Review Exclusivo: Letz Zep (Porto Alegre, 19 de maio de 2012)

Review Exclusivo: Letz Zep (Porto Alegre, 19 de maio de 2012)

Por Micael Machado
As bandas cover invadiram o meio musical há anos, tirando oportunidades de muita gente batalhadora, que não tem espaço para mostrar suas próprias composições quando tem de competir com quem toca canções já consagradas pelo público. Por outro lado, há algum tempo começaram a surgir as bandas tributo, onde os integrantes praticamente encarnam os membros de um grupo inativo, e levam a seus fãs a oportunidade de ter uma ideia de como seria o show dos artistas em questão em determinado período. Pois foi uma destas aglomerações, o Letz Zep (anunciada como a única autorizada pelos próprios Jimmy Page e Robert Plant), quem se apresentou no Bar Opinião na noite de sábado, 19 de maio, para uma verdadeira celebração à música do Led Zeppelin.
Formado por Billy Kulke (“Robert Plant”, vocais), Andy Gray (“Jimmy Page”, guitarras e teremim), Steve Turner (“John Paul Jones”, baixo e teclados) e Benji Reid (“John Bonham”, bateria), o grupo entrou no palco sob forte expectativa do público, detonando logo de cara “Rock and Roll”, que abre o quarto álbum do Zeppelin de Chumbo. A caracterização dos músicos é impressionante, especialmente Billy e Steve, que realmente encarnam seus personagens e ídolos com precisão. O mesmo já não pode ser dito de Benji, que, com sua longa cabeleira loira (e sem barba ou bigode) não pode em momento algum ser confundido com o saudoso Bonzo. A boa impressão dura até Billy começar a cantar, pois sua voz até lembra a de Plant, mas está muito longe de se comparar a ela. O que é compreensível, afinal, a garganta abençoada do vocalista do Led (e principal responsável pelo não retorno à ativa do grupo, ao que consta) é algo único e inimitável na história da música!
“Misty Mountain Hop”, com Steve ao teclado

Emendada à canção de abertura (que agitou todos os presentes, que quase lotaram o Opinião), eu esperava “Celebration Day”, como acontece no disco The Song Remains the Same (1976), único ao vivo oficial lançado enquanto a banda original estava na ativa, e que para uma geração inteira de fãs é sinônimo do som do Led no palco. Mas o grupo iniciou “Good Times Bad Times”, da estreia do Zeppelin, que, apesar de muito bem recebida por todos, acabou me decepcionando um pouco. Essa mudança de roteiro também foi sentida mais adiante em “Since I’ve Been Loving You”, na qual Billy inventou algumas linhas vocais entre os versos e não seguiu as intervenções que Plant registrou em disco (não que tenha mudado a letra, mas algumas frases que originalmente eram agudas ele cantou de maneira grave, alguns “baby” foram esquecidos, coisas assim). Pode ser birra minha, mas, como é um tributo à maior e mais importante banda dos anos 70, eu esperava mais fidelidade nos arranjos de todas as músicas, coisa que ouvi dos demais instrumentistas.

Andy e seu arco de violino

Focado principalmente nos quatro primeiros discos do Zeppelin de Chumbo (sendo que apenas In Through the Out Door, de 1979, e Coda, de 1982, não tiveram nenhuma composição interpretada), o espetáculo teve momentos memoráveis, como a bela “Ramble On”, a homenagem ao blues (fonte da qual o Led sempre bebeu) em “I Can’t Quit You Baby”, a alegria de “Misty Mountain Hop”, a brilhante interpretação de “No Quarter” e o contraste entre “luz e sombra”, tão caro a Jimmy Page, em “Babe I’m Gonna Leave You”, cujo final, com Andy ao teremim, trouxe outro momento muito aguardado, com o guitarrista pegando o arco de violino e interpretando a seção de “Dazed and Confused”, tocada com este acessório, presente no citado disco ao vivo quase com perfeição (a abreviação de alguns versos foi bem sentida por mim, cabe dizer). Quando se esperava que a canção continuasse dali, o grupo passou para outra, e a magia despertada pelo arco meio que se desvaneceu no ar…

Não que tivéssemos muito a reclamar, pois o que ouvimos então foi uma quase perfeita interpretação da monolítica “Achilles Last Stand”, seguida da inesperada “Black Mountain Side”, que antecedeu um dos pontos mais altos da noite, a imortal “Kashmir”, executada com precisão pelos músicos. 

“Trampled Underfoot” nos colocou para dançar, a belíssima “Thank You” emocionou a todos, e, quando Andy empunhou sua guitarra de dois braços (cópia perfeita da de Page), estava dada a senha para aquele que talvez tenha sido o ponto alto da noite: o “hino dos hinos” “Stairway to Heaven”, devidamente anunciada por Billy como “a song of hope”, e que levou a todos bem próximo do êxtase. Essa música pode ter enchido o saco de muitos de seus ouvintes nestes pouco mais de quarenta anos desde seu lançamento, mas ouvi-la ao vivo, ainda mais com músicos tão competentes (e ainda por cima caracterizados como seus compositores originais) foi extremamente emocionante!
“Stairway to Heaven” e a guitarra de dois braços

Achei que a noite acabaria ali, mas ainda houve tempo para “Moby Dick” (com um curto solo de Benji, que mais uma vez mostrou sua distância de Bonzo, fazendo algo que em nada lembrou o que o saudoso baterista fazia nos anos 70) e para uma longa “Whole Lotta Love”, sem tantas viagens quanto o Led fazia quando a executava no palco, mas com direito a teremim e a parte do medley de rock and roll que os britânicos interpretavam ao vivo. Ao final desse clássico, o grupo deixou o palco, mas era óbvio que voltariam para o bis.

A espera foi curta, com os membros da Letz Zep encerrando a noite com três pauladas para derrubar qualquer um que ainda resistisse em pé: “Communication Breakdown”, “Immigrant Song” (onde os “aaaahhhh” característicos foram deixados por Billy para a plateia, mas ele até arriscou alguns, para ser bem justo) e “Black Dog”. Após as despedidas de praxe, os quatro deixaram o palco, e nós saímos do Opinião com a alma lavada após quase duas horas e meia de algumas das melhores músicas dos anos setenta. Faltou muita coisa, mas, como disse alguém na fila para sair do bar, se tocassem tudo o que queríamos não sairíamos dali antes do sol nascer! 
Andy ao teremim

Podem chamar os caras de “banda cover”, mas a experiência de assisti-los dá uma boa ideia de como seria estar em um show do grupo original em seus anos dourados, e, graças à teimosia de Mr. Robert Plant, pode ser o mais próximo que jamais chegaremos de estar presentes a um concerto do Led Zeppelin. Não era bem o que desejávamos, mas está de bom tamanho.

“And she’s buying a Stairway to Heaven…”

Setlist:

1. Rock and Roll
2. Good Times Bad Times
3. Ramble On
4. I Can’t Quit You Baby
5. Misty Mountain Hop
6. Since I’ve Been Loving You
7. No Quarter
8. Babe I’m Gonna Leave You / Dazed and Confused (Excerpt)
9. Achilles Last Stand
10. Black Mountain Side
11. Kashmir
12. Trampled Under Foot
13. Thank You
14. Stairway to Heaven
15. Moby Dick
16. Whole Lotta Love

17. Communication Breakdown
18. Immigrant Song
19. Black Dog

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