Cinco Discos Para Conhecer: John Wetton
Por Mairon Machado
Um dos grandes músicos do rock, o baixista John Wetton possui uma extensa discografia, seja em fase solo, seja em passagens importantes por grupos como Family, King Crimson, Uriah Heep, Wishbone Ash, Asia, Roxy Music, U.K., entre outros. Apenas uma edição da coluna é pouco para abranger tantos lançamentos interessantes, mas apresentarei aquilo que julgo ser o filé entre os álbuns com participação de Wetton no baixo e vocais.
Family – Fearless [1971]
O Family sempre foi um grupo obscuro dentre os seus companheiros britânicos, sendo inclusive difícil definir seu estilo. Alguns o classificam como progressivo, outros como rock somente, e uma vertente maior aplica o psicodelismo como principal fonte de inspiração. O fato é que em 1971, o Family estava no seu sexto disco, e o estilo ainda não era definido. A entrada do então jovem John Wetton trouxe para a banda um lado mais melódico, que acalmou os ânimos exaltados de discos como Family Entertainment (1969) e Anyway (1970). A voz de Roger Chapman soa mais rouca do que nunca, a inclusão de um naipe de metais eleva o trabalho instrumental, mas o maior destaque vai para as construções harmônicas do baixo de Wetton e da guitarra de Charlie Whitney.
Ouvir clássicos como “Between Blue and Me“, a primeira faixa do LP e que já apresenta um curto solo de baixo, o arranjo vocal de “Larf and Sing”, mais uma com Wetton estraçalhando nas linhas de baixo, a sensacional “Spanish Tide“, uma das melhores canções do Family, na qual os vocais de Wetton são apresentados com ênfase aos fãs e a jazzística instrumental “Crinkly Grin”, e o experimentalismo de “Blind”, contando com a participação de uma gaita de foile como instrumento principal, fazem pensar por que um grupo tão bom durou tão pouco (sete anos para ser preciso). O maior destaque fica para a delirante jam session “Take Your Partners“, seis minutos e vinte e nove segundos de piradas experimentações jazzísticas entre guitarra, baixo, moog e metais, com a voz de Chapman rasgando essa faixa ao meio, e as linhas de baixo de Wetton sendo o carro mestre dos alucinantes solos de guitarra e moog. Wetton ainda gravou mais um álbum com o Family, Bandstand (1973), antes de partir para o projeto que finalmente o levou ao patamar das grandes estrelas do rock tal qual conhecemos hoje, assumindo a linha de frente do King Crimson.
- Between Blue and Me
- Sat’d’y Barfly
- Larf and Sing
- Spanish Tide
- Save Some for Thee
- Take Your Partners
- Children
- Crinkly Grin
- Blind
- Burning Bridges
Formação: Roger Chapman (vocais, guitarra, percussão); Charlie Whitney (guitarras, mandolin, percussão), John “Poli” Palmer (teclados, cordas, flauta, percussão, vocais), John Wetton (guitarra, baixo, vocais, teclados) e Rob Townsend (bateria, percussão)
King Crimson – Red [1974]
Para muitos, Red é uma exploração musical do rock progressivo que fundiu (e ainda funde) a mente de muito headbanger mundo afora, apesar de não ser um disco totalmente pesado. O trio Bill Bruford, Robert Fripp e John Wetton elaborou um disco seminal dentre os álbuns do King Crimson, saindo das experimentações percussivas dos dois álbuns anteriores (Lark’s Tongues in Aspic, de 1973, e Starless and Bible Black, de 1974) e tentando tocar rock ‘n’ roll com distorção e feeling. A ideia funciona em duas canções do lado A. O baixo de Wetton está mais imponente que nunca logo na pancada inicial da faixa-título, aonde o trio conseguiu construir algo próximo da perfeição, assim como “One More Red Nightmare”, a qual traz a importante participação de Ian McDonald no saxofone. “Fallen Angel” é a exceção ao peso do lado A, e poderia ter saído de Lizard (1970), principalmente pelo belo arranjo de metais.
