Clássicos da Harvest: Tea & Symphony – An Asylum For The Musically Insane [1969]

Clássicos da Harvest: Tea & Symphony – An Asylum For The Musically Insane [1969]
  

Por Jose Leonardo Aronna
Mais uma banda altamente colecionável e cult: bizarros, teatrais e excêntricos. Todos os ingredientes necessários para um grupo underground de primeira grandeza. Originalmente conhecidos como Black Country, eram empresariados por Jim Simpson (Black Sabbath) e eram um trio, formado em Birmingham e liderado pelo guitarrista e vocalista James Langstone, um cantor nos moldes de Roger Chapman do Family. O guitarrista Jeff Daw e  obaterista Nigel Phillips completavam a banda. 
Tão logo assinou com a Harvest, o trio realizou algumas turnês junto com o Bakerloo, bem como participou de algumas BBC Sessions comandadas pelo DJ mais famoso de todos os tempos, John Peel.
O single Boredom / Armchair Theatre
O primeiro lançamento do trio foi o single, “Boredom/Armchair Theatre”, em julho de 1969, sendo que “Boredom” era uma cover de uma canção do Procol Harum. Pra variar, o disquinho passou despercebido e um tempo depois é lançado seu primeiro Lp, An Asylum For The Musically Insane, em novembro do mesmo ano, um álbum de difícil classificação: folk progressivo, folk psicodélico, acid folk, etc… Aliás, este título é bem apropriado. 
O álbum foi produzido pelo célebre Gus Dudgeon, que também toca percussão no mesmo. Na realidade o som deste trio é uma delirante e talentosa mistura das mais diversas e inesperadas influências para se converter num extraordinário caldeirão sonoro, e sem dúvida, uma pérola que merece ser descoberta. Predominam os violões que são o suporte dos inspirados arranjos das três vozes e as diversas flautas são o principal complemento, mas os adornos sonoros são bem variados. 
Clássica foto do trio
O Lp abre com “Armchair Theatre” (lado B do single de estreia) e já fornece esclarecedores exemplos dessas vertentes, como um elaborado número de cabaret que tanto se assemelha ao bluegrass como faz uma incursão no clássico “Greensleeves”, a canção é entremeada com sons estranhos e tem litúrgico final de órgão. A seguir temos “Feel How So Cool The Wind” onde os efeitos sonoros de tempestade, os címbalos e as vozes trêmulas sugerem uma dimensão de pavor que as percussões acentuam, até um despertar final ao som de uma alegre cantoria de amigos acompanhados por um piano de bar. 
As vozes na bela “Sometime” soam meio caóticas, alternando naipes percussivos com toques de influências flamencas e blues. Em “Maybe My Mind”, as percussões tornam-se mais tribais, as vozes mais estranhas e as guitarras mais rasgadas e frenéticas até que tomam fôlego num breve interlúdio em duo de flautas, até um final intenso. O Lado A se encerra com o sensual e bluesy “The Come On”, com bateria, baixo, guitarra e piano. Essa música parece estar fora do contexto mas não deixa de ser uma agradável surpresa, até por ter a participação de Dave Clempson (então membro do Bakerloo), Bob Lamb e Mick Hincks – ambos de uma banda chamada Locomotive, que teve como integrante em seus primórdios, Chris Wood (Traffic) e Mike Kellie (Spooky Tooth) – que contribuíam com seus dotes para apimentar o som do trio original.
Lado 1 do Clássico da Harvest aqui homenageado
O segundo lado começa com a introdução film-noir ao piano na arrepiantemente bela “Terror in My Soul”, acentuada pela progressão da guitarra base, as vozes e a flauta. A seguir, “Travelling Shoes”, com a banda num balançado R&B propulsionado por uma rotativa linha de baixo (tocado por Ron Chesterman do Strawbs) e pontilhado por ornamentos de guitarra, onde a harmonica e a flauta jazzistica se digladiam e se complementam. 
“Winter” regressa arrepiante, com as guitarras dedilhadas e harmonias vocais, num ambiente de melancolia e harmonia pastoral, onde as flautas simulam cantos de pássaros e um violoncelo se insinua como um fio condutor. As flautas que fecham o tema anterior abrem a última música do Lp, “Nothing Will Come to Nothing” em conjunto com um harpsichord, logo substituídos por um piano e um baixo que tecem um pano que uma voz à la Roger Chapman conduz até transformar o tema num instrumental jazzistico que se transforma quando entram temas pianísticos e de avant-garde, com guitarra, percussões e efeitos sonoros, antes de retomar a ideia inicial.
Depois do lançamento desse disco, o baterista Nigel Phillips decidiu deixar o grupo. Ele convidou o amigo Bob Wilson (teclados e guitarra) para substituí-lo. Assim, a banda gravou seu segundo Lp, considerado o mais raro do selo Harvest, Jo Sago (1970). Surpreendentemente esse disco nunca foi editado oficialmente em cd, apesar de ser um trabalho muito interessante e inteligente. O primeiro lado reflete a vida atribulada de um músico caribenho de jazz, vivendo em West Midlands. 
O raro Jo Sago
Os músicos de estúdio Pat Donaldson (baixo) e Gerry Conway (bateria), foram contratados para tocar no álbum. Com a gravação concluída, James Langston convidou o baterista Peter Chatfield, que concordou em se juntar ao grupo como um membro “full time”. Para as apresentações ao vivo, Tom Bennison (baixo e french horn) foi então recrutado. Ele ficou por pouco tempo e foi substituído por Dave Carroll (baixo, guitarra, violões, violino e vocais). Depois desse lançamento, a Harvest dispensou o grupo. Vic Keary, do selo Mushroom, queria contratá-los mas a banda não aceitou o convite. 
No final de 1971, Bob Wilson foi substituído por Stewart Johnson (guitarra, vocal). Não muito tempo depois, Pete Chatfield, que passou dois anos no grupo também decidiu sair. Em seu lugar entra Micky Barker. O resto do Tea & Symphony também seguiu caminhos separados: James Langston tornou-se vocalista do grupo Mean Street Dealers e os guitarristas Dave Carrol e Bob Wilson juntaram-se ao Steve Gibbons Band (anteriormente The Idle Race). Embora com pouco impacto na mídia, os álbuns do Tea & Symphony continuam a atrair a atenção dos colecionadores interessados ​​nas gravações não convencionais daquela época. 
Capa interna (acima); e
capa e contra-capa de An Asylum for the Musically Insane (abaixo)
Track list: 
1. Armchair Theatre 
2. Feel How So Cool The Wind 
3. Sometime 
4. Maybe My Mind (With Egg) 
5. The Come On 
6. Terror In My Soul 
7. Travelling Shoes 
8. Winter 
9. Nothing Will Come To Nothing 

    Um comentário em “Clássicos da Harvest: Tea & Symphony – An Asylum For The Musically Insane [1969]

    1. Muito legal essa série de Clássicos da Harvest, li todas as publicações recentemente e os parabenizo pela iniciativa e excelentes histórias! Abraço!!
      Ronaldo

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