Por que Iron Maiden? 30 Anos de The Number of the Beast
Por Amancio Paladino
Uma ode a “The Number of the Beast”
Parte 1: “I left alone, my mind was blank. I needed time to think to get the memories from my mind.”
É com o peito cheio de glória e com a cabeça cheia de ideias que escrevo esta ode a uma das obras primas da música em todos os tempos. The Number of the Beast é talvez um dos mais icônicos álbuns do rock. É burlesco, é um vaudeville. É sério e soturno. É perfeito!
Faz 30 anos que foi lançado, e, imediatamente, conquistou um lugar de destaque, entrando para qualquer ranking dos dez melhores discos de rock que se preze. É eterno, o tipo de disco que quase nunca ouvimos no carro, porque se chegarmos ao nosso destino sem que ele tenha terminado, teremos de ficar esperando com o player ligado até o final. Em São Paulo é quase impossível chegar a qualquer lugar em menos de uma hora, por isso é possível ouvi-lo pelo menos uma vez por semana!
Lembro-me até hoje de meu primeiro contato com o álbum. Foi em 1983, quando tinha 10 anos de idade e colecionava figurinhas de um álbum chamado “Stamp Color”. Nele havia figurinhas de capas de discos de rock e colecioná-las virou uma febre entre os meninos da minha escola. Todos tinham bolos de figurinhas com as capas dos grandes discos de rock para trocar nos intervalos e para jogar bafo. As três figurinhas mais disputadas eram das capas de Killers (Iron Maiden), Abominog (Uriah Heep) e de Jump in the Fire (Metallica) simplesmente porque eram as mais “radicais”. Para mim, Eddie ganhava fácil das outras, e eu tinha várias cópias da figurinha guardadas.
Certo dia um colega me perguntou se eu já tinha ouvido aquela banda. Respondi que não, nunca (eu gostava mesmo das figurinhas)… Então ele começou a me contar as histórias de seu irmão mais velho, que não parava de ouvir o então novo disco do Iron Maiden. Disse-me que ele contava com uma capa muito mais legal que a de Killers. Afirmou ainda que as músicas eram sobre o diabo e que falavam de um número do mal, que jamais devia ser escrito. Além disso, declarou que havia um símbolo estranho em todas as capas da banda. Isso bastou para que terminássemos a tarde ouvindo o disco junto com seu irmão mais velho.
Foi meu primeiro contato com o heavy metal, com música “de verdade” por assim dizer. No fundo mesmo, naquela época não liguei muito para a música em si, o que me atraiu de verdade foi a ideia que o Maiden passava, a forma como eles se apresentavam com “aquele cara” citando trechos do Apocalipse de São João antes das músicas, e as capas desenhadas à mão, um deleite para os olhos! Naqueles tempos reproduzi diversas vezes o símbolo estranho da capa (que, muitos anos depois, descobri se tratar da assinatura do desenhista Derek Riggs) em meu cadernos, perdi horas examinando cada capa para desenhar Eddie e o logo do Maiden. Bons tempos…
Parte 2: “This can’t go on, I must inform the law. Can this still be real or just some crazy dream?”
Em suas nove músicas, The Number of The Beast apresentou ao público o novo vocalista da banda, mestre Bruce Dickinson, que, saído do Samson, iniciou uma das maiores e melhores carreiras em todo o rock. Além disso, se por um lado Dickinson estreou, Clive Burr deixou a banda, sendo este o último disco registrado pelo excelente baterista no line-up da Donzela, que ainda contava com os guitarristas Dave Murray e Adrian Smith, além do poderoso chefão Steve Harris.
Logo após seu lançamento, o álbum atingiu a primeira colocação na parada britânica de álbuns, sendo em seguida certificado com disco de platina nos EUA. Sim, meus amigos, The Number of the Beast tornou o Maiden um fenômeno mundial, criando uma poderosa legião de fãs de causar inveja a qualquer artista.
Se por um lado o disco lançou o Maiden ao estrelato, também foi alvo de severas críticas pelos setores mais conservadores da sociedade, principalmente nos EUA, onde era comum assistir queimas do álbum em programas de televisão, missas e eventos religiosos dos mais variados credos e doutrinas. Esses fatos renderam brincadeiras diversas em discos posteriores, como, por exemplo, Nicko McBrain (baterista que substituiu Clive Burr) falando ao contrário no álbum Piece of Mind, o que forçava os fãs a girar o disco no sentido anti-horário para ouvir algo como “cuidado com o monstro de três cabeças”.
Parte 3: “What did I see, can I believe, That what I saw that night was real and not just fantasy.”
