Review Exclusivo: Los Hermanos (Porto Alegre, 13 de maio de 2012)

Review Exclusivo: Los Hermanos (Porto Alegre, 13 de maio de 2012)

Por Mairon Machado

Um show do Los Hermanos não é um espetáculo qualquer, daqueles que contam com uma banda no palco, um público que canta os grandes sucessos e aprecia as demais canções, até conversando vez ou outra com a pessoa ao lado, e no qual há um contato direto entre o vocalista com o público, soltando palavras para a plateia como “É maravilhoso estar aqui, vocês são a melhor plateia do mundo, etc”.
Sucessos, o Los Hermanos só teve dois: “Anna Julia” e “Primavera” (ambas do primeiro disco, Los Hermanos, lançado em 1999). O comportamento de Marcelo Camelo (vocais, guitarra, baixo) e Rodrigo Amarante (vocais, guitarra, baixo) é tão distinto entre si que cada vez que um deles assume o microfone, parece que ouvimos outro show. Mas isso não faz a mínima diferença, pois é exatamente isso que caracteriza o som da banda, que vem arrebatando mais e mais fãs desde que encerrou atividades, em 2007, sendo que os fãs que já haviam sido conquistados no período entre 1998 e 2006 permanecem gastando suas cordas vocais como no início da década passada.

Tive a oportunidade de ver o Los Hermanos em 2003, quando o grupo havia mergulhado na obscuridade após o sucesso de “Anna Julia”. O álbum Ventura, lançado naquele mesmo ano e tido pela maioria dos fãs como o melhor da carreira da banda, mesclava samba e composições regadas de melodias intrincadas, harmonias belíssimas e complexamente trabalhadas para acompanhar as letras pensativas de Camelo e Amarante.

Em 2005, vi o grupo no auge de sua fama obscura, durante a turnê do álbum 4. A insanidade dos fãs com esse disco na época era absurda. Depressivo, triste e melancólico, 4 é para colocar qualquer palhaço de circo no choro, e apresentado na íntegra na tal turnê, fazia os locais pelos quais o Los Hermanos passava virarem um rio de lágrimas, com plateias cantando até o último segundo todas as letras do álbum, sem sequer lembrar que aquela banda era a mesma de “Anna Julia”, o grande hit que levou o Los Hermanos ao mundo, merecendo inclusive uma homenagem dos saudosos Jim Capaldi e Geroge Harrison, que regravaram a música em 2001.
Em 2006, o grupo voltou para Porto Alegre para mais uma série de apresentações, e depois, foi anunciado o fim das atividades. Esporadicamente, shows ocorreram país afora, enquanto Camelo, Amarante, Rodrigo Barba (bateria) e Bruno Medina (teclados) seguiram seus projetos individuais. Mas o tempo passou, e em novembro de 2011 foi anunciada uma turnê comemorando os 15 anos da banda, com duas datas em Porto Alegre, cidade que sempre amou o grupo, mesmo nos momentos mais “annajuliescos”. E eu assisti os dois!!
O primeiro show foi estranho, com o público ainda frio (talvez pela saudade) e curtindo o que estava sendo apresentado, explodindo mais nos clássicos. O segundo show foi bem diferente. As sete mil pessoas que superlotaram o Pepsi on Stage cantaram quase todas as músicas do início ao fim, lembrando os momentos insanos da turnê de 4, nos quais era difícil ouvir a banda, e na maioria das vezes, o microfone era voltado para o público, que levava as canções no gogó, sem errar nada.
Um show que começa com “O Vencedor”, passa por “Retrato pra Iaiá”, “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, “O Vento” e “Além do Que Se Vê” já deixaria qualquer fã de Los Hermanos sem voz. Porém, a maioria desses fãs são jovens, de uma geração paralela aos coloridos emos, menos estilizada, apesar das camisas xadrez, blazers de lã e coletes para o frio contrastando com luvas e roupas da moda. Na década de 90, esses fãs seriam chamados de mauricinhos e patricinhas, e realmente, foi esse tipo de gente que perambulou pelo local na primeira noite. 

