Review Exclusivo: Marcelo Camelo (Porto Alegre, 02 de setembro de 2012)
Por Micael Machado
Fotos por Cassiano Rodka*
Fotos por Cassiano Rodka*
O theatro São Pedro (com agá mesmo) é o mais imponente de Porto Alegre e um dos mais importantes do estado do RS. Apesar de morar na capital gaúcha há um bom tempo, nunca tinha assistido a nenhum espetáculo no local, e coube ao carioca Marcelo Camelo me proporcionar esta experiência pela primeira vez.
Pouco menos de quatro meses depois de sua mais recente apresentação na cidade, o (ex?) vocalista do Los Hermanos retornava à Porto Alegre para apresentar o seu show “Camelo, voz e violão”, onde interpretaria apenas com o acompanhamento do instrumento canções de sua antiga banda, da carreira solo e composições suas originalmente gravadas por outros intérpretes, além de músicas inéditas. O espetáculo teve todos os ingressos vendidos, e foi registrado para um futuro DVD (bem como outro ocorrido na noite anterior, primeiro de setembro, ao qual infelizmente não podemos comparecer devido aos ingressos também estarem esgotados).
Com pouco menos de dez minutos de atraso (o show estava marcado para o inusitado horário das dezoito horas), Camelo adentrou o palco (decorado com uma mesa de cabeceira com um abajur aceso em cima) sob os aplausos de todos. Iniciando com duas músicas inéditas (“Luzes da Cidade” e “Dois em Um”), o músico seguiu com “Pra Te Acalmar” (do disco Toque Dela), “Casa Pré-fabricada“, a primeira do Los Hermanos na noite e também a primeira a ser acompanhada pelo público (como sempre ocorreu nos shows dos cariocas a que assisti, diga-se de passagem), “Samba a Dois” e “Doce Solidão” (uma das melhores composições de sua carreira solo), onde abandonou o microfone e deixou o público levar sozinho grande parte da letra. As composições adaptaram-se muito bem ao formato intimista proposto pelo músico, e, com mínimas mudanças de arranjo, não precisaram de muito esforço para cativar o fanático séquito de seguidores do cantor.
Thomas Roher e Marcelo Camelo
“Pois É” veio na sequência, ovacionada pelo público, e ainda mais bela e triste que sua versão de estúdio. No meio desta canção, adentrou o palco o músico Thomas Roher, que deu um colorido ainda maior ao show com sua rabeca. Ao final da canção, Camelo se dirigiu pela primeira vez ao público, apenas para apresentar seu colega de palco (nas outras músicas, ele apenas se inclinava e agradecia de forma tímida e envergonhada). Thomas permaneceria no palco por um bom tempo, e a união de seu instrumento ao violão de Marcelo serviu para criar novos horizontes a músicas antes já quase perfeitas, como “Dois Barcos” (com uma bela introdução feita na rabeca, e Marcelo, ao seu final, agradecendo de forma simples e humilde a todos por terem comparecido ao local) e “Menina Bordada”, última com sua participação antes do bis.
Apesar de aparentar uma grande timidez, Marcelo foi se soltando aos poucos, e até fez algumas brincadeiras com o público, como quando interrompeu o começo de “Fez-se Mar” para tossir e tirar o pigarro, “autorizando” a todos os presentes a fazerem o mesmo “em nome do bem geral”, como disse, ou quando fechou ainda mais a camisa que vestia devido aos botões abertos estarem “meio indecentes”. Ainda contou uma bela história sobre sua família e seu avô, compositor de “Porta de Cinema” (outra inédita), “tricolor e sambista nas horas vagas”, a quem ele não conheceu pessoalmente, mas de quem disse ter certeza de que lhe “ajuda muito”.
Sozinho no palco novamente, Marcelo continuou com “A Outra”, para delírio da plateia, que acompanhou a letra praticamente na íntegra. “Santa Chuva” também foi muito bem recebida, assim como “Liberdade”, onde o músico novamente deixou os vocais para o público, que também participou muito de “Cara Valente”, composta por Camelo mas gravada por Maria Rita, e que encerrou a primeira parte do espetáculo.
