Por Fernando Bueno
“Não tenhas medo, essa ilha é cheia de sons”. Essa é uma frase retirada de A Tempestade de William Shakespeare de 1623. O trecho foi utilizado na abertura dos jogos olímpicos de Londres desse ano, mesmo ela não tendo uma relação inicial com a música. Entretanto, se aplica perfeitamente na atualidade para esse contexto. Todo mundo sabe que a Inglaterra é um dos maiores berços musicais, principalmente se estivermos falando de rock. Surgiram no país diversos movimentos como o das bandas da Invasão Inglesa nos anos 60, o movimento progressivo nos cultuados anos 70 e a Nova Onda do Heavy Metal Inglês, ou NWOBHM, no início dos anos 80. No fim dos anos 90, brotaram diversas bandas no circuito alternativo da Inglaterra que foram reunidas a um só rótulo: o brit pop. As influências para se moldar o estilo foram várias, mas a principal foram as bandas da já citada Invasão Inglesa. Quando começaram a surgir essas bandas eu entendia que era uma forma dos ingleses combaterem o grunge. Na época era o movimento que mais fazia sucesso no mundo. Ironicamente o grunge também faz parte das influências de quase todas aquelas bandas.
Dentre todos os grupos do brit pop, o Oasis foi certamente o que mais se destacou em todos os aspectos. Na parte musical é provavelmente a melhor banda entre as do movimento. E na questão midiática foi a que mais apareceu por conta de suas diversas polêmicas. O fato de os próprios músicos fazerem questão de comparar a banda aos Beatles fez com que muita gente criasse certa implicância com o grupo. Eu não me importo muito com as críticas que fazem à eles, me interesso pelo som. O Oasis é a única banda desse movimento que eu ouvi todos os discos e que realmente me interessa. Outras bandas, como Blur e The Verve, gosto de apenas algumas músicas.
O primeiro álbum, Definitely Maybe, já havia chamado a atenção da mídia e público, mas foi com (What’s the Story) Morning Glory que a banda explodiu. Este é considerado o disco mais importante do Oasis. Na época, contava com a seguinte formação: Liam Gallagher (vocal); Noel Gallagher (guitarra, violão, piano, mellotron e vocal); Paul Arthurs (guitarra base, violão, piano e mellotron); Paul McGuigan (baixo) e Alan White (bateria). Para quem apenas passou os olhos pelos nomes, favor não confundir esse Alan White com o do Yes. A coincidência de nacionalidade, nome e instrumentos é muito grande, mas esse daí nasceu em 1972 (ano que o seu xará já estava para entrar no dinossáurico grupo de progressivo inglês).
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O Oasis de 1995 |
(What’s the Story) Morning Glory trouxe algumas músicas que se tornaram sucessos instantâneos como “Wonderwall”, “Morning Glory” e “Champagne Supernova”. A primeira citada é uma baladinha com muitos mellotrons fazendo um clima de fundo e, provavelmente, a mais conhecida de todas. “Morning Glory” é a mais rock and roll do álbum, enquanto “Champagne Supernova” é mais uma balada com ótimas melodias. Aliás, o Oasis é excelente em criar melodias, principalmente as vocais. Tudo bem que o característico vocal de Liam, marca registrada da banda, é muito criticado por ser excessivamente anasalado, mesmo assim suas linhas são vocais ótimas.
Falando em vocais, esse foi o primeiro motivo das intermináveis brigas entre os irmãos Gallagher. Apesar de Liam ser o cantor principal, Noel queria cantar algumas músicas desse álbum como “Don’t Look Back in Anger” e “Wonderwall”. Nessa última, durante a gravação, Noel gostou do que Liam estava fazendo em estúdio e acabou deixando para o irmão gravá-la. A outra não teve jeito, ele gravou e fez um trabalho muito bom.
