Discografias Comentadas: Anthrax – Parte II
Por Pablo Ribeiro
Após Joey Belladona sair (ou ser saído) da banda – fato até hoje sem uma explicação muito convincente – o Anthrax entrou naquele que foi o mais conturbado de sua carreira. Foram quase 20 anos de troca de integrantes, baixa aceitação de fás e críticos, abandono por parte de gravadoras e discos sem o mesmo brilho de antigamente. Vamos então conhecer a segunda parte da discografia de um dos grandes do Thrash (e outros gêneros aqui e ali) que começou exatamente com a entrada do substituto de Belladonna.
Sound Of White Noise [1993]
Apesar de ter uma sonoridade consideravelmente diferente dos seus álbuns do final da década de 80, Sound Of White Noise possui, sim algumas similaridades com o estilo adotado pelo grupo no derradeiro registro com Belladonna.
Principalmente no que diz respeito à velocidade de andamento – mais lento – das canções em geral. A maior mudança se dá nos vocais, uma vez que John Bush (então vocalista do Armored Saint) tem um timbre mais grave e consideravelmente menos melódico que seu antecessor. De qualquer forma, Bush não faz feio na estreia. Muito bem entrosado com a banda (Scott Ian e Dan Spitz nas guitarras, Frank Bello no Baixo e Charlie Benante na bateria) e encaixando muito bem sua voz em temas sensivelmente mais hardcore – o que não é surpresa.
O estilo sempre teve lugar (em maior ou menor grau) nas canções da banda. É aqui, também, onde algumas influências de Metal Industrial (minimalistas) se fazem presente no som do grupo. Ian estava cada vez mais interessado nesses estilos. O grupo, após o lançamento desse álbum, chegou a excursionar com Ministry e Helmet. Mesmo sendo bem uniforme, merecem destaque “Only“, “Hy Pro Glo”, “Room For One More” e a balada dark “Black Lodge” (com orquestrações de Angelo Badalamenti. Responsável pela trilha sonora do seriado “Twin Peaks”, sucesso na época). Todas aliás, merecedoras dos respectivos singles.
Após a turnê de divulgação de Sound Of White Noise, o guitarrista decide deixar a banda, o que levou o grupo a procurar um substituto. Nesse ínterim foi lançado Stomp 442. Scott Ian e Charlie Benante tocam quase todas as partes de guitarras, tendo a ilustre participação de Dimebag Darell em algumas partes, bem como o guitarrista Paul Crook (que já havia sido técnico de guitarra do próprio Dan Spitz).
Musicalmente, Stomp 442 continua de onde Sound of White Noise parou. É um pouco mais direto e possui partes mais pesadas. As influências minimalistas continuam a dar as caras como em “Random Acts Of Senseless Violence“, a faixa de abertura. De um modo geral, Stomp 442 é mais Hardcore que seu antecessor (e por consequência, toda a discografia anterior da banda). “Fueled” e “Nothing” foram lançadas como singles. Destaque para o andamento bem hardcore da primeira e da ironia que lembra o bom humor do antigo Anthrax na segunda. Cito também a porradaria de “King Size” (essa com as guitarras de Darell).
Volume 8: The Threat Is Real [1998]
Provavelmente o disco mais fraco e aquele com menor aceitação de público e crítica, de toda a carreira do Anthrax. Volume 8 ainda assim traz ótimas músicas. Exemplos concretos são as músicas de trabalho: “Inside Out”, “Born Again Idiot” (ambas contando novamente com os talentos de Dimebag Darell nas seis cordas) e “Crush”.
Merece menção também, a quase punk “Catharsis” (essa, em especial, uma bela de uma porrada!), e “Killing Box” com a participação do também Pantera, Phil Anselmo. O problema aqui, se deve mais a uma falta de constância no estilo das composições do que à qualidade das mesmas. O álbum também foi prejudicado pela pobre promoção por parte da gravadora, fazendo com que muita gente que fala mal do disco sequer tenha ouvido por inteiro.
Durante as gravações do álbum, Ian e Benante ainda arranjaram um tempo para se reunir novamente com Dan Lilker (baixista de “Fistful Of Metal”) e Billy Milano (M.O.D.) para lançar o excelente Bigger Than The Devil, segundo disco de estúdio do projeto paralelo Stormtroopers Of Death, lançado no ano seguinte.
Com o fraco desempenho e a fria recepção de Volume 8, aliado ao lançamento da coletânea Return Of Killer A’s (1999) em que Bush dividia os vocais com Belladona na faixa “Ball Of Confusion” (cover do grupo The Temptations), começaram a surgir boatos de uma reunião da formação clássica (Belladonna, Ian, Spitz, Bello e Benante).
O longo tempo sem lançar material novo e a incapacidade de efetivar um guitarrista no grupo também contribuíram – e muito – para as suspeitas. Apesar do burburinho, cinco anos depois de Volume 8, finalmente chega às prateleiras We’ve Come For You All.
O mais forte dos discos da “fase Bush”, segundo vários fãs, surpreendeu positivamente e jogou um balde de água fria naqueles que torciam por uma volta de Belladonna. Logo depois da curta introdução “Contact”, “What Doesn’t Die” entra quebrando tudo com o trabalho preciso da dupla formada por Ian e o efetivado Rob Caggianno (também produtor).
Caggianno, aliás, encaixou-se perfeitamente no som da banda, acabando com o problema causado com a saída de Spitz. O mais coeso disco do Anthrax em uma década, WCFYA possui, também algumas das melhores músicas não só da fase Bush, mas talvez de toda a carreira dos americanos. Canções como a citada “What Doesn’t Die“, “Black Dahlia (com uma surpeeendente parte quase Grindcore), “Refuse To Be Denied“, “Strap It On” e “Cadillac Rock Box” (essas duas com a participação de Dimebag Darell, que seria assassinado no final do ano seguinte), os singles “Safe Home” e “Taking The Music Back” (com uma canja de Roger Daltrey do The Who), servem como exemplo do poderio da bolacha.