Smith e Dickinson tiveram um papel preponderante neste disco. Nota-se claramente uma mudança no estilo da banda, que se tornou mais agressiva e ao mesmo tempo muito mais lírica. Harmonias perfeitas, rápidas e riffs pesados intercalados com a poderosa voz do então jovem Dickinson fizeram deste álbum um marco, apresentando a NWOBHM (New Wave of Britsh Heavy Metal) como o estilo mais influente da boa música dos anos 80. O dedo da dupla Smith/Dickinson pode ser sentida em quase todas as músicas, sendo o primeiro álbum no qual o guitarrista teve créditos por suas composições.
Devido a obrigações contratuais com o Samson, o vocalista não poderia legalmente ter créditos na composição de nenhuma música, mas sua influência foi tão clara em “Run to the Hills” e “The Prisoner” que ninguém é capaz de negar que foram realmente escritas por ele.
Se é possível escolher as melhores canções do álbum sem cometer nenhum desagrado, “Run to the Hills”, “The Number of the Beast” e “Hallowed Be Thy Name” são as escolhidas. Perfeitas! Sendo que, em “Hallowed Be Thy Name”, Dickinson realmente mostra do que é capaz, soltando seguidos agudos de mais de dez segundos para anunciar que as areias do tempo correm lentas para quem espera pela morte. Realmente avassalador!
Parte 4: “In the night, the fires are burning bright. The ritual has begun, Satan’s work is done.”
Além da qualidade musical o álbum teve uma apresentação impecável coroada pelas diversas capas e contracapas criadas pelo genial desenhista Derek Riggs. Esses desenhos, somados à característica leitura introdutória da música “The Number of The Beast” (trecho do capítulo 13 do Livro do Apocalipse da Bíblia), anunciando o número 666 como a marca do Demônio da Revelação, cria um clima altamente tétrico para o disco. A leitura foi feita pelo artista Barry Clayton, que literalmente copiou o estilo do famoso ator de filmes de terror Vincent Price, que não pôde ser contratado pelo Maiden devido ao alto cachê cobrado.
Pintura de William Blake, intitulada “The Number of the Beast: 666” |
Enfim… O que mais posso escrever sobre o disco sem comprometer minha série “Por que Iron Maiden?”? Que suas músicas são tocadas até hoje em todos os shows do grupo no momento clássico do bis? Que um show do Maiden só existe quando se ouve Barry Clayton anunciando “Woe to you…”? Que assustadoramente alguns se ajoelham e lágrimas de felicidade escorrem dos espectadores quando a intro de “The Number of the Beast” aponta nos amplificadores dos shows? Não, não escreverei mais… Chega!
Contracapa de The Number of the Beast |
Além ser “O” clássico, The Number of the Beast é o disco que me apresentou o estilo musical que mais gosto entre muitos: O heavy metal! Portanto, tem lugar especial em meu coração! Viva o metal! Vida longa ao Maiden! Up the Irons!
Que postagem !! Esse álbum é bom pra caralho, sem duvida um dos melhores da história do heavy metal. Enfim, qualquer comentário sobre The Number Of The Beast vamos dizer soa insignificante, perto da grandiosidade desse álbum do Maiden.
E parabens pelo excelente texto.
Execelente relato de um aficcionado que como muitos aprenderam a amar o Heavy Metal após escutar Iron Maiden!
Parabéns!!
Amancio
Sua história com a banda é bem parecida com a minha. A diferença que o album de figurinhas que me apresentou as imagens do Iron Maiden era chamado de Impacto. Lembro-me do dia que abri o pacotinho e vi a figurinha com a capa do 2 Minutes do Midnight. Foi algo que mudou minha vida…rs
O primeiro disco que comprei do Maiden foi o The Number, no final de 1988. Comprei pela capa. Só sabia que era o mesmo grupo daquela figurinha do album Impacto.
Ahh…faltou dizer que na verdade essas nove músicas que vc citou são as oito que entraram na edição original do album mais Total Eclipse, que até então só tinha em single e que entrou depois no lançamento do CD.
Olha Fernandão, eu sinceramente não gostei muito da versão original do TNOTB, com oito faixas ao invés de nove, incluindo “Total Eclipse”. A versão que eu tenho baixada deste disco segue a seguinte sequência: “Invaders”, “Children of the Damned”, “The Prisoner”, “Run to the Hills” (a melhor faixa) e “Total Eclipse” no lado A. No lado B temos a faixa-título seguida de “22 Acacia Avenue” e “Gangland”, e encerrando com chave de ouro, a queridinha dos fãs “Hallowed be Thy Name” que o Iron não está tocando-a mais ao vivo por conta das acusações de plágio. Simples assim, não é mesmo?
