Review Exclusivo: Van Halen (Nova York, 28 de fevereiro e 1º de março de 2012)

Review Exclusivo: Van Halen (Nova York, 28 de fevereiro e 1º de março de 2012)

Por Fernanda Lattari

Pesquisar composições antigas e demos da banda antes do lançamento do novo álbum sob a tutela do Giulio (Lattari); especular sobre o setlist dos shows antes e depois da estreia no Kentucky; tentar racionalizar onde assisti-los com as nossas agendas; fazer a contagem regressiva da viagem ao sabor de Van Nillas aprovadas pelos pequenos e gigante respectivamente das famílias Guarda e Lattari; respirar as novas canções em casa, no carro e no trabalho (calma, chefes!); questionar o Fabio dia sim e o outro também sobre a veracidade dos ingressos (e ele fazia o mesmo com os nossos conhecidos descolados); fuçar situações pitorescas em Nova York; estar nos dois (!) shows, de fato; e concebr agora esta resenha para a Consultoria do Rock.

Foi uma maneira de prolongar o prazer da experiência de Van Halen fã. Afinal, seriam apenas dois shows de 110 minutos no máximo em nossas vidas. Se existiu a chance de comandar um punhado da minha felicidade, acho que deu para ser assim. Com todos os sentidos e de carona na vibração dos maiores Van Halen fãs que eu pude conhecer até hoje. Quem diz obrigada agora sou eu, retribuindo o gesto dos rapazes comigo após o derradeiro primeiro show. Tem coisa que cola na mente da gente.

Giulio e Fernanda na pista do Madison Square Garden no segundo show; Giulio Lattari, Roberto e Fabio Guarda na arquibancada do MSG no primeiro show.

Minha percepção foi a de que o tempo se descolou da realidade desde o dia em que Fabio, fazendo alusão ao novo álbum, disse pra mim com cara marota: “Parece que os pãezinhos estão saindo do forno” (no meio de uma reunião no trabalho em dezembro do ano passado) até a surpresa com o anúncio da tour numa segunda-feira após o Natal (que arrancou o Giulio em férias da cama cedinho) e após conseguimos comprar os desejados e polêmicos ingressos de pista no stubhub (em janeiro de 2012).

Mas o tempo escorreu enquanto estávamos em NY até agora! À parte motivos particulares dos quatro, escolhemos NY pelo fato de ser o único local da turnê com dois shows em um curto espaço de tempo; pelo charme do Madison Square Garden (MSG); e para fugir do risco da estreia (que aconteceu em 18 de fevereiro). Como diria o Sammy Hagar: “Heeeeey baby, woo!”. Eu digo: “NY é NY”.

Ingressos.

Gastamos muito? Sim, nós gastamos. Ainda mais porque fracassamos ao tentar comprar melhores ingressos com alguns benefícios na pré-venda do VIP Nation (que exigia cartão de crédito Platinum American Express americano); fizemos hegde com ingressos a mais de arquibancada temendo não conseguir na pista após o término da pré-venda; e só conseguimos os ingressos de pista no site de “cambismo oficial” (eu defino o stubhub assim).

Com o bolso furado, mas sem nenhuma dor no coração ou na consciência, só nos restava torcer pra nenhum problema operacional ou legal com os tickets na boca do show. Eu repeti por semanas para o Giulio: “Será um momento histórico em nossas vidas. Certeza que sim”.

Como os EUA são os EUA, entramos sem estresse – impressionante. Aliás, sem estresse no percurso a pé até o ginásio na 34th (estávamos em hotéis na 37th e 47th); nas catracas e escadas rolantes; dentro do ginásio, na saída, no metrô.

Pra não passar em branco, tivemos sim dois momentos tensos. O primeiro foi a “quase perda” dos ingressos pelos irmãos Guarda na terça-feira, que eu sinceramente achei que estava sendo encenada só pra descontrair. Que fique claro que a palhaçada rolou com os ingressos deles. Os ingressos da família Lattari estavam OK.

Na hora eu pensei alto: “Caspita, pra evitar uma morte súbita em país estrangeiro (do Fabio), não é que eu vou ter que dar o meu ticket pra ele!”. O segundo momento tenso foi por causa de um cara muito folgado achando que eu tivesse roubado as camisetas dele. Mas, pra quem prestou atenção na foto da trinca que me acompanhou, não dava pra ninguém se meter a besta comigo.