Citar algumas músicas em detrimento de outras seria até injusto em se tratando de um repertório tão forte. Com a ótima recepção ao álbum, o grupo ainda gravou um DVD/CD ao vivo, o excelente Music Of Mass Destruction.
Aparentemente tudo corria bem, quando novas informações acerca de uma reunião da formação clássica do Anthrax voltaram a rolar. Desta vez, logo ficou claro que algo mais sério estava acontecendo. Apesar de Bush insistir no fato de que permaneceria na banda, foi Frank Bello quem deu o fora (se mandando para tocar no Helmet) em 2004. Para seu lugar, foi recrutado temporariamente outro Armored Saint: Joey Vera, que tambem fazia parte do Fates Warning. Vera segurou a onda em vários shows até que foi anunciado o que muitos davam como certo há algum tempo: O Anthrax retonaria a formação Belladonna / Ian / Spitz / Bello / Benante para uma turnê de reunião.
A principio, seriam apenas shows em comemoração à história da banda. Ao final dos shows (que foram gravados para o lançamento do ótimo DVD/CD Alive 2), Bush, ao contrário de Bello, se recusou à voltar ao grupo, apenas cumprindo algumas datas pré agendadas de shows. Depois de muita procura e várias suspeitas da volta permanente de Belladonna, o grupo recruta Dan Nelson, vocalista das desconhecidas bandas TRED e BlackGates. Nelson tem um tibre que se situa entre Bush, Phil Anselmo (Pantera) e algo de Chris Cornell (Soundgarden, Audioslave). Parecia se encaixar muito bem com o estilo da banda naquele momento. Assim, a banda chegou a entrar em estúdio e sair em uma pequena turnê com Nelson, na qual algumas novas músicas foram executadas, a exemplo de “Fight ‘em ‘Till You Can’t”, “Revolution Screams” e “Vampyres”, todas de qualidade indiscutível, bem como músicas da fase Belladonna e Bush.
O tipo de voz de Nelson se encaixou melhor nas canções originalmente cantadas por Bush, mas as músicas da era Belladonna também ficaram legais na voz do cara, dando a clara certeza de que o som da banda evoluiria do ponto onde Bush parou.
Mas novamente a banda estava com o posto de vocalista desfalcado! Nelson estava fora da banda, devido a um episódio mal contado pra cacete. O vocalista teria entrado numas de aporrinhar Frank Bello, que saiu no braço com o cara, segundo fontes extra-oficiais. Tudo parecia que iria desandar de vez com o futuro do Anthrax no ponto mais obscuro e incerto de toda sua carreira, com um disco pronto com os vocais de Nelson engavetado – já que Ian e Benante não permitiriam o lançamento de qualquer coisa com os vocais do figura.
Bush (de novo!) foi contatado e chegou a cogitar regravar os vocais do álbum, mas acabou desistindo, uma vez que não havia feito parte do processo de composição da bolacha. Restava uma última alternativa (embora alguns envolvidos se colocariam contra): chamar Joey Belladonna de volta ao microfone, aproveitando que os laços – pelo menos profissionais – haviam sido reatados, por causa da reunião e retomar full-time a formação mais clássica e adorada da banda.
Belladonna aceitou o posto, se comprometendo a regravar os vocais de Nelson (que ficou puto e processou o grupo), e sair em turnê promovendo o álbum que finalmente seria lançado, depois de dois anos. Spitz não topou a volta, devido à questões religiosas, pessoais e de saúde (um fulminante ataque cardíaco quase matou o cara em 2009).
Dessa vez, não foi um problema, já que Caggianno estava extremamente bem entrosado com a banda e havia gravado com Ian todas as guitarras de Worship Music, nome dado ao álbum com os vocais de Belladonna no lugar de Nelson. Musicalmente, o disco mostra um Anthrax renovado. Como se não tivesse se separado vinte anos antes, nem tivesse passado pela porrada de problemas de lá até aqui. Pesado, rápido, coeso e muito bem composto, o disco, apesar de apresentar alguns destaques óbvios (“Fight ‘em ‘Till You Can’t”, “The Devil You Know“, “Earth On Hell”, “I’m Alive” – novo nome de “Vampyres” – “In The End“), o disco todo é excelente, atingindo o posto de Melhor Disco do Ano em diversas publicações do mundo inteiro e atingindo em cheio o gosto de quase 100% dos fãs, sendo comparado a alguns dos maiores êxitos da fase clássica da banda.
Logo após o lançamento de Worship Music, o quinteto saiu em turnê, passando pelo Brasil (com o veterano Misfits como banda de apoio), com shows excelentes, provando que o Anthrax ainda é uma das mais poderosas formações do Rock e retomando seu posto de gigante da música pesada.
O Sound of White Noise para mim é um exemplo de preferência por memória afetiva. Apesar de reconhecer uma maior importância de pelo menos outros dois discos para a a carreira deles, esse álbum é o meu preferido por ter sido o primeiro que ouvi. Only é uma das músicas mais legais da carreira deles. Em toda banda que entrava sempre tentava colocar ela no repertório…rs. Mesmo se fosse uma banda de classic rock…rs
Dos outros discos dessa segunda lista não tem como não falar do WCFYA e o último. E eu sou um dos que ouviu muitíssimo pouco o Stomp 442 e o The Threat is Real…