Spock’sBeard – V [2000]
Por Diego Camargo (publicado originalmente no site Progshine)
No ano 2000, o grupo Spock’s Beard lançou seu quinto álbum. Na formação, temos Neal Morse (voz, sintetizadores e violão), Alan Morse (guitarra, violoncelo, samplers e vocais), Dave Meros (baixo/French horn e vocais), Nick D’Virgilio (bateria, percussão e vocais) e Ryo Okumoto (órgão Hammond e Mellotron).
Esse grandioso álbum abre com a grandiosa “At The End Of The Day”, na qual navegamos até a mente de Neal Morse e no som do Spock’s Beard, uma das melhores bandas na atualidade em se tratando de Rock Progressivo sem nenhuma sombra de dúvida. O início parece uma gaita de fole. Sintetizadores dão todo o charme, com um som característico deles que eu acho genial, além de bases com batidas em up, quase alegres.
Uma das coisas que eu mais gosto no som do grupo é o timbre de baixo do Dave Meros, é genial, é esse tipo de som que eu busco quando eu toco. Os vários vocais e as constantes mudanças de clima e temas é mais um atrativo ao som do grupo, é uma coisa maravilhosa.
Aos cinco minutos, Neal entra com um violão e uma melodia meio árabe (ou algo assim), muitos riffs aparecendo de todos os lados, o mesmo acontece com o vocal no tema seguinte quando a banda toda repete a base do violão.
E… surpresa… Jazz, sim a banda sabe como tocá-lo, inclusive com o Gigante no lugar do baixo elétrico.
O lance dos metais foi um toque de gênio, uma coisa meio ‘Penny Lane’ (The Beatles) só que contemporâneo. Na sequência alguns vocais em falsete um tanto engraçados (risos), e linhas de guitarra bem interessantes. Num crescendo a banda vai cada vez mais entrando no coração com uma melodia belíssima, inclusive subindo o tom da música, isso até os 11 minutos. Daí pra frente a guitarra de Alan Morse (irmão de Neal) anuncia uma nova parte e mais pesada.
O teclado de Ryo Okumoto brilha, uma breve frase de sintetizador e a quebradeira de Nick D’Virgilio lá atrás na bateria. Dura o quanto deve durar a parte mais pesada. Aos 13 minutos voltamos ao tema anterior, e ele continua belo. Eles não se cansam de mudar os temas da música, um verdadeiro caldeirão de sons, mais uma vez o baixo de Dave brilha. No fim do dia essa faixa ainda vai continuar na sua cabeça, sem sombra de dúvida!
Neal é ótimo compondo baladas porque elas são diferentes, não simples músicas românticas ou baladas água-doce. Normalmente são melodias ótimas e com conteúdo. Em “Revelation” não é diferente. As incursões de Ryo em frases no Hammond são excelentes e dão um toque especial, ainda mais quando Neal está, lá atrás, com várias linhas de sintetizadores.
A banda quando entra, vem com peso e coesa, na medida certa, mais que competente. E uma coisa que não é muito comum no som da banda também acontece, um solo de guitarra, no caso, de Alan, e é um solo diferente, curto e com melodia assustadoramente ‘maligna’, que volta a aparecer depois de um verso e ai segue até o fim numa quase jam, mas a banda continua destilando a base um tanto quanto ‘má’.
A primeira parte de “Thoughts(Part II)” está no segundo disco do grupo, Beware Of Darkness (1996), e tem os vocais totalmente influenciados por Gentle Giant (confiram, a coisa é muito boa). Nesse caso o início é Neal com o violão e engana, achamos que é uma balada. Ledo engano, a banda já inicia seu incontestável talento, outra coisa que é muito boa no som dos caros é o fato de usarem dois teclados em muitos momentos.
E eu não falei? Aí estão os vocais com influência de Gentle Giant, vai me dizer que não é genial? É ótimo ouvir em pleno ano 2000 (na época) uma banda com influência de Gentle Giant que acabara vinte anos antes. Tudo bem que a banda é muito cultuada, mas ela é pouco usada como influência. A enganação do início volta, mas tudo faz parte dos Pensamentos. E Dave mais uma vez dá um show assustador em seu baixo, Nick segue de perto na batera e o que eu imagino serem samples de Alan com temas orquestrais são muito bons.