A tensão foi mais que recompensada pela simpatia do público no MSG. Queriam conversar, tirar fotos e adoraram a nossa simpatia. Puxaram conversa com o Giulio por causa da camiseta No Bozos; curtiram a vibração dos irmãos Guarda, que cantaram e pularam praticamente o tempo todo (pareciam os personagens de shows de rock encenados pelo Blue Man Group); me “olharam”, afinal, a faixa etária das “California Girls” era de 50 em diante – mas todas bem “gatinhas”.

Cada ida ao banheiro era um show à parte. Vimos muitas figuras pelo MSG, até mesmo um sósia do Sammy Hagar com mais de 100 quilos bem na fileira atrás de nós no primeiro dia, doutor com uniforme de cirurgião, caras com cara de maníaco, cowboy, hindu, colega do Itaú (opa!).

Madison Square Garden, no aguarde do Van Halen.

Tanto no primeiro dia (quando os tickets foram retirados no balcão do MSG) como no segundo (que tínhamos um tosco papel impresso do stubhub) foi tudo bem. No primeiro dia (uma terça-feira) ficamos na arquibancada, à meia altura, à esquerda de quem olha para o palco (nós quatro juntinhos). No segundo dia (uma quinta-feira) ficamos na pista, à direita de quem olha para o palco com o intuito da proximidade com o Eddie (Fernanda e Giulio na fila 19, enquanto Fabio e Roberto na fila 16).

Segundo o Fabio: “Show na América é tudo de bom… infra perfeita, sem estresse, sem fila, sem empurra-empurra… tem que ir. Como já fui três vezes, recomendo”. Eu e o Giulio ficamos com ótima impressão e passamos a admirar muito os americanos. Eu sempre fui mais cética com os gringos. Eu e o Giulio estamos agora mais do que preparados e confiantes para uma próxima empreitada – que venha! As coisas funcionam por lá – inclusive os códigos de barra!

Pontualidade para abrir a noite (19h30min) e pontualidade para a entrada do Van Halen (21h). O show de abertura com o Kool and the Gang foi um pouco longo, mas estas horas foram importantes para testarmos as máquinas, sentirmos o som, controlarmos a ansiedade (afinal, estávamos dentro!) e viajarmos sobre o que poderia vir pela frente. Estávamos tão seguros com a funcionalidade do MSG que no segundo dia chegamos mais tarde.

O show do Van Halen é longo (24 canções), intenso (praticamente sem pausas entre as canções), e perfeito (nem parecia que estávamos lá). Sensacional, como já tinha me prevenido o Van Halen fã #1 e #2. Cabe registrar que no primeiro dia, o Dave teve problemas com o microfone sem fio. Ficou bem tenso com a mesa, pois as suas coreografias seriam comprometidas se optasse pelo microfone de mão. Mas não teve jeito e trocou, sendo que desde NY ele vem usando o mesmo microfone de mão.

David Lee Roth e seu microfone de mão.

O show não parou por isso. Todos nós concordamos que o segundo dia foi o melhor. Óbvio! Nós estávamos na boca do palco e a banda estava radiante. Uma alegria contagiante. Nas palavras do Fabio: “A banda estava pegando fogo… tiveram muitos ensaios, criaram uma dinâmica de palco sensacional e estão afinadíssimos – química ao extremo”. E eu complemento: telão com imagens fantásticas, que me ajudou nas fotos; as coreografias e roupas do Dave lindas; muito carinho e a sinergia do Eddie com o Wolf; a simpatia e o sorriso aberto do Alex.

A seleção de músicas, conforme amplamente esperado, não priorizou as novas canções. Concordamos que para satisfazer mais fãs, tomaram como base o setlist nostálgico de 2007-08 com algumas inclusões (exemplo: “Hear About It Later”, “Women in Love”, “Girl Gone Bad” e “Outta Love Again”). Dá pra entender a manutenção dos clássicos e a pouca alternância de deep-cuts, como disse o Fabio. “Tem uma geração inteira que não os viu ao vivo e eles têm que fazer essa referência”.

E o Giulio levantou um ótimo ponto, sobre o predomínio das músicas que estavam mais ensaiadas, já que a paciência de um com o outro é limitada há décadas. Aliás, o Giulio e eu acompanhamos as notícias e o fórum desde o primeiro dia da turnê e já tínhamos a impressão de que algumas músicas poderiam variar justamente em NY (como diria o Dave: “Oh my god”!).

