Discografias Comentadas: Slayer – Parte I

Discografias Comentadas: Slayer – Parte I

Kerry King, Jeff Hanemman, Dave Lombardo e Tom Araya

Por Mairon Machado

Seguindo as Discografias Comentadas sobre os quatro grandes do Thrash Metal, que já teve por aqui a Discografia do Anthrax e a do Megadeth, apresentamos o grupo californiano Slayer. Com uma carreira sólida, o grupo é talvez o que teve uma constância de lançamentos muito bons, sem gerar polêmicas com os fãs. São onze álbuns de estúdio, dois álbuns ao vivo e uma única coletânea, mas o suficiente para fazer desse poderoso quarteto um dos principais nomes do estilo.


Show no Mercy [1983]

Lançado no terceiro dia de dezembro de 1983, após o Slayer participar da coletânea Metal Massacre III, Show No Mercy é o álbum que estabelece o Slayer como um dos pilares da santíssima trindade do Thrash metal, ou Tríade Demoníaca, no início da década de 80, ao lado de Venom e Exciter.

Considerado o álbum pai do Thrash Metal, ao lado de Kill ‘Em All (Metallica), é um disco sensacional do início ao fim, com riffs e refrões que marcaram (e ainda marcam) época. Nele temos os primeiros clássicos do grupo, como “Evil Has no Boundaries”, “The Antichrist”, “Die By the Sword” e “Black Magic“. 

O que chama a atenção nesse álbum é o belíssimo trabalho das guitarras de Jeff Hanneman e Kerry King, além de que o vocalista e baixista Tom Araya não canta com voz gutural como outros do estilo, e o baterista Dave Lombardo ainda estava aprendendo a se comportar atrás dos dois bumbos.

As influências do punk aparecem em “The Final Command” (primeira canção do grupo a apresentar um solo de guitarras gêmeas) e em “Tormentor“, um dos melhores trabalhos de guitarra da carreira da dupla Hanneman/King, enquanto as influências da NWOBHM (principalmente do Iron Maiden fase Paul DiAnno) surgem na instrumental “Metalstorm” (a qual antecede “Face the Slayer”) e “Crionics“, para mim, a melhor canção do LP. Já Fight Till Death” e a faixa-título são as maiores expressões da velocidade que consagrou o grupo mundialmente.

As letras tratam em sua maioria sobre temas satânicos, morte e revoltas, sendo no geral bastante infantis para o dia de hoje, mas na época, assustou muita gente Estados Unidos afora. É nessa época que o quarteto adotou um visual recheado de correntes, rebites, sangue, cruzes invertidas e munhequeiras pontiagudas, além dos olhos de Hanneman e King pintados de negro. Os lados do vinil original são chamados de 6 (lado A) e 66 (lado B).

E quanto a Show no Mercy, a palavra ESSENCIAL diz muito sobre o mesmo.


Hell Awaits [1985]

Maduros musicalmente, o quarteto californiano continua sua saga de canções satânicas, e aumenta a velocidade dos riffs de suas canções, além da duração das canções. Hell Awaits foi lançado após o EP Haunting the Chapel e o ao vivo Live Undead (ambos de 1984).

As canções passam a ser mais trabalhadas, principalmente pela colaboração de Ron Fair (que trabalhava para o selo Chrysalis, especializado em rock progressivo), e os temas satânicos continuam em voga. Em comparação a Show No Mercy, apenas “Hardening of Arteries” poderia estar presente, já que é a mais curta e também a mais simples do LP.

Épicos prog-metal tomam conta, destacando “Hell Awaits“, com o Satanás em pessoa abrindo as portas do inferno, a intrincada “At Dawn They Sleep”, repleta de mudanças de acordes, e a sensacional “Crypts of Eternity“, uma das melhores canções da carreira do grupo.

É notável a evolução musical de Lombardo, que destrói nas velozes “Kill Again” e “Praise of Death”, assim como baixo de Araya também está bastante presente e claro na maioria das canções, principalmente em “Necrophiliac“. Para muitos, um álbum pretensioso demais, para outros, a criação de um estilo novo, o prog metal. Na verdade, uma amostra de que o Slayer estava partindo para novos rumos, que seriam aperfeiçoados na sequência.