Do outro lado do vinil, encontramos as tradicionais explorações progs que consolidaram a carreira do King Crimson, através de “Providence“, gravada ao vivo na cidade de Providence, em 1974, com a participação de David Cross no violino, e com Wetton fugindo totalmente do tradicional, fazendo sua melhor performance no baixo dentre os discos gravados com a banda, em uma canção paranóica, esquisita e disparada a melhor da bolacha; e a linda “Starless“, com a chorosa guitarra de Fripp sendo levada pelo mellotron em outra canção que pode ser considerada a melhor do LP, tendo uma magnífica sessão instrumental de encerramento. Independente de ser pesado ou prog, o fato é que em Red você vai ouvir Wetton tocando baixo como nunca.
- Red
- Fallen Angel
- One More Red Nightmare
- Providence
- Starless
Formação: Robert Fripp (guitarra, mellotron); John Wetton (baixo, mellotron, vocal), Bill Bruford (bateria, percussão)Participação especial: Mel Collins (saxofone em 2), Robin Miller (oboé em 2), Mark Charig (corneta em 2), Ian McDonald (saxofone em 3 e 5) e David Cross (violino em 4)
Uriah Heep – High and Mighty [1976]
O Uriah Heep ficou famoso no início da década de 70 por dois álbuns que traziam letras voltadas à magia, que são os clássicos Demons and Wizards e The Magician’s Birthday (ambos de 1972). Depois disso, o grupo mudou a temática das letras, torcendo o nariz de muitos fãs, e principalmente, da imprensa especializada. Em 1975, a saída do baixista Gary Thain permitiu a entrada de John Wetton para o grupo, e assim, o disco Return to Fantasy voltou as fantasias, magias e visões de contos de fada que consagraram a banda novamente. Mas isso não durou muito tempo. No ano seguinte, High and Mighty colocou o Uriah Heep em um novo trilho, cada vez mais guiado pelo tecladista/guitarrista/faz-tudo Ken Hensley. Sobrou para Wetton o papel de encarar o chefão Hensley e apresentar suas próprias canções, mesmo contando com a “parceria obrigatória” do seu colega.
Assim, nasceu um álbum promissor, e que até hoje tem sua qualidade discutida pelos fãs do grupo, mas de inegável importância para o futuro do Heep. As pérolas “Weep in Silence” e “Footprints in the Snow” mostram que Wetton além de grande baixista e vocalista, era um ótimo compositor, enquanto “Woman of the World” e “Midnight” destacam o poderoso baixo do músico, sendo a sensacional “One Way or Another” aquela onde Wetton demonstra por que de ter sido escolhido para o posto de baixista, ao mesmo tempo que possuía, na época, melhor condição de segurar o posto vocal do que Lord David Byron. Wetton formou o U. K. no ano seguinte, Byron perdeu seu lugar em troca das drogas e o Heep continuou em frente, dessa vez somente com Hensley segurando o volante.
- One Way or Another
- Weep in Silence
- Misty Eyes
- Midnight
- Can’t Keep a Good Band Down
- Woman of the World
- Footprints in the Snow
- Can’t Stop Singing
- Make a Little Love
- Confession
Formação: David Byron (vocals); John Wetton (baixo, mellotron, piano, vocals); Lee Kerslake (bateria, percussão, vocals); Mick Box (guitarras); Ken Hensley (órgão, piano, moog, sinos tubulares, guitarra, vocals)
U. K. – U. K. [1978]
Fundado após um breve hiato da banda Bruford, o U. K. foi talvez o primeiro grupo a indicar o som que se tornaria conhecido nos anos 80 como AOR. No seu álbum de estreia, o talento individual de um quarteto muito virtuoso, formado por Bill Bruford, Eddie Jobson, Allan Holdsworth e John Wetton é colocado a prova, e conquista gerações de fãs até hoje. O som é uma mistura de rock progressivo, jazz rock, eletrônicos e muitas variações complicadíssimas, além de arranjos fabulosos que somente monstros como esse quarteto poderiam construir. Aos que consideram Wetton apenas um bom vocalista, ouçam as intrincadas linhas de baixo de canções como “In the Dead of Night“, “Alaska” e “Nevermore“, e para os apreciadores de sua voz, o deleite ocorre nas pérolas “Thirty Years” e “Time to Kill”. O U. K. ainda lançou mais dois belos álbuns, sem Bruford e Holdsworth, mas trazendo Terry Bozzio na bateria. Porém, é a sua estreia um dos pilares essenciais na vasta discografia de Wetton.