Um pouco mais do telão

Covers poderiam ser cortados para a entrada de uma penca da nossa preferência, mas eu estava tão contente que tolerei. Até mesmo “Hot for Teacher” me divertiu muito. A entrada da guitarra nesta música e as duas paradinhas com o mini “jazz” foram espetaculares, em minha humilde opinião. Perdi a minha marra com ela. Os caras gigantes cantando perto da gente na pista foram o máximo. As entradas da guitarra junto com os macacos e o Tarzan do Dave também foram tudo de bom em “Everybody Wants Some”!!

Dave foi um capítulo à parte. Impecável. Moderno, sexy e com muita plástica no seu desempenho em todas as canções. Eu retiro as barbaridades que um dia disse sobre ele, embora ainda prefira o estilo de cantar e as composições de letra e música da época do Sammy. O cara cantou todas as músicas com a voz potente. Deu espacate, saltos de luta, passos de dança oriental, tocou violão, falou dos cães pastores – show men e eu duvidava (uma trouxa eu fui!). Ele repetiu o figurino de jaquetas bordadas no estilo Elvis da turnê 2007-08, mas ao retirar as roupas com o passar do show, não chegou a ficar sem camisa como de costume. Fora as reverências que ele fazia ao Eddie em cada solo. E o Eddie sorria, fazia passinhos da época do clip de “Jump”, pulava…

A escolha do setlist envolve as nossas preferências versus preferências da massa de fãs de algumas gerações  versus  prazer do grupo  versus  o que está bem ensaiado  versus  o que funciona ao vivo. Como são 110 minutos e temos paixão por algumas músicas, vem essa vontade doida de trocar o setlist. Não entramos num consenso. Hoje, o Giulio afirma que tudo foi perfeito. Não cortaria nada e não incluiria nada. Eu concordo com o Fabio que poderiam sair “You Really Got Me”, “Pretty Woman”, “Ice Cream Man” e “Hot for Teacher”. Mas discordo frontalmente com a saída de “I’ll Wait”.

Concordo com o Fabio em quase todas as possíveis entradas, mas daí o show teria três horas! Eu ainda tinha alguma esperança de ouvir “You and Your Blues” (do novo álbum), “Little Guitars” e “Mean Street” – três que o Fabio também pediu e que, de fato, poderiam fazer as alternâncias do setlist por shows. Sem problemas, não deu. Ele também pedira, e eu concordo em parte, com “Beats Working” (para fechar como no novo álbum e não para abrir, Fabio!), “Stay Frosty”, “Simple Rhyme”, “Top Jimmy” e “Me We Magic” (“o sonho mágico” dele).

Adorei a execução de “I’ll Wait”, como já tinha escutado na gravação do show de Indianápolis. O Giulio concorda comigo que foi a canção melhor executada. O meu peito estufou com as batidas da introdução após o órgão! Deu arrepio. Tenho um carinho especial por essa música já que adoraria que fosse a introdução do meu Programa de Educação Financeira. Inclusive, junto com “Girl Gone Bad” é, na minha louca visão, um namoro do Van Halen com o Progressivo.

Já o Fabio elegeu “Panama” como a melhor execução, ressaltando como o destaque do show devido à tripla pausa e repetição do pedaço “Ain’t no stopin’ now“ antes do derradeiro… “Panama”. Pra mim e para o Giulio o ponto alto do show foi com “Eruption“. Fiquei estupefata! Aquilo não parecia real. Eddie sem nenhum esforço, sofrimento, andava, parava, sentava, levantava e a erupção à pleno vapor.

Van Halen em ação.

Em termos de emoção não houve consenso entre nós. “Unchained” é a preferida do Giulio e o fato de a canção ter aberto o segundo show foi demais – isso não acontecia desde 1984. Em tempo, “The Full Bug” não era tocada desde 1983. Fiquei estupefata pela segunda vez com “The Trouble with Never” e com a rapidez de “China Town” (o Dave até brincou que tinha esquecido a letra). Para o Fabio, que ficou muito surpreso e deu pra ver a preferência dele pela emoção ao cantarolar junto: “Ouvir ‘Hear About It Later’ ao vivo foi incrível, a música que eu mais desejei em toda vida. Nunca pensei que fosse rolar”.

Pra terminar a resenha eu quis que o Fabio fizesse uma comparação com as experiências anteriores que ele teve nos shows do Van Halen, principalmente em 2007. Lá vai:


Por Fabio Guarda

Biscoitos de baunilha (as Van Nillas); Giulio e a vitrine do Guitar Center; Fabio e o museu ferroviário.

