisfeitos, pois a perfeita satisfação só ocorre no inconsciente e não em nossa existência consciente; “Gates of Urizen”: Urizen, na mitologia criada por Blake, é um correspondente do titã Cronos, criador de nosso universo e limitador das ações. A música é quase uma balada, mas guarda momentos pesados, que associados à profundidade da letra a tornam um hino; “Jerusalem“: conta a história de Jerusalém aprisionada na época das cruzadas. Inicia com um excelente trabalho de David Ingraham na percussão, seguida de uma entrada surpreendente de Adrian Smith no violão, ao estilo dos trovadores medievais. A impressão é de que imediatamente somos transportados para os tempos medievais, para uma cidade sitiada e prestes e cair nas mãos dos infiéis. A percussão cresce e tambores junto com o violão fazem Dickinson parecer um trovador em vestes de veludo cantando para o povo, que embasbacado o assiste. Uma baita música (cuja letra foi escrita por Blake como parte do épico “Milton a Poem”, publicado em 1808, e musicada por Sir Hubert Parry em 1916, sendo considerada um “hino popular” na Inglaterra e tendo recebido ainda diversas outras gravações, como a que consta do álbum Brain Salad Surgery, lançado em 1973 pelo grupo Emerson, Lake & Palmer), que termina com o narrador entoando um trecho do épico que originou sua letra: “here is her secret place; From hence she comes forth on the Churches in delight; Here is her Cup fill’d with its poisons, in these horrid vales, And here her scarlet Veil woven in pestilence & war; Here is Jerusalem bound in chains, in the Dens of Babylon”; “Trumpets of Jericho“: misturando a lenda bíblica da queda de Jericó com a lenda inglesa do Rei Arthur, a música surge pesada e com um riff característico que dá vontade de pular e derrubar tudo! Ela anuncia: “At the trumpets of Jericho, still the walls remain. At the trumpets of Jericho, Avalon’s in chains”. A risada maligna de Dickinson durante a música demonstra toda a dramaticidade de um cantor completo. A Voz te faz sofrer, te faz rir e te faz exultar apenas com o seu som. É incrível!; “Machine Men”: fugindo da temática alquímica, a música nos traz para o mundo das máquinas e seus perigos já tão explorados. Particularmente, a letra não me agrada muito, e a música parece estar meio deslocada no meio de tanto esoterismo. Poderia ter sido pulada ou deixada para o próximo álbum; “The Alchemist”: faça a receita alquímica desta música e descubra a pedra filosofal. Misture os elementos sulfurosos, lave-os com a chuva de prata e purifique-se dos seus pecados… A música termina com Dickinson como começou, anunciando o casamento químico numa voz calma e pura: “And so we lay, we lay in the same grave, our chemical wedding day”. E, ao final do disco, persiste o silêncio, e do silêncio vem o narrador entoando novamente trechos do épico “Milton a Poem”, de Blake: “And all this Vegetable World appear’d on my left Foot, As a bright sandal from’d immortal of precious stones & gold: I stooped down & bound it on to walk forward thro’ Eternity.” O álbum também conta com uma versão estendida com duas músicas bônus, “Return of the King”, de temática Arthuriana, e “Confeos”, uma música sobre as estranhas noites passadas em night clubs japoneses… Além do disco, foi lançado um filme com o mesmo título produzido e roteirizado pelo Mestre. A película também aglutina conhecimentos esotéricos, porém conta de uma forma diferente um pouco sobre a obra de Aleister Crowley. Chegou a ser lançado nos cinemas em São Paulo, mas não fez muito sucesso. Para os fãs, serve como uma fonte importante de referências, pois podem ser encontradas explicações importantes sobre diversos trabalhos de Dickinson tanto no Iron Maiden como em sua carreira solo.
