Discografias Comentadas: Judas Priest – Parte III

Discografias Comentadas: Judas Priest – Parte III

Por Amancio Paladino

Caros leitores, convido-os a acompanhar a última parte da revisão da discografia do Judas Priest. Vamos lá pois ainda tem “muita cabeça” pra rolar por baixo dessa ponte!

Logo após o término da turnê de PAINKILLER, Halford deixou a banda. Os motivos nunca ficaram 100% claros, mas vale admitir que as “tensões musicais” entre os membros se tornaram extremas, e esse processo levou à saída de um dos mais famosos frontmen do Metal em maio de 1992. Uma explicação clássica para uma situação clássica… Em 1996 foi anunciado que Tim “Ripper” Owens substituiria Halford, uma aposta audaciosa, já que Owens era apenas um vocalista de uma banda tributo do Priest chamada British Steel. A escolha em minha opinião foi extremamente acertada. Ripper Owens tem uma voz excepcional e realmente tinha condições de fazer frente ao desafio.


Jugulator [1997]

O primeiro álbum dessa nova fase do Judas foi lançado em 1997. A temática, talvez mais pesada que nos álbuns anteriores (como se isso fosse possível), rodou entre descrever o incrível monstro Jugulator, abduções violentas por extraterrestres, execuções por pena de morte, decapitações e o fim do mundo, entre outros assuntos “leves”. Apesar da temática, as músicas se apresentaram muito boas. Gosto muito de ouvir “Blood Stained”, com um refrão excelente. “Burn in Hell” também é bem agradável, seguida por “Bullet Train” que concorreu a um prêmio Grammy em 1998. “Brain Dead” trata de um assunto bastante polêmico: a eutanásia de pessoas com morte cerebral. A música gera grande desconforto ao nos confrontar com a situação de alguém que supostamente apresenta consciência, mas não tem nenhuma forma de contato com o mundo.

O peso das músicas também foi garantido pelas guitarras, que se apresentaram afinadas em Drop, Db ou C#, o que trouxe uma sonoridade mais moderna e ao mesmo tempo mais pesada. A recepção ao álbum pelo público em geral foi morna. Alguns o acharam direto demais, outros o acharam um rompimento completo com toda história do Judas, num movimento típico de pré-decadência. Enfim… Se fosse possível resumir Jugulator em uma palavra ela seria CHOCANTE.

Claramente Ripper Owens estava procurando seu espaço dentro da banda e principalmente com os fãs, que fatalmente compararam sua performance com a de Halford. Na prática, a mudança na sonoridade ajudou na assimilação de Ripper como frontman, gerando uma ruptura com o passado e ao mesmo tempo uma boa promessa para o futuro. Da turnê de promoção desse álbum foi lançado ’98 Live at Meltdown (1998), o primeiro dos dois álbuns ao vivo com Owens nos vocais.


Demolition [2001]

Segundo e último disco com Ripper Owens, Demolition traz ainda mais novas sonoridades, que continuaram a ser exploradas com a inserção de elementos quase rap e batidas mais pop. Particularmente, fui ao show dessa turnê em São Paulo no Credicard Hall, não conhecia todas as faixas deste CD até então, e saí da exibição determinado a comprar o mesmo o mais rápido possível.

Um disco excelente, sendo impossível compará-lo a outros trabalhos da banda, apesar de alguns críticos afirmarem que ele representou uma tentativa de retorno aos antigos “valores” do Priest.. Pode até ser que a volta aos valores tenha se dado nas letras, porém as harmonias, o uso de sons industriais e teclados fizeram deste exemplar muito superior ao anterior. “Bloodsuckers” é a melhor do disco: a música começa com sussurros soturnos, seguidos das guitarras duplas detonando num riff sensacional. “Subterfuge” também se destaca pela sua letra questionadora, seguida de “Feed on Me”, que abusa de teclados e efeitos. Ao final, “Metal Messiah” fecha o trabalho com chave de ouro. Se Halford é o “Metal God”, Ripper Owens seria o “Metal Messiah”? Só o tempo responderia.

O fato é que Halford, depois de uma excelente experiência na banda Fight e também em sua carreira solo, retornou ao Priest em 2003. Ripper Owens saiu de forma amistosa, passando a integrar o grandioso Iced Earth. Live in London (2003) foi o segundo disco ao vivo de Owens com o Judas Priest, tendo sido gravado exatamente na turnê de Demolition.

O belo palco da turnê de Nostradamus.

Angel of Retribution [2005]

O décimo quinto álbum de estúdio da banda marcou o retorno de Halford aos vocais do Priest em grande estilo, e com direito até a uma nova aparição do anjo metálico, outrora PAINKILLER, na capa. O disco atingiu a posição de número treze na Billboard logo após seu lançamento, segunda posição mais alta já atingida pela banda nesse ranking. Coincidência ou não, o álbum foi produzido por Roy Z, que tantas alegrias nos deu ao lado do lendário Bruce Dickinson.

