Clássicos da Harvest: Bakerloo – Bakerloo [1969]
Por José Leonardo Aronna
Pretendo analisar alguns discos lançados pelo lendário selo britânico Harvest. Resolvi incluir apenas discos lançados por artistas menos conhecidos. Muito já foi escrito sobre nomes mais famosos como Pink Floyd, ELO e Deep Purple, por exemplo. Primeiramente, faremos um breve histórico de como foi criado o selo e depois analisaremos o primeiro disco escolhido em questão. No caso, o álbum Bakerloo, da banda de mesmo nome.
A Harvest Records, junto com a Vertigo, é uns dos mais importantes e colecionáveis selo progressivo/underground. Sua história começa com Malcolm Jones, um economista graduado pela Manchester University que entrou para a EMI em 1967. Seu sucesso inicial como empresário da banda Love Sculpture convenceu a gravadora que ele era um homem cujas ideias deveriam ser ouvidas. Assim, a gravadora respondeu favoravelmente a sua sugestão de que um novo selo fosse criado para abrigar a cena underground britânica.
Muitos artistas underground da época haviam assinado com outros selos da EMI. Pink Floyd e Pretty Things estavam na Columbia. Já Pete Brown’s Battered Ornaments, Climax Chicago Blues Band, Barclay James Harvest e Deep Purple gravaram pelo selo Parlophone. O plano era que todos migrassem para um novo selo com uma imagem mais coerente. Assim nasceu a Harvest. O selo foi inaugurado em julho de 1969 com o lançamento do LP Book Of Taliesyn (Deep Purple). Pelos próximos cinco anos, a Harvest lançou alguns álbuns clássicos. Muitos dos quais valendo muito no mercado dos colecionadores. Um deles é Bakerloo.
O lançamento do Bakerloo pela Harvest: Clássico |
O Bakerloo era um power trio de hard blues formado em 1968, em Birmingham, pelo guitarrista e vocalista Dave “Clem” Clempson e o baixista e vocalista Terry Poole. Alguns bateristas como, por exemplo, John “Poli” Palmer e John Hinch, passaram pela banda antes de Keith Baker assumir definitivamente as baquetas.
Clempson era proclamado como um dos mais excitantes guitarristas desde Eric Clapton, e sua banda, The Bakerloo Blues Line (como eram chamados) era influenciada pelo Cream. Tiveram o privilégio de abrir alguns concertos do Led Zeppelin no Marquee Club no final de 1968. A quem possa interessar, Bakerloo é o nome de uma linha de metrô que existe em Londres. Provavelmente os músicos a utilizavam muito!
No ano seguinte, duas coisas aconteceram com a banda. Primeiro abreviaram o nome para simplesmente Bakerloo. Depois, foram contratados pela Harvest Records, que já tratou de lançar o single de estreia, “Driving Bachwards/Once Upon A Time”, em julho. O lado A, também presente no único LP da banda, nada mais é que uma ótima adaptação para a peça “Bourée”, de J. S. Bach (também gravada pelo Jethro Tull no seu segundo LP, Stand Up). O lado B é uma música mais pop, com vocal de Dave.
Em dezembro de 1969 chega às lojas o primeiro e único LP da banda, chamado simplesmente de Bakerloo. O disco foi produzido pelo célebre Gus Dudgeon. Foi ele quem produziu o primeiro hit single de David Bowie, “Space Oddity”. Também ficou muito conhecido por trabalhar em vários álbuns de Elton John.
O álbum abre com o tema instrumental “Big Bear Ffolly”. Apresentando toques jazzísticos e com a ágil guitarra de Dave, lembra um pouco o Ten Years After. Em seguida temos uma cover de “Bring It On Home”, do bluesman americano Willie Dixon. Outra coincidência, pois o Led Zeppelin também gravou essa música no álbum Led Zeppelin II. Nessa faixa o vocal é de Dave Clempson. A próxima faixa é a já lançada anteriormente em compacto, “Driving Bachwards”. “Last Blues“, a próxima música, com Poole nos vocais – e uma da melhores do disco – começa com um blues lento e depois se estende em um “hard rock solo” de Clempson. Alguns efeitos sonoros completam a faixa. O Lado A se encerra com a jam instrumental “Gang Bang” com destaque para o solo de bateria de Keith Baker. Bem ao estilo de Ginger Baker.
O lado B tem apenas duas faixas. A primeira, “This Worried Feeling”, é um típico e tradicional blues inglês lento. Bem ao estilo de bandas como John Mayall’s Bluesbreaker e Fleetwood Mac. Nessa faixa também temos o “lead vocal” de Dave Clempson. A que encerra o álbum é a longa “Son of Moonshine“. Com uma introdução de guitarra ao estilo de Tony McPhee (Groundhogs) e que depois deslancha num “blues/boogie rock” quase instrumental alternando momentos lentos e pesados.
Apesar de boa recepção por parte da crítica especializada, o álbum não vendeu muito e o grupo decidiu se separar. Dave até pensou em formar outro power trio com o lendário Cozy Powell na bateria, mas isso não se concretizou. Logo foi convidado pelo baterista Jon Hiseman ao Colosseum em substituição ao guitarrista James Litherland. Ficou com eles até 1971 quando substituiu Peter Frampton no Humble Pie. Tempos depois, aparece na banda Rough Diamond, do ex-Uriah Heep David Byron.
Poole e Baker formaram o May Blitz com o guitarrista e vocalista Jamie Black, mas antes da banda assinar com o selo Vertigo, ambos já tinham abandonado o grupo. Depois, Terry apareceria na banda do Graham Bond, entre outros grupos como Vinegar Joe. Keith, no entanto, passaria brevemente pelo Uriah Heep. Mais notadamente no álbum Salisbury (1970).
Track list
1. Big Bear Ffolly
2. Bring It On Home
3. Drivin’ Bachwards
4. Last Blues
5. Gang Bang
6. This Worried Feeling
7. Son Of Moonshine
Bonus tracks da edição em cd, lançada pela Repertoire Records, em 2000:
8. Once Upon A Time (single B-side)
9. This Worried Feeling (alternate) (previously unreleased)
Esse é o comodoro Zé Léo, mestre das obscuridades. Muito bom poder ler seus textos neste blog. Quanto ao Bakerloo, sempre me intrigou essa história do nome da banda ser uma linha do metrô e a capa do disco representar uma batalha. Mas aí é que está, Bakerloo é o apelido que o povo de Londres deu para a linha de metrô que se inicia na Baker Street e finda na estação Waterloo, daí a capa ser alusiva à batalha de onde os ingleses derrotaram Napoleão (viva a cultura inútil!!!). Existe um outro CD da banda disponível por aí: são as gravações que eles fizeram para a BBC Sessions 1. São 4 músicas, todas presentes no LP.
Obrigado pelo complemento. O nome original da linha de metrô é Baker Street & Waterloo Railway! Mais cultura inútil…
Não podemos esquecer que Baker Street é a famosa rua da casa de Sherlock Holmes. Atualmente existe um museu sobre o detetive nessa rua.
Bakerloo foi uma banda muito interessante, mas se a gente pensar no que circulava pela Inglaterra naquela época, não surpreende que não tivessem feito sucesso. Dave Clempson merecia mais sorte na carreira!!
Realmente a cena musical dessa época era efervescente! Nasci numa ´poca errada e local errado!
Fantástico, Léo… e dizer que nesses anos quenos conhecemos nunca me falaste da banda…
Alvaro
botei no meu twitter,eu conheço e coleciono bandas raras.
nazarevox