Este álbum foi lançado após a volta de Dickinson ao Iron Maiden. Claro que ele voltaria! Depois de dois discos sensacionais como Accident of Birth e The Chemical Wedding não seria possível encarar mais o Maiden sem o Mestre. Harris teve de dar o braço a torcer, admitindo inclusive a volta de Adrian Smith. Tyranny of Souls foi composto durante as turnês de Dickinson com a Donzela de Ferro, em conjunto com Roy Z. Foi um trabalho interessante e todo realizado à distância. Roy enviava os riffs para o Mestre e ele compunha as melodias. Talvez por isso tenha levado tanto tempo para ser lançado. A temática do disco é notadamente diferente da anterior, e trata em boa parte da possibilidade de vida extraterreste. Uma exceção importante é a música “Kill Devil Hill”, que homenageia os irmãos Wright, inventores do avião segundo boa parte do mundo, exceto no Brasil, onde existe a crença de que Santos Dumont realizou tal feito. A capa é parte de um trabalho do artista renascentista Hans Memling, intitulado “Triptico da Vaidade e da Salvação”. Participaram deste álbum, além de Dickinson e Roy Z, David Moreno na bateria, Ray “Greezer” Burke no baixo, Juan Perez também no baixo e Maestro Mistheria nos teclados. O álbum se caracterizou por uma nova sonoridade muito pesada liderada pela bateria de David Moreno, que recheou as músicas com blast beats fenomenais. Além disso, o disco contou com teclados e baixos duplos, o que o tornou bastante diferente dos anteriores em termos de sonoridade. Os destaques são as músicas “Soul Intruders” e “Abduction“, onde as blast beats rolam soltas. Obviamente, ambas são sobre vida extraterrestre, a primeira contando uma história que lembra “Invasores de Corpos”, um filme de 1978, e a segunda relatando o processo de abdução por extraterrestres, reforçando a dúvida sobre a veracidade dos frequentes relatos sobre o tema. Destaca-se também “The Power of the Sun“, que também é ligada à temática extraterrestre, e inicia-se com um grito fenomenal do Mestre, destacando-se a guitarra que é seguida por uma bateria cadenciada. “Tyranny of Souls“, a música que dá título ao álbum, também é bastante interessante, começando bem calma e, após alguns minutos, dando uma virada perfeita para o mais puro metal, com guitarras distorcidas, bateria pronunciada e vocais extremos. Finalmente “Kill Devil Hill“, que é a música “para tocar no rádio”, destaca-se apesar de ter uma sonoridade simples. O refrão e os riffs são bastante comerciais, o que a tornaram perfeita para a aceitação do publico em geral. Uma música fácil, mas muito tocada na época do lançamento do álbum.
Bom, meus amigos, é isso. Os álbuns de estúdio de Dickinson seguem exatamente o crescente da carreira: um início voltado para o Hard Rock, de um cantor em busca de uma sonoridade própria (Tattoed Millionaire e Balls to Picasso); o disco turning point, que mostrou ao Mestre o verdadeiro caminho (Skunkworks); e a volta ao “caminho do Metal” nos geniais discos Accident of Birth e The Chemical Wedding, seguidos da constância de Tyranny of Souls. Há de se citar ainda que foram lançados dois discos ao vivo, o duplo Alive in Studio A (1995), que conta com um show diferente em cada CD, e Scream for Me Brazil (1999), gravado em São Paulo. Ainda merece destaque a coletânea The Best of Bruce Dickinson, que apresenta duas músicas inéditas (“Broken” e “Silver Wings“, esta uma ode ao motor de aviões Merlin, sem o qual a força aérea inglesa não teria prevalecido na Segunda Guerra Mundial) e possui uma edição especial com um segundo CD recheado de raridades.
O que mais está por vir ? Espero que muito…
Abraços a todos que chegaram até aqui!
Até pelo tamanho dos textos dedicados a cada disco, penso que fica claro que o autor considera "Accident Of Birth" e "The Chemical Wedding" os melhores discos da careira solo de Dickinson. algo com o que concordo plenamente. Inclusive, repito aqui o que comentei em outro post: "The Chemical Wedding" é o melhor disco do vocalista desde "7th Son of a 7th Son", e ainda não foi superado! É um disco quase perfeito, uma amostra do que Bruce é capaz de fazer, mas que acaba sendo limitado pelo status quo reinante no Iron Maiden (se é que me entendem).
Curto bastante o "Balls to Picasso" também, e confesso que nunca dei muita atenção ao "Tyranny Of Souls". Os outros dois não me agradam muito.
Parabéns pelo texto, Amancio!
A criatividade do pessoal da internet sempre me surpreende. As montagens feitas para os clipes de "The Magician" e "Jerusalem" disponibilizados no post ficaram perfeitas, pegando dois filmes que nada tem a ver com as músicas, mas se encaixam certinho na temática das mesmas. Muito bom!
Apesar de considerar Accident Of Birth e Chemical Wedding os melhores discos da carreira-solo do Bruce, meu preferido é o Tattooed Millionaire, por questões sentimentais mesmo. Foi o primeiro que ouvi e em uma época que ainda tinha mais facilidade para assimilar o Hard Rock. Gosto de todas as músicas do disco e também do Dive! Dive! Live!, cujo VHS tenho até hoje – depois passei a tê-lo no DVD Anthology.
