Untitled, a versão do diretor para o filme Quase Famosos
Por Micael Machado
Acredito que quase todos os digníssimos leitores já tenham assistido ao filme Almost Famous (no Brasil, Quase Famosos). Para quem não viu, a película narra a trajetória do jovem William Miller, que com tenros quinze anos de idade é contratado pela prestigiada revista Rolling Stone para acompanhar a banda (fictícia) Stillwater pelos Estados Unidos em sua turnê “Almost Famous Tour ’73”. Nessa trajetória, Miller terá de lidar com temas como amizade, fama, drogas, a descoberta da América e a primeira grande paixão de sua vida, representada pela band aid Penny Lane, uma sedutora mulher que acompanha o Stillwater em sua excursão e tem um caso amoroso com seu guitarrista. O personagem de Miller foi baseado na vida do próprio diretor e roteirista Cameron Crowe, e as aventuras narradas são compiladas de fatos que ele presenciou quando, ainda muito jovem, acompanhou bandas como Led Zeppelin, The Who e Allman Brothers pelas estradas dos EUA como jornalista da mesma revista. Um dos melhores filmes sobre música já feitos, Quase Famosos é obrigatório a quem gosta de rock e fundamental para quem curte o estilo praticado nos anos 1960 e 1970.
William Miller (Patrick Fugit) e Penny Lane (Kate Hudson)
O que talvez poucos saibam é que a versão que passou nos cinemas e saiu em DVD não é a melhor edição deste filme. Na edição especial em DVD duplo de Quase Famosos, um dos bônus é a versão do diretor para a película, denominada Untitled (“Sem Título”). Pouco mais de meia hora mais longa, o filme é muito melhor que a (excelente) versão oficial. A trajetória se desenvolve de forma mais demorada e melhor construída. Certas situações são melhor resolvidas nesta edição, facilitando o entendimento da obra pelo telespectador e ampliando aspectos que não ganham a mesma atenção na versão original.
Quase todas as cenas são mais longas e diversos diálogos novos são inseridos em cenas que já eram quase perfeitas na versão original. Alguns dos aspectos que aparecem exclusivamente em Untitled são uma divertidíssima entrevista do Stillwater em uma rádio do Arizona, as frustradas tentativas de Miller para entrevistar os membros do grupo separadamente, as conversas dos fãs de David Bowie no hotel em que Penny e Miller estão em Los Angeles, a despedida entre o garoto e Polexia quando a band aid vai para a Inglaterra acompanhando o Deep Purple (quem assistiu ao filme e lembra do que aconteceu na pacata Greenville sabe da importância deste personagem para Miller) e uma conversa entre Russel e Bebe (guitarrista e vocalista do Stillwater, respectivamente) que definiu a continuação do grupo após o infame “incidente do avião”. São pequenos acréscimos que tornam uma obra maravilhosa em algo ainda mais fascinante, e acrescentam uma nova luz a um filme já brilhante. Talvez o único problema seja que não há a opção de assistir à versão dublada de Untitled, estando disponível apenas a opção legendada (onde a legenda muda de cor para as cenas e diálogos extras). Mas isso não é empecilho para assistir e adorar esta nova versão deste filme.
Stillwater “ao vivo” em Cleveland
Dentre outros extras desta edição dupla, estão presentes a versão completa para a cena em que um casal toca “Small Town Blues” em um quarto de hotel – que no filme é vista por Miller durante alguns poucos segundos quando ele está em Los Angeles – , trechos de uma entrevista com o verdadeiro Lester Bangs (cujo personagem representa um importante papel na carreira de Miller), resenhas de Crowe para a revista Rolling Stone, cenas de bastidores registradas durante as filmagens e a íntegra do show do Stillwater em Cleveland (um dos mais importantes da turnê e que mudaria o rumo das coisas para o grupo na película). Em pouco mais de quinze minutos o grupo apresenta três de suas excelentes composições – aliás, cabe citar que as músicas originais do Stillwater que aparecem no filme foram compostas pelo próprio Cameron Crowe junto à sua então esposa Nancy Wilson (vocalista do grupo Heart), tendo ainda a participação de Ann Wilson (irmã de Nancy e também parte do Heart) e do guitarrista Peter Frampton, que também fez parte das gravações de estúdio ao lado de músicos como Mike McCready do Pearl Jam, Marti Frederiksen (que já compôs para o Aerosmith e o Def Leppard) e Gordon Kennedy, que já trabalhou com Eric Clapton. Ainda aparece uma versão demo para a canção “Love Comes And Goes”, cantada pela própria Nancy Wilson.
Há ainda uma curiosa cena excluída que é bastante interessante. Lembram quando a irmã de Miller tenta explicar para sua mãe sua decisão de sair de casa para se tornar aeromoça fazendo com que a “coroa” ouvisse “America” de Simon e Garfunkel? Pois o rapaz tenta fazer o mesmo nesta cena, visando convencer a mãe para que o deixe sair em turnê com o Stillwater, só que usando “Stairway To Heaven” do Led Zeppelin ao invés de “America”. Não sei o motivo (pensei que o Led não havia liberado a inclusão de seu clássico maior, mas, diante de outras músicas do grupo presentes no filme, como “That’s The Way”, “Rain Song” e “Tangerine”, não deve ser por isso), mas na cena destes extras a música não está presente – havendo uma indicação para “pegar a sua versão de Led IV e colocar em ‘Sairway'” – tendo inclusive uma contagem regressiva para demonstrar o momento correto em que a canção deve começar. Acredite, é bem melhor seguir a dica! Para mim, esta versão de como Miller conseguiu convencer a mãe a deixá-lo viajar é bem melhor que a oficial (presente nas duas versões do filme), mas, sabe-se lá porque, acabou não fazendo parte da película.
O elenco de Quase Famosos
Como já disse, Quase Famosos é um filme obrigatório e fundamental. Untitled é a versão ampliada e melhorada deste filme. Precisa dizer algo mais?
It’s all happening…