Cinco Discos Para Conhecer: Nikki Sixx
Por Pablo Ribeiro
Frank Carlton Serafino Feranna Jr. nasceu em San Jose (California), em 11 de dezembro de 1958. Descendente de italianos, teve uma infância e adolescência conturbada, incluindo aí assaltos, roubos, uso de entorpecentes e vandalismo… Realidade até comum para jovens suburbanos dos EUA. Mas Frank era um garoto peculiar e incomum. O rapaz, que já no começo da adolescência usava salto alto, laquê e calças justas (inspirado pelos grupos glam/glitter ingleses dos anos 60 e 70) e roupas rasgadas (estética das bandas punk, que também admirava), decidiu, a certa altura, que “Frankie” não existia mais, dando, a partir dali, lugar a Nikki Sixx, pseudônimo da maior mente criativa por trás do monstro Mötley Crüe!
Antes de formar o quarteto, no começo da década de 80, Sixx havia trabalhado com Blackie Lawless (que logo depois formaria o W.A.S.P), gravando algumas demos. Mas foi mesmo com o Crüe que Nikki mostrou a que veio… Control freak assumido, desde o começo o baixista (influenciado por Kiss, Judas Priest e Sex Pistols – inclusive visualmente) tomou as rédeas do grupo, definindo seus rumos musicais e estéticos em suas mais de três décadas (e contando) de existência. Nem sempre as direções tomadas por Sixx foram bem recebidas pelos fãs e público em geral (vide o famigerado Generation Swine, por exemplo), mas sua postura manteve-se sempre a mesma frente às opiniões alheias: Nunca deu a mínima! E poderia esperar nada diferente de um sujeito que consumiu heroína em quantidade suficiente para cobrir o Oceano Pacífico (e morreu e ressuscitou por isso), passou a vara na mulher de Bruce Dickinson (e deste, ganhou uma música em “homenagem”) e conseguiu manter baixa a bolinha de marginais (por opção ou falta dela) do naipe de Vince Neil, Mick Mars e Tommy Lee, segurando a onda do Mötley por anos a fio e sobreviveu a uma longa turnê ao lado de Ozzy Osbourne no auge de sua loucura (20 e tantos anos antes do cantor agir como retardado em rede nacional)?
Além do Crüe, Sixx aventurou-se por outros projetos musicais (além de livros e programas de rádioe e televisão) e tornou-se, junto com Tommy Lee – por razões diferentes – o mais popular e público dos integrantes do Mötley Crüe. Passemos então para uma geral no que o cara cuspiu em termos musicais durante sua carreira, dando uma ideia de como conhecer melhor essa figura ímpar do hard rock.
Mötley Crüe – Shout at the Devil [1983]
Lançado em setembro de 1983, Shout at the Devil mantém-se como a obra-prima do quarteto formado por Sixx, seu “terror twin” Lee (bateria), Neil (vocais) e Mars (guitarra). Aqui estão maravilhas essenciais do quilate de “Too Young to Fall in Love”, “Looks That Kill”, ambas com videoclipes impagáveis, bem ao estilo anos 80. O segundo, inclusive, parecidíssimo com “Lick It Up”, do Kiss, presente no disco homônimo dos caras, que aliás, saiu no mesmo mês e ano de Shout…. Essenciais também são “Knock ‘Em Dead Kid”, “Red Hot” e a fantástica faixa-título. Destacar uma ou outra canção em detrimento das outras é até injusto, uma vez que o disco inteiro é fantástico. Até o cover de “Helter Skelter”, composição de Paul McCartney, merece menção. E olha que regravar um classicaço desse não é lá a mais fácil das tarefas… No começo da década de 2000, Shout at the Devil foi relançado com cinco canções bônus (em versão demo), fazendo deste álbum, já essencial em qualquer discografia que se preze, um item obrigatório!
1. In the Beginning
2. Shout at the Devil
3. Looks That Kill
4. Bastard
5. God Bless the Children of the Beast
6. Helter Skelter
7. Red Hot
8. Too Young to Fall in Love
9. Knock ‘Em Dead Kid
10. Ten Seconds to Love
11. Danger
Formação: Vince Neil (vocais); Mick Mars (guitarra); Nikki Sixx (baixo); Tommy Lee (bateria)
Mötley Crüe – Live: Entertainment or Death [1999]
O poderio do Mötley Crüe em cima do palco é inevitável, um dos fatores que catapultaram a banda ao estrelato, principalmente nos anos 80, e nesse disco isso fica muito claro. Abrangendo toda a carreira da banda, desde seus primeiros anos com músicas do primeiro disco, Too Fast For Love, de 1981, até Dr. Feelgood, de 1989, Live: Entertainment or Death traz ao todo 22 músicas em pouco mais de uma hora e meia, o suficiente para configurar um belo de um soco no estômago – e um sorrisão na cara – do ouvinte. Estão lá todos os clássicos dos cinco primeiros discos dos caras, não por acaso aqueles que figuram na tal “fase clássica do conjunto”. Além das canções citadas em Shout at the Devil, há as obrigatórias “Live Wire”, “Public Enemy #1”, “Piece of Your Action”, “Don’t Go Away Mad (Just Go Away)”, “Same Old Situation (S.O.S)”, “Girls, Girls, Girls”, “Kickstart My Heart” e todas as outras que farão a alegria dos fãs e apreciadores de música boa. Destaque também para a performance dos músicos, que a despeito das toneladas de drogas e tonéis de álcool, seguram muito bem a onda, esbanjando energia!
