Cinco Discos Para Conhecer: Marc Bell (Marky Ramone)
Por Micael Machado
Com sua história ligada à banda punk novaiorquina The Ramones, o baterista Marc Bell iniciou sua carreira bem antes de juntar-se àquela que é a melhor banda de todos os tempos na opinião deste redator. Além de ser o único músico a passar pelo grupo que manteve uma carreira constante depois do término do quarteto. Confira aqui cinco discos para conhecer o trabalho de uma lenda do punk rock mundial.
Dust – Dust [1971]
O power trio Dust foi um grupo de vida curta, mas muito impactante. Esta sua estreia se transformou em um dos melhores discos de hard rock da década – graças a “detalhes” como a pauleira de “Love Me Hard”, “Loose Goose” e “Chasin’ Ladies” (que lembra o Mountain), os slides de “Stone Woman” (que parecem tirados de uma composição de southern rock) e à “balada pesada” “Often Shadows Felt” (que parece tirada de um disco do Traffic) – e conseguiu maior reconhecimento dos apreciadores do estilo depois do advento do CD. Antes era muito difícil de encontrar. Você já imaginou um Ramone tocando blues? E progressivo (com toques de hard rock, no caso)? Então ouça “Goin’ Easy” e os quase dez minutos da fantástica “From a Dry Camel” e comprove que Marc também se sai bem fora do punk rock. O baterista toca aqui com um estilo completamente diferente do que faria depois nos Ramones, o que leva muita gente até hoje a dizer que ele “desaprendeu” a tocar bateria depois que juntou-se aos “brothers” de Nova Iorque. O também recomendadíssimo segundo disco do grupo, Hard Attack (1972), possui um solo de baixo na faixa “Suicide” que, dizem alguns, inspirou Lemmy Kilminster (Motörhead) a conseguir o peculiar som de seu instrumento. Não é pouco!
Formação: Richie Wise (guitarras e vocais); Kenny Aaronson (baixo); Marc Bell (bateria)
1. Stone Woman
2. Chasin’ Ladies
3. Goin’ Easy
4. Love Me Hard
5. From a Dry Camel
6. Often Shadows Felt
7. Loose Goose
Richard Hell And The Voidoids – Blank Generation [1977]
Richard Hell fez parte do Television, banda importantíssima ao punk novaiorquino. Foi o primeiro grupo da cena underground local a se apresentar no CBGB, abrindo as portas do lendário clube para bandas como Ramones, Blondie, Patti Smith Group e Talking Heads. Após deixar o grupo, e depois de uma frustrada passagem pelo The Heartbreakers (ao lado de Jerry Nolan e Johnny Thunders, ambos ex-membros do New York Dolls), Hell montou os Voidoids e gravou este confuso álbum solo. Ecos do Television aparecem em “Walking on the Water” e na essencial faixa título. A nascente New Wave dá as caras em “New Pleasure”, “Who Says (It’s Good to Be Alive)” e nos mais de oito minutos de “Another World”. O também nascente estilo punk pinta em “Love Comes in Spurts” e “Liars Beware”. Até baladas tristonhas como “Betrayal Takes Two” e “All the Way” (bônus da versão em CD, que inclusive teve uma capa diferente e uma outra canção inédita, “I’m Your Man”) surgem no repertório, fazendo com que o disco não tenha uma consistência sonora que o leve a um status de “essencial”. Marc toca aqui com menos técnica do que apresentava no Dust, mas ainda assim diferente do que faria nos Ramones. Seu trabalho nos Voidoids é o de um baterista acompanhante comum. Sem muito destaque individual, como acontece também com os outros instrumentistas, serve para mostrar que consegue se sair bem.
Formação: Richard Hell (baixo e vocais); Robert Quine (guitarras); Ivan Julian (guitarras); Marc Bell (bateria)
01. Love Comes in Spurts
02. Liars Beware
03. New Pleasure
04. Betrayal Takes Two
05. Down at the Rock & Roll Club
06. Who Says (It’s Good to Be Alive)
07. Blank Generation
08. Walking on the Water
09. The Plan
10. Another World
11. I’m Your Man (Bonus track da versão em CD)
12. All the Way (Bonus track da versão em CD)
Ramones – Road to Ruin [1978]
Marc foi chamado para ocupar o posto de baterista após Tommy Ramone deixar o cargo para dedicar-se apenas à produção. Adotando o pseudônimo de Marky Ramone (que usaria permanentemente dali em diante), o baterista fez sua estreia no grupo neste álbum, hoje considerado um clássico da banda. Canções como “I Just Want to Have Something to Do”, “I Wanna Be Sedated” e a cover para “Needles & Pins” (original de Sonny Bono e Jack Nitzsche) tornaram-se essenciais no repertório ramônico. Minhas preferidas sempre foram as “desconhecidas” “I Don’t Want You”, “She’s the One” e a baladaça “Questioningly“, além do encerramento com “It’s a Long Way Back”. Mais maduros em relação aos três primeiros discos, os Ramones demonstravam neste quarto álbum uma certa evolução na composição e execução de seus instrumentos. Pela primeira vez faziam músicas com mais de três minutos e incluíam um solo de guitarra em uma de suas composições, no caso “Don’t Come Close” (onde o solista, curiosamente, é o baixista Dee Dee). Marky (que já declarou ter sido necessário mudar o seu estilo de tocar e aprender com Tommy o modo usado pelo antigo baterista) sem dúvidas foi parte importante desta evolução e continuaria no grupo por mais oito discos de estúdio e três ao vivo, alcançando o status de “lenda punk” que ostenta até hoje.
