Celtic Frost – Parched with Thirst Am I and Dying [1992]

Celtic Frost – Parched with Thirst Am I and Dying [1992]

Por Micael Machado
O quanto uma banda pode mudar durante sua trajetória musical? Se o grupo for o suíço Celtic Frost, a resposta é: muito! E todos os caminhos percorridos por Tom G. Warrior (guitarras e vocais) e seus asseclas estão representados nesta coletânea, que mostra que acomodação é uma palavra que, sem dúvidas, não se aplica a eles.
O grupo no início de carreira: Tom Warrior, Martin Ain e Reed St. Mark

Surgido das cinzas do Hellhammer em 1984, o Celtic Frost lançou cinco discos em seis anos. O suficiente para lhe caracterizar como uma das fundadoras (ao lado de Venom, Possessed e Bathory) dos estilos posteriormente conhecidos como black e death metal (nos fundamentais Morbid Tales, de 1984, e To Mega Therion, de 1985). Tornaram-se uma das primeiras bandas a misturar black metal com música clássica, no que desembocaria anos depois no gothic metal de bandas como o Therion (no incompreendido – à época – Into the Pandemonium, de 1987). Foram apontados como “traidor de suas raízes” e odiados por boa parte de seus fãs – no “farofento” Cold Lake – e ressurgiram como um grupo de thrash metal de alta qualidade e inventividade, no “canto do cisne” Vanity/Nemesis. E todas estas facetas da mesma pessoa (no caso, o já citado líder e “faz tudo” Warrior, único membro presente em todos os lançamentos do grupo) estão presentes em Parched with Thirst Am I and Dying, lançada após o anúncio da dissolução do grupo em 1992.
Coloque para tocar em sequência a “tosquice” de “Cyrcle Of The Tyrants” e a beleza sinfônica de “Tristesses De La Lune“. Ou o quase heavy metal tradicional de “Juices Like Wine” e a cadenciada “I Won’t Dance (The Elders Orient)” e me diga se trata-se da mesma banda. Tudo bem que os membros mudaram ao longo do discos, mas o cérebro e o talento de Thomas Gabriel Fischer continuava ali, controlando os passos do grupo até torná-lo um monstro respeitado nos quatro cantos do mundo. “Cherry Orchards” e “Mexican Radio”, do execrado Cold Lake, mostram que este disco de fato não é tão detestável como julga o senso comum, e que talvez tenha sido o choque da enorme mudança visual e sonora do grupo que afastou os antigos fãs. Mais ou menos como ocorreria anos depois com o Metallica da fase Load/Reload.
O line-up de Cold Lake: Oliver Amberg, Curt Victor Bryant, Thomas Gabriel Fischer e Stephen Priestly
Apesar de ser uma coletânea, este álbum é um grande atrativo mesmo para os fãs mais dedicados. Afinal, apresenta várias faixas raras, dentre versões regravadas (“Juices Like Wine”, “The Usurper”, “Downtown Hanoi”), jams de estúdio (“Return to the Eve” e “Mexican Radio”, cover do grupo new wave Wall of Voodoo), faixas lançadas apenas em raros EPs e itens promocionais (“A Descent to Babylon” e “In the Chapel in the Moonlight“, cover de uma música dos anos 1930 do cantor Billy Hill), versões editadas para o rádio (“Cherry Orchards” e “I Won’t Dance”), retiradas de demos do grupo (“Idols of Chagrin” e “Under Apollyon’s Sun”) e até músicas inéditas (“The Inevitable Factor” e “Journey into Fear“, sobra das gravações do EP Emperor’s Return, de 1985). Todas estas raridades fizeram a alegria de muitos admiradores do grupo, devido à dificuldade que havia em se conseguir um registro adequado delas. Muita fita K7 foi trocada por aí com cópias destes sons antes do lançamento deste disco, que só peca por não incluir “Necromantical Screams”, influência para muita banda de metal sinfônico que viria depois.
Felizmente, este não foi o capítulo final do grupo. Em 2001, Warrior e o baixista Martin Eric Ain voltaram a tocar juntos sob o nome Celtic Frost, chegando a lançar o excelente Monotheist, antes de separarem-se novamente, com Thomas indo formar o também recomendável Triptykon. Parched with Thirst Am I and Dying (que tem seu título extraído de uma antiga prece greco-romana do final do século XIV, reproduzida no encarte) pode até não ser a melhor porta de entrada para conhecermos o frio da geada celta, mas mostra que Tom G. Warrior é capaz de compor músicas da mais alta qualidade. 
Huh!
A formação de Vanity/Nemesis: Curt Victor Bryant, Thomas Gabriel Warrior, Martin Eric Ain e Stephen Priestly
Track List:
1. Idols of Chagrin
2. A Descent to Babylon (Babylon Asleep)
3. Return to the Eve
4. Juices Like Wine
5. The Inevitable Factor
6. The Heart Beneath
7. Cherry Orchards
8. Tristesses De La Lune
9. Wings of Solitude
10. The Usurper
11. Journey into Fear
12. Downtown Hanoi
13. Circle of the Tyrants
14. In the Chapel in the Moonlight
15. I Won’t Dance (The Elders Orient)
16. The Name of My Bride
17. Mexican Radio
18. Under Apollyon’s Sun

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