Datas Especiais: 40 anos de Close to the Edge
Contra-capa do aniversariante |
São apenas três canções, começando pela longa suíte da faixa-título. Era a primeira vez que o Yes ultrapassava os quinze minutos de duração de uma canção. E não é qualquer canção. Dividida em quatro partes, surge com os pássaros, barulho de água, percussões e o riff quebrado da guitarra de Howe e Wakeman, enquanto Bruford e Squire mandam ver ao fundo. Tentar narrar cada minuto dessa longa introdução, conhecida como “The Solid Time of Change”, é bobagem. Basta prestar atenção no trabalho de Bruford, com suas marcações que só sua cabeça entende, ou então nas velozes notas de Wakeman, as mudanças de acordes feitas por Howe e o peso do Rickenbacker de Squire, que os arrepios irão lhe surgir naturalmente.
Squire e Howe (acima); Anderson, Bruford e Wakeman (abaixo) |
O Lado B abre com “And You And I”, uma das mais lindas canções da dupla Anderson / Howe. Um tratado sobre relacionamento sexual entre um homem e sua mulher, já teve sua letra tratada por nós do Consultoria do Rock. Também é dividida em quatro partes, começando com a espetacular sequência de vinte e uma variações em cima dos mesmos três acordes (D, G e A) de violão de “Cord of Life”.
A canção ganha ritmo. Os teclados (assim como o slide guitar) nos apresentam “Eclipse”, uma majestosa e imponente sessão, no qual o mellotron de Wakeman é soberano, e com Howe dando show no pedal de volume durante seu solo.
A sequência dos acordes de violão do início surge novamente em “The Preacher The Teacher”, que retorna ao ritmo de “Cord of Life”, porém mais animada, e com uma maior participação da percussão, além de Squire dando as caras em um rápido solo de baixo, e com um complicado dedilhado de Howe, bem como um bonito solo de moog. Destaque também para o sensacional arranjo vocal nessa parte da canção.
Finalmente, “And You And I” apresenta a pomposidade de Wakeman, Howe, Squire e Bruford, produzindo um clima catastrófico para a canção, arrepiante, ao mesmo tempo que encantador, concluindo apenas com o moog, violão e a voz de Anderson entoando as famosas frases de “Apocalypse”, as quais dizem.
Capa interna, encarte e LP de Close to the Edge |
Esse fantástico álbum é concluído com “Siberian Khatru”, trazendo a nervosa introdução feita pela guitarra de Howe, explodindo então no riff central dos teclados, com o baixo cavalgante de Squire, a pegada de Bruford e a intrincada sequência de notas da guitarra.
O trio vocal passa a cantar junto em um ritmo dançante, ao mesmo tempo que muito complicado. Arranjo vocal perfeito, sequência de notas, e “Siberian Khatru” desenvolve-se e cresce naturalmente. Repentinamente, Howe surge solando na Danelectro Sitar, duelando com o cravo de Wakeman, enquanto Squire delira no baixo. Howe pula para a slide guitar e Bruford cria uma marcação marcial linda, para Howe então soltar os dedos na guitarra, com mais marcações perfeitas de baixo, bateria e teclados.
Os vocais voltam após a repetição do riff inicial. Após uma sessão quase a capella de Anderson, a canção ganha tensão. Um crescendo fabuloso das vozes sobre as batidas marciais de Bruford, com o mellotron dando show, partindo então para um longo solo de guitarra, dando direito ainda a mais uma incrível sequência de marcações – agora com bateria e voz duelando – encerrando um disco fenomenal em um ritmo veloz. Parecido com o que o Genesis faria dois anos depois no encerramento do álbum The Lamb Lies Down on Broadway com a canção “It”.
Close to the Edge marcou o início de uma nova era no Yes. A partir daqui, o grupo finalmente ganhava o status de principal banda do rock progressivo britânico, vendendo mais que gigantes como Rolling Stones e Led Zeppelin, e influenciando toda uma geração de músicos e grupos. Em vendas, foi terceiro nos Estados Unidos e quarto no Reino Unido, sendo superado apenas pelo álbum seguinte, Tales from Topographic Oceans, o qual alcançou o primeiro lugar no Reino Unido.
Howe e Anderson viraram o centro das atenções, criando e compondo como nunca, além de todos (menos Bruford) adotarem uma cultura oriental, voltada para a natureza, e assumidamente vegetariana.
Essa nova cultura desagradou Bruford, que saiu do grupo durante a turnê de Close to the Edge, ingressando no King Crimson e sendo substituído por Alan White. Curiosamente, esse é o único álbum do Yes que tem todas as suas canções registradas em um álbum ao vivo, no caso o álbum Yessongs (1973), no qual as três canções aparecem, com “Siberian Khatru” abrindo o LP, “And You And I” encerrando o lado B e “Close to the Edge” ocupando o Lado E do vinil triplo.
Representação artística do Yes na sua fase vegetariana: Wakeman, Bruford, Anderson, Howe e Squire |
A cultura oriental permaneceu por mais alguns anos, gerando o essencial e polêmico Tales from Topographic Oceans, que completará 40 anos em 2013. Mas isso é papo para outra Datas Especiais.
Track list
1. Close to the Edge
a. The Solid Time of Change
b. The Total Mass Retain
c. I Get Up, I Get Down
d. Seasons of Man
2. And You And I
a. Cord of Life
b. Eclipse
c. The Preacher The Teacher
d. Apocalypse
3. Siberian Khatru
Perfeito Mairon!!!