Após uma breve pausa, o músico retornou para o bis sob os gritos de “lindo” de algumas meninas presentes ao teatro, e prosseguiu com a bela “Saudade”, seguida de “Morena” (outra que se adaptou de forma perfeita ao formato da noite), “Tá Bom” (novamente com o acompanhamento de Thomas) e a repetição de “Luzes da Cidade”, engrandecida pela presença da rabeca. Novamente Marcelo encerrou o show, mas o público não queria deixá-lo ir embora.
Anunciando que “agora acabou o DVD, hein?”, e aparentemente de forma não programada, chamou ao palco a namorada Mallú Magalhães (bela como sempre), com quem tocou “Sambinha Bom” (gravada por ela), e que terminou com um longo beijo dos dois. Mesmo com insistentes pedidos por “Janta” (que em sua versão de estúdio conta com os vocais de Mallú, e já havia sido apresentada antes) e outras músicas, Marcelo disse que “até agora quem pediu as músicas foram vocês, agora é minha vez”, e mandou “Vermelho”, outra que ficou muito bonita apenas ao violão. Novamente com a ajuda de Thomas, “Além do Que Se Vê” encerrou a noite, ovacionada e cantada por todos. Em seu final, Marcelo saiu do palco deixando ali apenas Thomas e o público a cantar o “lá-lá-lá” final, público este que finalmente parecia satisfeito após pouco menos de uma hora e meia de um espetáculo calmo, intimista e muito belo, em um dos melhores shows de Camelo a que já estive presente, e cujo “clima” torço para que consiga ser capturado pelo futuro DVD, ao qual já espero com ansiedade.
Se a presença de palco do cantor ficou meio prejudicada por tocar o tempo todo sentado, sua voz, sua habilidade ao violão e, principalmente, a beleza de suas canções compensaram com sobras o que faltou de movimentação. Despidas dos demais instrumentos, e reduzidas ao seu âmago, as músicas apresentadas mostraram que Camelo é um grande cantor, instrumentista e compositor, e que não são precisos muitos recursos tecnológicos ou truques de estúdio para fazer uma canção soar bonita quando se tem talento. Mas isso, quem aprecia o seu trabalho já sabe há muito tempo!
“É bom te ver sorrir!”
Set List:
1. Luzes da Cidade
2. Dois Em Um
3. Pra Te Acalmar
4. Casa Pré-fabricada
5. Samba a Dois
6. Doce Solidão
7. Pois É
8. Janta
9. Dois Barcos
10. Fez-se Mar
11. Porta de Cinema
12. Tudo o Que Você Quiser
13. Menina Bordada
14. A Outra
15. Santa Chuva
16. Liberdade
17. Cara Valente
Bis:
18. Saudade
19. Morena
20. Tá Bom
21. Luzes da Cidade
Segundo bis:
22. Sambinha Bom
23. Vermelho
24. Além do Que Se Vê
* As fotos desta matéria foram publicadas no grupo do facebook Marcelo Camelo em Porto Alegre (ESGOTADO). Entre lá e confira mais fotos e vídeos da apresentação.
Que inveja, e que baita show. Assistir algo tão intimista como esse deve ter sido esplendoroso. Fiquei curioso de ouvir "Dois Barcos" nesse sistema. O Marcelo não atendeu no pós-show?
Mairon, as músicas tristes do Los Hermanos ficaram ainda mais tristes nesse formato, consequentemente muito mais belas. Qualquer hora pintam no youtube, mas o DVD virá e poderás conferir como ficaram.
Segundo um pessoal da produção com quem falei, o Marcelo Camelo tinha uma gravação logo após o show, e não poderia atender ninguém. Como também não atendeu ninguém no sábado, ficou com cara de desculpa essa da gravação, mas vá saber, né?
Parabéns pelo texto! Como não conheces o TSP, normalmente os espetáculos de domingo são as 18 horas. Esse lance de esgotado quase me fez perder o show, mas comprei na bilheteria na sexta-feira para os 2 dias, não foi platéia, mas foi muito bom. Abraço
Obrigado pela força, Carlinhos. Realmente, achei que o horário tivesse sido estipulado pela produção do show, não sabia que era praxe do teatro (que é muito lindo, por sinal).
Eu fiquei em um camarote lateral, e comprei o de domingo no sábado. Para esse primeiro show, já não tinha mais ingressos, ao que a moça me informou.
Até mais!
Mairon, olha aí Dois Barcos! Obrigado a quem upou!