Discos que Parece que Só Eu Gosto: Metallica – Load [1996]
Por Bruno Marise
É compreensível o choque que os fãs do Metallica levaram em 1996, quando, depois de cinco anos sem lançar material novo, chegou às lojas Load. A primeira torcida de nariz foi com as fotos da contracapa, nas quais a banda aparecia de cabelos curtos, e por isso já foram taxados de traidores pela ala mais conservadora. O disco foi massacrado sem dó pela grande maioria, dizendo que seus ídolos haviam se vendido. Sim, tudo isso é aceitável vindo dos fãs mais xiitas de metal e da própria banda, o que não se pode admitir é a opinião de certas pessoas que só vão na onda, sem nem sequer ter escutado a bolacha. Mas vamos por partes.
Um dos principais argumentos usados para sabatinar o disco é o de que o Metallica não fazia mais thrash metal. Sim, é verdade. Load não é um disco thrash. A banda já havia deixado a vertente de lado no trabalho anterior, o bem sucedido Black Album (1991), dando mais ênfase nos grooves das guitarras e diminuindo a velocidade já conhecida nos trabalhos anteriores. A aposta deu certo e o álbum tornou-se um dos mais vendidos da história.
Portanto, é natural que o Metallica seguisse o caminho e continuasse a buscar novos horizontes para o seu som. Apesar de ser mais acessível, o Black Album estava longe de ser “pop”. O peso e a agressividade continuavam, e a qualidade também era altíssima. Load segue a verve mais cadenciada de seu predecessor, porém um pouco menos “heavy”. Nem por isso o disco deixa de ser pesado. Os riffs continuam ali e a cozinha permanece afiada. Ainda é uma obra de heavy metal, mas com pitadas de hard e até stoner rock, que exploram um lado diferente de Hetfield, Hammet, Ulrich e Newsted. Entende-se o estranhamento da parcela mais conservadora, que talvez esperasse algo na linha de Ride the Lightning (1984) ou Master of Puppets (1986), mas não ser thrash não torna o disco pior.
Existem vários pontos positivos a destacar em Load. James Hetfield mostra que, além de seus berros roucos, também sabe cantar, e tem uma ótima voz. Os solos também marcam presença, e Kirk entrega uma grande performance em várias músicas, evidenciando ainda mais sua vertente melódica e criatividade, como veremos mais adiante. A produção assinada por Bob Rock é impecável, deixando o som bastante polido, sem perder o peso. Para tentar explicar melhor o porquê de Load não ser a porcaria que muitos acreditam, vamos destrinchar algumas das melhores faixas do disco:
“Ain’t My Bitch” abre a bolacha com uma intro bastante pesada, refrão grudento e Kirk fazendo o solo com timbre de música country. Na sequência temos “2 x 4” com seu riff digno de Black Sabbath, em uma levada mais cadenciada. Depois vem “The House that Jack Built“, com mais um refrão pegajoso e o solo feito com talkbox. A faixa mais “pop” do disco é a melancólica “Until It Sleeps“, ao lado da balada acústica “Mama Said” e de “Hero of the Day“, que começa lenta (com James mostrando sua versatilidade como vocalista) e vai ganhando mais e mais peso. Temos ainda a minha faixa preferida do disco, “King Nothing”, com um refrão poderoso e o melhor solo de Load, com bastante uso de wah-wah. É possível destacar ainda “Torn Within” e seu riff brutal, que poderia facilmente ter saído do Black Album, e a excelente “The Outlaw Torn” com uma melodia pegajosa e um solo impecável, que começa devagar, com slides e efeito delay, e vai ganhando corpo.
É claro que Load não é um disco perfeito e nem se equipara aos grandes clássicos do Metallica, mas está longe de ser ruim. Deve-se ter mais paciência e ouvi-lo sem preconceito e com mais boa vontade ao invés de simplesmente execrá-lo sem dar á devida atenção, só por comentários de terceiros. Com certeza seria um destaque na discografia de qualquer banda menor.
Não se deve condenar um artista por buscar novos caminhos. É lamentável quando algum grupo muda ou “amacia” sua sonoridade para vender mais ou agradar executivos de gravadora. O Metallica buscou sim um caminho mais acessível, mas nunca deixou o peso e a qualidade de lado (exceto em St. Anger (2003), esse sim um grande equívoco da banda), portanto, é louvável que tenham tentado expandir sua criatividade e experimentar novos sons. Se você é daqueles que torce o nariz só de ouvir falar em Load, dê mais uma chance e ouça o álbum com carinho, e vai perceber que não é assim tão ruim como pensa.
Track list
- Ain’t My Bitch
- 2 x 4
- The House that Jack Built
- Until It Sleeps
- King Nothing
- Hero of the Day
- Bleeding Me
- Cure
- Poor Twisted Me
- Wasting My Hate
- Mama Said
- Thorn Within
- Ronnie
- The Outlaw Torn
Mesmo preferindo a fase thrash, hero of the day, king nothing, ain't my bitch e until it sleeps são algumas das minhas músicas preferidas do Metallica.
O Load e o Reload têm uma proposta até bacana. O problema, pra mim, é que ficam cansativos lá pela metade do disco.
Tem um período nos anos 90 quando as bandas dos anos 80 se deixaram influenciar pelo grunge e sairam alguns resultados interessantes, como o Subhuman Race (Skid Row) e o Motley Crue de 94.
Daniel disse tudo. Se fossem mais curtos, seriam discos de excelência. Mas estão longe de serem as bombas que dizem por aí
É verdade, o pre julgamento é grande, mas mesmo assim eu não o considero digno do Metallica. O contrario (isso é so gosto pessoal) acontece comigo no Death Magnetic, que eu acho um bom disco, mas não tanto quanto falam dele.
espero que hoje, 10 anos depois, você reconheça melhor a qualidade do Load
Disquinho meia-boca! Tirando a excelente THE HOUSE THAT JACK BUILT, que infelizmente a banda ignora e não toca ao vivo, e outras duas ou três músicas que, com muita boa vontade, dá para deixar passar, o resto é muito sem sal…
Sem sal é quem te colocou no mundo!!! Load é incrível!!!
O Metallica virou emprego para seus integrantes. Isso é algo muito perceptível nas performances ao vivo e nos discos lançados desde 2003. Deve ser horrível estar em uma banda e encarar o sonho de infância como um trabalho num escritório de contabilidade. Talvez Load e Re-Load sejam os últimos trabalhos lançados quando os integrantes ainda se divertiam como uma banda. Pessoalmente, não me importo com esses discos o suficiente para dizer se são injustiçados ou não. Sei que são menos insuportáveis que os discos lançados depois. Mas aí, até o Weezer lançou discos mais legais que St. Anger, Death Magnetic e outras tranqueiras que o Metallica andou lançando.