Eu sempre tive vontade de escrever sobre esse álbum mas, para falar a verdade, nunca tive coragem. Eu gosto tanto desse álbum que possivelmente eu ficaria decepcionado depois que a matéria entrasse no blog. Certamente eu sempre encontraria algo faltando no texto.
A introdução de Close to the Edge, com seus quatro minutos, é uma aula. Eu sempre falo que esse disco resume o rock progressivo e nessa introdução eu vejo muito do que foi feito no Cantebury e coisas do tipo.
A voz de Anderson está perfeita e essa é sim a seleção de todos os tempos, a formação ideal de uma banda na história. E, por ironia, talvez só o próprio Anderson seja questionável. Os outros quatro não tem como.
Não há uma introdução tão impactante quanto a de Siberian Kathru. Nem em meus melhores momentos como guitarrista eu comsegui reproduzi-la na mesma velocidade que ele faz. Howe é um dos meus guitarristas preferidos (junto com Randy, Gilmour e Lifeson)…
"Close to the Edge" não é apenas um dos melhores álbuns progressivos e o melhor disco do Yes, ele é um dos grandes motivos pelos quais a música é capaz de gerar tão grande fascínio em tantas pessoas. Sem dúvida, se um dia elaborar uma lista com meus álbuns favoritos de todos os tempos, "Close to the Edge" estará incluso, representando o ápice da criatividade e da capacidade desses quatro homens, ases em seus instrumentos. Por falar nisso, ontem – aniversário de Neil Peart – fiquei um pouco incomodado com alguns comentários reducionistas e pretensamente categóricos o rotulando indiscutivelmente como o melhor baterista de todos os tempos. O que posso dizer é o seguinte: enquanto Bill Bruford existir, esse assunto sempre deve ser fonte de épicas discussões. Seu desempenho é algo – para dizer o mínimo – assombroso.
Mais uma coisa: "Siberian Khatru" é uma das melhores músicas que a humanidade já foi capaz de conceber, "apenas" isso.
Simplesmente maravilhoso!! Excelente texto!! Uma das obras-primas do rock progressivo. Um dos primeiros lps que comprei na minha vida e ainda tenho essa edição.
O solo de guitarra do Howe no início de Close to the edge, é maravilhoso. Só vi tão maravilhoso no Cream. Yes é minha banda predileta. Creio que juntamente com o ELP, J.Tull e P. Floyd formam um grupo intocável. Estão um degrau abaixo da música erudita. São grandes músicos e muito criativos. Suas músicas tem elaboração, desenvolvimento e originalidade.
concordo plenamente. É talvez o mais inspirado da carreira do Howe. Abraços e obrigado pelo comentário
Para mim uma das partes desnecessárias de CTTE (a música) é justamente esse solo de Howe no começo antes do riff principal propriamente dito aos três minutos, o problema talvez seja as notas “computadorizadas” do Wakeman atrapalhando o solo do “velhinho” nesse trecho… Sei lá, acho que o Howe tem outros solos muito melhores do que esse do começo de CTTE (a música).
Excelente texto para uma grande obra prima.NOTA 10000!!!!
Gostaria de aproveitar e fazer uma pergunta:No ano passado, a Rolling Stone escolheu os 100 melhores guitarristas do Rock e simplesmente ignoraram o Steve Howe(assim como Steve Hackett e Hank Marvin)e colocaram a bosta do Kurt Cobain, será que dá pra explicar um negócio desses?
Close To The Edge, And You and I, Siberian Khatru… 3 faixas e suas subdivisões…poxa 40 anos atras!!! Eu só tinha 19 aninhos, mas me parece que foi ontem…disco sensacional bem retratado aqui neste bom texto…
Ode à Partida
“Breve ensaio de Alteridade Simbiótica”
Qual cândura de vozes celestiais
O caminho para uma porta entreaberta
Arrogante pretensão da partida
Embalada nos seus acordes.
…
Deleite para os sentidos
Catarse para a forma.
Caros, isto é o sentimento do regozijo.
Progressivo / Sinfónico “Ad Infinitum”
Um abraço.
Não sei porque tanta puxa-saquismo com o “Close to the Edge”, se o melhor disco do Yes é “Tales from Topographic Oceans” e o disco que resume o rock progressivo é “Selling England by the Pound” (Genesis) juntamente com “The Dark Side of the Moon” (Pink Floyd).
CTTE pode até ser o melhor disco do Yes, agora o melhor de todo o prog rock, nunca!
Hoje esta pérola musical do Yes completa 45 anos de existência. Se hoje não gosto mais do CTTE, a culpa é de seus fãs chatos que tanto superestimam este álbum!
Mas não incluo os membros da Consultoria que gostam de CTTE entre esses fãs chatos… hehehehehehe
tenho uma copia deste disco para venda qualquer coisa entre em contato 11992701918
adriano lima ou nas redes sociais dj lagosta
Creio que Ummagumma é um marco no Rock Progressivo e o Tales from… é colossal e deslumbrante.
Ummagumma é um belo disco, com certeza, mas acho que para ser um marco do progressivo, considerando Pink Floyd, Dark Side of the Moon é insuperável. Abraços
Gosto do Dark Side, mas em se tratando do Pink Floyd, prefiro muito mais o Wish You Were Here… Esse álbum de 1975 é uma viagem e tanto!