Os shows de 2007 foram apoteóticos. “A” reunião começou lá. A esperança de ver o Dave com o Eddie no palco era quase nula lá atrás. Vê-los em 2007, pela primeira vez, podendo ser a última, foi indescritível! Em termos qualitativos, 2012 foi melhor que 2007. Em termos de emoção e surpresa, 2007 foi imbatível. Acho que eles se conformaram que a soma das partes é maior que os talentos individuais. Eddie Van Halen será sempre Eddie Van Halen: o Deus  da guitarra. David Lee Roth será sempre David Lee Roth: o diamond forever.

Mas, David Lee Roth + Eddie Van Halen é algo que poucos momentos na história do rock ocorreu: a perfeita combinação de egos, estilos, características que fazem bandas se tornarem lendas. Eddie Van Halen + Sammy Hagar foi bom. David Lee Roth + Steve Vai foi ótimo, mas tudo sub-par aos classic Van Halen. A conformação e a aceitação desse fato os torna maduros para aplacar o passado turbulento e voltar a 85.

Mais relevante que a transformação da banda é a sua transformação pessoal. As coisas mudam e você percebe tudo por outro prisma. Eu e o Giulio conversamos também sobre isso na volta da viagem. Dá a impressão que a principal coisa de mover o Eddie hoje é a presença do filho no palco. E o Dave quer e precisa fazer o que já o fez muito feliz. O Giulio tem a impressão que o Dave se arrependeu de ter saído da banda lá nos 80.

Final do show.

Finalmente, os nossos conselhos para quem é muito fã de uma banda e só teria a chance de assistí-los em outro país…

Fernanda Lattari: Vai com fé! Você pode até elencar inúmeros “senões”, mas em meses, anos, décadas olhará pra trás e estará aliviado de que fez a coisa certa. Pode até voltar sem grana e com toda a vida profissional e pessoal bagunçada, mas é uma foto do momento. As histórias que trazemos pra contar são sem igual – duram, duram e duram, só dependendo a próxima empreitada da vontade da gente.

Giulio Lattari: Vai vê!

Fabio Guarda: Se você é fã de uma banda e nunca os viu ao vivo, ou nunca pode ir a um show fora… vá! Gaste o que puder e não puder, faça todos os esforços! A vida é uma só, dinheiro vai e vem, sonhos estão aí para serem realizados! A vida é muito curta pra se ter frescura (frase adaptada para uma resenha de menina).

Antes da viagem alguns amigos nos acusaram de exagerados. Obrigada pelo elogio. Mas acreditem: exagerado é o cara que está seguindo a banda pelos EUA. Tem filminho sobre isso também.

Set lists:

28 de fevereiro

1. You Really Got Me
2. Runnin’ With the Devil
3. She’s The Woman
4. Romeo Delight
5. Tattoo
6. Everybody Wants Some!!
7. Somebody Get Me A Doctor
8. China Town
9. Hear About It Later
10. Oh, Pretty Woman
11. Drum Solo
12. Unchained
13. The Trouble with Never
14. Dance The Night Away
15. I’ll Wait
16. Hot For Teacher
17. Women In Love
18. Girl Gone Bad
19. Beautiful Girls
20. Ice Cream Man
21. Panama
22. Guitar Solo
23. Ain’t Talkin’ ‘Bout Love
24. Jump

1º de março

1. Unchained
2. Runnin’ With the Devil
3. She’s The Woman
4. The Full Bug
5. Tattoo
6. Everybody Wants Some!!
7. Somebody Get Me A Doctor
8. China Town
9. Hear About It Later
10. Oh, Pretty Woman
11. Drum Solo
12. You Really Got Me
13. The Trouble with Never
14. Dance The Night Away
15. I’ll Wait
16. Hot For Teacher
17. Women In Love
18. Outta Love Again
19. Beautiful Girls
20. Ice Cream Man
21. Panama
22. Guitar Solo
23. Ain’t Talkin’ ‘Bout Love
24. Jump

3 comentários sobre “Review Exclusivo: Van Halen (Nova York, 28 de fevereiro e 1º de março de 2012)

  1. Eu vendo até um rim pra ver esses caras no Brasil rsrs
    espero que lancem um DVD dessa tour, o Van Halen fase Diamond merece um DVD com aúdio decente, assim como a fase posterior com Sammy tem!!
    vô ficar na torcida!!!

  2. Eu acho que vai ter DVD do tour porque além deles estarem filmando muito bem os shows ( e o no clip da canção She's the woman foi feito assim), parece que estão acompanhando bastidores.

    Sobre os biscoitinhos…são carinhos. A Vanessa, da Vanilla Backery, faz. E a apresentadora da Corretora.

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