- In the Dead of Night
- By the Light of Day
- Presto Vivace and Reprise
- Thirty Years
- Alaska
- Time to Kill
- Nevermore
- Mental Medication
Formação: Eddie Jobson (violino, teclados, eletrônicos); John Wetton (vocals, baixo); Allan Holdsworth (guitarras), Bill Bruford (bateria, percussão)
Wetton / Downes – Icon [2005]
Você deve estar se perguntando: “Ué, mas não vai ter nada do Asia?”. Como disse na abertura, a discografia de John Wetton é tão vasta que facilmente irei deixar discos de fora, e como é para conhecer o músico, prefiro apresentar um disco que talvez seja desconhecido do grande público. Icon é o segundo da dupla Wetton / Downes, e se você é fã de Asia, prepare-se para ouvir uma sequência do que o Asia poderia ter feito nos anos 80, mas envolvendo muito mais o lado romântico da dupla, algo que raramente foi explorado antes, mesmo com as mais melosas canções do quarteto inglês.
Em Icon, o trabalho dos teclados de Downes é complementado pela sutileza vocal de Wetton, bem como arranjos de cordas emocionantes e muitas aventuras sonoras guiadas pela guitarra de John Mitchell. Desde a abertura com “Overture: Paradox / Let Me Go“, até o encerramento com a linda “In the End“, tendo a participação especial de Annie Haslam nos vocais, sentimos a nostalgia oitentista brotando em cada sulco do CD. Vários são os destaques melosos e românticos, mas podemos nos concentrar em três momentos distintos: “I Stand Alone“, oitentista pacas, revivendo os melhores momentos de álbuns como Asia e Alpha; a bonita balada “Far Away”, um dos melhores momentos vocais de Wetton; e a já citada “In the End”, a mais bonita canção do álbum, com uma bonita participação da flauta, e com os vocais de Wetton sendo adocicados pelo timbre inconfundível de Haslam. A dupla ainda lançou mais duas sequências para Icon, os bons Icon 2: Rubicon (2006) e Icon 3 (2009), que mantém o mesmo estilo do primeiro, além do grandioso ao vivo Icon Live: Never in a Million Years (2006). Perfeito para ouvir agarrado na cintura da patroa em uma fria noite de inverno.
- Overture: Paradox / Let Me Go
- God Walks with Us
- I Stand Alone
- Meet Me at Midnight
- Hey Josephine
- Far Away
- Please Change Your Mind
- Sleep Angel
- Spread Your Wings
- In the End
Formação: John Wetton (guitarra, violão, baixo, vocais); Geoff Downes (teclados, piano, sintetizadores); John Mitchell (guitarras); Steve Christey (bateria). Participação especial: Annie Haslam (vocais em 10)
Bem…sei que o Wetton é um monstro e tem uma carreira muito grande para ser resumida em apenas cinco discos, mas tinha certeza que veria Red e o primeiro do UK entre eles. Sei também que o Mairon não é lá muito fã do Asia, mas o primeiro album da banda TINHA que estar ali, hein!!!
No mais só temos que admirar Jonh Wetton…
Ahhh…só para deixar claro, eu li que vc explicou pq não colocou nenhum do Asia.
Esse que vc colocou no lugar eu não conheço. Tenho que ouvir.
Ahhh…só para deixar claro, eu li que vc explicou pq não colocou nenhum do Asia.
Esse que vc colocou no lugar eu não conheço. Tenho que ouvir.
Valeu pelo comentário Fernando, mas você está sendo injusto quando diz que eu não sou fã do Asia. Tenho quase todos os discos do grupo e acho ela a melhor banda dentro do seu estilo. Só que para os músicos que a compoem, poderia soar algo muuuuuuuuuuuuuuuuito melhor, hehehehe. Mas realmente, o fato acho que é mostrar um pouco de material diferente, e claro que o UK e o Red são carimbados, como seriam o larks Tongues ou o Danger Money, mas garanto que muitos desconhecem o High and Mighty tb.
O Icon é bem baladeiro, nõ sei se vais curtir
Abração
Grande perda!! RIP
Nunca curti o Asia, pelos motivos que o Mairon falou acima. Poderia ter sido uma coisa maravilhosa.