Apocalyptica – Inquisition Symphony [1998]
Para muita gente, o grupo finlandês Apocalyptica talvez seja apenas aquela curiosa banda que gravou há dezesseis anos um álbum apenas com músicas do Metallica interpretadas por um inusitado quarteto de violoncelos (o excelente – e, por que não, curioso – Plays Metallica by Four Cellos, de 1996). Para outros, talvez seja o grupo que se transformou em um expoente do rock/metal com toques góticos, que atrai um bom público (principalmente feminino, como se pode conferir na recente passagem do quarteto por São Paulo) com suas composições hora pesadas, hora emotivas, e, como um atrativo a mais, traz um trio de violoncelistas acompanhados de um baterista e de um ocasional vocalista, ao invés do usual baixo/guitarra/bateria/vocais do mundo do rock.
Apesar destas facetas serem verdadeiras, o melhor momento do grupo é exatamente o ponto de transição entre um grupo de amigos (formados em música clássica) que resolveram gravar um disco homenageando seus heróis no mundo do metal e aquele que alcançou fama com suas composições inovadoras e criativas, conseguindo se estabelecer além da pura curiosidade despertada pelos instrumentos que utilizam.
Eicca Toppinen, Paavo Lötjönen, Max Lilja e Antero Manninen estudaram juntos na Sibelius Academy de Helsinki e se reuniram para tocar covers do Metallica em 1993, lançando sua já citada estreia três anos depois. O inusitado álbum chamou a atenção da mídia, vendendo cerca de 800.000 cópias, e o destaque obtido os levou a gravar um segundo disco dois anos depois, Inquisition Symphony, o qual é o assunto deste texto.
O grupo continuou a gravar composições do Metalica, registrando mais quatro temas: “Nothing Else Matters” e “Fade to Black” (tão belas que podem levar os mais sensíveis às lágrimas), “For Whom the Bell Tolls” (com muito peso dado pelos instrumentos) e uma abreviada, e ainda assim excelente, “One“. No entanto, ampliou seu espectro musical, e, além das músicas do quarteto de thrash metal da bay area de San Francisco, aparecem também composições dos grupos Faith No More (a conhecida “From Out of Nowhere”), Pantera (“Domination”) e Sepultura (“Refuse/Resist”, com violoncelos muito graves emulando o vocal gutural de Max Cavalera, e a faixa que daria título ao álbum, que logo se tornaria um dos maiores destaques do repertório do Apocalyptica).
Pela primeira vez o grupo se arriscava a registrar composições próprias, incluindo três temas escritos por Eicca Toppinen. As atraentes “Harmageddon”, “M.B.” e “Toreador” (que não tem nada a ver com a famosa peça da ópera Carmem, de Bizet) abriram o caminho que o grupo passaria a percorrer a partir do álbum seguinte (o também recomendável Cult). Com o tempo, as covers se tornariam minoria em seus registros, se tornando quase inexistentes.
O Apocalyptica seguiria sua trajetória musical, mesmo perdendo Antero Manninen (substituído pelo carismático Perttu Kivilaakso) e Max Lilja, transformando-se em um trio e incorporando bateria em várias de suas músicas. Esta, em pelo menos dois discos, tocada pelo “monstro” Dave Lombardo (Slayer), sendo que, vez por outra, contaram com vocais executados por cantores convidados como Max Cavalera (Soulfly), Nina Hagen, Ville Valo (HIM), Corey Taylor (Slipknot), Cristina Scabbia (Lacuna Coil) e Till Lindemann (Rammstein). Conseguiram um relativo sucesso no mundo do heavy metal, embora sem nunca abandonar a pecha de ser “o grupo que tocava Metallica em violoncelos”, e continuam firme e forte na ativa, encontrando-se atualmente em turnê de divulgação de seu sétimo álbum, “7th Symphony“, de 2010.
Talvez esta história tivesse sido diferente se o grupo não tivesse resolvido abrir espaço para composições de outros grupos, e para as próprias ideias, logo em seu segundo registro. Para mim, o ponto alto de sua discografia! Alguém me acompanha em um air cello aí?
Track List:
1. Harmageddon
2. From Out of Nowhere
3. For Whom the Bell Tolls
4. Nothing Else Matters
5. Refuse/Resist
6. M.B.
7. Inquisition Symphony
8. Fade to Black
9. Domination
10. Toreador
11. One