Formação: Joey Ramone (vocais); Johnny Ramone (guitarras); Dee Dee Ramone (baixo); Marky Ramone (bateria)
01. I Just Want to Have Something to Do
02. I Wanted Everything
03. Don’t Come Close
04. I Don’t Want You
05. Needles & Pins
06. I’m Against It
07. I Wanna Be Sedated
08. Go Mental
09. Questioningly
10. She’s the One
11. Bad Brain
12. It’s a Long Way Back
Marky Ramone And The Intruders – Marky Ramone And The Intruders [1996]
Depois do final dos Ramones, Marky passou a se dedicar à sua Intruders, com a qual lançou esta estreia em 1996. O disco é praticamente um registro dos Ramones com outros instrumentistas. Muito do que fez a fama da banda (e de Marky) aparece aqui. O poppy punk dos últimos discos (presente em “Can’t Take It With You”, “Telephone Love”, “3 Cheers for You”, uma homenagem à América do Sul, especialmente Brasil, Argentina e Chile, e na maravilhosa “Better Things”), o lado mais rápido e agressivo mostrado nos anos 80 (“Oh, No Not Again”, “Coward With A Gun”, “Back Off” e “I Wants My Beer”, que lembra muito “I Lost My Mind”, de Halfway to Sanity) e até duas músicas que chegaram a ser registradas pelos Ramones, “Anxiety” (Mondo Bizarro) e “Maybe Tomorrow” (uma nova versão para “Tomorrow Never Comes”, demo que ficou de fora de Adios Amigos). O baterista se arrisca a cantar em “Man Of God” e deixa claro que seu talento é com as baquetas, não com o microfone. Um belo disco, que serviu como consolo aos fãs do Ramones pelo encerramento das atividades da banda.
Formação: Skinny Bones (guitarras e vocais); Ratboy (guitarras); Johnny Pisano (baixo e vocais); Marky Ramone (bateria)
1. Can’t Take It With You
2. I Wants My Beer
3. Coward With A Gun
4. Telephone Love
5. Good Luck You’re Gonna Need It
6. 3 Cheers for You
7. Oh, No Not Again
8. Maybe Tomorrow
9. Anxiety
10. Holding a Grudge
11. Man Of God
12. Back Off
13. Better Things
Misfits – Project 1950 [2003]
Marky foi convidado a juntar-se ao Misfits em 2003. Naquele ano o grupo lançou este tributo ao rock das décadas de 1950 e 1960, executando diversos clássicos da época, rearranjados para o estilo horror punk do grupo. As versões para “Diana” (Paul Anka), “Donna” (Ritchie Valens) e “Great Balls of Fire” (Jerry Lee Lewis) são certamente as que mais chamam a atenção. Os maiores atrativos, contudo, ficam com “This Magic Moment” (The Drifters), “Latest Flame” (Elvis Presley), “Monster Mash” (Bobby Pickett and the Crypt-Kickers) e “Runaway” (Del Shannon). Um belo registro na carreira do grupo de New Jersey! Marky usa aqui muito do que aprendeu com os Ramones, mas também mostra muita influência de rockabilly e do bubblegum, estilos nem sempre presentes nos discos dos “brothers” de Nova Iorque. A versão original ainda vem com um DVD com cinco faixas ao vivo e outras guloseimas. Vale a pena conferir.
Formação: Jerry Only (baixo e vocais); Dez Cadena (guitarras); Marky Ramone (bateria)
Participações especiais: John Cafiero (background vocals em “Dream Lover”, “Monster Mash” e “Runaway”); Ronnie Spector (background vocals em “This Magic Moment” e “You Belong to Me”); Jimmy Destri (teclados em “Runaway” e “Great Balls of Fire”); Ed Manion (saxofone em “Diana” e “Runaway”)
1. This Magic Moment (The Drifters)
2. Dream Lover (Bobby Darin)
3. Diana (Paul Anka)
4. Donna (Ritchie Valens)
5. Great Balls of Fire (Jerry Lee Lewis)
6. Latest Flame (Elvis Presley)
7. Monster Mash (Bobby Pickett and the Crypt-Kickers)
8. Only Make Believe (Loretta Lynn and Conway Twitty)
9. Runaway (Del Shannon)
10. You Belong to Me (Jo Stafford)
Marky ainda tem muitos outros registros como os que fez ao lado do Estus (em 1973, ainda como Marc Bell), Joey Ramone, Dee Dee Ramone, The Speedkings, Osaka Popstar, The Ramainz e até com os brasileiros Raimundos e Tequila Baby. Um músico competente e atuante que não por acaso é reconhecido como um dos maiores bateristas do punk rock, além de manter o nome da maior banda do estilo vivo e lembrado até hoje. Long live Marky Ramone!
Esse pessoal que diz que o Marc Bell desaprendeu bateria depois que virou o Marky Ramone é um bando de humoristas. São as mesmas pessoas que em qualquer stand up de boteco, bêbadas, pegam o microfone e contam pela enésima vez a piada de que o Ringo Starr não toca nada. No mais, bela seleção de discos, Micael.
Fiquei curioso para ouvir esse Dust…
Mark Ramone é um panacão. Ele participa de shows especiais com músicas dos Ramones. E toca sempre as mesmas músicas com músicos medíocres do naipe do Forgotten Boys(a pior banda underground de São Paulo). E ele não foi o melhor baterista dos Ramones. O Richie Ramone além de tocar infinitamente melhor era um ótimo compositor.
Os dois únicos discos do Intruders são ótimos. Mas o Mark ficou meio lelé da cuca ou e $$$$$$$$esperto e agora só toca em eventos com bandas medíocres tocando covers mais do que manjados dos Ramones.