Sensacional!!!
Sim, vocês estão certos. "Accident of Birth" e "Chemical Wedding" são os melhores trabalhos de Dickinson em minha opinião, o que não desabona os demais. Falando em sentimentalismo, "Chemical Wedding" trás muitas boas lembranças, por que peguei o primeiro exemplar que comprei assinado pelo Mestre em 1998, durante uma sessão de autógrafos numa mega loga do shopping Eldorado em São Paulo. Foi uma mega sessão, ele deu mais de 2000 mil autógrafos numa noite. Lembro que cheguei bem cedo (no começo da tarde) e a fila já dava voltas pelo andar… Foi um grande momento, com fotos, cds e e dvds assinados… Bons Tempos, que nunca acabem!
"blast beats"?
Execeltne texto, fala de Dickson é facile a mesmo tempo dificl,o melhor? Talvez sim. Seus discos são fantasticos, mesmo com os medianos Skunkwork, tem umas de milhas musicas prefiletas como a "Dreamstate". Chemical Wedding e sem duvida o melhor, ainda lembro quando ouvi pela primeira vez em 1998. Tattooed Millionaire foi uma surpresa com sonoridade diferente do Iron. Unica razão que não gostei de sua volta ao Iron e justamento não termos mais shows de sua carreira solo.
Achei interessante. Conheci recentemente um pouco da obra do William Blake. Será que o Dickinson não deu uma empobrecida ou pelo menos não distorceu um pouco a obra dele? Falo como simples curioso sem aprofundamento, pois na leitura que fiz aqui pareceu que o Blake era um desses gurus pregando a paz de espírito, quando na verdade o cara era revolucionário e poderia ser facilmente acusado de satanismo, com seu cristianismo "às avessas". Outro ponto que me deixou em dúvida foi a referência ao filme de 1978. Seria um remake do Invasion of the Body Snatchers, de 1956? Parabéns pelo texto!
Fazia tempo que não tirava meu "Chemical Wedding" da gaveta, mas tive que escutá-lo, estimulado pela empolgada descrição feita pelo Amâncio. Certamente trata-se de um ótimo álbum, que, junto com "Accident of Birth", são os melhores de Dickinson. Mesmo assim, tenho uma relação muito especial com "Tattooed Millionaire", que acaba permanecendo como meu favorito, em especial devido a faixas como "Born in '58", que demonstram um lirismo que Bruce nunca havia demonstrado com o Iron Maiden.
Luiz Eduardo, acredito que o Amâncio tenha se confundido, e certamente se referiu ao uso constante de dois bumbos nas faixas citadas, e não à técnica de blast beat.
Engraçado é que o “Mestre” (fora do Iron Maiden) ocupou a primeira posição das listas de 1997 e 1998 aqui da Consultoria, respectivamente com Accident of Birth e The Chemical Wedding. Bruce Dickinson conseguiu mostrar de um ano para outro que seu negócio mesmo é fazer heavy metal de qualidade. Eu ouvi recentemente o Accident e sinceramente não gostei muito, pelo conteúdo lírico ser muito forte para quem o ouve pela primeira vez. A única coisa que eu gostei deste álbum foi a faixa “Road to Hell” que no começo me soou familiar por ser uma música do Maiden mesmo, mas só depois eu percebi que o “Mestre” a gravou quando ainda estava fora da banda de Steve Harris (que nesse tempo estava se matando com Blaze Bailey)… E o clipe dela também é foda!
Sobre o The Chemical Wedding, posso dizer que achei mais interessante do que o disco de 1997. A audição foi pra mim bem mais satisfatória do que a audição de Accident. O “Mestre” veio com letras ainda mais coesas, inspiradas na obra de William Blake, o que contribuiu muito para o sucesso do álbum de 1998. Sobre o filme baseado neste disco, ainda não assisti, mas irei fazer isso já! Afirmo que o sucesso de The Chemical Wedding foi tanto que finalmente Steve Harris deu o braço a torcer e chamou Bruce e Adrian Smith para retornarem ao Iron Maiden e conquistar o mundo novamente. Mas isto é história para as próximas resenhas..
Chemical Wedding é de longe o melhor álbum do mestre, tamanha perfeição em todos os sentidos, pra mim está entre os 10 melhores álbuns de Heavy Metal de todos os tempos.
Concordo 1000% com você, Evandro! Também considero The Chemical Wedding o melhor álbum solo de Dickinson. E o filme homônimo também é muito bom. Já assistiu?