Na segunda data, o “povão” tomou conta. Claro, as camisas xadrez e as roupas da moda estavam lá, mas também os “velhos” fãs, que ouviam o primeiro disco e quebravam o quarto com aquele hard rock fantástico, engolido por duas faixas simples que em nada condiziam com o que estava gravado em Los Hermanos. Esse início citado acima colocou as estruturas do local para teste, já que foram insanos 15 minutos nos quais todos os presentes não pararam de pular e cantar.


A velha geração foi agraciada com versões matadoras para “Azedume” e “Descoberta”. Ali, a roda punk fechou. Meninos e meninas balançavam e agitavam como se fosse o último show da sua vida, e o quarteto citado, com a parceria do indispensável naipe de metais formado pelo trio Bubu, Zacarias e Índio, além do baixista e guitarrista Gabriel Bubu, tocava com prazer, rindo e satisfazendo o ego tanto de fãs quanto deles mesmos.

Após “Descoberta”, as lágrimas das gurias (e de muitos marmanjos) rolaram durante “Sentimental”, e ficou comprovado: o Los Hermanos é uma banda muito diferente das outras, capaz de agitar no mais pesado hardcore e emocionar na mais bonita das baladas da década passada. Nela, Amarante prova que mesmo não sendo um exímio vocalista, supera essa condição cantando com as veias saltando na garganta, junto com os fãs.
O show também mostrou as diferentes personalidades de Camelo e Amarante. Enquanto o primeiro é um verdadeiro líder, estabelecendo quando as canções começam e terminam, e principalmente, sendo o foco das atenções no gigantesco telão ao fundo, o segundo é uma figuraça inigualável na música nacional. Sua tradicional dancinha do pato bêbado é uma alegria a parte, fora as caretas, as conversas indiretas com a plateia durante as canções, e os improvisos que sempre apareceram na fase áurea do grupo.


Amarante, apesar de não ser o foco principal, chama muito a atenção. Suas canções são as mais animadas, como “Um Par”, “Primeiro Andar” e “Último Romance”, mas até mesmo as canções mais tristes, como a citada “Sentimental” e “Sétimo Andar”, capturam o público pela entrega do músico carioca às suas interpretações e às músicas em si.
Poucas palavras são trocadas entre banda e plateia, quase sempre um singelo “obrigado”, com exceção da apresentação dos membros, feita durante “Conversa de Botas Batidas”, da mesma forma que no sábado. Aliás, a principal diferença entre os dois shows do que veio do palco (lembrando que no segundo dia o público agitou muito mais) foi a troca de “De Onde Vem a Calma” por uma canção da carreira solo de Camelo, a não muito interessante “Mais Tarde”. Essa e a inédita “Um Milhão” diminuiram o ritmo, mas deu para perceber que a canção inédita ainda mantém a linha depressiva de 4, e fica o aguardo se rolará um disco novo com essa canção.
“A Flor” e “Cara Estranho” fizeram tudo tremer novamente, e a primeira parte do show encerrou-se com “Último Romance”, deixando a expectativa se o bis do dia anterior ia ser repetido.
Depois de alguma demora, o quarteto voltou e mandou “O Velho e o Moço”, e aí sim, veio a matadora sequência final. Durante o bis, Amarante, cantando “Quem Sabe”,  jogou-se no meio da plateia em um dos mais estranhos stage diving que eu já vi. Praticamente pulando de cabeça no meio do público, era a consagração do que já havia começado minutos antes, quando Camelo puxou o riff de “Tenha Dó”, e o Pepsi on Stage veio abaixo, com os fãs cantando o solo inicial desse clássico do primeiro disco enquanto Bubu simulava o mesmo no trompete.
Após “Tenha Dó”, “Anna Julia” lavou a alma daqueles que, como eu, nunca tinham visto a banda tocá-la ao vivo, já que seu sucesso a afastou dos palcos. Clássico dos clássicos, foi entoada aos berros por garotos e garotas de todas as idades, e por várias vezes, Camelo afastou-se do microfone, deixando apenas a bateria e o baixo acompanharem as vozes desafinadas dos gaúchos, mas com um sentimento de êxtase que nunca vi igual em nenhum show de qualquer outra banda.


