Review Exclusivo: Alanis Morissette (São Paulo, 3 de Setembro de 2012)
Por Davi Pascale
Imagens: Rodrigo Antonio (www.veja.abril.com.br)
A cantora Alanis Morissette está de volta ao Brasil para uma série de shows. A artista canadense se apresentou domingo e segunda em São Paulo. Hoje, ela se apresenta em Curitiba e depois parte para Rio de Janeiro (7), Belo Horizonte (9), Recife (12), Belém (14) e Goiania (16). Estivemos conferindo a segunda apresentação realizada em São Paulo. Confira a seguir.
Ao contrário de muitos de nossos ídolos que pouco ou nunca aparecem por aqui, a artista parece realmente gostar dos brasileiros. Desde o lançamento de Jagged Little Pill em 1995, Alanis Morissette já lançou seis álbuns de estúdio e veio 6 vezes ao nosso país. Portanto, não dá para dizer que ela está sendo falsa quando declara que o Brasil é uma parada obrigatória quando sai em turnê, depoimento dado por Alanis em sua coletiva de imprensa momentos antes do show.
A apresentação teve início pouco após às 22h, com aproximadamente 40 minutos de atraso. O show começou com a mesma canção da noite anterior, “Woman Down”, de seu recém-lançado Havoc and Bright Lights. Sua postura mudou pouca coisa nesses últimos 17 anos. Assim que entrou no palco, recolheu o microfone do chão e começou a cantar andando de um lado para o outro com seu cabelo escorrido no rosto. Exatamente como ocorria há quase duas décadas. De diferente, abusa um pouco menos de acrobacias e se comunica um pouco mais com o público (o que considero um fator positivo). Também estava um pouco mais sorridente do que o de costume. Não sei se isso se resulta do sucesso de público de seus shows, da boa receptividade que seu álbum vem obtendo entre os fãs ou se é por conta de finalmente ter acertado sua vida pessoal. (Para quem não sabe, a cantora está casada com um rapper e tem um filho de 1 ano e meio). Provavelmente, uma mistura dos três acontecimentos.
A escolha dessa canção como número de abertura pode soar estranha para alguns, mas acredito que se deva à mensagem transmitida na mesma. A letra é uma reflexão sobre a ideia da mulher aceitar ser dominada pelos homens. Um convite para uma mudança de postura. A pergunta “Você está pronta para recomeçar” aparece constantemente. A mensagem no show é simples. Alanis encara este momento como uma nova etapa de sua vida, se sente mais forte, determinada. Muito provavelmente pelas razões citadas no paragrafo anterior.A próxima música traz um pouco de nostalgia para aqueles que, como eu, acompanham sua carreira desde o início. Desde quando Taylor Hawkins tocava “You Oughta Know” ao invés de “Best Of You”. Desde quando suas letras traziam um pouco mais de rebeldia. Trata-se de “All I Really Want”, música que abre Jagged Little Pill, seu mais famoso disco. Primeira grande participação do público. Sabiamente, emenda “You Learn”, outra canção desse mesmo álbum. Um de seus maiores hits…
“Guardian” veio na sequência. E, apesar de ser uma música nova, conseguiu empolgar boa parte da plateia. Embora o disco esteja nas lojas há poucos dias, o clipe desta canção vem sendo divulgado já faz um tempinho. Em pouco mais de um mês, atingiu mais de um milhão de visualizações no Youtube. Nada mal…
Assim que ouvi esta música pela primeira vez, me remeteu à sonoridade do álbum Under Rug Swept. Não sei se a cantora concorda comigo ou se foi apenas uma coincidência. Pois, “Flinch”, uma das canções do citado álbum, veio na sequência. Era a primeira surpresa da noite. Alanis tem o costume de mudar algumas canções de uma noite para a outra. E essa foi a primeira delas.