Disco 1:
1. Looks That Kill
2. Knock ‘Em Dead Kid
3. Too Young to Fall in Love
4. Live Wire
5. Public Enemy #1
6. Shout at the Devil
7. Merry-Go-Round
8. Ten Seconds to Love
9. Piece of Your Action
10. Starry Eyes
11. Helter Skelter
Disco 2:
1. Smokin’ in the Boys Room
2. Don’t Go Away Mad (Just Go Away)
3. Wild Side
4. Girls, Girls, Girls
5. Dr. Feelgood
6. Without You
7. Primal Scream
8. Same Ol’ Situation
9. Home Sweet Home
10. Kickstart My Heart
Formação: Vince Neil (vocais); Mick Mars (guitarra); Nikki Sixx (baixo); Tommy Lee (bateria, piano)
58 – Diet For a New America [2000]
Fãs xiitas do Mötley Crüe, passem longe! Bem diferente da banda principal de Sixx, o 58 (sim, esse é o nome do grupo), mescla um pouco daquele rock “alternativo” do norte dos EUA, ainda influenciado pelos restos mortais de algumas bandas de meados dos anos 90, com aquela vibração ensolarada presente nas regiões ao sul da terra do Tio Sam. Tudo isso sem deixar de lado a veia glam de Nikki. Os próprios caras se definiram como “uma mistura de glam, hip hop, pop, funk e um acidente de carro”. Faz certo sentido, embora os elementos funk e hip hop estejam em menor escala, servindo mais como um “tempero” do que parte fundamental das canções. Participam do grupo, alem de Sixx, Steve Gibb (filho de Barry Gibb, dos Bee Gees) nos vocais e guitarras, e Bucket Baker na bateria. A produção de Diet For a New America ficou a cargo de Dave Darling, famoso por seu trabalho com os Stray Cats. O 58 durou pouco (antes de acabar, ainda lançaram um videoclipe legal para “Piece of Candy”) e não agradou os fãs do Crüe e de hard rock em geral, mas é um disco bem bacana e descompromissado, que mostra uma faceta até então desconhecida de Nikki Sixx.
1. Don’t Laugh (You Might Be Next)
2. El Paso
3. Piece of Candy
4. Shopping Cart Jesus
5. Queer
6. Song to Slit Your Wrists By
7. Stormy
8. Killing Joke
9. All My Heroes Are Dead
10.Alone Again (Naturally)
11.Who We Are
Formação: Steve Gibb (guitarra, vocal); Nikki Sixx (baixo); Bucket Baker (bateria)
Brides of Destruction – Here Comes the Brides [2004]
Lançado no meio do hiato criativo de oito anos do Mötley Crüe, Here Comes the Brides agradou uma enorme parcela de fás da banda e do trabalho de composição de Sixx. Justo, uma vez que o álbum, em seus pouco mais de 45 minutos, traz canções hard sujas e energéticas, próximas do material mais recente do Crüe, com um acento punk mais evidente, mas ainda assim com doses glam generosas e músicas empolgantes, bem “na cara”. Destaque também para a banda, praticamente um supergrupo hard/glam. Fazem parte das fileiras, além de Sixx no baixo e vocais, Tracii Guns (guitarrista que, junto com Axl Rose, fundou o Guns N’ Roses no começo da década de 80, ao juntar uma formação inicial de seu L.A. Guns com o Hollywood Rose de Axl. Tracii cairia fora do grupo antes do lançamento do primeiro disco dos caras, dando lugar a Slash), Scot Coogan nas baquetas – responsável por trabalhos com Ace Freheley, Stephen Pearcy (Ratt), Lynch Mob (de George Lynch, ex-Dokken), entre outros –, além do então novato vocalista London LeGrand (que não por acaso, lembra Axl Rose em algumas passagens). Time de primeira pelo menos no instrumental, que ainda conta com participações de John Corabi (ex-Scream e ex-Mötley Crüe, demitido na ocasião pelo próprio Sixx) tocando guitarra em todas as faixas, e Kris Kohls (Adema) tocando bateria em quatro faixas. Das nove músicas do álbum, três têm crédito de autoria para James Michael, que viria a formar outra banda com Sixx. Fãs de Mötley Crüe, L.A. Guns e Guns N’ Roses, dêem uma conferida!