Outros destaques inicias são as duas faixas que abrem o álbum, “Hello” e “Roll With It“. Ambas têm ótimos refrãos que grudam na cabeça. Na parte instumental, não encontramos nenhum tipo de virtuosismo e nenhum exagero. Simples como a de todas as bandas do movimento. Músicas simples e de fácil assimilação era a tônica.
Há duas faixas curtas (e sem título) no disco. Sempre as chamei de vinhetas. A primeira é a faixa número seis, um solo de gaita acompanhando por todos os instrumentos em uma espécie de jam. Essa primeira vinheta serve como um marco no disco. Até ela, o albúm se mantém em um nível bastante elevado. Somente canções ótimas! Após ela temos três músicas que diminuem um pouco o nível. “Some Might Say”, “Cast no Shadows” e “
She’s Eletric”. Digo isso, não por elas serem fracas. Acho até que seriam algum single se tivessem sidos lançadas em algum outro álbum. As duas últimas são as que mais reconhecemos influências dos Beatles, principalmente “She’s Electric”. A segunda vinheta, faixa onze, liga “Morning Glory” com “Champagne Supernova
“. Trata-se de sons de ondas colidindo-se em alguma coisa como um píer, por exemplo.
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Os irmãos Gallagher em ação |
Após (What’s the Story) Morning Glory, o Oasis gravou alguns outros bons álbuns, mas seria difícil conseguirem repetir o feito. Muitas brigas internas levaram à separação da banda. Liam levou consigo os integrantes da última fase e formou o Beady Eye (que lançou o bom Different Gear, Still Speeding). Noel gravou um CD e um EP com o “Noel Gallagher´s High Flying Birds”. Nenhum desses discos conseguiu atrair a mesma atenção do que qualquer disco do Oasis. Era de se esperar. Esse é mais um daqueles casos em que “a união faz a força”. Esse tipo de separação acontece quando duas pessoas de personalidade forte e com complexo de centro do universo se encontram.
Para finalizar gostaria de citar um comentário de um crítico sobre esse trabalho. Achei bastante curioso, apesar de não concordar muito com a idéia dele. Ele disse que esse é o melhor disco de brit pop lançado, porém é um “cover” de quarenta minutos de músicas do Status Quo. Nunca tinha relacionado essas bandas e achei interessante a comparação. E aí… O que você acha?
Tenho gostado muito de ler as matérias do Bueno. Acho que de todos nós, ele é o que mais evoluiu em qualidade e escrevo isso sem nenhuma demagogia. Os textos são simples, diretos e interessantes. Talvez eu esteja influenciado pela escolha da banda também. Gosto do Oasis. Da mesma forma gosto do Blur e do Verve. O britpop é mais refinado que o grunge, assim como a psicodelia inglesa foi mais sofisticada que a americana. É uma característica inglesa. Quanto à comparação que o crítico citado pelo Bueno fez entre o Oasis e o Status Quo, me parece descabida a princípio. Mas vale dar uma conferida, pois a gente sempre pensa no Status Quo de Piledriver pra frente e eles já tinham lançado bem uns quatro discos mais psicodélicos antes de ganharem o peso que os caracterizaram depois. De toda forma, se eu parasse meu carro numa estrada para me decidir entre dois caminhos, o da esquerda me levaria a Status Quo e o da direita a Oasis. Dificilmente eu chegaria a dois lugares tão diferentes por um único caminho.
Pô…receber um elogio desse do Marco me faz ganhar o dia…rs
Também é interessante que vc goste da banda. Tá aí um bom exemplo para outros seguirem…rs
Também gostei de vc falar "de todos nós". Assim vejo que vc, que estava meio sumido, ainda faz parte do grupo…rs
Legal essa definição de que a inglaterra, ou os ingleses, serem mais refinados que os americanos.
Eu fiquei com vontade de voltar a ouvir o Status Quo. Conheço pouco a discografia e bem só o já citado Piledriver. Vai saber o que o cara tava pensando. Tenho até que procurar de novo essa crítica para colocar aqui…
Esse disco do Oasis realmente é muito bom. Ele e o Be Here Now são os que mais gosto.