Reign in Blood [1986]

Nove entre dez fãs de Slayer consideram este o melhor disco do grupo. E não é para menos. Reign in Blood é uma obra-prima, que facilmente pode entrar na lista dos cinco melhores de todos os tempos em todos os estilos.

Completamente preparados para gravar um álbum perfeito, Hanneman, King, Lombardo e Araya criam um disco perfeito do início ao fim. É notável a importante participação do produtor Rick Rubin, que tornou o som do grupo ainda mais veloz e sujo, fugindo das longas canções de Hell Awaits para canções curtas e muito violentas tanto nas letras quanto na insana velocidade das guitarras, baixo e bateria, além de grudar uma na outra, não permitindo ao ouvinte sequer respirar.

As letras satânicas são abandonadas por temas como violência, religião, morte, entre outros temas, e musicalmente, é impressionante a performance de Lombardo com os dois bumbos, como comprovam a polêmica “Angel of Death” (que narra sobre os crimes nazistas cometidos por Josef Mengele no Campo de Concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial), “Postmortem” e a clássica “Raining Blood“, um dos riffs mais conhecidos do Slayer, e com uma introdução de fazer muita gente borrar as calças. Além dos bumbos, Lombardo faz viradas muito velozes (“Piece By Piece” e “Altar of Sacrifice“), e Araya também canta em uma velocidade absurda (“Necrophobic”, “Jesus Saves” e “Reborn”), despejando palavras sem ser gutural, o que torna ainda mais interessante de se ouvir o som do Slayer.

A única canção com o freio de mão puxado (e mesmo assim muito veloz), é “Epidemic”, cujos solos de guitarra são coleções de zumbidos alucinantes. “Criminally Insane” é a marca registrada das canções do Slayer a partir de então, ou seja, com velocidade, variações mais cadenciadas e muito peso construindo canções prontas para quebrar pescoços por aí. A se reclamar apenas da curta duração do LP (pouco menos de trinta minutos), mas o suficiente para deixar qualquer um de joelhos e com o pescoço dolorido por dias. Se existe a perfeição no Thrash Metal, o nome dela é Reign in Blood


South of Heaven [1988]

Com a difícil tarefa de fazer um álbum que superasse Reign in Blood, dois anos depois, South of Heaven chegou às lojas, e decepcionou a muita gente. A velocidade deu espaço para o peso, e as canções tornaram-se mais trabalhadas, fazendo uma mescla dos três álbuns anteriores em um único álbum.

Esse é o primeiro disco do Slayer a apresentar um cover, no caso, uma versão para “Dissident Agressor”, do Judas Priest, que é muito aclamada pelos fãs até os dias de hoje, e que ficou bem parecida com a original.

Algumas canções poderiam estar facilmente em Reign in Blood, principalmente pela sua velocidade, como são os casos de “Ghosts of War”, “Cleanse the Soul” e “Silent Scream“, mas o que predomina no disco são riffs arrastados, e muito pesados, destacando a ótima faixa-título (que assim como “Raining Blood” é portadora de um riff conhecidíssimo dentro do Thrash Metal), “Live Undead”, “Behind the Crooked Cross” e “Mandatory Suicide“. 

Peso é o que não falta em “Read Between the Lies” e “Spill the Blood”, essa última com uma interessante introdução feita com violões, e que, por lembrarem bastante a linha de criação das canções de Hell Awaits, acabaram ficando esquecidas no repertório do grupo, mas complementam um bom álbum, incompreendido em sua época, mas hoje, considerado um dos maiores trabalhos dos californianos.


Seasons in the Abyss [1990]

O álbum para conhecer o som do Slayer. Ele é a melhor mescla do que foi apresentado nos discos anteriores. Estão presentes as canções longas e trabalhadas (“Seasons in the Abyss” e “Dead Skin Mask”), o peso avassalador (“Blood Red”, “Spirit in Black“, “Expendable Youth” ) e a velocidade (War Ensemble”, “Hallowed Point” e “Born of Fire“).

Assim como Reign in Blood, as canções são praticamente emendadas umas nas outras, não dando chances de o ouvinte parar para respirar. “Skeletons of Society” e “Temptation” apresentam riffs marcados e bastante pesados, mostrando um pouco do que o Slayer estava para fazer dali por diante, com a canção sendo mais compacta e mesclando tempos velozes com outros mais pesados.