O fim não poderia ser diferente, como começou.
“All On A Sunday” tem mais uma influência assustadora no seu começo, e realmente parece que é uma banda dos anos 70, sensacional. Os temas existenciais nas letras de Neal são muito interessantes. Um casamento perfeito entre teclados e guitarra, e um refrão pra lá de bom, daqueles sing along (cante junto), isso pra ninguém dizer que bandas progressivas não tem apelo comercial, e tudo isso sem vender a alma ao Diabo.
Chegamos em “Goodbye To Yesterdays”. Esse violão não me engana, já que o timbre é do primeiro disco de Jewel, Pieces Of You (1995). Eu não me assustaria se Neal gostar dela, já que a moça é sensacional e esse disco em questão é excelente. A quase balada é melódica e sentimental já que não é sempre que se tenta dar adeus aos dias que passaram, e é muito difícil conseguir isso.
Percussões ao fundo, os belos vocais de Neal e uma série de sons que passam pelos falantes dão o clima da canção. Ah, claro, não esqueçamos dos vocais. Pouco antes dos três minutos um sintetizador com som de orquestra, algumas linhas de guitarra perdidas por ali também. Sentimental e bonita terminando ao som do mar.
Por fim, as seis partes de “The Great Nothing”: “From Nowhere”; “One Note”; “Come Up Breathing”; “Submerged”; “Miss Your Calling”; “The Great Nothing”. Bom, já que eu não sei exatamente onde e quando começa cada uma das partes do épico, vou enumerando pelos minutos mesmo.
Tudo começa com estranhos vocais (ou samples) de cânticos, tudo muito bem combinado com o sintetizador. A sequência é o violão numa bela melodia, um tanto melancólica. Somente introdução. Aí sim a banda entra em cena, pesada com o reforço extra de Alan tocando violoncelo, e a banda toda repetindo o mesmo riff, vocês precisam ouvir o peso que isso fica. Baixo e bateria aliados e o hammond de Ryo é pra valer.
O tema seguinte é mais calmo e contemplativo com boas passagens de guitarra (inclusive algumas são slides) e vocais muito bons. Os sempre bons pianos e o violão mais uma vez nos brinda com uma linha muito boa seguida de vocais duplicados. Aos oito minutos eu senti uma certa influência de “Money” do Pink Floyd, mas a parte do solo, onde a música volta pro 4/4. O baixo me lembrou vagamente.
Alcançando os onze minutos e meio uma certa ambiência e influência clássica ao piano. Então o baixo volta pesado, e em intervalos divido em melodias com os teclados, tudo muito bom. Como eu já disse em algumas ocasiões em minhas resenhas – temas grandes são difíceis de se resenhar, são muitas partes e se eu fosse falar de cada um dos detalhes seriam muitas e muitas linhas, é mais divertido que vocês ouçam e também possam tirar suas conclusões.
Neal Morse |
Então resolvi deixar os próximos minutos de música por vocês mesmos, não é uma coisa de poupar meu verbo, é mais uma coisa – pensem por si mesmos, a maioria das vezes é a melhor coisa a se fazer, pensar.
O disco? Sensacional é chover no molhado pro Spock’s Beard, então eu diria: Soberbo!
Track list
1. At The End Of The Day
2. Revelation
3. Thoughts (Part II)
4. All On A Sunday
5. Goodbye To Yesterdays
6. The Great Nothing
i. From Nowhere
ii. One Note
iii. Come Up Breathing
iv. Submerged
v. Missed Your Calling
vi. The Great Nothing
Confesso que é meio estranho ler minhas resenhas mais antigas rs
A título de de curiosidade, esse é o disco favorito de Neal Morse dos Spock's 🙂
Eu sempre penso isso quando leio as coisas mais antigas tb…rs
Eu fiz essa do Spocks Beard aqui no blog, não sei se vc leu…
http://www.consultoriadorock.blogspot.com.br/2011/03/spocks-beard-snow-2002.html