Direto do Forno: Infernaeon – Genesis to Nemesis [2010]
Apesar de, em grande parte, seguir sua instrumentação em uma linha análoga a de outras bandas de death metal da Flórida, o Infernaeon conta com um elemento que o aproxima de algumas bandas europeias do gênero, que é o constante uso de teclados, ora atuando de maneira atmosférica, ora destacando-se na mixagem tanto quanto guitarras e bateria. Isso fica bastante claro desde a introdução que abre o disco, “Into the N.O.X.”, que não mostra o instrumento sendo utilizado como um simples criador de um clima mais soturno, e sim com irrestrito destaque e diferentes timbragens, comandadas por Dave Stein. É claro que, ao término da faixa, “First of the Fallen” traz a violência guitarrística típica do estilo para o primeiro plano, mas ainda assim as linhas trazidas por Stein são parte importantíssima da massa sonora perpetrada pelo grupo.
Engana-se quem pensa que o som feito pelo Infernaeon está, em função das características que citei, associado ao death metal melódico tipicamente sueco. Na verdade, muitas das melodias que brotam das canções estão de certa forma associadas ao lado mais sinfônico de algumas bandas europeias de black metal que surgiram nos anos 90 e despontaram na década passada. Graças a isso, não estranhe se, em uma música como “Lilith Ave Satanas”, uma sessão de porradaria na escola do Cannibal Corpse noventista logo ceder espaço a climas próximos ao que o Dimmu Borgir costumava fazer (em sua faceta menos exagerada).
Infernaeon |
Apesar da combinação muitas vezes soar adequada, em outras oportunidades ela parece um pouco forçada, como é o caso da introdução de “Legacy of Cain”, que tenta construir um clima soturno através dos teclados antes da entrada do resto dos instrumentos, mas acaba parecendo um tanto plástica, talvez em função da artificialidade do instrumento em relação ao uso de uma verdadeira orquestra. A situação melhora quando o teclado se resume a executar um acompanhamento para os riffs que brotam das guitarras de Steven Harger e Taylor Nordberg, que podem não ser um primor de criatividade, mas satisfazem o ouvinte. O mesmo vale para os vocais de Brian Werner – que inclusive já deixou o grupo e cedeu lugar para Eric Rhodes –, que funcionam bem tendo em visto o que o grupo se propõe a fazer.
É essencial citar o fato de que, com exceção da introdução do álbum e da empolgante e thrashy “Ziasudra”, todas as canções presentes em Genesis to Nemesis têm mais de cinco minutos de duração, denotando a vontade do grupo em exprimir todas suas ideias criativas no track list. Até o bom cover para “Creeping Death”, do Metallica (com a participação de Oderus Urungus, do Gwar), revela a escolha de uma música pouco linear, carregada de mudanças de andamento e diferentes paisagens sonoras. O baile segue na mesma linha variada através da mais longa faixa presente no registro, “The Scar of David”, que inclui dedilhados, riffs influenciados pelo black metal e os sempre presentes teclados em peso.
Por mais que a intenção do grupo em exprimir capacidades diversas no mesmo registro seja positiva, é preciso citar que a produção e a mixagem ficaram devendo um pouco em se tratando de proporcionar o equilíbrio necessário para que todos esses elementos sempre soassem de maneira agradável e natural. “Immaculate Deception”, por exemplo, começa de maneira empolgante, com riffs agressivos e tipicamente death metal, mas proporciona uma certa estranheza quando os teclados “brigam” em excesso com o restante da massa sonora. Felizmente esses momentos são minoria, e a música pode ser tida como uma das mais destacadas do álbum, soando mais concisa que a maior parte do track list.
Infernaeon ao vivo |
“Graven Image” é outra que felizmente traz bons riffs death metal à frente, mas que soaria melhor sem algumas artificiais vozes de apoio em coro, definitivamente algo que não é a especialidade do grupo. O álbum é finalizado com “Revelations”, outra que tenta investir em um clima mais soturno, não necessariamente tão bem sucedido como em momentos anteriores, e menos ainda em relação a quem já utilizou esse recurso em uma época passada, como é o caso do grande Morbid Angel, que atingiu um objetivo semelhante com Blessed Are the Sick (1991), mas de maneira muito melhor sucedida. Não recomendo Genesis to Nemesis como uma aquisição que certamente lhe trará uma infinidade de momentos de deleite musical, mas o disco consegue se sagrar vencedor mesmo em meio a suas irregularidades. A mim, cabe passar as impressões que o álbum provocou, mas decidir em definitivo sobre sua qualidade cabe a cada um dos ouvintes.
Track list:
1. Into the N.O.X.
2. First of the Fallen
3. Lilith Ave Satanas
4. Legacy of Cain
5. Ziasudra
6. Creeping Death
7. The Scar of David
8. Immaculate Deception
9. Graven Image
10. Revelations