Maravilhas do Mundo Prog: Renaissance – Song of Scheherazade [1975]
Primeira geração do Renaissance: Keith Relf, Louis Cennamo, Jim McCarthy, John Hawken e Jane Relf |
Jon Camp, Michael Dunford, John Tout, Annie Haslam e Terence Sullivan |
Jon Camp |
Apesar de muitos criticarem a canção por ser repetitiva, na verdade são justamente as citadas repetições que tornam “Song of Scheherazade” uma maravilhosa experiência sonora, a começar pelo belo tema introdutório de “Fanfare”, no qual os metais imponentes executam sinistras notas que mesclam escalas orientais com escalas blueseiras. Bateria, piano e baixo aparecem vagarosamente, explodindo em uma agitada sessão junto ao violão, chamada “The Betrayal”, com cordas e piano duelando entre explosões percussivas, intervenções das cordas e espetaculares linhas de baixo. Os metais entoam o grandioso tema central de “The Betrayal” em uma agitada sessão percussiva, na qual o baixo cavalgante de Camp é um dos principais destaques, assim como as batidas nos tímpanos e as quebradas complicadas da bateria de Sullivan.
A canção cresce, com cordas e metais se sobrepondo, e após nos introduzir ao mundo de Bagdá, onde as “Mil e Uma Noites” supostamente ocorreram, baixo e piano abrem “The Sultan”. O coral, acompanhado pelo violino e pela marcação do baixo, entoa um tema triste, abrindo espaço para os vocais de Camp, que canta as duas primeiras estrofes acompanhado por violão, baixo e piano, com pequenas intervenções da flauta. Haslam surge cantando uma frase junto de Camp, trazendo coral e bateria. Dunford continua a letra, contando que um dia chegou a jovem Scheherazade ao templo do sultão assassino de esposas, para se casar com o rei árabe, com intervenções de fagotes, harpa e cordas. Haslam novamente canta uma frase ao lado de Camp e somos hipnotizados pelo emocionante arranjo de coral e cordas que leva ao tema principal, com Camp e Haslam cantando juntos o início das histórias de Scheherazade, contando lendas que duraram mil e uma noites, para poder escapar da morte.
John Tout |
Coral, Haslam e Camp cantam o nome da princesa, envoltos por flautas, baixo, piano, cordas e um tímido andar da bateria, passando por uma breve ponte instrumental, que nos entrega “Love Theme”, a qual começa apenas com o dedilhado do piano de Hawken, fazendo um bonito tema, simulando escalas orientais. O mesmo tema então é repetido pela orquestra, acompanhado por baixo, bateria, violões e piano, com os metais sendo responsáveis por construir a primeira parte da melodia, deixando para as cordas a segunda parte, fazendo brotar pequenas lágrimas no canto dos olhos do ouvinte, tamanha a beleza do arranjo criado pelos britânicos.
Haslam então surge com sua cristalina voz para fazer as vezes de Scheherazade contando a primeira história ao sultão em “The Young Prince and the Princess”, tendo apenas o violão de Dunford fazendo um triste dedilhado ao fundo, e pequenas intervenções do oboé. A voz de Haslam é angelical e ao mesmo tempo arrepiante. Como uma pequena mulher podia ter tanta voz em seu corpo é uma pergunta inexplicável. Cordas e fagotes passam a acompanhar o violão e a voz de Haslam, aumentando o ritmo do conto, para a bateria surgir, voltando ao ritmo de “Love Theme”, com Haslam entoando longas vocalizações.
Terence Sullivan |
A canção é interrompida brevemente para dar início a “Festival Preparations”, a mais longa das partes instrumentais de “Song for Scheherazade”. Lentamente, harpa, flauta e percussão fazem um sinistro tema, acompanhados por cordas, que explodem em acordes rápidos, sobrepostos por coral e metais, construindo um ambiente tenso, grandioso, para piano, baixo e bateria colocarem a casa em ordem. O tema do piano, com o acompanhamento de baixo, bateria e piano, apresenta outro belo tema, feito pelas cordas, em uma escala tipicamente oriental, com intervenções vocais e de solos de metais ou flautas.
O crescendo desse trecho da canção, com vocalizações femininas e masculinas, mescladas com um tímido solo de flauta, nos leva a um sensacional solo de flauta, acompanhado apenas por violão, baixo e piano e finalmente, ao trecho final de “Song of Scheherazade”, começando com a bela “Fugue for the Sultan”, tendo o piano como destaque, no único momento que relembramos a composição de Rimsky-Korsakov. O solo de piano é quebradiço, posteriormente acompanhado pelas cordas e metais em um duelo sensacional do oboé e do piano.
Annie Haslam |
O tema central de “The Betrayal” é repetido em “The Festival”, porém com mais variações, principalmente com a inclusão de um novo tema feito por baixo e metais, trazendo o violão de Dunford e percussões para acompanhar a voz de Haslam contando sobre o casamento de Scheherazade com o Sultão, que deixará a esposa viver, com uma incrível participação vocal, fazendo da voz realmente um instrumento repleto de variações de notas.
Camp surge cantando junto de Haslam, e ambos entoam a terceira estrofe de “The Festival”, quase perdendo o fôlego em longas e complicadas frases acompanhadas apenas por violão, piano, baixo e bateria, e sem sombra de dúvidas, o destaque maior vai para os vocais de Haslam.
Renaissance ao vivo na turnê de Scheherazade and Other Stories |
Um longo rufar brinda-nos com o coral e os metais de “Finale”, majestosos, preenchendo o coração do ouvinte com a repetição da última estrofe de “The Sultan” cantada por Haslam e Camp, e encerrando com repetições do nome da princesa por diversa vezes, tendo um sensacional crescendo do coral, enquanto Camp, Tout e Sullivan mantém o ritmo tradicional da canção, aglomerando-se as intervenções dos metais, para Haslam soltar um impressionante agudo e assim, “Song of Scheherazade” encerrar-se com a repetição do tema inicial da canção, feito por piano e oboé, acompanhados por um longo entoar das cordas.
O disco foi o mais bem sucedido da carreira do Renaissance, alcançando a quadragésima sexta posição nos Estados Unidos. A gigantesca turnê de promoção acabou sendo registrada no essencial Live at Carnegie Hall (1976), no qual “Song of Scheherazade” acabou ganhando todo o lado C. Ainda em 1975, os britânicos marcaram presença entre os cinco nomes da música mais lembrados daquele ano, assim como Annie Haslam recebeu o prêmio de melhor performance vocal por causa de Scheherazade and Other Stories.
Renaissance 2011 |
Outras maravilhas prog sairam posteriormente da cabeça de Dunford e cia., principalmente nos álbuns Novella (1977) e A Song for All Seasons (1978). Depois, o Renaissance foi se desintegrando pouco a pouco, até acabar definitivamente em 1983, lançando o contestado mas não ruim Time-Line. Várias foram as tentativas de um retorno, até que em 2009, Annie Haslam e Michael Dunford voltaram a fazer shows com uma nova formação, tendo além da dupla, os tecladistas Rave Tesar e Jason Hart, o baixista David Keyes e o baterista Frank Pagano, chegando a registrar em 2011 um DVD e um CD ao vivo (Renaissance Tour 2011 – Turn of the Cards and Scheherazade & Other Stories Live In Concert), que contém os dois álbuns na íntegra, e é uma boa pedida para conferir ao vivo a maravilha prog dessa semana.
Uma suíte sensacional, com provavelmente a melhor performance vocal de Annie em sua carreira! Grande lembrança!