Maravilhas do Mundo Prog: Fernando Pacheco – Himalaia [1986]
Por Mairon Machado
Fernando sempre se caracterizou por ser um talentoso músico. Tendo diversos professores em sua vida, multi-instrumentista, acompanhou bandas de baile, sendo líder da conhecida banda santista Tropical Jungle. Contou com a ajuda de diferentes pessoas para consolidar sua marca entre os grandes no cenário brasileiro. Foi no Recordando o Vale das Maçãs que começou a ganhar destaque. Ao mesmo tempo em que se tornou professor no Grupo AMA e no Conservatório Musical Heitor Villa-Lobos, ambos em Sampa, ficou reconhecido como o Robert Fripp brasileiro. Graças à sua genialidade nas composições.
Fernando Pacheco, liderando o Recordando o Vale das Maçãs |
Mesmo com o fim precoce da banda em 1982, não parou no tempo (como por exemplo, nosso querido guitarrista Mario Neto). Antes, a RVM havia lançado o compacto Sorriso de Verão/Flores na Estrada, que ficou no primeiro lugar das paradas brasileiras durante seis meses. Fernando ainda apresentou-se com o projeto Pacheco e Carioca, ao lado de Carioca Freitas, antes de mudar-se para o sul de Minas Gerais onde assumiu a função de professor titular do Conservatório Estadual de Música J.K.O. (Pouso Alegre). Em 1985, lançou o magnífico álbum Instrumental junto com Fernando Pereira com o nome de Duo Fernando’s. Os dois já vinham ensaiando e fazendo shows desde 1983.
A pergunta que fica é: seria Fernando Pacheco capaz de produzir uma Maravilha Prog, assim como fez quando liderava o Recordando o Vale das Maçãs? A resposta é sim e não, já que Himalaia apresenta dois lados distintos.
O lado A, “The Past”, foi gravado com o Recordando o Vale das Maçãs na cidade de Curitiba, durante o ano de 1982, e traz indícios do que seria o segundo álbum do grupo. O lado B, “The Present”, apresenta Pacheco tocando todos os instrumentos. Ambos os lados demonstram uma aula de sentimentalismo e técnica com o músico viajando por onde mais gostava: os temas instrumentais. Apesar de composto por apenas cinco faixas, as mesmas são certeiras e grudam no cérebro de qualquer apreciador de boa música.
Mas é em “The Past” que está a nossa maravilhosa canção. A abertura do LP é feita com “Sonho”, tendo um arranjo similar ao que foi gravado em As Crianças da Nova Floresta. Depois, entramos nos maravilhosos treze minutos da faixa-título.
Pacheco e o renomado violonista e compositor Leo Brower |
Ela começa com o embalo lento e cadenciado de “Sonho”, quebrado por uma emotiva introdução recheada com violão, flautas e pássaros. No melhor estilo Recordando o Vale das Maçãs! Apresenta um lindo solo de flauta enquanto Pacheco dedilha seu violão. A marcação aumenta seu ritmo, trazendo um lindo solo de guitarra e de teclados.Após começar lenta e suave, vai aumentando a cadência e atinge seu pique no rápido e complicado solo de violino. O clima muda, com flauta e teclados duelando sobre dedilhados de violões e baixo. Parece uma guerra de cantos entre pássaros na floresta. Inicia uma sessão mais viajante com solos de flauta, violino e guitarra, sempre acompanhados pela cadência RVMiana. Por fim, a bela introdução é retomada com o violão solando mais agressivo enquantos teclados e violinos deliram. A canção termina em um climão de floresta com a levada principal executada anteriormente sendo acompanhada pelos viajantes solos de teclado, flauta, guitarra e, principalmente, pelo violão dedilhado que acompanha toda essa faixa. Encerra o lado “The Past” com um tema de flauta daqueles tão grudentos como a introdução.
Relançamento em CD de Himalaia |
O lado “The Present” possui outra canção digna de ser chamada de maravilha, a complícadissima “Progressivo L-2 Sul”. Aqui, Fernando mostra todo o seu trabalho e aprendizado no violão clássico. Complementam o álbum a mini-suíte “Ciclo da Vida” – outra nos velhos moldes de As Crianças da Nova Floresta – e “Civilização”, um pequeno dedilhado de violão com um belíssimo solo de flauta.
Himalaia não fez muito sucesso no Brasil, mas acabou estourando no exterior (como já havia acontecido com a RVM). Fernando Pacheco ainda gravaria o CD As Crianças da Nova Floresta II (1993) e o trabalho 1977-82 (1994), ambos ao lado do Recordando o Vale das Maçãs. Em termos de carreira solo, lançou em 1998 Himalaia II (realizando concertos e trabalhos de divulgação na Espanha e Portugal) e em 2005, com o Duo Fernando’s, lançou Homenagem a Johnny Alf. No ano seguinte, lançou o belo trabalho Spirals of Time ao lado de Giuliano Tiburzio (baixo), Antonio Bortoloto (bateria), Leonardo Zambianco (voz), Nélio Porto (teclados) e Eduardo Floriano (vocais).
Fernando Pacheco, o Robert Fripp brasileiro |
Em termos docentes, Pacheco assumiu o cargo de professor de violão e guitarra no curso de música da Universidade Vale do Rio Verde (UninCor) em Três Corações (MG). Nessa mesma universidade, assumiu o cargo de coordenador e professor do curso de Pós-Graduação em Música. Leciona até os dias atuais, ao mesmo tempo em que apresenta-se em concertos com o Recordando o Vale das Maçãs e em trabalhos de jazz instrumental brasileiro com o Duo Fernando’s e Fernando Pacheco Trio. Assim, mostra todo o seu talento e inteligência para o público que sabe valorizar um trabalho de primeira qualidade.
Uma pergunta: Porque vc cita que o guitarrista Mario Neto parou no tempo, não contra sua opinião, apenas uma duvida mesmo?
Olá Marcio, obrigado pela pergunta. Digo isso por que o Mario fez apenas o excelente Sete Cidades em 1999, e nada mais. Mesmo com o retorno do Bacamarte em 2012, ele não lançou nada de novo. E é um guitarrista talentosíssimo, que podia estar abrilhantando muito mais nossos ouvidos com suas melodias e técnicas. Abraços