Além de ter produzido o álbum, Roy Z escreveu a música “Deal With the Devil”, que tem a pretensão de ser uma biografia da banda, contando suas origens na região central da Inglaterra. O disco também é recheado de referências líricas a outras músicas da banda. “Judas is Rising” é uma clara alusão ao retorno de Halford. “Demonizer” faz referências a “Hellion” e a “Painkiller”. Já “Hell Rider” menciona “Ram It Down” e “Tyrant”, do antigo Sad Wings of Destiny (1976). “Eulogy” traz referências a Stained Class e Defenders of the Faith, e, finalmente “Worth Fighting For” é uma sequência de “Desert Plains”.

Todas as músicas são excelentes, mas destaco “Wheels of Fire”, que tem, de alguma forma, muito do aprendizado de Halford no Fight. Um excelente disco que vale a pena ser ouvido. Realmente um exemplo do poder de renovação do Judas Priest, um dos últimos bastiões do puro e perfeito Metal.


Nostradamus [2008]

O último álbum de estúdio da banda é completamente conceitual. Seu foco, obviamente, é a vida do eterno profeta Nostradamus, no século XVI. Foi marcado por uma turnê de lançamento que contou com a presença de Motörhead, Heaven and Hell e Testament. Se o álbum anterior demonstrou a capacidade do Judas Priest de se renovar, este disco demonstrou que sua capacidade de inovar ainda estava no pico.

O uso de orquestrações, teclados e coros foi intenso. K.K. Downing comentou que todo trabalho ficou com mais de 90 minutos, e ninguém foi capaz de cortar nenhum trecho, tamanha a dedicação e perfeição da banda em apresentar um de seus melhores resultados. O público reconheceu fortemente este trabalho, que atingiu a posição de número 11 na Billboard, posto mais elevado já atingido pela banda em toda sua história. Foi lançado em três configurações, a saber: um CD cuplo, um CD de luxo, com capa dura e um livreto de 48 páginas, e uma versão “super luxo”, em vinil, com o mesmo material do CD de luxo em “tamanho real”. A música-título ficou disponível para download no site da banda em abril de 2008 e certamente foi uma das mais baixadas pelo público, ávido por novidades. Efetivamente, eleger algumas músicas deste primoroso trabalho é impossível, já que todas são excelentes e formam um conjunto sólido sobre a vida do profeta e suas visões.

Para conhecer um pouco mais de Nostradamus, leia essa matéria publicada na Consultoria do Rock. Um álbum digno o suficiente para coroar a carreira de K.K. Downing, que após a turnê deixou a banda para se aposentar. Um apanhado das turnês em 2005, 2006 e 2008, foi registrado no ótimo ao vivo A Touch of Evil: Live, lançado em 2009 e com diferentes faixas-bônus no Japão e na Rússia, tornando-se uma ótima peça para os colecionadores.

Judas Priest na turnê “Epitaph”, com o guitarrista Richie Faulkner.

Posteriormente ao lançamento do álbum e de sua turnê, o Priest anunciou a turnê “Epitaph”, que recentemente passou pelo Brasil e deixou os fãs enlouquecidos com os grandes sucessos executados, relembrando mais de 40 anos de uma carreira constante e sólida, porém contando com o guitarrista Richie Faulkner no lugar de K. K. Downing, que saiu do grupo em 2011.

É certo que grande parte do sucesso do Priest veio de seus membros mais importantes e que efetivamente formam sua linha mestra: Ian Hill no baixo, K.K. Downing e Glenn Tipton, esses últimos uma das maiores duplas da guitarra em todos os tempos, além do insano Scott Travis, que desde PAINKILLER tornou-se o baterista “oficial” da banda, e finalmente o “Metal God”, o incrível, o destruidor Rob Halford e seus agudos cortantes.

Espero ter agradado a todos os fãs do Priest e ter acendido a vontade de ouvir naqueles que não os conhecem bem como naqueles que apenas cogitam começar. Fiquem tranquilos, porque é como sempre digo: Judas Priest não tem erro, é o filé do Metal.

7 comentários sobre “Discografias Comentadas: Judas Priest – Parte III

  1. Esses quatro discos juntos são melhores que todos (eu disse todos mesmo, incluso o Painkiller que animalesco) os dos anos 80. Demolition é essencial em qualquer discografia que se preze, e cara, Nostradamus é talvez o melhor disco da década passada. PArabens pela sequencia de resenhas Amancio, e que muitos apreciem Judas como deve ser ouvido

    1. Não exagera Mairon! Os discos dos anos 80 do Judas com exceção do Point of Entry são impecáveis, incluindo aí o injustiçado Ram it Down, um dos melhores discos da banda.

      1. Eu até gosto do Ram it Down (volto a insistir dizendo que aquela versão de “Johnny B Goode” feita pelo Priest é horrorosa), é um bom disco, mas assim como Turbo, Rocka Rolla e Point of Entry, não é tão excelente quanto os mais clássicos da banda.

  2. Nostradamus eu comprei em mídia física, duplo, com aquele encarte maravilhoso e sem dúvida está entre meus álbuns preferidos de todos os tempos. Uma obra prima.

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