A primeira também contém outro fato que chama a atenção dos ouvintes, que é o uso de escalas orientais nos solos de King e Hanneman, o que também pode ser conferido em “Dead Skin Mask” e na poderosa faixa-título, um dos grandes clássicos do Slayer, com um clipe que marcou minha infância principalmente pela presença constante das pirâmides do Egito, desta que é a última grande obra-prima gravada pelo quarteto King, Hanneman, Araya e Lombardo, já que o baterista saiu logo após a turnê de divulgação deste álbum, que gerou o ao vivo Decade of Agression, em 1991.

Lombardo saiu do grupo em maio de 1992, alegando problemas internos com os demais membros do Slayer e indo fundar o Grip Inc., enquanto o Slayer recrutou o ex-Forbidden Paul Bostaph para seu lugar.

Tom Araya, Paul Bostaph, Kerry King e Jeff Hanneman
 

Divine Intervention [1994]

Depois de gravarem o medley “Disorder” (com três canções covers do Exploited, as quais são “War”, “UK ’82” e “Disorder”) ao lado de Ice-T, para a trilha do filme Judgement Night (1993), a estreia da nova formação ocorre apenas em 1994. Esse é o disco do grupo que mais vendeu nos Estados Unidos até então, alcançando a oitava posição.

A primeira apresentação de Bostaph é a sensacional “Killing Fields”, uma pancada para saudosista nenhum de Lombardo colocar defeito, com o batera mandando ver tanto nos dois bumbos quanto nas viradas alucinantes, fora que o ritmo da canção é aquele que já havia caracterizado o som do grupo desde South of Heaven.

Já “Sex. Murder. Art” é uma violenta canção, e que mesmo sendo curta, causa seus estragos. Mas se você quer violência, prepare-se para  “Mind Control” e “Dittohead“, esta última, talvez a canção mais veloz já gravada pelo grupo, e com Bostaph novamente provando ter sido uma excelente escolha para o lugar de Lombardo. “Serenity in Murder” apresenta vocais com efeitos, mas também é violentíssima, com a pancadaria comendo solta na bateria. “Circle of Beliefs” é mais uma que Bostaph manda ver, assim como Araya cuspindo a letra ferozmente.

Porém, quem mais chama a atenção é a dupla Hanneman e King. Simplesmente os caras então tocando demais. Basta ouvir o riff da já citada “Circle of Beliefs”, ou o de “Fictional Reality”, assim como os solos da mesma, quase impossíveis de serem reproduzidos. Ou então o dedilhado e os riffs assustadores da longa introdução de “213”. 

O peso de outrora surge em “SS-3”, e no riff imortal da linda e épica faixa-título, a melhor canção da era Bostaph, e um dos maiores clássicos dessa nova formação. Um álbum muito bom, que calou a boca dos que pensavam que era impossível existir Slayer sem Lombardo, permitindo o grupo continuar seu caminho como um dos maiores nomes do Thrash Metal mundial, e certamente, está entre os três melhores já lançados pelo grupo, ao lado de Reign in Blood e Hell Awaits (N. R. na opinião do autor).

3 comentários sobre “Discografias Comentadas: Slayer – Parte I

  1. Essa primeira fase do Slayer com Lombardo gerou apenas discos fantásticos! Meu preferido sempre foi o "Show No Mercy", mas todos os outros ganhariam nota acima de 9 se fosse preciso qualificá-los. E "Divine Intervention" é o melhor disco com Bostaph, então essa primeira parte conseguiu reunir apenas discos recomendadíssimos ou essenciais!

    Pelo conjunto da carreira, acho o Slayer o melhor grupo do Big 4, embora o Metallica tenha os melhores discos ("Ride" e "Master"). Concordam?

  2. Eu acho o Slayer o melhor do Big 4 tanto pelo conjunto como pelos discos. Reign in Blood e Hell Awaits são obras-primas, q o Metallica quase iguala com Kill 'em All ou Ride the Lightning. Não sou tão fã de Master of Puppets. Anthrax até a entrada de Joey Bush também concorre forte. O mais fraco é o Megadeth na minha opinião

  3. Não tem como não destacar os vocais de Tom Araya nos dois primeiros discos do Slayer. Aqueles gritos agudos que ele dá em músicas como Metal Storm / Face the Slayer, Kill Again e Fight till Death são "pertubadores"!

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