Eleito pelo jornal britânico Independent como “o melhor disco britânico em 60 anos” (o que pra mim me soou um tremendo exagero), The Number of the Beast foi eleito pela Consultoria como o melhor disco de 1982, ano em que o heavy metal estava ganhando o mundo. Foi neste álbum que o Iron Maiden encontrou sua própria identidade, graças á entrada do grande vocalista Bruce Dickinson, escolha mais que perfeita para ocupar o lugar de Paul Di’Anno.
Ao mesmo tempo em que este disco e banda faziam um tremendo sucesso mundial, foi nessa época também que alguns grupos religiosos americanos começaram a acusar a banda de ter um cunho satânico, afirmando que as letras do grupo estavam repletas de cantos demoníacos, invocando o demônio e vandalizando a mente das pessoas. Toda essa polêmica surgiu por causa da faixa-título deste disco, pois foi justamente a alusão explícita ao Número da Besta (666) que fez a trilha fazer sucesso. Mas na verdade a canção foi feita a partir de um pesadelo que a banda teve após ver o filme A Profecia 2 (1978). Porém, as acusações não restringiram-se apenas aos EUA; organizações religiosas esforçaram-se para impedir que a banda se apresentasse no Chile, em 1992.
Mas o importante é que apesar das polêmicas, este é um disco obrigatório em qualquer coleção musical que se preze, e talvez é o álbum mais usado para apresentar o Iron Maiden aos que não conhecem a banda. Este foi o último disco a contar com o baterista Clive Burr, que seria substituído pelo grande Nicko McBrain, mas esta é outra história. UP THE IRONS!
Esqueci de comentar sobre aquela história em que na época das gravações de TNOTB, o produtor Martin Birch se envolveu num acidente de carro com um ônibus lotado de freiras, num dia chuvoso. O valor do reparo foi uma bizarra coincidência: resultou em 666 libras, preço que Birch preferiu arredondar para 668.
Voltando as polêmicas, muitos exemplares do disco e mais outras coisas relacionadas ao Iron Maiden foram queimados pelas tais pessoas conservadoras que na verdade não conheciam as letras do grupo, mas depois que conheceram mudaram de ideia rapidamente e passaram a venerar a banda, tanto que o Iron é hoje a banda mais “overrated” (superestimada) do mundo.
Iron Maiden precisaria de mais respeito ainda. Venerar a banda é pouco. Deveriam ensinar Iron Maiden nas escolas….
😛
Proponho Iron Maiden na merenda escolar, junto com o brocolis.
Como dizem por aí, a importância do Iron Maiden é tamanha que devia ser matéria escolar… E como meu disco favorito da donzela é o Powerslave, impossível deixar de reverenciar esta obra-prima do heavy metal mundial que é o TNOTB, o verdadeiro começo para a banda (e não os primeiros discos com o “tosqueira” do Paul Di’Anno). Outra coisa: tratem de dar uma melhorada naquele War Room de TNOTB que eu paro de encher o saco com o War Room de Powerslave.
Tosqueira do Paul Di’anno vc deve ser um lunático cara, ele cantava demais e Iron Maiden pra mim é com ele. Vai se tratar cidadão!!!!!
São superestimados sim, mas eles merecem. O Iron é uma das poucas bandas ditas superestimadas que fazem um som que a gente não enjoa nunca de ouvir. E isso sem contar o carisma dos músicos, sobretudo Adrian Smith, grande compositor e excelente guitarrista. Melhor ser superestimado desse jeito do que ser alternativo que nem um Sonic Youth da vida e ser uma bosta.
A verdade é que é por causa de seus fãs que o Iron é superestimadíssimo! Seus membros são ótimos músicos de fato, mas quem assiste os shows ao vivo (seja pessoalmente ou pela TV) e vê os fãs cantando junto com eles seus grandes hits, entende o porque disso.
O Paul Di’Anno era um tosqueira por conta de seu visual punk e de seus problemas com as bebidas e as drogas, o que em nada condizia com a personalidade da banda. Mas ele deixou sua marca nos primórdios do Iron Maiden (ouvi os primeiros discos antes do TNOTB e não achei lá essas coisas). Prefiro mil vezes o grupo com o Sr. Bruce Dickinson por que, se não fosse dessa forma, quem iria pilotar o avião que leva a banda pelo mundo afora???
É verdade. Por isso a Shirley Jones era tão importante no Partridge Family (Família Dó Ré Mi no português castiço): era ela quem dirigia o ônibus da banda.
Ah Marco, você é um pândego!
Espero que não seja ironia, pois estou aqui concordando com tudo o que você diz. E citando exemplos.
Obrigado, meu caro compreendedor!