A celebração terminou com o stage diving de “Quem Sabe”, e, finalmente, “Pierrot”, a marcha de carnaval mais pesada que alguém já compôs, e fomos para casa com um sorriso nos dentes, apesar do minuano velho de guerra (vento que sopra no Sul do país), que trouxe o frio para o Rio Grande do Sul.

O Los Hermanos em duas noites superlotou o Pepsi on Stage. No total, os números divulgados sugerem mais de 14 mil pessoas somadas as duas datas, sendo que o maior público deste local até então havia sido registrado em um recente show de Bob Dylan, com 6.500 pessoas.
A sede não foi saciada, pois uma banda com quatro discos tão bons quanto o Los Hermanos ficaria no palco por no mínimo quatro horas tocando, mas deu para ver que o grupo poderia ter seguido um crescendo infinito tanto em vendas quanto em número de fãs. Esses dois shows provaram que, se o grupo tivesse se apresentado em um lugar maior, a lotação também seria a máxima.
Dificilmente a banda continuará na ativa passados os shows em comemoração aos seus 15 anos, mas, se for para vê-los com a alegria e os sorrisos que estampavam nessas apresentações em Porto Alegre, tocando canções que agradam à maioria de seus seguidores, que seja. Melhor um coelho na mão do que dois voando.


Set list:

1. O Vencedor
2. Retrato Pra Iaiá
3. Todo Carnaval Tem Seu Fim
4. O Vento
5. Além do Que Se Vê
6. Primeiro Andar
7. Morena
8. Um Par
9. Sétimo Andar
10. Azedume
11. Descoberta
12. Sentimental
13. A Flor
14. Cara Estranho
15. Condicional
16. Deixa o Verão
17. Mais Tarde
18. A Outra
19. Um Milhão
20. Casa Pré-Fabricada
21. O Velho e o Moço
22. Conversa de Botas Batidas
23. Último Romance

Encore:

24. O Velho e o Moço
25. Tenha Dó
26. Anna Julia
27. Quem Sabe
28. Pierrot

4 comentários sobre “Review Exclusivo: Los Hermanos (Porto Alegre, 13 de maio de 2012)

  1. Essa é sem duvida a pior banda que esse pais já teve. Umas músicas mal tocadas, compostas com um ar pseudo-poético irritante e com uma confusão de estilos deprimentes. Não vejo o porquê de tamanha babação por essa banda.
    Uma vez fui conferir um show que era Capital inicial e los hermanos fechando a noite. O show do Capital foi péssimo e os Los Hermanos quando começaram a primeira música o tédio foi tão grande quem nem esperei ele acabar, fui embora!

  2. Ah, eles tocam Anna Julia. Pensei que fossem tão pela-sacos que renegassem o que lhes deu o ganha pão de verdade.

  3. O pior de tudo, é que esse babaca do Marcelo Camelo, além de ser um péssimo compositor e cantor, é o queridinho dessa mídia alternativa. Pra piorar, é namorado daquela mongolóide da Mallu Magalhães, que certamente bateu a cabeça, quando era criança, e nunca mais voltoua ao normal. Eu não sei quem é mais idiota, Camelo ou a Mallu, porquê ambos, só falam asneiras. Los Hermanos é um lixo brother, não sei como alguém pode gostar dessa b….. Mas como dizem,gosto não se discute, se lamenta.

  4. Los Hermanos é a banda mais original surgida no país nos últimos anos. Fez poucos e bons discos com canções dissonantes e melodias raras no tatibitati do rock atual. O show de Fortaleza, em 21 de abril, foi contudo bastante frouxo, com os músicos errando entradas e esquecendo as letras. O público, mais interessado em cantar as letras do que em ouvir a música, não pareceu se importar. Eudes Baima

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