2. I Don’t Care
3. I Got a Gun
4. 2x Dead
5. Brace Yourselves
6. Natural Born Killers
7. Life
8. Revolution
9. Only Get So Far
10.Alone Again (Naturally)
11.Who We Are
Formação: London LeGrand (vocal); Tracii Guns (guitarra); Nikki Sixx (baixo); Scott Coogan (bateria, vocal na faixa 7); John Corabi (guitarra); Kris Kohls (bateria nas faixas 3, 6, 8 e 9)
Sixx:A.M. – The Heroin Diaries Soundtrack [2007]
Como o próprio título entrega, o disco de estreia do Sixx:A.M. é uma trilha sonora. Trilha essa que acompanha o livro que dá nome ao álbum, e trata de um ano na vida de Sixx, o mais negro de toda sua existência, quando o vício em heroína quase o matou e por pouco não acabou com o Mötley Crüe e a vida social e artística do músico. Assim como o livro, o disco é excelente, complementando a obra escrita e dando uma boa ideia do que o cara passou! Nas 13 músicas (incluindo interlúdios narrados) do álbum (cada uma correspondente a um mês do ano narrado, de dezembro de 1986 a dezembro de 1987), o que temos é aquele hard rock melancólico, mas com bastante energia, cheio de composições sólidas e bem executadas. Em termos de estilo, as canções se situam entre o que Nikki tem feito no Mötley desde meados dos anos 90 para cá, mas consideravelmente mais dark. Os vocais de James Michael contribuem bastante para isso, lembrando algo de bandas como Adema e Trapt, e o guitarrista DJ Ashba (que depois também viria a integrar o Guns N’ Roses), uma espécie de Mick Mars alienígena… Sujeito estranho mesmo! A bateria é eletrônica, mas sem prejudicar o material (ao vivo, convidados dão conta do recado). Depois desse, o grupo ainda lançou três EPs e um outro álbum, o bom This Is Gonna Hurt (2011), também uma espécie de trilha sonora, dessa feita para um livro de fotografias – campo em que Nikki não acertou, pelo menos por enquanto – bem bacana, mas The Heroin Diaries Soundtrack ainda é superior e mais impactante. Um dos melhores lançamentos de Nikki em anos!
1. X-Mas in Hell
2. Van Nuys
3. Life Is Beautiful
4. Pray For Me
5. Tomorrow
7. Intermission
8. Dead Man’s Ballet
9. Heart Failure
10.Girl With Golden Eyes
11.Courtesy Call
12. Permission
13. Life After Death
Formação: James Michael (vocal, guitarra, teclados, programação de bateria); DJ Ashba (guitarra); Nikki Sixx (baixo)
Com uma carreira tão extensa e prolífica, é praticamente impossível abranger tão bem toda a obra de um cara como Sixx. De qualquer forma, serve como o ponto de partida para se conhecer essa verdadeira lenda do hard rock!
Vixe, uns fãs dele (e de outros) quase me escalpelaram por que eu disse (no blog) que ele era meio andrógeno, shuashua, que besteira, isso não é chiangamento, todo mundo sabe que eu gosto do Motley Crue.
Nikki Sixx é um rock star na acepção mais clássica do termo. Digo mais, e sei que muitos podem discordar: Nikki Sixx e Tommy Lee são tão rock stars quanto caras como Steven Tyler e Joe Perry, só não são tão reconhecidos como tal por uma questão temporal, isto é, surgiram em eras diferentes, e a boa vontade da imprensa para com a dupla do Mötley Crüe sempre foi bem menor, dado o preconceito evidente com o hard rock oitentista. Digo mais ainda: ao contrário do Aerosmith (que fez coisas geniais, jamais negarei), o Crüe nunca se acomodou em uma fórmula, como o Aerosmith faz desde o final dos anos 80, ou repousou sobre as glórias passadas. Aceitou o final dos anos 80 e seguiu adiante, acumulando erros mas também belos acertos.
Entre os selecionados, óbvio destaque para "Shout at the Devil", melhor representante possível dos tempos de Nikki com o Crüe, mas também merece muitos elogios seu trabalho com o Sixx:A.M. em dois ótimos discos, praticando uma sonoridade que me conquistou, junto a dois caras também muito talentosos. Até quem detesta o Mötley Crüe deveria dar uma chance à banda, que fez um dos discos mais legais do ano passado, "This Is Gonna Hurt".