A segunda mudança veio a seguir, “Right Through You”, mais uma do cultuado Jagged Little Pill, mais uma vez bem recebida pelo público. Durante o show Alanis passa pelo violão, pela gaita e pela guitarra. E é fazendo uso desta última que canta mais um de seus grandes sucessos, “Hands Clean”. Na sequência, mais duas surpresas, “So Pure” (do álbum Supposed Former Infatuation Junkie) e “Edge of Evolution”. Ao final da canção declara: “Essa é a primeira vez que tocamos esta música ao vivo. Estou muito animada”.
Depois da novidade, era o momento de ganhar a plateia novamente. “Ironic” veio a seguir. Seu público é extremamente fiel e conhece cada verso de suas canções. Bastava a cantora estender o microfone e começava a ecoar um enorme coro em todo o Credicard Hall. Nesta faixa, a plateia cantou boa parte sozinha. Alanis ficou um bom tempo com o braço estendido, ouvindo seu publico que conhece cada detalhe do megahit.
É comum artistas que não possuem o alcance vocal esperado utilizar essa técnica para disfarçar suas apresentações. Entretanto, essa filosofia definitivamente não se encaixa aqui. São poucos os momentos onde o público canta sozinho. E a artista demonstra um domínio vocal impressionante. Sobe as notas altas sem grande esforço, além de ser super afinada. Coisa rara na cena musical atual, principalmente na cena pop/rock, da qual faz parte.
Na turnê de Jagged Little Pill, que trouxe a cantora pela primeira vez ao Brasil, os músicos arriscavam improvisações e, por vezes, alteravam os arranjos das músicas. Na turnê atual, as faixas vêm sendo interpretadas mais próximas ao disco, sem grandes inovações.
O set segue intercalando uma canção de Havocs And Bright Lights e outra de Jagged Little Pill até o final. Entre elas: “Head Over Feet”, “You Oughta Know” e “Lens”. Após a execução de “Numb”, a cantora se despede do palco.
Contudo, o show ainda não havia terminado. Não demorou para que retornasse com seus músicos para mais duas canções. As escolhidas desta turnê (até agora o bis não tem sofrido alterações) foram “Hand In My Pocket” em uma versão semi-acústica e “Uninvited”, lançada originalmente na trilha sonora de Cidade dos Anjos.
Ao final desta, muitas pessoas foram embora imaginando que o show havia se encerrado. Se deram mal, pois ainda rolou um segundo bis com “Thank You”, carro-chefe do seu álbum de 1998.
O saldo final foi positivo. Tudo bem, faltaram algumas canções. Entretanto, seria impossível tocar tudo o que seu publico espera ouvir em apenas 1h 40 minutos (tempo aproximado do espetáculo). A ideia de trocar algumas músicas é muito legal porque torna cada apresentação única, imprevisível. O show foi super profissional, sem deslizes por parte dos músicos e da cantora (que já se aproxima dos seus 40 anos). Agora só nos resta esperar por sua próxima visita. Quem sabe no próximo Rock In Rio? É possível, uma vez que ela já participou de edições internacionais do festival.
Set List:
1. I Remain (Part 1)
2. Woman Down
3. All I Really Want
4. You Learn
5. Guardian
6. Flinch
7. Right Through You
8. Hands Clean
9. So Pure
10. Edge of Evolution
11. Ironic
12. Havoc
13. Head Over Feet
14. I Remain (Part 3)
15. Lens
16. You Oughta Know
17. Numb
Bis 1:
18. Hand in My Pocket
19. Uninvited
Bis 2:
20. Thank U
Bela resenha, Davi, meus parabéns!
Eu curto bastante o primeiro disco da Alanis, mas depois não acompanhei mais a carreira dela, apenas o que tocou nas rádios. Mas é uma grande cantora, sem sombras de dúvidas!
E cantores que variam constantemente seus set lists sempre ganham crédito comigo!
Obrigado Micael
Eu tb gosto bastante do Jagged Little Pill. Ainda é o meu preferido dela. Mas, na verdade, ele é o terceiro disco. Os dois primeiros (Alanis e Now Is The Time) foram lançados somente no Canadá e tinham uma pegada mais Dance…
Quanto ao lance de variar setlist tb acho bacana.
Obrigado pelo "Bela resenha" hehehehe